O mês de agosto será marcado por uma guerra de versões entre os 38 réus durante o julgamento do mensalão. Essas divergências se acentuaram ao longo dos anos, mas, quando o
escândalo eclodiu, em 2005, muitos dos envolvidos formularam uma tese
unificada sobre o dinheiro do esquema. Tudo virou "caixa dois". É o
jargão usado para o uso de dinheiro não declarado pelas campanhas.
A história é longa. Remonta ao início de 2003, primeiro ano de Lula na
Presidência. Na época, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza
frequentava as sedes do PT. Loquaz, dizia aos dirigentes da sigla: "O PT
me deve uns R$ 120 milhões". Em meados de 2004 o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi
procurado por Silvio Pereira, secretário-geral do PT, que relatou o que
ouvira. Dirceu retrucou: "Mas não eram só R$ 40 milhões?". Dirceu nega a existência do diálogo. Já Silvinho, como é conhecido,
relatou a conversa a mais de uma pessoa. Vistos em retrospecto, os
indícios do início do governo Lula iam todos na direção de um esquema em
formação.
O escândalo do mensalão se materializou em 6 de junho de 2005. Nessa
data a Folha publicou uma entrevista com o deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) afirmando que congressistas aliados recebiam o que ele chamava
de "mensalão" de R$ 30 mil do PT. Os petistas ficaram aturdidos. Não sabiam como reagir. Aí ocorreu algo
inusitado. O discurso de defesa foi arquitetado pela mesma pessoa que
forneceu recursos para o esquema: Marcos Valério. Tudo seria apenas caixa dois. Dívidas de campanha que precisavam ser
pagas. Algo que todos os políticos acabam praticando. Um achado. O
mensalão passou a ser a versão oficial da defesa.
Após a entrevista de Jefferson, a pressão aumentava a cada dia sobre o
Planalto. Valério estava prestes a dar depoimento à Procuradoria. O empresário mineiro deixou vazar numa sexta-feira (dia 8 de julho) que
teria marcado sua ida à Procuradoria para a semana seguinte. Vários
políticos entraram em contato com ele. Delúbio Soares foi um deles. O
tesoureiro do PT e das campanhas de Lula falou com Valério no sábado. Conversa tensa, com ameaças diversas.
Valério se dizia abandonado. Queria proteção. Falou em negócios de seu
interesse que o governo não poderia deixar de tocar, como a liquidação
do Banco Econômico. Delúbio comprometeu-se a tratar desses pleitos com a cúpula do PT e do
governo. Mas a comunicação era difícil naqueles dias. Na segunda-feira,
11 de julho, Delúbio foi a Belo Horizonte conversar com Valério. Poucos
na direção do PT foram avisados. Era uma operação de alto risco, mas
imprescindível para montar uma versão aceitável. Enquanto Delúbio se mexia, o governo enviava bombeiros para conversas
reservadas. Foi importantes nesse processo o governador do Acre, Jorge
Viana, que conhecia o meio publicitário de Minas (a agência que fazia a
propaganda de seu governo era a mineira ASA). Sua missão era acalmar o
setor e evitar que mais pessoas começassem a dar entrevistas.
Ao mesmo tempo, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (hoje
ministro), procurou políticos locais para colocar água na fervura. Em Brasília, Lula se aconselhava com um antigo tesoureiro do PT, Paulo
Okamotto. O ministro Antonio Palocci (Fazenda) acalmou os credores dos
bancos Rural e BMG, usados no valerioduto. Preocupados com a eventual
quebra das instituições, os credores ameaçavam acioná-las na Justiça.
Ouviram de Palocci que deveriam aguardar, pois o governo não deixaria a
situação sair do controle.
Em 12 de julho, dia seguinte à visita de Delúbio a Valério, fez-se uma
reunião secreta em São Paulo em um escritório do advogado Arnaldo
Malheiros Filho, responsável pelos casos de Delúbio e Silvio Pereira.
Além de Delúbio, Silvio e dos advogados, estava no local José Genoino,
presidente do PT quando o escândalo surgira. A reunião começou por volta
de 9h.
No meio do encontro Delúbio disse: "Vocês não se espantem não, mas o
Marcos Valério está chegando". Um jatinho com o publicitário e o
advogado Marcelo Leonardo aterrissara por volta das 10h no Campo de
Marte. Por volta das 10h30, Valério e Marcelo Leonardo entraram e se isolaram
por alguns minutos em uma das salas do escritório. Quando entraram na
sala maior, onde estavam os outros, o empresário pediu a palavra. "Temos
três hipóteses. A primeira é derrubar a República. Vamos falar tudo de
todos. PT, PSDB, PFL, todos. Não sobra ninguém. A segunda hipótese é a
tática PC Farias: ficar calado. Só que ele ficou calado e morreu. A
terceira hipótese é um acordo negociado, de caixa dois."
Todos ficam calados. Segundo um presente, "era como se estivéssemos
todos congelados". Várias conversas paralelas começaram, até que cada um
apresentou seu ponto de vista. Genoino defendeu o governo Lula e a
escolha da hipótese número 3. Essa foi a saída consensual. Antes de a decisão ser aceita por todos, Delúbio, Valério e Genoino se
reuniram separadamente numa sala. Depois da conversa reservada, o
encontro maior não se instalou mais. Não houve anúncio formal, mas ficou
subentendido que a saída era vender a versão do caixa dois ao público.
Já passava das 13h. A fome dos presentes foi saciada com sanduíches da
padaria Barcelona, na praça Vilaboim, reduto tucano em São Paulo. O primeiro a sair foi Valério. Ficaram no local os demais. Decidiu-se
que no dia seguinte eles iriam a Brasília consultar o governo e as
cúpulas dos partidos aliados. Malheiros providenciou o aluguel de um
jatinho. Embarcaram cedo na quarta. Genoino preferiu não ir.
