O que pensa a CNBB sobre a greve de fome.

A Análise Conjuntural da CNBB, para o mês de dezembro, considera o jejum de D. Cappio um "fato político". Veja, abaixo, como pensa esta entidade tão política quanto religiosa:

"Tomando somente a dimensão política do jejum de D. Cappio, pelo menos quatro aspectos devem ser considerados. Seu motivo, o meio, a reação do governo e a reação da sociedade. Vejamos cada um deles em separado.

Quanto ao objetivo do gesto, trata-se de uma oposição radical ao projeto de transposição de águas do Rio São Francisco. O projeto está ligado ao Plano de Aceleração do Crescimento e tem tudo a ver com a concepção de desenvolvimento imperante no governo Lula: o Estado deve oferecer as condições de infra-estrutura para que os agentes econômicos privados (o agronegócio e o setor exportador) entrem com os investimentos produtivos e lucrativos. D. Cappio opõe-se a essa concepção de desenvolvimento, e propõe uma outra forma de utilização das águas do rio, não como insumo para a produção, mas como bem necessário à sobrevivência das populações que ali vivem e têm direito de viver.

A forma escolhida para protestar não equivale à greve de fome de Gandhi, porque ele estava na posição de interlocutor entre o império inglês e grupos nacionalistas da Índia, enquanto D. Cappio alinha-se claramente na oposição ao projeto. É um meio de pressão equivalente, por exemplo, ao investidor que faz saber ao governo suas exigências de isenções fiscais e empréstimos subsidiados para manter uma empresa no país, ou de credores que ameaçam provocar uma crise financeira, se o governo não atender suas reivindicações. Uma forma não é mais democrática do que a outra. A diferença é que os que detém o capital não colocam sua vida em risco, e sim a dos trabalhadores que dependem dos empregos oferecidos pelas empresas.

Diante desses fatos, a posição do governo tem sido de articular contatos para dissuadir D. Cappio de seu jejum, enquanto seu porta-voz o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, em artigo publicado na FSP 10-12-2007 diz que “atropelar os ritos, desprezar o diálogo e ignorar as instituições, numa democracia, é pecado capital. Que uma coisa fique bem clara: quem está fazendo seu protesto, atentando contra a própria vida, não é um bispo. Não é o pastor de um rebanho religioso. Não é um líder espiritual.” Ou seja, até o momento o governo Lula não deu mostra pública de vontade de negociar.

Os Movimentos Sociais foram surpreendidos pela atitude de D. Cappio, que não preparou o terreno para seu gesto. Apesar disso, em poucos dias, apesar das dificuldades de mobilização social em final de ano, foram articuladas muitas manifestações em apoio a D. Cappio. A principal foi a romaria de seis mil pessoas, de diferentes estados, a Sobradinho, no último domingo. Essa reação vem crescendo a cada dia, como mostra a manifestação popular na CNBB, ontem (dia 10), pedindo que ela intervenha no processo pedindo o diálogo entre os Movimentos sociais e o governo, para que também as propostas alternativas cheguem ao conhecimento do grande público.

É um momento delicado, sem dúvida, mas toda crise obriga a opções e este momento crítico pode ajudar a CNBB a retomar, em novos patamares, seu papel na orientação intelectual e moral dos cristãos e cristãs atuantes nos Movimentos Sociais".

1 comentários:

A festa da empreitara cumpanhera vai ser um Ó!!!

a hospedeira da 1ª filha em Paris, exulta


e que se dane o bispo!

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