A crise financeira americana de 2008 deve parecer familiar aos latino-americanos, uma vez que é muito similar àquelas causadas por dívidas que há anos flagelam os países da América Latina. Desde 2000, os Estados Unidos tomaram emprestados de outras nações 5 trilhões de dólares. A dívida externa financiou uma grande expansão econômica, e então um boom, e então uma bolha, em particular nos setores financeiro e imobiliário. A bolha agora estourou e a economia se encontra em uma espiral descendente.
Embora haja diferenças entre as crises de dívida americana e latino-americana, as semelhanças são esmagadoras. Para começar, a iniciativa partiu do governo, que contraiu empréstimos internacionais pesados para financiar grandes déficits. O setor privado seguiu o exemplo, usando fundos estrangeiros para expandir o consumo, especialmente no mercado imobiliário. Operações financeiras especulativas alimentaram e ampliaram o impacto dos empréstimos estrangeiros. Por quase uma década, o país viveu além de seus meios: consumiu mais do que produziu, investiu mais do que poupou, e o governo gastou mais do que arrecadou.
O rescaldo inevitável de uma crise financeira também é bem conhecido dos latino-americanos: estabilização, ajuste e reforma. Estamos agora na fase de estabilização, em que a principal tarefa é limitar os danos imediatos e impedir um colapso econômico mais extenso. Esta fase salienta uma grande diferença entre a atual crise americana e as crises latino-americanas anteriores: a americana não levou a um cessamento súbito da disposição estrangeira em emprestar ao governo americano. Isso significa que o governo pode se valer do gasto agressivo, mesmo em situação de déficit, para tentar estimular a economia e tornar o golpe menos doloroso. Isso é uma ótima notícia, tanto para os americanos como para o mundo. Se o governo dos Estados Unidos se visse impedido de contrair empréstimos, a recessão sem dúvida seria muito mais profunda, e seu impacto sobre o restante do mundo, sem dúvida, muito mais sério. Entretanto, é quase certo que haverá uma recessão grave nos Estados Unidos, e que levará pelo menos dois anos até que a economia americana volte a crescer.
Mesmo depois de restaurado o crescimento econômico, porém, os Estados Unidos terão de enfrentar os desafios do ajuste de médio prazo: havia anos a situação econômica do país já era insustentável. Todos os anos, desde 2001, os Estados Unidos tomam emprestado entre meio trilhão e 1 trilhão de dólares. Esse dinheiro é dirigido ao financiamento dos déficits maciços do governo, assim como dos imensos déficits da balança comercial e financeira do país para com o restante do mundo. Isso não pode perdurar. Assim que a crise mais imediata esteja contida, o governo terá de reduzir seu déficit orçamentário, e o país terá de passar a consumir menos e poupar mais, importando menos e exportando mais. Novamente, isso deve soar familiar aos latino-americanos, que já atravessaram essas experiências. Elas nunca são agradáveis. Nos Estados Unidos, o processo exigirá que se aumentem os impostos e se reduza o gasto do governo, forçando uma redução dos salários para aumentar as exportações, e elevando as taxas de juros para estimular a poupança. No geral, o resultado será uma redução dramática no padrão de vida de muitos americanos. Mas o ajuste é necessário para que se restaure o equilíbrio macroeconômico.
O ajuste macroeconômico não constituirá a etapa final do rescaldo desta crise, pois as instituições econômicas do país necessitam de reformas mais fundamentais. Em primeiro lugar está a demanda por uma regulação mais abrangente e eficaz dos mercados financeiros. Até que esta crise termine de fato, os contribuintes americanos podem ter de despender algo como 2 ou 3 trilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro do país. Os americanos estão inflexíveis na convicção de que essa experiência não pode vir a se repetir, e de que a ausência de uma supervisão regulatória foi em grande parte responsável pelo desastre. Então o Congresso, o presidente e os reguladores terão de elaborar uma nova estrutura regulatória – provavelmente em conjunto com os governos de outras nações – para enfrentar as novas realidades financeiras.
Nenhum desses estágios será fácil. Somados, eles implicam uma guinada dramática em relação às políticas dos anos Bush. Haverá mais envolvimento do governo na economia, e mais supervisão pública dos mercados financeiros. Haverá também impostos mais altos e consumo reduzido, enquanto o pesadelo fiscal dos últimos oito anos for gradualmente desfeito.
Embora os desafios econômicos no caminho dos Estados Unidos sejam sérios, os desafios políticos talvez sejam ainda mais temerários. A crise certamente inflamará paixões políticas poderosas. Mesmo antes dela, havia um grande ressentimento em torno do abismo crescente entre ricos e pobres nos Estados Unidos; a maior parte das benesses da expansão econômica dos últimos dez anos foi colhida pelos 10% mais ricos da população, ao passo que os americanos médios não experimentaram grandes melhoras em suas condições.
