Depois do primeiro discurso na posse e na volta à vida pública, nunca mais tinha ouvido discursar. Ontem, elle, Fernando Collor(PTB-AL), foi à tribuna e falou por longos 10 minutos. O registro é histórico:
Sr. Presidente Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz a esta tribuna na tarde de hoje é mais uma vez a preocupação com o nosso entorno, começando na região da Venezuela e da Guiana, onde há um grau de inflamação grande na área de Esequibo, que a Venezuela reivindica como sua área, pertencente ao seu território. Além disso, os fatos recentes da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol também ajudam a criar esse clima de instabilidade, já que fica localizada na fronteira desses dois países: Guiana e Venezuela.
Temos a questão recorrente da Colômbia, que, com o sucesso do governo daquele país no combate às Farc, faz com que os integrantes dessa organização procurem outros países para se abrigar, o que, em relação ao Brasil, é somente atravessar o rio para que eles aqui tentem se homiziar, o que não conseguem, mas criam problemas e trazem instabilidade.
A questão do Equador é conhecida. Apesar da crise recentemente vencida pela competência com que a OEA se houve no processo, esse clima de inflamação nas relações entre os dois países continua a existir.
Na Bolívia, o problema é talvez dos mais sérios. Há um movimento autonomista do lado de províncias como Santa Cruz de La Sierra, Tarija, Pando; em contrapartida, a autonomia de províncias indígenas vem sendo concedida pelo atual Presidente da República, criando um clima extremamente conflituoso naquele País. Ao mesmo tempo, fez parte da campanha do Presidente eleito a saída para o mar, recuperando o território de Antofagasta, perdido para o Chile na Guerra do Pacífico, no meio do século XIX.
Temos agora a questão do Paraguai. O discurso do Presidente eleito foi sempre no sentido de mostrar o Brasil como um país imperialista, disseminando não somente ele, mas outros também, nesse nosso entorno, essa posição que nós nunca quisemos, nós nunca adotamos e não nos interessa, em momento algum, tê-la, como império neste nosso subcontinente.
O Brasil, pela sua extensão territorial, pela sua capacidade de empreender e desenvolver, simplesmente ocupa posição invejável no concerto das nações hoje como uma das dez maiores economias do mundo. Mas nunca exercitamos aquilo que qualquer Estado imperialista costuma exercitar: em momento algum passou pela cabeça do Brasil ter supremacia no nosso subcontinente. E preocupou-me o tema de antibrasil contra os “brasiguaios” que ali estão instalados na nossa fronteira e contra o Tratado de Itaipu.Tratado é para ser respeitado. Pacta sunt servanda, os pactos ou tratados existem para serem cumpridos, um dos princípios do Direito Público Internacional Privado.
O tratado é, portanto, imutável, e não permite, em momento algum, que se caia na tentação de modificar uma vírgula sequer. Toda delimitação das nossas fronteiras e toda conquista da integridade territorial brasileira foi graças ao trabalho do Visconde de Rio Branco e aos tratados assinados pelo Estado brasileiro. Mexer num tratado significa colocar em risco a própria integridade territorial brasileira, porque abre um seriíssimo precedente.
O Presidente eleito do Paraguai disse que o tratado não era válido porque havia sido assinado por dois ditadores, nos regimes autoritários. Eu perguntaria se o Tratado de Latrão, assinado por Mussolini, não poderia também ser, da mesma maneira, questionado, porque levava a assinatura do líder fascista que tanto infortúnio trouxe à humanidade na Segunda Grande Guerra.
O Presidente eleito do Paraguai precisa entender que, da mesma forma que obedeceu ao princípio do Direito, especificamente ao Direito Canônico, quando se despiu das vestes eclesiásticas e abriu mão dos seus votos sacerdotais, também precisa seguir o Direito daqui de fora, o Direito Internacional.
Lamento que o Ministério das Relações Exteriores, antes mesmo de se iniciar uma negociação, já tenha começado a ceder, dizendo “sim, vamos tentar renegociar o tratado”. Uma negociação não se começa já cedendo ao outro. E essa negociação não pode passar, como disse anteriormente, pela modificação do tratado.O Brasil paga o preço justo. Também o Ministro das Relações Exteriores disse, defendendo essa tese do novo governo paraguaio, que deveria ser pago o preço justo. Mas o preço que se paga é justo: US$45 o megawatt/hora, que é o preço internacional. A dificuldade talvez esteja na amortização do investimento feito para a construção de Itaipu, que foi majoritariamente de capital brasileiro, e que o Paraguai vem amortizando nos pagamentos feitos pela utilização dos 95% dos 50% da utilização das águas de Itaipu a que ele teria direito.
