Bendito agronegócio.

Este blog, em função dos debates do Código Florestal, um dos únicos e grandes debates democráticos depois da Constituição de 88 (lembro somente do plebiscito de desarmamento, talvez, como algo parecido), mergulhou em números, dados e textos sobre o Campo brasileiro, tão desconhecido e tão descuidado. O blog virou ruralista. Virou produtor rural. As mãos ficaram calejadas de tanto escrever sobre o tema. Motivo? Um pouco a desilusão com a política e aquela promessa de que, depois de 2010, ficaria mais focado em grandes causas, em vez de alimentar esta politicagem rasteira que ainda vige no Brasil. Talvez porque já um pouco acima da meia idade, voltei a lembrar que nasci na roça, em meio a uma agricultura de subsistência que completava a renda e a mesa que o pai busca a léguas de distância, correndo Brasil abrindo estradas, construindo pontes. Por tudo isso é que, de dois em dois sábados, sempre publico o artigo desta senadora e líder setorial admirável chamada Kátia Abreu, que nunca me decepciona. Nem quando desce a rampa do Planalto de braços dados com Dilma Rousseff. É por uma boa causa. E o Brasil precisa muito disso.

Uma nova política agrícola

Após o enriquecimento no meio urbano, chegou a hora de o campo também colher os frutos do avanço do país
O Brasil transformou-se em um dos três maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo em menos de 40 anos. Essa transformação foi resultado da combinação de empreendedorismo privado, apoio do Estado (por meio do crédito rural) e difusão da pesquisa agronômica. As políticas públicas de apoio à produção rural, contudo, permaneceram as mesmas da década de 1970.

O Plano Agrícola e Pecuário 2012/13, lançado na semana passada, deve ser visto como um marco divisório. Reduziu juros, aumentou recursos para custeio e investimento e abriu novos e amplos caminhos que poderão fazer toda a diferença para o agronegócio brasileiro.

A primeira e mais profunda mudança de rumo na política agrícola do país é o aumento substancial do seguro rural. O volume era muito modesto e não cobria mais de 5% de nossa área plantada. O governo agora eleva substancialmente as dotações, permitindo que o Brasil possa ter cerca de 20% da área plantada coberta por seguro. Até 2015, esperamos ter 50% da área coberta. Sem dúvida, uma mudança de paradigma.

Ainda precisaremos desenvolver modelos que assegurem não só a cobertura contra eventos climáticos, mas também contra as variações extremas de preço, que tanto punem a atividade rural. A indústria pode regular a sua produção a qualquer momento. Na agricultura, se entre o plantio e a colheita mudam as condições de mercado, o produtor não tem como se proteger. Nos países onde o seguro agrícola está acima de 80% da área plantada, como nos Estados Unidos, o crédito público foi substituído pelo crédito privado, pois o risco de financiar um produtor com seguro agrícola é praticamente zero.

Nesse novo modelo, as operações de crédito ocorrerão com maior transparência. Uma central única de riscos permitirá aos agentes financeiros conhecer com mais segurança o nível de endividamento dos tomadores de crédito e, nesse ramo, mais conhecimento significa juros menores.

Outra iniciativa que merece destaque é a criação de uma instituição com a função de coordenar e de fomentar a extensão rural no país. Mais de 3,5 milhões de produtores rurais (cerca de 70% do setor) vivem praticamente da agricultura de subsistência, nos limites da situação de pobreza. Enquanto na economia urbana um número cada vez maior de brasileiros ascende à classe média, na zona rural o progresso não alcança a grande maioria. Ao contrário, a classe média do campo está sendo comprimida.

Sabemos que o ativo que determina o nível de renda no mundo moderno é o conhecimento. E esse conhecimento não pode continuar distribuído de modo desigual entre os brasileiros do campo. É preciso dar a todos condições iguais de acesso a insumos tecnológicos modernos, democratizando o conhecimento produzido por pesquisadores país afora, em especial na Embrapa, nas nossas excelentes universidades rurais e em um número cada vez maior de empresas privadas -que nos deram a agricultura de precisão, o etanol de segunda geração e as técnicas de baixa emissão de carbono, por exemplo.

Parece ter chegado a hora de recriar, de forma moderna, baseados em meritocracia, os sistemas de extensão rural no Brasil. O governo federal merece nosso aplauso por essa iniciativa de longo alcance.

A participação do custo da alimentação na renda do trabalhador da cidade caiu de mais de 40% para 17%, nas últimas décadas. Essa diferença virou eletrodomésticos, educação para os filhos, carro, casa própria. Impulsionou as classes mais baixas da população urbana para a classe média.

Chegou a hora de o campo também colher os frutos do crescimento do Brasil. O seguro agrícola vai diminuir o risco, ampliando a capacidade de produção e o tamanho da classe média rural. Extensão e assistência técnica reduzirão o abismo entre os que praticam a boa gestão e os que nem sequer a conhecem, tirando milhões de agricultores da pobreza.

Confio em que estamos iniciando um círculo virtuoso, fruto da união de produtores e do governo, que estão dando as mãos para construir um Brasil mais igual e mais justo. 

KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados, a cada 14 dias, neste espaço.

15 comentários

Coronel,
Meu final de semana começa de forma radiante lendo Kátia Abreu e este depoimento de suas origens.
Abraço e bom final de semana.

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Alguém viu ou ouviu Marina Silva durante ou após o evento Rio + 20? Temo que ela tenha sido resgatada pelos nativos do seu planeta...

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Coronel,

O "Brasil Urbano" (formador de opinião) ainda sofre do "Complexo de Jeca-Tatu" atribuindo, às pessoas que tiram o sustento do campo, uma debilidade mental e carater exploratório dos recursos "de todos".

