Na semana em que o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação de
impugnação de mandato de Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer -
ajuizada pelo PSDB -, o senador e ex-presidenciável tucano, Aécio Neves
(MG), afirma que logo após a derrota no 2.º turno da disputa de 2014 deu
“um sinal” de apoio à presidente reeleita “em torno de uma agenda para o
País”. Segundo ele, Dilma não compreendeu e agiu com “soberba” e
“arrogância”. Quase um ano depois da eleição, Aécio avalia em entrevista
concedida ao Estado na terça-feira passada que seu mérito na disputa
foi reeditar a polarização com o PT. O senador também revela mágoa com o
comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele se
apequenou.”
Um ano depois de encerrado o 2º turno, como o sr. enxerga hoje a eleição presidencial de 2014?
É uma eleição que vai ficar marcada no Brasil pelos múltiplos cenários
que vivemos, mas com um resultado, a meu ver, paradoxal. Porque nós que
perdemos passamos a ser tratados como vitoriosos nas ruas e quem venceu
está sitiado hoje no Palácio e seus aliados não podem nem sequer
caminhar pelas ruas quando são identificados. A marca que a história vai
levar dessa eleição é que o grupo que estava no poder efetivamente fez o
diabo para vencer as eleições, submeteu o Estado brasileiro a esse
projeto de poder. Foi uma vitória eleitoral, mas uma derrota política
para quem está no governo, tamanha as contradições entre aquilo que se
dizia e aquilo que acontece no Brasil de hoje.
No fim do ano passado, o sr. disse que perdeu a eleição não para
um partido político, mas para uma organização criminosa. Mantém essa
declaração?
Reitero. Não é apenas eu que digo isso. É a Polícia Federal, o
Ministério Público, a Operação Lava Jato. A cada dia fica mais claro
como um projeto de poder se sobrepõe aos limites mínimos de correção,
enfim, republicanos. Cada vez fica mais claro que esse grupo político
que se apoderou do Estado, institucionalizou a corrupção no seio de
algumas das nossas empresas estatais para se manter no poder. Então acho
que a nossa derrota eleitoral na verdade podemos dizer que foi uma
vitória política. O PSDB resgatou a polarização e é o grupo político em
condições de encerrar esse ciclo perverso do PT que está aí. Foi uma
campanha que começa com um discurso até sedutor da terceira via, que é
até algo adequado e razoável, mas com a dinâmica da campanha e a própria
tragédia que abateu o Eduardo (Campos, então presidenciável do PSB) e
as circunstâncias políticas permitiram que o PSDB voltasse a falar com a
sociedade.
O sr. adotou na campanha um discurso antipetista. Foi uma
postura contraditória de quem chegou a firmar uma parceria eleitoral com
o PT em 2008 e pregava uma “convergência nacional” entre os dois
partidos?
Essa convergência que nós pregávamos lá trás foi renegada pelo próprio
PT. Ao PT não interessava a nossa proposta, que indicasse algum tipo de
concessão para eles. Acho que no fundo eles temiam alguma aliança com o
PSDB, até pela qualificação dos quadros do partido. Então, aquilo que
nós pensamos na eleição de 2008 (quando o tucano se aliou ao ex-prefeito
de Belo Horizonte e atual governador mineiro, Fernando Pimentel, do PT)
foi condenado veementemente pela direção do partido e acabou por nos
afastar. Numa campanha eleitoral você tem que ser mais claro em
determinadas questões e em determinadas posturas você enquanto
governador não tem que fazer esse papel.
A eleição de 2014 representou um rompimento da sua relação com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem era próximo? O PSDB-MG
processa Lula por calúnia e difamação contra o sr.
Eu sempre tive uma relação pessoal com o presidente e sempre registrava
que ele teve com Minas uma relação republicana e não perseguiu Minas.
Mas eu acho que o presidente perdeu a oportunidade de deixar nessa
campanha uma imagem de grande estadista. E saiu dessa campanha menor do
que entrou. Ele se apequenou ao fazer acusações pessoais que não
deveriam jamais vir da boca de um presidente da República. E hoje o
vemos acossado por denúncias de toda ordem. Acho que ele saiu dessa
campanha menor, porque valeu para ele o diabo para vencer essa campanha
também. Me entristeceu a forma menor como ele agiu na campanha eleitoral
principalmente pela relação que nós construímos ao longo de oito anos,
onde até mesmo ele me estimulava a voos maiores. Eu não o reconheci
principalmente no 2.º turno da campanha pela forma radical que ele
atuou.
