Marta Suplicy estrilou na semana passada, inconformada com o avançado namoro de seus companheiros petistas com Gilberto Kassab. Ela se disse assustada com a possibilidade de "acordar de mãos dadas" com o antigo adversário e ameaça ficar fora do palanque de Fernando Haddad se ele preferir dar o braço ao prefeito. Um dia depois, Kassab foi à festa de aniversário do PT e roubou a cena: ganhou lugar de honra no palco, mandou beijinho e piscou o olho para a presidente Dilma Rousseff. Quando a plateia começou a vaiar e a cúpula do partido tentou conter o protesto, Dilma ajudou a puxar os aplausos para o novo companheiro.
Faz tempo que os petistas abandonaram o pudor na escolha dos aliados. Basta ver com quem Marta anda para lembrar disso. Seu suplente no Senado é o vereador Antônio Carlos Rodrigues, do PR, chefe do bloco conservador que passou a dar as cartas na Câmara Municipal depois que Marta e o PT saíram da prefeitura.Na mesma semana em que Dilma celebrou em público sua amizade com Kassab, o governo entregou ao setor privado a administração de três dos maiores aeroportos do país, levando petistas e tucanos a se engalfinhar num debate infantil sobre os modelos de privatização que adotaram nos últimos anos.
Assim como na negociação das alianças do PT, a briga tem pouco a ver com ideologia. Os dois lados desperdiçam energia com questões semânticas, como a diferença entre concessões e privatizações, e evitam reconhecer o óbvio. Nenhum deles é contra nada. Trata-se só de decidir quem privatiza com mais gosto.As diferenças que separam petistas e tucanos são cada vez menores e isso empobrece o debate político. Todo mundo pensa parecido, e estão todos sempre dispostos a abandonar suas convicções se for necessário para vencer a próxima eleição. A campanha eleitoral deste ano oferecerá mais uma oportunidade para observar esse fenômeno.
(Artigo de Ricardo Balthazar, intitulado "De mãos dadas", publicado hoje na Folha de São Paulo)