As greves no serviço público.

Abaixo, coluna da senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, na Folha de São Paulo. A partir do próximo sábado, a coluna passa a ser semanal, mostrando o que pensa uma das políticas mais promissoras do Brasil. Gostem ou não gostem do que ela escreve, tem conteúdo, idéias, propostas e uma defesa constante da democracia. Como no texto abaixo.
No momento em que a atual temporada de greves no serviço público parece se encaminhar para um final, penso que chegou a hora de refletirmos com mais seriedade sobre essa questão para que, no futuro, se possa dar um encaminhamento mais racional a esses conflitos, poupando os cidadãos e contribuintes de inconvenientes que não merecem sofrer. 

Não podemos mais adiar uma lei que regulamente o direito de greve no serviço público. A Constituição assegurou, com muita propriedade, o direito de greve aos servidores do Estado, mas deixou para o legislador ordinário a regulamentação do seu exercício. 

Passados 24 anos, nem o Congresso nem o Executivo se dispuseram a enfrentar esse delicado problema. Mas o vazio jurídico tem permitido, algumas vezes, que esse direito seja exercido imoderadamente e sem qualquer limite, com graves danos à sociedade e à economia. Não podemos prosseguir nessa omissão.A greve no serviço público não pode se comparar às greves no setor privado. Estar em greve num emprego na iniciativa privada é sempre uma situação de risco, que obriga o trabalhador a agir com prudência, esgotando primeiro todas as possibilidades de conciliação. E os custos da paralisação são estritamente econômicos, recaindo apenas sobre a empresa e seus acionistas. 

No setor público, a greve não implica risco de qualquer natureza para o servidor e os custos do movimento não recaem no empregador abstrato, que é o Estado, mas sobre a população, que fica privada de serviços essenciais, prestados em regime de monopólio. No setor privado, a greve expressa um conflito entre o trabalho e o lucro privado. No setor público, é um conflito distributivo entre o servidor e a sociedade. É uma diferença muito grande. 

Por isso, o regime de regulamentação das duas situações tem de ser diferenciado, estabelecendo limites justos para a greve dos servidores e determinando formas de solução rápidas e vinculantes. O Estado deve ser o espaço de todos --e não apenas de alguns grupos circunstancialmente poderosos. A sociedade brasileira não deseja pagar mais impostos, porque já paga muito e recebe muito pouco em troca. Os prognósticos mais realistas sobre o crescimento e a situação fiscal nos próximos anos são relativamente sombrios. A experiência que vem de fora nos dá um precioso aviso. 

A Europa teimou, nos últimos anos, em distribuir uma renda que não estava sendo gerada, transferindo o acerto de contas para os anos seguintes. Os anos seguintes chegaram mais cedo do que se esperava e, agora, quem recebeu uma renda que não existia está sendo chamado para devolvê-la. O Brasil ainda pode evitar esse desfecho. Por essa razão, o rigor adotado pelo governo diante das reivindicações salariais não foi sinal de insensibilidade, mas de senso de responsabilidade.

Os últimos episódios nos mostraram que o Poder Executivo quase sempre fica só quando se trata de resistir à distribuição de benefícios. Os parlamentos, por sua vez, são sempre muito generosos quando se trata de criar e distribuir bondades. É a tentação do bem que, segundo um filósofo contemporâneo, está na origem de tantos males duradouros na história humana. 

Por isso, embora tenham causado tantos danos à sociedade em geral, as greves recentes transcorreram em meio a um grande silêncio político. No nosso meio, todos se retraíram diante do poder das organizações sindicais e nenhuma voz surgiu para defender os interesses das populações atingidas, fossem elas os estudantes sem aula, os passageiros nos aeroportos, os viajantes nas estradas, os doentes privados de exames e diagnósticos para as urgências de sua saúde, e tantas mais.

A população brasileira sentiu-se injustamente abandonada por seus representantes. E poucos deram uma palavra de apoio à posição correta do governo. O governo foi deixado em uma quase completa solidão. Enfrentou solitariamente os problemas, os desgastes e as pressões. Uma sociedade e seu corpo político devem enfrentar juntos essas circunstâncias. 

Kátia Abreu
Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e a principal líder da bancada ruralista no Congresso. Formada em psicologia, preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa do caderno "Mercado".

17 comentários

Cel,


Pena que ela esteja no partido do Kassabonete.
O melhor seria defenestra-lo de lá.

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É bom a senadora aumentar seu "firewall"/melhorar suas defesas, pois ela começa a despontar como alternativa de poder, e portanto, séria ameaça ao projeto de poder da guerrilheira, do apedeuta, et caterva, já em 2014

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Quanto mais esta inteligente e competente mulher se manifesta em público, mais cara de ratazanas cagadas os garraios vermelhos do PT têm que fazer. A capacidade intelectual e a qualidade moral da senadora Kátia, são de fato um potente chute no traseiro dos infames da estrelinha vermelha. Eles encarnam a ignorância, enquanto Kátia Abreu ilumina o espectro com sua inteligência...

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Em um país onde o servidor público fecha rodovias, impede a importação adequada de remédios que salvam ou mantem a vida, declara abertamente que vai deixar traficante circular livre, como forma de pressionar o desgoverno, bom... neste país muito está por ser feito, e não é por este governo corrupto e incompetente que aí está há mais de 10 anos.