Agora se pede aos americanos que se sacrifiquem para remediar os excessos de seu sistema financeiro. Os americanos ricos foram os principais beneficiários das políticas econômicas recentes. Quando essas políticas falharam, foi aos americanos pobres e de classe média que se pediu que socorressem a economia e amparassem aqueles que conduziram o país à sua presente crise.
Seja esse ponto de vista totalmente justificado ou não, o fato é que muitos americanos compartilham dele. Os americanos estão indignados, e o novo governo terá de dar respostas a essa indignação ao mesmo tempo em que trabalha para recuperar a confiança dos investidores domésticos e estrangeiros nos Estados Unidos. Essa será uma missão extraordinariamente difícil. O novo governo enfrenta a tarefa de pôr a economia americana, assim como o sistema político americano, no caminho de uma recuperação saudável. O presidente eleito, Obama, conta com uma grande reserva de boa vontade, em casa e fora dela, à qual recorrer; e precisará dela toda para que ele e seu governo possam renovar a política econômica americana.
Embora haja diferenças entre as crises de dívida americana e latino-americana, as semelhanças são esmagadoras. Para começar, a iniciativa partiu do governo, que contraiu empréstimos internacionais pesados para financiar grandes déficits. O setor privado seguiu o exemplo, usando fundos estrangeiros para expandir o consumo, especialmente no mercado imobiliário. Operações financeiras especulativas alimentaram e ampliaram o impacto dos empréstimos estrangeiros. Por quase uma década, o país viveu além de seus meios: consumiu mais do que produziu, investiu mais do que poupou, e o governo gastou mais do que arrecadou.
O rescaldo inevitável de uma crise financeira também é bem conhecido dos latino-americanos: estabilização, ajuste e reforma. Estamos agora na fase de estabilização, em que a principal tarefa é limitar os danos imediatos e impedir um colapso econômico mais extenso. Esta fase salienta uma grande diferença entre a atual crise americana e as crises latino-americanas anteriores: a americana não levou a um cessamento súbito da disposição estrangeira em emprestar ao governo americano. Isso significa que o governo pode se valer do gasto agressivo, mesmo em situação de déficit, para tentar estimular a economia e tornar o golpe menos doloroso. Isso é uma ótima notícia, tanto para os americanos como para o mundo. Se o governo dos Estados Unidos se visse impedido de contrair empréstimos, a recessão sem dúvida seria muito mais profunda, e seu impacto sobre o restante do mundo, sem dúvida, muito mais sério. Entretanto, é quase certo que haverá uma recessão grave nos Estados Unidos, e que levará pelo menos dois anos até que a economia americana volte a crescer.
Mesmo depois de restaurado o crescimento econômico, porém, os Estados Unidos terão de enfrentar os desafios do ajuste de médio prazo: havia anos a situação econômica do país já era insustentável. Todos os anos, desde 2001, os Estados Unidos tomam emprestado entre meio trilhão e 1 trilhão de dólares. Esse dinheiro é dirigido ao financiamento dos déficits maciços do governo, assim como dos imensos déficits da balança comercial e financeira do país para com o restante do mundo. Isso não pode perdurar. Assim que a crise mais imediata esteja contida, o governo terá de reduzir seu déficit orçamentário, e o país terá de passar a consumir menos e poupar mais, importando menos e exportando mais. Novamente, isso deve soar familiar aos latino-americanos, que já atravessaram essas experiências. Elas nunca são agradáveis. Nos Estados Unidos, o processo exigirá que se aumentem os impostos e se reduza o gasto do governo, forçando uma redução dos salários para aumentar as exportações, e elevando as taxas de juros para estimular a poupança. No geral, o resultado será uma redução dramática no padrão de vida de muitos americanos. Mas o ajuste é necessário para que se restaure o equilíbrio macroeconômico.
O ajuste macroeconômico não constituirá a etapa final do rescaldo desta crise, pois as instituições econômicas do país necessitam de reformas mais fundamentais. Em primeiro lugar está a demanda por uma regulação mais abrangente e eficaz dos mercados financeiros. Até que esta crise termine de fato, os contribuintes americanos podem ter de despender algo como 2 ou 3 trilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro do país. Os americanos estão inflexíveis na convicção de que essa experiência não pode vir a se repetir, e de que a ausência de uma supervisão regulatória foi em grande parte responsável pelo desastre. Então o Congresso, o presidente e os reguladores terão de elaborar uma nova estrutura regulatória – provavelmente em conjunto com os governos de outras nações – para enfrentar as novas realidades financeiras.