No discurso no qual o sr. reconheceu a derrota, disse que
cumpriu sua missão e pediu que Dilma unisse o País em torno de um
projeto honrado. Há uma tese de que ainda vivemos um terceiro turno da
eleição presidencial...
Eu fui o primeiro brasileiro a reconhecer a derrota. Obviamente, isso
não me tira, mais do que o direito, o dever, de continuar exercendo o
meu papel de oposição. Numa eleição, a população elege o governante e
elege a oposição. Quando liguei para a presidente da República poucos
minutos depois de derrotado, disse a ela: ‘Meus cumprimentos, a senhora
tem uma grande missão, que é unir o País’. Eu dei ali um sinal. Ela
agradeceu, mas não teve nem sequer a delicadeza de cumprir a liturgia
dos momentos eleitorais de comunicar ao País que recebeu os cumprimentos
do candidato derrotado. E não compreendeu que estava ali dando um sinal
claro de que eu estava disposto de alguma forma a contribuir para isso.
Para mim essa é a questão essencial. A presidente venceu as eleições
com o País dividido, não compreendeu isso e virou as costas para boa
parte do País. Por isso ela hoje é rejeitada por grande parte dos
eleitores, inclusive os que votaram nela. Ela agiu com a soberba de
sempre, a arrogância de sempre como se tivesse tido uma votação
massacrante no País e não teve.
O sr. então está dizendo que estava disposto a ajudar no segundo mandato?
Em torno de uma agenda para o País sim. Eu já percebia a gravidade da
situação, eu alertava para a gravidade da situação. A presidente Dilma
privou o País de uma discussão séria em torno de medidas que precisariam
ser tomadas.
Dilma é acusada de ter cometido um estelionato eleitoral. Mas em
sua campanha o sr. prometeu, por exemplo, ampliar o Bolsa Família,
expandir o Pronatec e o Prouni, manter a política de aumento real do
salário mínimo; disse que buscar alternativas ao fator previdenciário...
Se o sr. vencesse, não poderia ser acusado do mesmo?
Acho que não. Nós nunca estabelecemos metas além daquelas que poderíamos
cumprir. E nosso governo traria algo que a presidente não alcançará
mais nesse mandato, que é a confiança, o que impactaria positivamente na
redução da taxa de juros de longo. A reforma que nós faríamos, coerente
com o que nós pensávamos, atrairia o capital privado, teríamos uma
simplificação tributária.
A que o sr. atribui a derrota por no 2º turno?
Pelo que nós estamos percebendo o que aconteceu no Brasil, nós fomos
longe demais. Além da mentira, nós enfrentamos um terrorismo nas regiões
mais pobres do País. Nós íamos acabar com o Bolsa Família, nós íamos
acabar com o Minha Casa Minha Vida, com o Minha Casa Melhor, aquilo que o
governo está fazendo hoje. Nós íamos punir os mais pobres e são os mais
pobres que estão pagando hoje um preço maior por não reajuste do Bolsa
Família desde o começo do ano passado com a inflação que está em dois
dígito. Fizemos um ato hercúleo de chegar aonde chegamos. Nós não
disputamos contra um partido político, disputamos contra uma organização
criminosa que se apoderou do Estado e estabeleceu um terrorismo. Para
se ter ideia em determinadas cidades do Nordeste no 2.º turno eu nem
sequer tive 10% dos votos.
Acha que perdeu por causa da votação no Nordeste?
Sim, nas regiões mais produtivas nós vencemos.
Mas e a derrota em Minas?
Foi algo surpreendente para nós, eu admito isso. Talvez por um excesso
de confiança, equívoco na campanha local e talvez Minas Gerais seja hoje
o Estado mais frustrado com o resultado eleitoral. Pesquisas que nós
temos me dão hoje mais de 75% das intenções de voto no Estado. Mas foi
uma derrota que a mim, reconheço isso, surpreendeu. Em parte talvez por
uma certa estratégia equivocada, quando nós achávamos que o resultado
viria com naturalidade.
