Onde está e onde estava o MP?

A Zero Hora, de Porto Alegre, publica que o Ministério Público está analisando a possibilidade de pedir prisão dos donos da boate, de integrantes da banda Gurizada Fandangueira e de outros envolvidos no episódio. A promotora criminal de Santa Maria Waleska Flores Agostini está estudando desde o final da tarde deste domingo um possível pedido de prisão.

Morreram 244 jovens numa arapuca sem alvará, sem porta de emergência, sem extintor e sem sinalização. Foi usado um sinalizador dentro de um ambiente fechado, o que é proibido por lei. Bastariam três linhas para pedir a prisão preventiva dos suspeitos e dos culpados. Incluiria aí as autoridades públicas que permitiram que a maior casa noturna da cidade funcionasse completamente fora da lei.

O MP está brigando com o governo do Ceará para que Ivete Sangalo devolva o dinheiro de um show feito na inauguração de um hospital. Para isso, eles são rápidos. O governador de lá afirmou que a ação é de um jovem promotor em busca de mídia. Errou ao torrar dinheiro público, mas não errou ao dizer que o MP, efetivamente, está fascinado pelas luzes e câmeras da imprensa. 

Dêem uma olhada na página do MP clicando aqui e vejam o tipo de ação patrocinada pelo órgão. Dificilmente será encontrado um caso mais grave do que a tragédia da boate Kiss. O MP existe, entre outras coisas, para ingressar com ações em nome da sociedade, oferecer denúncias criminais e deve ser ouvida em todos os processos em andamento na Justiça Federal que envolvam interesse público relevante, mesmo que não seja parte na ação. Vejam a equipe que existe na Regional de Porto Alegre, clicando aqui.  E ainda existem mais três procuradores sediados em Santa Maria.

Está no Congresso a PEC 37, que praticamente acaba com o poder de investigação do MP. Com isso, o MP não poderia mais investigar casos de corrupção, mas apenas acompanhar as investigações, que ficariam a cargo das polícias. Os procuradores gritam. No entanto, em vez de agir imediatamente em casos como da boate Kiss, eles têm escolhido as ações midiáticas. Buscar devolução de dinheiro de show da Ivete Sangalo. Entrar com 47 pedidos de inconstitucionalidade contra o Código Florestal, acatando os pontos-de-vista derrotados no voto pelo Congresso. Denunciar um político apenas cinco anos após o ocorrido, esperando o momento exato para colocar o MP na mídia. 

O MP, com a sua necessária e constitucional independência, parece achar que está acima das leis. E perdeu completamente o foco para escolher os espetáculos midiáticos quando deveria estar atento, por exemplo, ao problema de insegurança nas casas noturnas do país. A procuradora Waleska Flores, em meio a 244 mortos, ainda está estudando que tipo de ação vai mover contra os suspeitos. Há casos em que a comoção pública está acima das filigranas da lei. Este é um dos casos. Mas o MP ainda estuda. Uma pena.