Entrevista de Aécio Neves, presidente do PSDB, à revista Isto É desta semana:
Istoé - Multidões protestam
contra o governo, as investigações da Lava Jato trazem novas revelações
todos os dias e o ministro da Educação, Cid Gomes, foi demitido depois
de dizer que mais de 300 parlamentares são achacadores. O que está
acontecendo com o Brasil?
Aécio Neves - Este governo terminou
antes de começar. O Brasil hoje tem um interventor na economia (o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy), de quem a presidente Dilma é
dependente. Ele cumpre uma agenda que não é aquela proposta pela
presidente da República durante a campanha. Do ponto de vista
político-administrativo, nós vivemos no parlamentarismo. A presidente
não sabe ainda, mas quem governa o Brasil hoje é Renan Calheiros, na
presidência do Senado, e Eduardo Cunha, na Câmara dos Deputados. E olha
que esses são personagens que vivem um momento delicado. Enquanto isso,
os indicadores econômicos se deterioram, as denúncias de corrupção cada
vez chegam mais próximas da cúpula do PT e dos beneficiários dessa
grande organização criminosa, como nomeia a Polícia Federal, que se
instalou na Petrobras e sabe-se lá onde mais.
Istoé - Qual é a saída para a crise?
Aécio Neves - O que aumenta o
distanciamento entre a sociedade e a presidente é a sensação de engodo. A
mentira que conduziu a campanha da presidente Dilma, agora mostrada em
todas as suas cores à população, aumenta o sentimento de indignação que
já tinha razões objetivas para existir com a corrupção, o desacerto na
economia, o aumento nas contas de luz e nos combustíveis. Sempre que
teve que optar entre o Brasil e o PT, o partido ficou com o PT.
Istoé - O senhor tem exemplos disso?
Aécio Neves - Vou citar quatro exemplos.
Foi assim na eleição de Tancredo Neves para presidente, que pôs fim ao
ciclo autoritário. O PT expulsou os parlamentares que votaram em
Tancredo. Depois, o PT se negou a apoiar a Constituição de 1988 (o
partido se recusou a participar da homologação coletiva da
Constituição). No governo de Itamar Franco, de conciliação nacional, o
PT afastou Luíza Erundina por ter aceitado ser ministra. Por último, no
Plano Real, o PT atrapalhou como pôde.
Istoé - O senhor defende o impeachment da presidente Dilma?
Aécio Neves - Essa não é a agenda do
PSDB. O impeachment precisa de alguns componentes que ainda não se
colocaram. Mas não podemos tapar o sol com a peneira. Essa não é uma
palavra proibida. O impeachment é uma previsão constitucional e setores
da sociedade falam abertamente nisso. Não dá para acreditar que o
governo quer enfrentar a corrupção se aceita que o tesoureiro do partido
da presidente, investigado pelo Ministério Público, com indícios graves
de recebimento de propina, continue no cargo. O Brasil e o governo
vivem uma crise de credibilidade.
Istoé - Qual é o papel de Eduardo Cunha neste cenário de crise?
Aécio Neves - Eduardo inegavelmente
assumiu uma liderança na Câmara dos Deputados, expressa na suja eleição
em primeiro turno. Mas eu o vejo, ainda, apesar de todos esses
percalços, como um líder do PMDB, um partido aliado do governo. O PMDB
participa de forma muito expressiva do governo. Nós temos de fazer nosso
papel e a oposição o tem feito de forma extremamente competente e
vigorosa.
Istoé - Como se explica a demissão do ministro Cid Gomes?
Aécio Neves - Esse é um fato inédito e
mostra, claramente, o descontrole do governo. Depois do enfrentamento
público, pessoal, com o presidente da Câmara dos Deputados , o ministro
obviamente perdeu as condições de ficar no governo. O que fica disso é a
sensação de que não há governo, que o descontrole é absoluto. Mas houve
outro fato extremamente grave nesta semana no governo.
Istoé - Qual?
Aécio Neves - O documento, vazado de
dentro do Palácio do Planalto, que atesta que o governo cometeu crime
durante a eleição. Confirma que robôs financiados pelo governo foram
usados para fazer campanha para a presidente Dilma. É a velha
dificuldade do PT de separar o que é público, do que é partidário e do
que é privado. Mostra que os critérios de distribuição de verba pública
levam em conta, em grande parte, a vinculação ideológica e política. O
documento é atribuído ao ministro Thomas Traumann (da Secretaria de
Comunicação Social). Ele será convocado para vir ao Senado e à Câmara.