É preciso, portanto, que o Presidente da República tenha muita paciência – e tenho certeza que terá –, mas muita firmeza, muita prudência, como também sensibilidade para perceber que a paz e a solidariedade são a base que construiu o Mercosul, do qual faz parte o Brasil e o Paraguai. Paz e solidariedade. E a liga dessa paz e dessa solidariedade é a luta de todos que fazem parte do bloco pelo desenvolvimento econômico.
Tenho certeza que o Presidente da República se sairá muito bem desses entendimentos, que o nosso tratado continuará incólume, que alguma outra maneira o Governo brasileiro encontrará para ajudar o nosso país vizinho, nosso país irmão, nas dificuldades que atravessa para fomentar o desenvolvimento que ele tanto almeja e que já havia alcançado lá atrás também, no século XIX.Tenho confiança de que o Governo brasileiro e o Ministério das Relações Exteriores saberão conduzir muito bem esse processo, lembrando sempre que ao Ministério das Relações Exteriores cabe traçar cenários futuros para não sermos mais reativos, e, sim, ativos diante de cada um desses problemas que porventura voltem a ocorrer no nosso entorno.
Era isso o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.Muito obrigado.
19 comentários
E pelas mãos de quem o parlamentarismo encontrou um colo.
ReplyO comprometimento com o imponderável de baixa vibração nos custa muito caro até hoje.
Dedo no botão de alerta.
nunca pensei que um dia escreveria isto, mas a verdade é que concordo plenamente com cada palavra dita pelo collor.
Replyele fez um brilhante resumo do que está ocorrendo nas nossas fronteiras e a necessidade urgente de que o itamaraty volte a ser o que sempre foi: ministério de relações exteriores do brasil,para negociar os interesses do brasil e não os do atual presidente da república.
marcia1907
Belo discurso, mas está aí o que o apedeuta precisava para meter a mão em mais uma parte do patrimônio nacional em prol da sua insana república bolivariana.
ReplyDigo insana porque não tem outro propósito senão financiar suas futuras campanhas eleitorais às custas do patrimônio nacional.
Mais uma vez mostra o desastre que é aquele mico-grisalho que ocupa o Itamaraty. Desta feita, foi completamente desmoralizado ao demonstrar que o sujeito inicia a negociação cedendo, de quatro mesmo, entregando tudo.
Comete crime de lesa pátria, assim como o chefe dele está também cometendo.
Coronel, ele usa e abusa do "nosso entorno"...
ReplyE sobre quando o governo dele entornou o caldo, ele não tem nada a dizer?
Zé do Coco
Entre os vários absurdos do governo do Presidente Collor está a demarcação (contínua!) da maior terra indígena do Brasil, a Terra Indígena Ianomâmi - afronta à soberania nacional, com 500 km de fronteira com a Venezuela.
ReplyO absurdo começou no governo delle...
É o caso de se perguntar: o que todo esse palavrório tem a ver com a cerimônia? Seria um recado ao STF para defender a soberania nacional, o que é obrigação constitucional de todos?
ReplyDe fato um belo discurso, mas será que não assistiremos as esquerdas virem para lhe dar outra cacetada e assim mantê-lo adestrado como estava até então.
ReplyQuem não te conhece é que te compra, moleque.
ReplyEmbora esteja correto o discurso, a fonte não merece credibilidade. Este mesmo senador saiu em defesa do "Entregador-Mor".
Quanto à entrega que será feita por Luís Inácio, o "Imperador às avessas do Planeta", afinal ele é um Napoleão de Hospício que ao invés de conquistar desbarata tudo o que foi conquistado por seus antecessores, espero que ele também entregue logo essa força frouxa que dentre todos os seus quadros tem apenas um General. Tomara que ele resgate os ideais de Solano López para deleite dos seus seguidores. Espero que o Desimperador concededa aos paraguaios uma faixa contínua de saída para o Oceano Atlântico passando pelo Estado do Paraná, afinal eles não têm costa e não podem, como seus ancestrais, tomar banho de mar, pescar ou mesmo construir um porto marítimo e além do mais, eles ta,bém são índios ou quase, basta olhar a cara deles para se ver isto. O que são 600Kilômetros de extensão para um país imperialista que tem mais 4.200 kilômetros de largura?
