(Estado) Na primeira conversa com a presidente Dilma Rousseff após a
divulgação do pacote fiscal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pediu a ela que faça uma reforma ministerial mais ampla, para garantir
sustentação política no Congresso e evitar o processo de impeachment.
Lula disse a Dilma, na quinta-feira, que ela precisa aumentar o espaço
dos aliados fiéis e diminuir os cargos dos traidores, porque somente
assim conseguirá aprovar o ajuste e barrar iniciativas para afastá-la do
Planalto.
Na lista dos partidos que comandam ministérios e votaram contra medidas
propostas pela equipe econômica na primeira fase do ajuste estão o PR,
que controla os Transportes; o PDT, no Trabalho; e o PRB, no Esporte. A
avaliação é de que tudo tem de ser feito para impedir que um pedido de
impeachment seja aceito na Câmara comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
porque, se isso ocorrer, será muito difícil deter sua tramitação com a
pressão das ruas.
Apesar de defender mudanças na política econômica e achar que Dilma
deveria ter adotado outro caminho para reequilibrar o Orçamento, Lula
disse que é necessário "pôr no Ministério quem ajuda o governo no
Congresso" para aprovar o quanto antes o pacote fiscal, mesmo se houver
recuos estratégicos, como um prazo menor de vigência da CPMF.
Depois de se encontrar com Dilma, Lula jantou com ministros do PT e
considerou a situação "gravíssima". Na conversa, o diagnóstico foi que
outra derrota de Dilma no Congresso, neste momento, pode ser fatal para
ela. "Nós precisamos nos unir. Mesmo quem não concorda com um ponto aqui,
outro acolá, tem de apoiar nossa companheira", disse Lula, segundo
relato de um dos participantes do encontro. "Mas nós também precisamos
dar uma notícia boa para a população. Não dá para só falar em
desemprego, recessão, imposto e corte."
Embora faça reparos ao endurecimento do ajuste, Lula garantiu que não
renovará as críticas à equipe econômica nem atacará as medidas em
público. Para ele, a presidente deve dar uma "chacoalhada" no governo e
mudar a articulação política, inclusive a Casa Civil, além de se
reaproximar do vice Michel Temer, que comanda o PMDB.
Até agora, porém, Dilma resiste a tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil
e avisou que não cederá às pressões. O nome da ministra da Agricultura,
Kátia Abreu (PMDB), chegou a ser cogitado para a pasta, mas ela não tem
apoio integral do PMDB. Lula também disse, ontem, que não aprovaria a
troca. Na sua opinião, o mais indicado para substituir Mercadante seria
Jaques Wagner, titular da Defesa.