Cabe as pessoas que conhecem as duas realidade(de que leite não vem da caixinha Tetrapack) esclarecer o Grande Brasil de Todos Nós!!!!

JulioK

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Já dizia o grande Profeta Isaías:

Primavera

Bem-aventurados sereis por semear à margem de todos os cursos de água, e por deixar o boi e o asno sem peias.

Is 32,20

É bíblico. Mas o homem de hoje acha que é mais do que Deus (sinal de que Satanás está no comando).

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Coronel,

em nada me assustou ter visto a Kátia Abreu descer a rampa com a Dilmá.

São diferentes como a luz e a sombra!

A primeira tem brilho próprio.

Já a segunda, apenas está contribuindo para afundar mais e mais o Brasil na sombra e na lama. Ser nefasto. não nega as origens.

Flor Lilás

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Bem, como sempre, os escritos da senadora.

Não precisaria descer a rampa com a presidente.

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Outro dia vi uma crítica sobre a falta de investimentos do desgoverno no BR e achei estranho como o pesquisador colocou a agricultura no mesmo "saco de bondades" das isenções que o desgoverno deu pra indústria em geral.

Uma coisa é fomentar nossa agricultura, que é motivo de orgulho para os brasileiros, PORQUE ELA É DE FATO NOSSA!

Outra muito diferente é dar isenção fiscal para setores como o automotivo, que além de cobrarem horrores pelas porcarias defasadas e inseguras que vendem por aqui, ainda mandam 4-5 bilhões anuais em lucro para suas matrizes em contrapartida de um investimento pífio em solos brasileiros.

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Concordo plenamente com a

Flor Lilás
7 de julho de 2012 11:02

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pois então: se katia está com dilma e aécio é contra Kasssab e agronegócio. DILMA Já TEM MEU VOTO!!!

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Anônimo de 7 de julho de 2012 15:28

ou você é um grande cínico humorista, ou um grande petralha.

Ainda estou em dúvidas...

Flor Lilás

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Tenho lido muita gente falar aqui no blog, ultimamente, em votar na Dilma, por isso ou por aquilo. Muito estranho, serah que eh virus ? Estao infiltrando ?

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"democratizando o conhecimento produzido por pesquisadores país afora"

Que é isso, Senadora? A senhora quis dizer "estendendo", "ampliando" ou, no máximo, "universalizando". Democracia não é isso. Essa ideia de que democratizar é dar acesso a bens e serviços via Estado é invenção da esquerda (conceito econômico de democracia). Cuidado com a linguagem, Senadora.

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Não sei, não, Coronel. Temo que ela possa estar caindo numa armadilha com Dilma afagando o setor agropecuário. Esse pregmatismo só faz bem ao PT. Para os demais, é a escada da desmoralização e perda de identidade. Como quase todos são imediatistas, deixam-se seduzir com benesses governamentais e se perdem politicamente. A coisa mais fácil no Brasil é comprar apoios. Quem tem a chave do cofre deita e rola.

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Flor Lilás/PR, a Dilma ainda vai ter que SUBIR A RAMPA DO PALÁCIO DO PLANALTO para passar a faixa de presidente para sua sucessora Kátia e a campanha NÃO PODERÁ POLARIZAR SUA ESTRATÉGIA CHOROSA DE EXPLORAÇÃO DOS MACHISTAS SÓ PORQUE ELA É MULHER.
A Kátia Abreu é o que? um ET, não , ela é mulher como Dilma mas tem apoio de pessoas direitas enquanto a Dilma apenas ESQUENTA O LUGAR NO TRONO DO VELHO ALAMBIQUE DE PINGA para o tiranossáurico ditador que espera sua coroa de volta em 2014.
MILAGRES ACONTECEM, O CORINTIANS GANHOU A LIBERTADORES DA AMÉRICA NESTE ANO, O burraddad NÃO ENTRA para o segundo turno, talvez seja entre Soninha e Russomano, porque o BUNDÃO DO SERRA é covarde e coloca seu rabinho no meio das pernas quando o Guerra e TRAÉCIO 51 Never rosna e morde seu calcanhar.
ACORDA SERRA, CHUTA O TRAÉCIO E VÁ CONTRA O REI TATUZINHO E SUA CORJA E DEPOIS APOIE A CHAPA PRESIDENCIAL DE KÁTIA ABREU E Kassab, o vice vai atrair votos de congressistas que são inimigos do PSD e Serra, vice é rainha da Inglaterra, não tem poder nenhum, basta a Kátia Abreu mandar o Kassab a representar em viagens da presidência da república, é dar poder do vice representar o ESTADO BRASILEIRO no interesse do governo e estado brasileiro ( o vice seria como um primeiro-ministro ) e seria melhor que tivesse no senado poder de desempate como presidente do senado ( como nos EUA ) e enturmado com os políticos faria acordos para a GOVERNABILIDADE com partidos e independentes ( ratos fugidos do navio petralha "no naufrágio os ratos são os primeiros a fugirem).
** Todo apoio é bem-vindo desde que gratuito e sem troca-troca.

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Os oitavo e nono parágrafos, não sei se táticos, estão muito bajuladores. Poderiam ter sido menos! As coisas, generalizando-se, NÃO VÃO BEM.
E ela não pode ver só o agronegócio como o único salvador do Brasil, como tem sido.
O resto, irretocável! Perfeito!
Descer a rampa, ser cortês, apertar a mão, etc., não significa concordância tácita.
Mas, estamos de olho!
Demóstenes, não sei quantos porque não possuo dados concretos, enganou muita gente. Inclusive eu.
FHC e Serra não deram um pio sequer quanto ao Foro de SP, o o caso Paraguai e não constituíram um mínimo de reduto de oposição que fosse. Decepção!
Vamos ver, quando os interesses entrarem em jogo. Vamos ver...

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