Nenhum desses estágios será fácil. Somados, eles implicam uma guinada dramática em relação às políticas dos anos Bush. Haverá mais envolvimento do governo na economia, e mais supervisão pública dos mercados financeiros. Haverá também impostos mais altos e consumo reduzido, enquanto o pesadelo fiscal dos últimos oito anos for gradualmente desfeito.
Embora os desafios econômicos no caminho dos Estados Unidos sejam sérios, os desafios políticos talvez sejam ainda mais temerários. A crise certamente inflamará paixões políticas poderosas. Mesmo antes dela, havia um grande ressentimento em torno do abismo crescente entre ricos e pobres nos Estados Unidos; a maior parte das benesses da expansão econômica dos últimos dez anos foi colhida pelos 10% mais ricos da população, ao passo que os americanos médios não experimentaram grandes melhoras em suas condições.
Agora se pede aos americanos que se sacrifiquem para remediar os excessos de seu sistema financeiro. Os americanos ricos foram os principais beneficiários das políticas econômicas recentes. Quando essas políticas falharam, foi aos americanos pobres e de classe média que se pediu que socorressem a economia e amparassem aqueles que conduziram o país à sua presente crise.
Seja esse ponto de vista totalmente justificado ou não, o fato é que muitos americanos compartilham dele. Os americanos estão indignados, e o novo governo terá de dar respostas a essa indignação ao mesmo tempo em que trabalha para recuperar a confiança dos investidores domésticos e estrangeiros nos Estados Unidos. Essa será uma missão extraordinariamente difícil. O novo governo enfrenta a tarefa de pôr a economia americana, assim como o sistema político americano, no caminho de uma recuperação saudável. O presidente eleito, Obama, conta com uma grande reserva de boa vontade, em casa e fora dela, à qual recorrer; e precisará dela toda para que ele e seu governo possam renovar a política econômica americana.
Jeffry Frieden é professor da Harvard University e autor do livro Capitalismo Global.
9 comentários
Coronel:
Replynada do que vem de Harvard em matéria econômica serve para alguma coisa. 90% é bullshit. Este artigo não é exceção à regra. Ele está certo quando diz que os americanos vem consumindo mais do que produzem, e o governo gastando mais do que arrecada.Mas isto é o óbvio ululante. Já a frase "investindo mais do que poupando" é puro bullshit. Investir, em termos econômicos reais, significa justamente adiar consumo para o futuro. Toda riqueza consumida não pode ser investida, e toda riqueza investida é capital acumulado. E portanto, não deixa de ser uma poupança.
O conselho do autor para o Obama "se valer de gasto agressivo" é uma receita infalível para o fracasso econômico. É o mesmo destino que espera os consumidores brasileiros que seguirem o conselho de Lulla para gastarem adoidados,como solução para evitar a crise.
Se êsse é um dos melhores conselheiros que o Obama tem, Jim Rogers está certo quando prognostica que sob a batuta de Obama it´s all over for the dollar.
Hereticus
PS: A revista Veja é péssima conselheira financeira. Sempre que ela aconselha algo, eu faço exatamente o contrário.
Coronel,
ReplyDurma com essa:
"Lula é premiado por ‘defesa
da democracia e liberdade’
Orlando Brito
O Papai Noel da Espanha foi generoso com o presidente: a Fundação Ramón Rubil, do país basco, concedeu-lhe o prêmio pelo trabalho "em defesa da democracia e da liberdade", informa a agência Efe. É a terceira edição da premiação. Em 2008, Lula entrou na lista por seu "compromisso com a luta para melhorar as condições dos mais necessitados". Ele já recebeu este ano na Espanha o prêmio D. Quixote, por "contribuir para divulgação da língua e da cultura espanholas". "
Fonte Claudio Humberto
Assim não dá pra ser feliz. Creio que o agradecimento pelo espanholização nas escolar já foi longe demais....
Coronel
ReplyOlha isso:
"O’Estadão’ revela o uso picareta
do imposto sindical pelas centrais
A vigarice financiada pelo chamado Imposto Sindical é ainda pior do que os trabalhadores podem imaginar: os recursos milionários distribuídos às centrais sindicais servem para que as ntidades comprem e aluguem imóveis, pague viagens dos seus dirigentes, custeie congressos, remunere companheiros e pagua a conta de uma sardinhada contra o aumento dos juros em frente ao Banco Central, segundo revela reportagem de Luiz Fernando Bovo no jornal O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira, que seguiu o rastro dos R$ 61 milhões distribuídos às centrais CUT e Forrça Sindical, entre outras. O imposto sindical equivale a um dia de trabalho por ano, descontado do empregado, e hoje é a principal fonte de recursos que sustentaqm a pelagada nas centrais, além da mensalidade cobrada dos sindicatos filiados. O desconto de um dia de trabalho é obrigatório, compulsório, ainda que o trabalhador não seja filiado a qualquer sindicato. Faturam alto nessa vigarice, além de CUT (R$ 22 milhões) e Força Sindical (R$ 17 milhões), entidades meramente cartoriais, cuja existência é ignorada pela maioria dos trabalhafores, tipo NCST, CTB, CGTB etc. "
Você já havia anotado sobre isso. A fonte é Clauido Humberto.
