Gilbertinho.

Do Estadão:

O efeito colateral mais visível da Operação Satiagraha é a explícita guerra petista deflagrada com a divulgação das escuta telefônicas envolvendo os advogados e ex-deputados federais Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Luiz Carlos Sigmaringa Seixas (PT-DF). O confronto mais pesado e público, porém, é entre o ministro da Justiça, Tarso Genro (PT-RS), e o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), deputado cassado no escândalo do mensalão.Com o argumento de que Tarso usa a Polícia Federal para perseguir adversários políticos, Dirceu não se cansa de reclamar do que chama de "pirotecnia verbal" do ministro. Além das queixas, apresentadas pessoalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tomou outra providência: logo que a Satiagraha foi deflagrada, telefonou para o ex-ministro Luiz Gushiken, que chefiou a Secretaria de Comunicação do Governo. Queria saber se Gushiken estava por trás da operação que prendeu o banqueiro Daniel Dantas. Ouviu um não como resposta.A desconfiança foi motivada por outra disputa na seara petista: quando eram ministros, Dirceu e Gushiken travaram ruidosa briga de bastidor, que tinha como alvo o controle dos fundos de pensão. Na época, Gushiken venceu a queda-de-braço com o então chefe da Casa Civil e conseguiu barrar a aproximação de Dantas do governo.No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula admitem que a Satiagraha acirrou a luta interna no PT. Mas, apesar das broncas do presidente - que se queixou da ação espalhafatosa da Polícia Federal -, o clima na sede do governo, ontem, era menos tenso. Na tentativa de acalmar o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho - que teve grampeada uma conversa com Greenhalgh -, Lula tratou de descontrair o ambiente. "Gilbertinho, acho que vamos ter de mudar o número do seu telefone", brincou o presidente, pela manhã. "Não tem uma telefonista para atender esse seu telefone?", perguntou, mais tarde, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que também se encontrou com o chefe de gabinete no Planalto.A despeito da solidariedade dos petistas, Carvalho não escondeu o abatimento. Foi por isso que Lula aproveitou a presença dos ministros de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e do Planejamento, Paulo Bernardo, para insistir na defesa do auxiliar."Temos que falar para as pessoas que você está cumprindo seu papel, Gilbertinho. Você é uma espécie de filtro do Planalto. Sua função no governo é filtrar mesmo esses telefonemas", disse Lula, referindo-se à conversa com Greenhalgh, advogado de Dantas, vazada pela PF. "Eu é que não posso atender esse tipo de ligação."Tanto dirigentes do PT como ministros vêem como política a natureza dos vazamentos das escutas telefônicas da operação montada para investigar crimes financeiros e desvios de recursos públicos por parte de Dantas, do megainvestidor Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta. Mas ninguém acredita que a operação tenha sido motivada pela briga de poder entre Dirceu e Tarso."Essa briga dos dois é histórica e é, inclusive, anterior à vitória de Lula na Presidência", atestou Ideli. Para ela, alimentar essa desavença agora é "tirar o foco do ponto central, que é o desmonte de um esquema com tentáculos em todos os Poderes."

2 comentários

Coronel

Pode substituir por banqueiro também.

Um político bem sucedido recebe telefonema de amigo:

- E então, como está você?
- Solto.

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"Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos. Mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma.

Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente.

Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado.

E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade a suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas. Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe.

(Discurso de Cícero, tribuno romano, 42 a.C.)

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