O elogio do atraso. Quanto mais atrasado, melhor. Há algumas semanas, a revista The Economist analisou o atual estado da economia brasileira. Nossa maior glória, de acordo com a reportagem, foi ter permanecido lá atrás. No estatismo. No assistencialismo. No empreguismo. Na agiotagem. Nas negociatas patrimonialistas do BNDES. Agora tudo isso poderá nos proteger do rombo da economia mundial, causado por aquela "gente branca, loira e de olhos azuis", segundo Lula.
A reportagem da The Economist é ilustrada com a imagem de um homem de bermuda, tirando uma soneca num muro de pedra, diante de uma igreja. Os historiadores sempre associaram nosso atraso ao catolicismo ibérico. Como nosso trunfo é o atraso, a gente tem de ir mais à igreja. A gente tem de resgatar o Tribunal do Santo Ofício. A gente tem de dormir mais. Nosso lugar, como o de Macunaíma, é numa aldeia à margem do Uraricoera. The Economist recuperou o mito modernista do herói indolente e sem caráter, celebrando Mário de Andrade com oitenta anos de atraso. Quanto mais atrasado, melhor. Especialmente no caso de Mário de Andrade.
Coreia, Coreia, Coreia. Nos últimos anos, aconselharam-nos sem parar a imitar a Coreia. Que pegou um monte de dinheiro e o despejou todinho na escola. O único caminho para o progresso, repetia-se tediosamente, era o estudo. Os coreanos fizeram isso mesmo: estudaram. Deu certo por algum tempo. Até a economia mundial desabar. Quando desabou, a da Coreia desabou mais ainda. E o modelo brasileiro, baseado no torpor físico e moral, passou a ser comemorado nas páginas da The Economist. Quem mandou estudar tanto? A Coreia, hoje, tem uma indústria de ponta que compete com a dos países mais ricos, com produtos que ninguém se interessa em comprar. A gente, muito mais folgadamente, recolhe farelo de soja e minério de ferro e sai arrecadando uns trocados por aí. Conselho: estude menos e durma mais.
Há outras áreas em que o imobilismo e o atraso podem nos beneficiar. Neste período de empobrecimento generalizado, em que há maior chance de tumulto social, ter um povo domesticado e acovardado, como o nosso, representa uma grande vantagem. Outra área da qual temos de tirar proveito é o ambiente. Os Estados Unidos se preparam para torrar 150 bilhões de dólares em energia limpa e ineficaz, num prazo de dez anos. Ao mesmo tempo, planejam aumentar todos os impostos sobre as fontes de energia mais poluentes e eficazes. Nós, por outro lado, continuaremos a produzir como sempre fizemos, de maneira porca e barata: ateando fogo no mato e soltando o gado.
Daqui a dez anos, se a economia mundial continuar a se atrofiar, estaremos ainda melhor, colhendo os frutos de nosso atraso. The Economist dedicará mais uma página ao Brasil, numa reportagem altamente elogiosa a respeito de nossas queimadas, ilustrada com a imagem de um homem de bermuda, tirando uma soneca num muro de pedra, diante de uma igreja. E com enfisema pulmonar.
A reportagem da The Economist é ilustrada com a imagem de um homem de bermuda, tirando uma soneca num muro de pedra, diante de uma igreja. Os historiadores sempre associaram nosso atraso ao catolicismo ibérico. Como nosso trunfo é o atraso, a gente tem de ir mais à igreja. A gente tem de resgatar o Tribunal do Santo Ofício. A gente tem de dormir mais. Nosso lugar, como o de Macunaíma, é numa aldeia à margem do Uraricoera. The Economist recuperou o mito modernista do herói indolente e sem caráter, celebrando Mário de Andrade com oitenta anos de atraso. Quanto mais atrasado, melhor. Especialmente no caso de Mário de Andrade.
Coreia, Coreia, Coreia. Nos últimos anos, aconselharam-nos sem parar a imitar a Coreia. Que pegou um monte de dinheiro e o despejou todinho na escola. O único caminho para o progresso, repetia-se tediosamente, era o estudo. Os coreanos fizeram isso mesmo: estudaram. Deu certo por algum tempo. Até a economia mundial desabar. Quando desabou, a da Coreia desabou mais ainda. E o modelo brasileiro, baseado no torpor físico e moral, passou a ser comemorado nas páginas da The Economist. Quem mandou estudar tanto? A Coreia, hoje, tem uma indústria de ponta que compete com a dos países mais ricos, com produtos que ninguém se interessa em comprar. A gente, muito mais folgadamente, recolhe farelo de soja e minério de ferro e sai arrecadando uns trocados por aí. Conselho: estude menos e durma mais.
Há outras áreas em que o imobilismo e o atraso podem nos beneficiar. Neste período de empobrecimento generalizado, em que há maior chance de tumulto social, ter um povo domesticado e acovardado, como o nosso, representa uma grande vantagem. Outra área da qual temos de tirar proveito é o ambiente. Os Estados Unidos se preparam para torrar 150 bilhões de dólares em energia limpa e ineficaz, num prazo de dez anos. Ao mesmo tempo, planejam aumentar todos os impostos sobre as fontes de energia mais poluentes e eficazes. Nós, por outro lado, continuaremos a produzir como sempre fizemos, de maneira porca e barata: ateando fogo no mato e soltando o gado.
Daqui a dez anos, se a economia mundial continuar a se atrofiar, estaremos ainda melhor, colhendo os frutos de nosso atraso. The Economist dedicará mais uma página ao Brasil, numa reportagem altamente elogiosa a respeito de nossas queimadas, ilustrada com a imagem de um homem de bermuda, tirando uma soneca num muro de pedra, diante de uma igreja. E com enfisema pulmonar.
1 comentários:
Coronel:
ReplyHoje teremos outro atraso a comemorar: o Brasil vai participar da campanha do WWF chamada "A Hora da Terra".
No ano passado a Google participou e utilizou um fundo negro em vez do fundo branco usual. E deu uma justificativa de porque não usava esse fundo negro permanentemente: o gasto de energia é o mesmo independente da cor usada...
A hora da Terra ilustra para qualquer estudante de economia uma das leis fundamentais em economia: a lei das consequencias inesperadas.
Demos alguns exemplos: quem acender uma vela (ou uma lanterna) vai gastar mais energia do que a que conserva com a lâmpada apagada. Quem resolver sair de casa para ver as estrelas deverá usar o carro, pois perto da cidade as luzes restantes ainda ofuscarão as estrelas.
A cidade de Sidney na Australia, que começou essa campanha, calculou a economia em energia elétrica, e chegou à conclusão que era estatisticamente negligenciável.
Tudo não passa de golpe publicitário dos verdes.
Eu estou fora.
Hereticus