Coluna de hoje, de Merval Pereira, em O Globo:
O prefeito paulistano, Gilberto Kassab, precisa definir de uma vez por todas por que deixou o Democratas para fundar o Partido Social Democrático (PSD). Se foi em busca de uma legenda que lhe dê espaço político para continuar uma carreira ascendente até o governo de São Paulo, será um projeto personalista de voo curto. A tentativa de levar a indefinição da legenda às últimas consequências - "Não será um partido nem de direita nem de esquerda nem de centro, mas a favor do Brasil" - fará com que o novo partido surja enfraquecido, embora se anuncie que já tem uma bancada de 43 deputados federais saídos de diversas legendas, até mesmo da base governista. O receio de assumir uma posição ideológica próxima de sua história política de centro-direita repete o mesmo erro do PFL e de seu sucessor, o Democratas, e retira do novo partido justamente a capacidade de representar um nicho eleitoral que, à falta de opções, votou em Serra e em Marina na eleição de 2010.
Não é isso o que a senadora Kátia Abreu está buscando quando se prepara para trocar o DEM pelo PSD, uma decisão que pode ser fundamental na sua carreira política. Cogitada para ser candidata à Presidência da República pelo DEM, ou vice na chapa de Serra, a senadora de Tocantins foi vítima desta síndrome política brasileira: ninguém quer ser tachado de conservador, de direitista. Todos são, no máximo, de centro. Até o senador Agripino Maia, novo presidente do DEM, assumiu negando que seja de direita, dizendo-se de centro-esquerda. Nenhum político brasileiro se declara "de direita", mas a direita política está sempre presente nos governos formados a partir de 1985, quando Tancredo Neves se elegeu presidente da República numa aliança política antes impensável com os dissidentes do PDS, partido que dava sustentação à ditadura militar. Pois se Kassab insistir no mesmo erro em que incorre o Democratas, antigo PFL, que tentou diversas vezes preencher esse espaço político e depois recuou, vai criar mais um partido que não se distinguirá dos demais e deixará de ser um contraponto a PT e PSDB, legendas de esquerda que dominam a política nacional há mais de 20 anos.
A senadora Kátia Abreu tem uma explicação simples para esse impasse: todos querem dizer que têm preocupação social e parecem convencidos de que esse sentimento é um monopólio da esquerda. Como convencer o eleitorado de que essa dicotomia não funciona tão linearmente assim e que ser de direita, ou de centro-direita, não significa ser insensível às necessidades dos mais pobres? No seu caso, a senadora, que é presidente da Confederação Nacional da Agricultura, tem uma tarefa a mais: demonstrar que o agronegócio reúne mais produtores de classe média e pobres do que grandes agricultores, apontados pelos adversários como vilões do meio ambiente.
Na presidência da CNA, a senadora Kátia Abreu está trabalhando com o governo para mudar o sistema de crédito agrícola, ampliando seu alcance, e tem um objetivo que, segundo ela, coincide com o do governo: promover a ascensão social da maioria dos agricultores, que, ao contrário do que se imagina, encontra-se nas classes C, D e E, e não tem acesso a financiamentos. Dos cinco milhões de produtores agrícolas, apenas 5% estão nas classes A e B, ressalta Kátia Abreu. Ela vem conversando com o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, a respeito do PSD, depois que se desencantou com a atuação do Democratas, especialmente o que chama de "ditadura partidária", que teria levado seu partido a ser dominado por grupos que não dão espaço a políticos independentes.
Uma das principais alterações que ela pretende apoiar, se for para o PSD, é a garantia de que os cargos serão escolhidos através de prévias partidárias, em todos os níveis, até mesmo a presidência da legenda, para a qual está sendo sondada mesmo antes da adesão formal. A democracia interna seria um diferencial do novo partido, que poderia estimular a atuação partidária de cidadãos que hoje estão alienados da política. Kátia Abreu está convencida de que existe um nicho eleitoral que o novo partido pode ocupar, representado pela nova classe média ascendente e por todos os anseios e necessidades que virão com ela. Além do fato de que existe um eleitorado que não vota no PT, que atingiu 44% na última eleição presidencial.
Olhando o mapa da votação do segundo turno na eleição de 2010, Kátia Abreu enxerga bolsões azuis de oposição em áreas dominadas pelo vermelho do PT, como, por exemplo, na região conhecida como Mapito, que cobre os estados do Maranhão, do Piauí e de seu Tocantins. Numa região dominada pelos votos governistas, produtores rurais que, na sua definição, não vivem das benesses governamentais querem uma candidatura alternativa para seguir produzindo alimentos. Ela pretende se filiar ao PSD defendendo uma série de posturas liberais que colocariam o novo partido fora da base aliada governista e, mais ainda, longe do PSB, partido ao qual Kassab pretenderia se juntar ao final de um processo político que descaracterizasse uma burla à legislação eleitoral.
Nas conversas que vem tendo com Kassab, a senadora Kátia Abreu garante que essa possibilidade de fusão futura com um partido socialista está fora de cogitação. A senadora de Tocantins acha que o novo partido não pode repetir o erro de PMDB e Democratas, que não lutaram por ter uma vida própria e tornaram-se satélites de PT e PSDB. Uma das decisões a serem tomadas pode ser a de lançar uma candidatura própria à Presidência da República em 2014, mesmo que apenas para marcar posição. Não só por ser mulher, mas, sobretudo, por representar o espírito liberal do novo partido, seu nome seria uma escolha provável.