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CEl,

Artigo muito lúcido e claro, parabéns senadora. Que o PSD saiba valorizá-la na próxima campanha presidencial. De minha parte terá o meu voto sem pestanejar.

Índio Tonto/SP

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Sr Coronel:


KATIA ABREU 2014
SIMPLES ASSIM


Saudações

Ps mudar é muito difícil,as pessoas tem medo do novo,uns chamam de direitistas outros de esquerdistas, visões do plano, esquecem que estamos no espaço, em cima em baixo. Não percebem que o novo vem e virá, sempre.
Platão tem a estória da caverna.

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Essa greve toda foi simplesmente um aviso de Rei Sol à sua Guria, que tentava a alçar vôo sozinha, de que quem manda ainda é ele.

Imagine-se como teria sido essa greve se à frente da Presidência estivesse um Alckmin ou Serra.


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Kátia Abreu para presidente!!!

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Coronel,
sem sombra de dúvidas esta é a melhor política do Brasil. Melhor, provavelmente a única.

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Esse dircurso não é de oposição, Coronel. O que parece é que ela nutre a esperança de trazer Dilma para a centro-direita. Isto nunca aconteceria, por mais que Dilma consiga se afastar de Lula ou este dela. O mais provável e quase certo seria Dilma usar a Senadora em seu proveito e em favor do projeto de poder do PT a que serve.

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Coroné, concordo plenamente com a minha Rainha, mas a poucos dias disse que se fosse motorista autonomo e dono de um caminhão teria jogado meu caminhão em cima dos indios malandros que quase pararam o Mato Grosso,pois querem cada vez mais terra , mas menos querem ficar nas aldeias, e sim nas cidades, e vi somente um politico no Congresso brigar pelo Mato Grosso, que foi o Senador Pedro Taques, que cobrou energicamente a liberação da pista, mas a onda de que indios tem mais direito que qualquer outro Cidadão tá na moda é demais, já que os indios querem grandes reservas,mas que vivam nelas,e deixem de gastar por nossa conta com alugueís caríssimos , que na grande maiorias das vezes os imovéis pertencem a politicos manda chuva, é um desabafo de um Cidadão que foi prejudicado,grande abraço.

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Cel,

Off Topic:

Los videos prohibidos que debilitan la campaña de Hugo Chávez



http://runrun.es/top/52919/los-videos-que-debilitan-la-campana-de-hugo-chavez.html

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Apenas um reparo: quem exagerou nas bondades foi Lula, da qual Dilma era quase primeira ministra.

Mago

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Viu o artigo do Demétrio?
È o que o Coronel vem falando há dois anos.

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Infelizmente, a senadora Kátia Abreu faz uma análise muito superficial desta questão. Joga para a opinião pública situações que fogem da competência dos servidores e se esquece de que a Constituição também assegurou, com muita propriedade, além do direito de greve (art.37,VII), a "revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices" - direito que não é cumprido pelo governo, em total desrespeitado ao preceito legal (art.37,X), e que leva os servidores, no limite, às greves.

A Constituição (art.37,XI) também assegura que proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, de qualquer outra natureza pelos detentores de mandato eletivo, membros de qualquer dos Poderes da União, Estados, DF, Municípios, "não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF. Entretanto, como amplamente divulgado, há servidores no Legislativo com salários superiores ao teto. E que providências foram tomadas? Respondo com suas próprias palavras: "Os parlamentares, por sua vez, são sempre muito generosos quando se trata de criar e distribuir bondades". Deveriam, sim, se espelhar nos Legislativos da Europa quanto aos salários, dias trabalhados por semana/mês/ano, férias, benesses de todos os tipos, sem falar da enorme diferença na aplicação da lei nos casos de corrupção lá e cá. Aqui está faltando sensibilidade, "senso de responsabilidade". E "A experiência que vem de fora nos dá um precioso aviso", senadora.

Finalmente, a senadora Kátia Abreu ao lembrar que "A sociedade brasileira não deseja pagar mais impostos, porque já paga muito e recebe muito pouco em troca", se esquece de que os servidores públicos, como parte da sociedade, pagam pela sua própria educação e dos filhos, pagam médicos, dentistas, pagam para ter segurança, pagam Imposto de Renda descontado direto da fonte (isto acontece com deputados e senadores?) e muitas taxas. Enfim, como todos, pagamos tudo! E ainda não podemos nem reclamar, protestar por um direito assegurado pela Constituição, flagrantemente descumprido? De fato, "nenhuma voz surgiu" para esclarecer à população que os 15% não repõem nem a inflação passada, mais de 22% de 2008 até hoje, e que esse percentual será pago em três anos, desconsiderando-se a inflação do período.

Prezada senadora, gostaria muito que a sua voz se insurgisse para esclarecer a verdade.

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Celso Fernando Nonato mod

Caro Coronel, sua postagem veio em boa hora. A greve dos servidores alertou a população para o grave risco que o país passa, provocado por uma onda desenfreada de corrupção há mais de dez anos. Como servidor público, muito agradeceria aos políticos que cumprissem suas obrigação, por que para isso foram eleitos. Dando alguns exemplos: Não pediram o impeachement do ébrio e agora o da bruxa, envolvidos ou coniventes com o mal feito, aprovam leis absurdas para o país que estar minimamente despreparado, não procuram corrigir sintomas graves de problemas eternos da sociedade (violência, saúde, previdência, educação, etc e etc, em nome de uma tal governabilidade. Pense.

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O problema é esse legislador ORDINÁRIO.

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