Editorial da Folha.

Rumos da CPI

Investigação dos escândalos dos gastos corporativos exige do Congresso clareza de foco e de propostas

REZA A SABEDORIA política que sempre se sabe como uma CPI começa, mas não como irá terminar. Parte da frase poderia ser corrigida no caso da CPI dos cartões corporativos. Nem mesmo o seu início se presta a uma apreensão fácil e imediata.Tem havido tantos vaivéns no processo de sua instalação, tantos acordos e desacordos a cada atitude do governo e da oposição nos últimos dias, que a falta de clareza desde já parece tolher os trâmites e os objetivos do inquérito anunciado.Discutiu-se, ao longo da semana, se haveria uma ou duas CPIs; a solução de uma CPI mista, com participantes da Câmara e do Senado, parecia ter sido aceita por todos na quinta-feira. Não mais, um dia depois: contesta-se a hegemonia do governo nos cargos-chave da comissão.

No cerne das negociações, outro problema espinhoso: seriam também investigadas as despesas do governo Fernando Henrique Cardoso? Ou só as do governo Luiz Inácio Lula da Silva?Há quem se mostre ainda mais ambicioso, querendo saber "se o Poder Judiciário tem cartão ou não, assim como as estatais". É o que declarou o antigo líder do PT na Câmara, deputado Luiz Sérgio, indicado para ocupar a relatoria da CPI. Se conta, com isso, dispersar o foco das apurações, dificilmente haverá de malograr nesse intento: a irregularidade nas contas públicas é ampla, geral e irrestrita no país.

Gregos e troianos se preparam, naturalmente, para a troca de escândalos, e é provável que munição não falte a nenhum dos lados. Do equilíbrio das irregularidades cometidas talvez resulte o esvaziamento da comissão. Diversas outras CPIs tiveram, como se sabe, o mesmo fim.Que isso não aconteça. Se faltam meios para realizar a varredura completa dos desmandos realizados com os cartões corporativos e, em especial, com as chamadas "contas B", ainda menos transparentes, há condições de elucidar casos relevantes e exemplares.

Em Alagoas, dirigentes do PT sacaram mais de R$ 700 mil com cartões corporativos. Um deles, candidato às eleições de 2006, sacou 41% de todas as despesas três semanas antes do pleito.Só esse escândalo -cujo valor pode ser calculado em cerca de 90 mil cafés-da-manhã com tapioca- é suficiente para impor à CPI dos cartões, que se inicia nebulosa, ameaçada por blindagens mútuas e acordos de gabinete, o rumo de que necessita.

Além das apurações -e das punições que lhe cumpre sugerir à Justiça-, a CPI poderá representar um grande avanço se contribuir para a delimitação precisa dos gastos permitidos com cartão e para o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle hoje à disposição da sociedade.

A transparência nessa questão, de que se gaba o governo Lula, está longe de ser completa: nem sequer se discrimina, pela internet, o objeto de cada compra realizada. Seriam necessários muitos meses e anos, talvez, para esclarecer toda a extensa e multifacetada festa dos gastos corporativos; que a CPI, ao menos, crie condições para encerrá-la de vez.

6 comentários

Bolsa-pintassilgo?

Não seria pintasilva?

http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2008/02/17/pais20080217002.html

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Dr Evil nao acredita nesta CPI. Mais, Dr Evil nao acredita em parte da oposicao. Dr Evil acha que os dirigentes do PSDB nao podem ser tao burros assim. Dr Evil acha que eles estao com muito medo de alguma coisa aparecer no curso das investigacoes que os incrimine Nao ha outra explicacao para tanta apatia. Estao concordando demais com o governinho. So pode ser rabo preso.

Dr Evil quer saber: FHC nao manda nada neste partidinho? Porque ele nao bota a boca no trombone? Tem rabo preso tambem? So vai ficar falando, sem agir?

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Matéria do Blog do Josias:

Crise dos cartões ofusca CPI de R$ 32 bi das ONGs


Verba foi repassada pelo Tesouro entre 1999 e 2006

Foram beneficiadas 7.670 entidades em todo o país

Lista inclui de sindicatos a organizações indigenistas

Suspeitas alcançam de congressistas a universidades

Leiam em :

http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2008-02-17_2008-02-23.html

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Coronel

Falou em Alagoas? Sabe que quem ganhou as últimas eleições foi João Lyra e não Teotónio Filho (PSDB) como foi comprovado pelo "O JORNAL" (http://www.ojornal-al.com.br/), que fez um levantamento junto ao Tribunal Regional Eleitoral e Tribunal Superior Eleitoral, onde foram revelados dados curiosos sobre as votações para governador, deputados federais e deputados estaduais.

Os números e a lógica demonstraram que a votação deveria acompanhar os resultados para federal e estadual e aí quem deveria ter tido mais de 700 mil votos para governador era João Lyra e não Téo Vilela, cujos candidatos proporcionais somaram apenas 402.476 votos para federal e 394.201 votos para estadual. Os deputados federais que apoiaram o candidato a governador João Lyra, juntos, somaram um total de 736.699votos e os estaduais obtiveram a soma 693.779 votos. Estranho? Pois é.

A porcaria não è só em Brasilia, não!

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No momento a meta seja por qual CPI for é impor ao governo uma derrota que repercuta na sociedade de maneira não estratificada.
O objetivo deve ser o abalo que lembre aos famigerados quadros da insaciável base mensaleira o alcançe da lei e da execração pública.
Sem algo forte o bastante para brecar a corrosão da atividade executiva o Brasil terá que fechar para balanço.
O PAC é marketing e superfaturamento, os serviços essenciais, digo emergenciais faz triagem de moribundos, a interpretação de texto pelo jovem faculta-nos tomar-lhes o título de eleitor por inépcia funcional e os interesses de longo prazo são ditados pelas máfias.
Esse xadrez avança pela deformação institucional cujo colapso fará acolher a íntegra das deliberações do Foro.
Um estado bandido de fato propondo um estado de direito do bandido.
Chegaremos lá.

Sharp Random

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Esta "estória" de que sempre se sabe como começa uma CPI e nunca se sabe como vai acabar é "colóquio flácido para ninar bovino". Há muito que se sabe que as CPI começam com muito holofote e terminam em pizza paga com os recursos de sempre.

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