Mídia começa a acordar (2)

De Gustavo Yochpe, colunista na Folha, na edição de hoje:

A cobertura do conflito entre Israel e Hamas surpreende pela omissão de dois fatos simples e indispensáveis. Primeiro: Israel não ocupa Gaza desde 2005. Segundo: o Hamas é uma organização terrorista. Não são "milicianos", "radicais", "fundamentalistas". O que diferencia o Hamas é o uso de métodos terroristas para alcançar seus objetivos. Objetivos, aliás, públicos e antigos: constam de sua carta de fundação, de 1988, solenemente ignorada pela imprensa.Em seu documento, o Hamas declara "trabalhar para impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina" (art. 6º). Aqui, "Palestina" é a histórica: território que hoje inclui Israel, Gaza e Cisjordânia. Essa formulação prega a destruição de Israel e a criação de um Estado islâmico, governado pela sharia (a lei muçulmana).No artigo 7º, o Hamas cita "o profeta [Maomé]: "o julgamento final não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem'". No artigo 11, declara que a Palestina é um "Waqf": terra sagrada e inalienável para os muçulmanos até o Dia da Ressurreição e que, pela origem religiosa, não pode, no todo ou em parte, ser negociada ou devolvida a ninguém.Há outros trechos interessantes -o Hamas deixa claro o papel dos intelectuais e das escolas, que é de doutrinamento para a jihad; das mulheres ("fazedora de homens" e administração do lar) e até determina o que é arte islâmica ou pagã -que permitem ao leitor antever o paraíso de liberdade em que se tornaria a Palestina caso a sua visão fosse concretizada.Também há artigos em que o antissemitismo do grupo acusa a comunidade judaica internacional de dominar a mídia e as finanças internacionais e de ter causado a Segunda Guerra Mundial, em que 6 milhões de judeus foram assassinados.O documento flerta tanto com o ridículo que ele mesmo esclarece, no artigo 19, que "tudo isso é totalmente sério e não é piada, pois a nação comprometida com a jihad não conhece a jocosidade". Quanto à seriedade do Hamas, não resta a menor dúvida, e seria bom que a comunidade internacional deixasse de tratá-los como pobres coitados e os visse como o que são: genocidas que só não implementam sua visão por inabilidade.A realidade no Oriente Médio mudou, mas a imprensa brasileira não se deu conta. Passou tanto tempo atacando Israel por sua ocupação contra os pobres palestinos que continuam a dirigir sua sanha acusatória três anos depois do fim da ocupação.Qual é a justificativa do Hamas para disparar foguetes contra a população civil israelense? Nenhuma. Para alguns, seria uma reclamação contra o bloqueio da fronteira. Essa é uma maneira totalmente ilegítima e inaceitável de protestar. Para notar o absurdo, basta imaginar se o Uruguai resolvesse lançar foguetes sobre a Argentina quando esta bloqueou suas fronteiras por causa da "guerra das papeleiras".Pode-se realmente exigir de Israel que abra suas fronteiras a uma organização que deseja destruí-lo? Por que o Egito também bloqueia sua fronteira com o Hamas (apesar de ninguém protestar por isso)? Será por que o grupo usa a fronteira para contrabandear armas?Quaisquer que sejam as razões do Hamas para a campanha de pirotecnia -campanha assustadora, que já lançou mais de 3.500 foguetes contra Israel-, nenhum Estado pode tolerar essa agressão contra seus cidadãos.Comentaristas sugerem a resolução do problema por vias pacíficas, mas ninguém menciona exatamente como se daria a negociação, já que o Hamas não reconhece a existência de Israel. Aqueles que reconhecem o direito de resposta de Israel o fazem com duas condicionantes: que a resposta seja proporcional ao ataque e que civis não sejam vitimados.A exigência de proporcionalidade é uma sandice. Levada ao pé da letra, significa pedir que um Estado democrático constitucional lance foguetes a esmo contra uma população civil indefesa. Outra "saída" seria a morte de mais soldados israelenses. Ou, melhor ainda, civis. Ninguém menciona que, na Segunda Guerra, morreram 22 vezes mais civis alemães do que ingleses. O dado é ignorado com razão.A contabilidade é irrelevante. Hitler precisava ser derrotado.É certo que a morte de qualquer civil é uma tragédia. Uma vida é uma vida. Mas, quando os acusadores se espantam que 20% ou 25% dos mortos sejam civis, eu me espanto pelo contrário: é preciso enorme controle e apreço pela vida de inocentes para que, em uma região densamente povoada e contra um inimigo que se esconde em regiões urbanas, o índice de acerto seja de 75% a 80%.Os membros do Hamas se escondem em áreas residenciais, em prédios cheios de crianças. Agem de tal maneira que, em seu confronto com as democracias ocidentais, nós sempre saímos perdendo: ou pagamos com as vidas de nossos civis ou com um pouco da nossa civilidade.Não há maneira militar de derrota-los em definitivo. A melhor saída é drenar o pântano: chegar a um Estado palestino com os moderados do Fatah e investir para que o atraso econômico e a sensação de derrota e humilhação de muitos países árabes sejam amenizados. Fazer com que o caminho da paz e da prosperidade seja mais atraente que o terrorismo. Enquanto isso não acontece, é preciso mão forte para combater o terrorismo que já nos atinge. Ontem em Nova York, hoje em Gaza, amanhã provavelmente em outras capitais do mundo civilizado.