Merecemso o que temos e assim, quando o DesImperador sair (será que sairá?) terá deixado um rastro de destruição que em 500 anos não será corrigido.
É o foro de são Paulo em ação na
ReplyAmérica latina, ja está tudo combi-
nado, Brasil cedendo ajuda bilioná-
ria para, Bolivia,Venezuela,Argen-
tina,Paraguai etc etc. Lula da bi-
lhões para ser repartido depois com
a gangue socialista. Marisa ja não
é mais brasileira, mas não pode ir
pra Itália pois acabou o socialis-
mo, então poderão ir viver em qual-
quer parte da américa latina repar-
tindo os dividendos.
Macunaíma diria: Muitos fernandos, muita lula e pouco Augusto Heleno, os males do Brasil são!
ReplyAh! e agora estamos ficando com muitos jânios também.
Cap Bil
CORONEL,
ReplySe elle não tivesse defendido o Bebum,eu lhe daria crédito.
Espertamente está dando voz aos anseios dos brasileiros de bem,como fez nas suas críticas aos marajás,ganhando apoio do povo.
Chegou atrasado,Collor,o General já falou!!!!!!
Abraços.
Coronel
ReplyUm discurso pretensamente patriota, não anula a sua atitude atual, bajulador nojento do Lula, inscrito no PTB partido de base governista e ainda mais, amigo do molusco, quando se sabe que foi este que fez de tudo para derrubá-lo. Mas que fez ele até hoje de patriotismo pelo Brasil? Onde está sua obra feita? Refiro-me à boa obra! E nunca se atreva a falar na "reserva" Raposa Serra do Sol. Volte para os EUA onde tanto gosta de viver.
No seu Estado ainda se fala muito da estranha maneira como foi eleito, contra tudo e contra todas as previsões.
Maravilhosas urnas eletrônicas. Como as amo, não è senhor Elle?
Lugar de esterco é nas estrebarias mal limpas ou nos canteiros de legumes e destes já sabemos, sempre podem vir muitas abobrinhas.
ReplyEntre ouvir as idiotices sem nexo de um Lula analfabeto, melhor ouvir isso, bonito discurso. Agora, não dá pra acreditar que seja verdadeiro, vamos aguardar o bote.
ReplyO pior é que, apesar de tudo o que se sabe de Collor, ele ainda inspira mais confiança que esse bando que se instalou no poder, começando pelo apedeuta semi-analfabeto messiânico que brinca de presidente da república - com minúscula, mesmo!
ReplyCollor pode ter feito muita coisa errada - e bota coisa nisso - mas, de uma coisa não se pode acusá-lo: De ter se comportado como um descerebrado no cargo. Exerceu a autoridade, e inspirava respeito. Comportou-se como um verdadeiro Presidente da República, até na dignidade mostrada na sua constrangedora saída, diga-se.
ele é o perfeito livro" Assim falou AzaraTruta"¬¬
ReplyO lugar dele é o Haiti,vuduzeiro...
O "ghost-writer" do Collor é melhor que o do molusco e é só.
ReplyMuito dos nossos atuais problemas foram criados por eLLe. A reserva Raposa do Sol, por exemplo.
Safra64
PELO MENOS MOSTRA E PASSA CONFIANÇA E PULSO FIRME , ANTES ELE DO QUE LULA!!
ReplyS'il vous plaît, Pierre, s'il vous plaît. De novo, não que nosso nervos não suportam mais tanta adrenalina. Prefiro o candiru. A priemira atitude deste estrupício foi fazer o do bigode, aquele salafrário do Maranhão (no dicionário é sinônimo de mentira, voltar atrás no reajuste que nos tinha csido concedido, dizendo que depois daria o reajuste. Ele foi felizmente "impeachado" - com o perdão do neologismo híbrido - sem nunca ter dado o nosso reajuste. O que ele precisa é fazer umas viagens nos aviões das Aerolíneas Vonezolanas, pois pode ser que a quqluer momento tenhamos um dia de luto oficial, para nosso delite e para que eu tenha oportunidade de soltar oa fogos de artifícos que estoau guardando para eles.
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