13 comentários
Cel.
ReplyKatia Abreu, por suas opiniões e idéias equilibradíssimas e de bom senso, tem potencial não só para marcar posição nas eleições 2014, mas até de vencer!
Basta que o Kassab pare de enrolar e defina de uma vez por todas qual a bandeira do novo partido, PSD.
Chris/SP
O povo espera que alguém assuma claramente um partido de centro-direita. Concordo com o Merval; todos querem correr na mesma raia. Tem que ser urgente e para valer, sob pena de se concretizar o projeto de 20 anos de poder; pelo menos é menor do que o do Adolfo.
Reply"Que bom seria se um deputado tivesse febre aftosa, peste suína ou gripe aviária...
ReplyAí seríamos obrigados a sacrificar todo o rebanho!"
Poderiam lançar "uns balão de ensaio" brincando com logotipo.
ReplyO jogo das cores e das formas faria melhor o trabalho que as declarações controvertidas buscam medir.
Geraldo Alckmin: "Não é fácil ser oposição no Brasil" sem comentário...
Replyestadão de São Paulo .
Serra e Katia , Serra presidente e Katia vice nessa dupla em voto.
Se continuar nessa balbúrdia, de falar e não dizer nada, a senadora Kátia Abreu será é queimada se entrar nessa. Não marcará posição e sairá menor do que é agora. O governo deve estar esfregando as mãos de alegria.
ReplyPode censurar, não há problema.
ReplyTudo igual. Não será K Abreu que mudará nem mudará coisa alguma.
Pode parecer loucura mas digo que mudança, mesmo, só a Receita Federal e Polícia Federal têm condições de liderar, neste país (pelo que sabem).
Até que enfim alguém, como Kátia Abreu, para dizer que fica no PSD, contanto que seja longe do PSB. Precisa somente de um pouco mais de clareza: longe da corja toda do governo. Kassab entende ou precisa desenhar?
ReplyESTE PAPO É TÃO RIDÍCULO...
ReplyATÉ A CHINA JÁ ASSUMIU UM PAPEL NEOCOMUNISTA CAPITALISTA, OU SEJA JÁ BOTOU UM PÉZINHO NA IDEOLOGIA DA DIREITA SEM MEDO.
FICAR FALANDO EM DITADURA MILITAR É O DESVIO CORRETO PARA QUEM QUER FUGIR DE ASSUMIR SEU PAPEL NA HISTÓRIA...
COMO PODE SARNEI, COLLOR DE MELLO, TEMER E COMPANHIA ESTAREM TÃO A ESQUERDA OU LIGADOS A ELA SE SÃO CAPITALISTAS NATOS (SE BEM QUE TEM QUEM DIGA QUE SÃO SÓ EXPLORADORES DO POVO) E COM PAPOS QUASE SEMPRE DE DIREITA NO FUNDO DE SEUS DISCURSOS?
A POLÍTICA BRASILEIRA É UMA PIADA!
MAS SE O KASSAB E O PESSOAL DO NOVO PARTIDO FOREM INTELIGENTES, ASSIM QUE TUDO ESTIVER PRONTO, DEVEM ASSUMIR LOGO A IDEOLOGIA DE DIREITA SEM MEDO, QUE GANHARÃO O APOIO DE MAIS DE 44 MILHÕES DE ELEITORES.
REAGE BRASIL! FORA PT E ALIADOS!
Besteira, gente!
ReplySerra jogou sua última cartada, perdeu, liberou Kassab. Este, sem Serra, passou a transitar à esquerda do zero.
Sem luz própria nacional, está brilhando com motor a gasolina, que tomou emprestado.
Como o custo do combustível está aumentando ele, em vez de administrar a maior capital do Brasil, vai criando espaço para os opositores, tipo Erundina, querendo de novo... e por aí vai...
Tem coisa que eu até entendo a dificuldade do Kassab de se assumir como de direita o centro direita.
ReplyVeja o que disse Jair Bolsonaro que de diz de direita.
Os absurdos que estão em todos os jornais e portais da internet, blogs e sites.
É isso, como alguém quer ser companheiro de alguém que diz que não gostaria que o filho namorasse com uma negra, pqe foi bem educado.
PS. Não tenho negros na familia. Todos são claros, alguns com olhos claros.
Mas não posso deixar de me indignar com um absurdo desses.
Nunca vi um politico dizer tantos absurdos como Bolsomaro.
É por essas e outras que muitos politicos não querem dizer que são de direita.
Não sou político, mas se esse PSD assumir posições de direita, estou dentro. Ser politicamente correto não é ser de esquerda: é ser honesto.
ReplyO ALVARÁ A JATO DO KASSAB
ReplyConstrutoras de SP levam anos para conseguir Alvará de Construção de suas obras. O Alvará da reforma do estádio do Palmeiras demorou 2 anos para sair. Enquanto isso, o Alvará do estádio do Corinthians saiu em 15 dias....Como o Sr. explica isso, sr. Kassab??? Quanto de bola rolou nessa, Sr. Kassab?? Responda...E não enrole, por favor!! @fitzca