9 comentários

Coronel,

Veja. Até os gringos acham que Lula não soube interpretar e administrar a crise:

"Para 'Economist', crise deixa Lula na defensiva em 2009
A última edição da revista britânica The Economist afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de governar na defensiva neste ano, apesar de seus altos índices de popularidade. Um dos principais motivos para isso seria a crise econômica."

"Lula foi complacente com a crise global, diz "FT"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi complacente ao lidar com os primeiros estágios da crise econômica global, que chegou à América Latina --e ao Brasil--, diz reportagem desta sexta-feira do jornal britânico "Financial Times" ("FT")."

Palavras do Pinóquio Marolinha 51 da Silva:
'Que crise? Vai perguntar para o Bush'
Lula, Salão Nobre do Palácio do Planalto
Fonte: Estadão OnLine,
16/09/2008

Por causa de um alcoólatra é que o país esta perdendo suas reservas feitas com o suor e sangue do povo.

Átila

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"("fazedora de homens" e administração do lar)"

tem que mandar esse estatuto ai, com essa singela definicao do papel da mulher na sociedade deles, para aquela "articulista" miope que arrota tolices na Folha...

quem sabe assim, aquela "çabia" (by RA) consegue parar de escrever asneiras e idiotices sobre o conflito, romantizando a vida cruel que as mulheres de la levam...

algumas aceitam, nao ha outra opcao pra elas...

mas ha muuuuuitas que gostariam que alguem fizesse alguma coisa e as libertasse daquele regime opressor...

certamente, nao serao as mulheres ocidentais a tomar a iniciativa de "fazer algo"...

o dever de toda mulher ocidental deveria ser o de reivindicar, todo santo dia, libertacao para as suas semelhantes, para que pudessem desfrutar algum dia do minimo de liberdade que todo ser humano tem o direito de ter...

mas a mulherada, com raras excecoes, puf!, parece "nao ser solidaria nem no cancer"...

eh nojento, corona...

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Parabéns Gustavo Yochpe. Mais um colunista para se respeitar.

G.

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Até que enfim Gustavinho escreve sobre o que entende.
Sobre Educação é um fracasso.
Deve mesmo voltar ao Torá,uma leitura obrigatória de família, talvez aprenda algo sobre Educação judaica,sempre tão rigorosa e eficiente na imposição de respeito aos mestres, de valores seculares e até milenares.

Pra um sujeito que se definiu de 'esquerda' ,na IstoÉ,além de defender acesso em massa de qualquer um a faculdades, mesmo sendo uma Unisquina[" melhor ter uma faculdade ruim do que nenhuma"(sic)], até que enfim escreveu algo inteligente.Deve ter sido por demanda da mama...

Achou seu caminho, melhor dizendo, voltou a ele:se ocupar da questão Israel x Palestina.

Que vá ser economista 'educacional' em Gaza,é o melhor que posso desejar a esse moleque.Estará melhor do que numa escola por aqui, sobretudo aquela do centro de Sampa que foi depredada pelos alunos,mas que ele diz que a culpa foi de todos os professores.É só ler o artigo.
Deveria ser obrigado a passar um ano lecionando num Ciep do Rio,3 turnos e viver apenas do salário que recebesse por isso.Se ao cabo de um ano não conseguisse transformar 100% em gênios educadinhos no padrão internato suíço,seria condenado a repetir o castigo ad eternum...
Tão lindooo, ficaria tão bem na G Magazine...aiaia(suspiros)!


¬¬

Lia

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Lia:

Deus me proteja da sua memória! rsrsrs

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Corona,que isso,tenho especial carinho pelas fardas...;)
Coisa de família.

Ademais,quem me trata sempre bem, trago sempre ao colo...Compreeeenlde( sotaque do Brizola aqui, pls)

Eu diria, assim, que seu saldo é bem positivo na minha contabilidade...Tem crédito, justamente pelos limites que a farda impõe, entende?

Quando trocá-la por paisana só, e começar a defender coisas de certos capitães,melhor não ficar na minha alça de mira =)hehehe

Há uma coisa,corona,que aprendi cedo: quem bate esquece,quem apanha não...


Mas tenho a impressão que vamos morrer de bem,coisas da nossa idade...=)

¬¬lia

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Artigo interessante porque Gustavo Yochpe recorre a FATOS HISTÓRICOS, porém, OMITE ou FINGE NÃO SABER que o objetivo de Israel é destruir as armas do Hamas e, não, seus TERRORISTAS.

Por consequência, também OMITE ou FINGE NÃO SABER que Israel AVISA QUANDO E ONDE ATACARÁ, COM TANTECEDÊNCIA DE 3 MINUTOS, permitindo que o local seja evacuado. Se há "vítimas", "civis" e crianças, é porque lá foram plantadas para o show midiático macabro.

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Quanto à atitude da Folha:

A meu ver, publicaram alguma coisa aparentemente favorável a Israel apenas para fingir neutralidade, assim como faz a Fox News.

Prova?

É mais que fato que o estrago já está feito. Tem paralelismo com a viagem do TERRORISTA Amorim a Israel. Puro jogo de cena hipócrita para fingir neutralidade que, evidentemente, não tem.

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"Fazer com que o caminho da paz e da prosperidade seja mais atraente que o terrorismo" deve ser,também, o lema para os brasileiros.
Alquém precisa mostrar ao nosso povo que o caminho da paz (bons sentimentos, não violência) e da prosperidade (sucesso pessoal, não somente financeiro, boa qualidade de vida, bons serviços públicos) nos tornam mais felizes do que a malandragem, a prostituição da alma e dos ideais, a violência, a mentira, entre outros fatores que estão destruindo a nossa sociedade.

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