Sem-terra não quer terra de índio.

E os índios da Raposa Serra do Sol estão montando um, digamos, acordo operacional com os não-índios do MST. Que belíssima parceria. Tanta terra por lá e o MST, em vez de invadir ferozmente aquela vastidão desabitada, manda 1.000 sacas de arroz orgânico para contribuir com o nascimento de um novo país, criado justamente a partir da destruição de milhares de hectares de plantações de... arroz. E mais: quem vai fazer o transporte do mimo é o Ministério da Reforma Agrária e a Conab, Companhia Nacional de Abastecimento. O MST prefere invadir as fazendas produtivas dos plantadores de arroz, soja ou trigo, pois odeia estes agricultores representantes do capitalismo neoliberal internacional que arrecadaram U$ 71 bilhões em exportações em 2008, mais de 36% de todo o comércio exterior do país. Já com os índios, há um respeito milenar, quase uma devoção. "Não vamos interferir na organização e na autonomia dos povos indígenas. Vamos enviar as sementes e, caso eles [os índios] considerem necessário, poderemos pôr à disposição um técnico ou um agricultor para acompanhar o plantio", disse Cedenir de Oliveira, dirigente nacional do MST. Se fosse para invadir uma fazenda produtiva, o Cedenir "colocaria à disposição" um pelotão de 200 crianças, 500 mulheres da Via Campesina e 150 vagabundos que nunca pegaram na enxada, arrecadados nas portas de cadeia pelo Brasil à fora, com ônibus pagos, lonas pretas à vontade e cestas básicas pagas pelo governo. Como diz o Reinaldo Azevedo, o capitalismo selvagem está nascendo na Raposa Serra do Sol. Se você quer participar desta nova fronteira, não se acanhe: abra uma ONG e comece com beijinhos nos botocudos!