Ao chegar à capital federal, Malheiros e Delúbio se dividiram. O
advogado foi ao encontro do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, hoje advogado de um ex-diretor do Banco Rural, que é réu. O
petista se deslocou para a casa de um amigo. Na conversa entre Thomaz Bastos e Malheiros, o governo teve pela
primeira vez detalhes da versão do caixa dois. Bastos ouviu e falou da
necessidade de todos afinarem o discurso. Aprovou a estratégia, mas
antes precisava submeter o acordo a Lula. Nessa mesma quarta, Thomaz Bastos chamou Antonio Palocci e ambos foram
até o presidente. Lula concordou com a versão. O ministro deu sinal
verde a Malheiros.
O endereço em que Delúbio se instalou em Brasília foi transformado em
central da versão do caixa dois. Foram chamados ao local todos os
políticos que precisavam ter o discurso ajustado. Em romaria, eles
chegavam, tomavam conhecimento e concordavam com a estratégia. Estiveram ali, pelo menos, Arlindo Chinaglia, José Janene, José Borba,
Valdemar Costa Neto, Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini, Paulo
Okamotto e Renato Rabelo. Entre os que foram consultados estão Dirceu e
um representante do PTB.
No dia seguinte, quinta-feira (14 de julho), já com tudo acertado,
Delúbio passou por Belo Horizonte para finalizar os detalhes do
depoimento de Valério à Procuradoria, que acabou sendo feito nessa mesma
data. Antes de prestar seu depoimento, o ex-tesoureiro tomou
conhecimento do teor do que fora dito por Valério. O depoimento de
Delúbio à Procuradoria ocorreu na sexta-feira, dia 15.
Na véspera desse depoimento, com o discurso afinado, os protagonistas da
montagem da versão do caixa dois voltaram a São Paulo. Havia um clima
mais relaxado. No dia 14, à noite, houve ainda duas reuniões para
preparar o depoimento de Delúbio. A primeira teve como protagonistas Genoino, Delúbio, Silvio Pereira,
Ricardo Berzoini e José Dirceu. O advogado Arnaldo Malheiros chegou na
metade do encontro. Nessa reunião o objetivo era checar de maneira
pontual os detalhes que Delúbio abordaria.
Um exemplo de que o clima estava melhor foi o prazer a que se deu
Delúbio, torcedor do São Paulo: ele assistiu ao final da partida em que
seu time disputava a finalíssima da Libertadores -e foi campeão pela
terceira vez. Após a partida, todos saíram para um segundo encontro, já
na madrugada de sexta. Coube a Malheiros ligar para o procurador-geral
da República, Antonio Fernando Souza, para acertar o depoimento de
Delúbio. Estava montada a versão do caixa dois.
Ato contínuo, em viagem a Paris, o presidente Lula deu entrevista na
qual falou sobre a operação. O "Fantástico", da TV Globo, transmitiu o
vídeo em 17 de julho: "O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o
que é feito no Brasil sistematicamente". E mais: "Não é por causa do
erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está
envolvido em corrupção". O escândalo começava a ficar domado. No discurso oficial,
circunscrevia-se o mensalão a mero uso de dinheiro não contabilizado em
campanha. Lula não virou réu. Agora, sete anos depois, o STF julgará se é verossímil a versão do caixa
dois, tão bem arquitetada naquele conturbado julho de 2005.(Folha de São Paulo)
4 comentários
Coronel,
Replyo grande mal desse país se chama Lula, o velhaco. Junto com ele, o FHC que, por vaidade, deixou o Serra à ver navios e fez do canalha maior presidente. O mensalão é pequeno para os desvios de verbas e, principalmente, para a iniquidade que a canalha conseguiu instituir no Brasil.
Cel,
ReplyO periódico da falida Espanha, que antes aplaudia de 4 o LulloPTismo, agora ufaniza a Melancia Silva.
"La ecologista Silva eclipsa la presencia de Dilma en la apertura de los Juegos"
http://internacional.elpais.com/internacional/2012/07/28/actualidad/1343506842_019358.html
O dirceuzinho borboleta é chamado de o chefão da máfia dos mensaleiros.
ReplyTodos os Brasileiros Honestos sabem que isso não é verdade. O chefe é o sapo barbudo cachaceiro, o rei dos ladrões.
E vc ainda tem dúvidas ?
EM PAIS SÉRIO E HONESTO, ONDE OS CIDADÃOS SÃO DO BEM, E NÃO SÃO CORRUPTOS, CAIXA DOIS DA PRISÃO, PORÉM NO BRASIL ACREDITAREM JUIZES,´SÓ NO INFERNO
ReplyO ex-primeiro-ministro romeno Adrian Nastase tentou se suicidar após a justiça confirmar sua condenação a dois anos de prisão por corrupção. Segundo a imprensa local, Nastase atirou em si mesmo quando a polícia entrou em sua residência para levá-lo para a prisão. De acordo com as primeiras informações, o ex-primeiro-ministro teria disparado em sua garganta e está sendo operado neste momento num hospital de Bucareste.
Nastase não corre perigo de vida, afirmaram fontes médicas citadas pelos meios de comunicação romenos.
A condenação a dois anos de prisão de Nastase, primeiro-ministro entre 2000 e 2004, por financiamento ilegal de sua campanha eleitoral para as eleições presidenciais de 2004, foi confirmada hoje por um tribunal romeno. Nastase é o primeiro chefe de Governo condenado à prisão nos 23 anos de democracia na Romênia, país marcado pela corrupção.