O equívoco foi a escolha do ex-ministro Pimenta da Veiga como candidato?
Ele fez a parte dele. Não seria correto da minha parte jogar a culpa no
candidato, até porque eu tive uma responsabilidade grande na definição.
O PSDB entrou com ações no TSE pedindo investigação e a cassação da chapa. Há motivos para a impugnação dos eleitos?
As denúncias que nos chegaram ensejaram essas ações. Cabe ao tribunal
eleitoral julgar. Nosso papel é garantir que o tribunal atue e que ela
tenha o direito de defesa, mas quem diz que o dinheiro da propina foi
utilizado na campanha não é mais a oposição, são parceiros ou
ex-parceiros do governo, são delatores que foram achacados - como diz o
seu Ricardo Pessoa, que teve ameaçados seus contratos na Petrobrás - e
outros delatores apontam na mesma direção: foram constrangidos, coagidos
pelo governo para transferir parte da propina, seja para a campanha
eleitoral dela ou para o partido, que, por sua vez, transferiu para a
campanha eleitoral. Os tribunais estão tendo a oportunidade histórica de
dizer a razão da sua existência. Não podemos garantir um salvo-conduto
para o presidente da República, qualquer que seja ele. Isso é algo
pedagógico, para frente.
Mas há no PT e apoiadores de Dilma críticas ao que chamam de
investigações seletivas. Sua campanha recebeu R$ 34 milhões de
empreiteiras citadas na Lava Jato. Senadores do PSDB são investigados e o
ex-coordenador de sua campanha (senador José Agripino Maia, do DEM) é
suspeito de receber propina da OAS em outro caso...
Essa acusação da qual ele (Agripino Maia) é alvo não tem nenhuma relação
com a campanha. No nosso caso nós recebemos contribuição de campanha
como diz a lei. Existe uma diferença muito grande entre contribuição de
campanha e extorsão. Até porque não tínhamos qualquer poder de
influência em nenhuma dessas obras e qualquer diretoria da Petrobrás.
Vou até além. Acho que muitos dos que nos doaram o fizeram para se ver
livre da extorsão do PT.
11 comentários
Só agora ele entendeu isso?
ReplyEnquanto Lula e seus cumpanherus roubam até o tacho e brincam de ser gente rica em um país que brinca de ser País vai algum coitado roubar uma galinha ou um xampoo para vcs verem o que acontece? Vai levar injeção letal sentado na cadeira elétrica dentro da câmara de gás. Coitado dos pentacampeões, o jeito é ficar mesmo nos estádios de futebol torcendo para que 22 milionários corram atrás de uma bola enquanto nas suas casas não tem nem mortadela (pelo menos até a próximo ¨manifestação voluntária¨) para dar para os seis filhos mais a mulher com outro barrigão comerem.
ReplyDiscordo do Senador Aécio Neves, é moralmente impossível Lula se apequenar já que ele é uma partícula inexistente de dignidade.
Replyfora pt
ReplyDepois que passou é fácil ver onde errou, mas perder em Minas foi a causa da derrota. Não podia o Anastasia sair do governo para se candidatar, não podia ter colocado o Pimenta como candidato, etc.
ReplyCoronel,
Replyanálise perfeita da eleição.
vamos lá ,fora dilma, avante aecio neves e partidos de oposiçao- 93 % do povo quer ela fora
ReplyParece que até alguém como Aécio, que em tese, sabe tudo de política, esteja ou ficou espantado com a atitude de Dilma e Lulla durante a campanha, sem lhes reconhecer suas natureza. Dilma e Lulla não são democrático e ainda acham que esse sistema lhes causam problema, simples assim!
ReplySenador o cara não se apequenou ele sempre foi um zero a esquerda.
ReplyMas, porque raios ninguém fala daquela empresa venezuelana que fez a contagem dos votos no TSE, uma tal de Smartmatic, ou coisa que o valha, em que o senhor Tófolli ficou com mais meia dúzia de pessoas dentro do ambiente de apuração???
ReplyTaça le pau Aécio taça le pau taca le pau
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