O governo desumano.

Em junho, estréia o filme My Sister's Keeper. Na história, Cameron Diaz faz a mãe generosa de uma adolescente que luta contra a leucemia. Em uma das cenas mais fortes do filme, Cameron Diaz raspa suas madeixas loiras em solidariedade à filha, debilitada pelas sessões de quimioterapia. Não há como não se emocionar já no trailler.

Há notícias de que o governo vai realizar pesquisas qualitativas para avaliar o impacto do câncer linfático de Dilma Rousseff no eleitorado. As qualis são frias e calculistas. Organizadas em grupos de discussão, coordenadas por sociólogos, interpretadas por psicólogos, analisadas por marqueteiros e assistidas pelos clientes do outro lado da sala de espelhos, colocam seres humanos no microscópio. Neste caso, de acordo com os resultados do check-up realizado pelos especialistas no cérebro e no coração do eleitor brasileiro, uma junta médica composta pelos doutores Lula, João Santana, Franklin Martins e Gilberto Carvalho vai receitar doses maiores ou menores de exposição à química popular para a candidata. Vão definir se Dilma Rousseff deverá tomar mais ou menos sol nos palanques do PAC. Vão decidir se a candidata deverá convidar a imprensa para coletivas de auto-ajuda ao final das sessões quimioterápicas. Vão avaliar se a ministra deverá ser mostrada ao público sem cabelos ou se isto será apelativo demais.Vão mapear todas as ameaças e todas as oportunidades. É assim que funciona, é assim que é. É o que eles estão fazendo, de forma técnica, científica, quase exata ao prescrever sessões de quali para mapear os danos causados por um inesperado drama pessoal. Esta junta médica vai decidir com toda a frieza se o Brasil vai adoecer com Dilma. Se o Brasil vai tentar a cura com Dilma. Se o Brasil vai deixar a Dilma em paz para tratar o seu agressivo câncer linfático. Vão decidir estrategicamente o tratamento mais pragmático para este assunto tão delicado. E vão usar todos os remédios mercadológicos disponíveis para extrair de um câncer os maiores benefícios eleitorais. Não duvidem se esta junta médica convencer Lula a raspar a cabeça em solidariedade e apoio à candidata. Isto acontece nas melhores famílias, nos melhores filmes e funciona, funciona muito. Nós, blogueiros de oposição, devemos ter o máximo cuidado para encontrar o limite entre o drama humano e a safadeza política. Devemos este equilíbrio aos nossos leitores, aos nossos pais, aos nossos irmãos, aos nossos filhos, aos nossos amigos. A bondade e a solidariedade do povo brasileiro vão aparecer, com toda a certeza, em todas as qualis realizadas para avaliar os efeitos do câncer na candidatura de Dilma Rousseff. O eleitor brasileiro não imagina que, atrás do espelho, uma junta médica vai estar esfregando as mãos de alegria mórbida com as expressões de carinho, compreensão e amor tão normais nos brasileiros, quando apóiam de forma irrestrita os dramas alheios. A decisão do governo de tratar o câncer de Dilma Rousseff como se fosse um fato político, há quase dois anos das eleições, mostra as entranhas de uma máquina fria e calculista. O câncer de Dilma Rousseff tem cura e ninguém vai desejar o contrário. O câncer do governo petista, este não, este está disseminado pelo corpo inteiro e não há remédio que cure.