O HERETICUS MATOU A PAU!
ReplyFUI LENDO O TEXTO E NO PÉ, AO VER O 'TITULO' DO "DR."., FALEI
COMIGO MESMO, "BOBAGEM HARVADIANA!"...
Coronel
ReplyProcedimento criminoso e altamente lesivo para a economia brasileira.
lula não è mais que um simplres criminoso, botando a mão nos cofres da União. E para os militares nunca houve dinheiro para novos fusis!!!!
Vem no Jorge Serrão.
"Crime: Lula transfere ilegalmente R$ 14,2 bilhões para Fundo Soberano, ignorando impedimento do STF
O Diário Oficial da União de hoje publica uma flagrante ilegalidade cometida pelo chefão Lula da Silva, que poderia redundar em seu pedido de impeachment, caso houvesse oposição responsável no Congresso e se aqui se praticasse um mínimo de respeito ao Estado Democrático de Direito. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Lula não poderia ter editado uma Medida Provisória para transferir R$ 14 bilhões e 200 milhões ao recém criado Fundo Soberano do Brasil. Acontece que Lula pode tudo e um pouco mais.
Lula e sua equipe econômica aproveitaram a véspera de Natal para passar por cima de uma decisão do STF que impede que créditos orçamentários sejam criados por Medida Provisória. A única exceção permitida é em casos de calamidades ou guerras. Na prática, Lula tira verbas do orçamento da União, para financiar gastos sem autorização legislativa. A libertinagem econômica se consolida na véspera do ano eleitoral. Lula quer instrumentos para gastar mais e sem controle, usando a crise da marolinha como desculpa."
(...)
http://www.alertatotal.blogspot.com
Paulo Boccato:
Replyeu ainda poderia ter analisado esta pérola:
"Os contribuintes americanos podem ter de despender algo como 2 ou 3 trilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro do país."
Comecemos com os números: se dividirmos 3 trilhões (sendo gastos geridos pelo governo é sempre bom usar o pior número) pelo número de contribuintes (tax payers) americanos, ponhamos aí uns 100 milhões, resulta a seguinte cifra: 30 mil dólares para cada escravo. Para salvar a indústria do país? NÃO !! só para socorrer o sistema financeiro. Haja reserva de boa vontade e de fé obâmica no Salvador. É como se pedissem metade do salário anual de cada membro da classe média brasileira para salvar o Itaú, o Bradesco, e o Banco do Brasil, que coitadinhos se meteram em enrascadas financeiras, por serem dirigidos por analfabetos em finanças.
Hereticus
Perfeito ...hehehe!:
Reply"nada do que vem de Harvard em matéria econômica serve para alguma coisa. 90% é bullshit. Este artigo não é exceção à regra. Ele está certo quando diz que os americanos vem consumindo mais do que produzem, e o governo gastando mais do que arrecada.Mas isto é o óbvio ululante. Já a frase "investindo mais do que poupando" é puro bullshit."
PQP!
Essa foi de lascar!
Afinal, investimento se faz EXATAMENTE COM POUPANÇA.
Ou o sujeito está dizendo que poupança só é poupança se entesouramento???
Sem poupança não há investimento, há consumo generalizado, esteril.
PQP! o investimento se faz exatamente contra o consumo presente de quem dispõe dos recursos para consumir. Contudo, todo investimento é uma transferencia de consumo.
Abs
C. Mouro
Avisem ao Dr.Harvard/Mericani
ReplySe os americanos passarem este inverno sem aumentar significativamente o consumo de petróleo,vem muito mais chumbo grosso.
A turma da Opep pode começar a puxar as moedas do baú.Vai ter quebradeira muito maior que esta marolinha atual.
abraços
As sementes dessa crise financeira foram plantadas pelo luminar Allan "bubbles" Greenspan e os genios de Wall Street c/ seus modelos econometricos ridiculos e teorias idiotas (efficient markets). O povo americano depois de decadas de taxas negativas de poupanca vai ter agora que aprender a poupar na marra.
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