Ao mesmo tempo, estamos entrando com um ação pública contra o ministro e
uma ação de improbidade administrativa na procuradoria da República do
Distrito Federal.
Istoé - Qual será a agenda do PSDB nos próximos meses?
Aécio Neves - Queremos avançar em alguns
temas da reforma política no Congresso. Posso antecipar algumas: fim da
reeleição, com mandatos coincidentes de cinco anos para todos os cargos
majoritários; cláusula de barreira, para que os partidos voltem a ter
conexão com setores da sociedade e não sejam apenas legendas a serviço
de interesses menores. Não é razoável que nós tenhamos no Congresso 28
partidos funcionando. Defendemos também o voto distrital misto que, na
visão do PSDB, parece ser o caminho mais adequado para aproximarmos um
pouco mais a sociedade dos seus representantes.
Istoé - Quer dizer que a agenda prioritária do PSDB será a reforma política?
Aécio Neves - Claro que não. Temos
também a agenda anticorrupção. Nesse aspecto, o governo requenta
propostas, apresenta projetos que tramitam no Congresso, algumas até já
em fase final de aprovação. Ontem (quarta-feira, 18), apresentamos na
Câmara dos Deputados uma proposta que cassa o registro dos partidos
políticos que, comprovadamente, tenham recebido dinheiro de corrupção em
seu caixa partidário ou nas campanhas eleitorais. Estou falando
inclusive de caixa 1 com dinheiro ilícito. Hoje existe essa
possibilidade para partidos que recebem dinheiro do exterior. Eu
gostaria que o primeiro apoio a essa proposta fosse do PT.
Istoé - O PT anunciou que vai
pedir ao STF a abertura de uma investigação contra o senhor, com base
nas investigações da Lava Jato, sobre desvio de dinheiro de Furnas. Qual
é sua opinião sobre isso?
Aécio Neves - Abram todas as
investigações. Ninguém no Brasil foi tão investigado como eu, que sou
adversário frontal do PT. Eu recebi um atestado de idoneidade de todos
os órgãos públicos. Na verdade, isso é uma ação de um deputado estadual
de Minas Gerais (Rogério Correia, do PT) que busca um pouco de
publicidade para a sua atuação.
Istoé - O senador Antonio
Anastasia (PSDB-MG), que pertence ao seu grupo político, também está na
lista de investigados. Qual é a dimensão desse problema para o PSDB?
Aécio Neves - É uma grande injustiça. Eu
tenho absoluta convicção que o senador Anastasia será o primeiro
inocentado. A investigação em relação a ele é a única que não vem das
delações premiadas. Tem como base o depoimento de um ex-policial federal
que disse ter entregue dinheiro para alguém em Minas Gerais que se
parecia com uma fotografia do Anastasia. Imagina, ele não era apenas um
candidato, já era governador de Minas Gerais. A história é tão sem pé
nem cabeça que não se sustenta. Já há uma afirmação do advogado de quem
seria o “mandante” desse dinheiro, de que jamais enviou dinheiro para o
Anastasia.
Istoé - Alguns setores do PT
dizem que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é “tucano”. O que o
senhor acha da atual política econômica?
Aécio Neves - Joaquim Levy é um homem
de bem. Agora, o ajuste fiscal proposto por ele, que se sustenta no
aumento da carga tributária e na supressão de direitos trabalhistas, não
seria o ajuste do PSDB. Na verdade, não se mexeu até agora na questão
estrutural. Não se discutiu, por exemplo, a profissionalização das
agências reguladoras, para que elas sejam realmente instrumentos do
Estado, estimuladoras do investimento privado. Tivemos uma redução de 8%
no investimento privado no último ano. Fevereiro foi o pior mês em
geração de empregos com carteira assinada dos últimos quinze anos. A
inflação já beira os 8%. Onde está o governo?
17 comentários
Tá OK Aécio. Está fazendo bem o seu trabalho como sempre, mas que raio de fundo vermelho é este ai na foto? Caramba.
ReplySerá que existe alguma possibilidade do PSDB se posicionar de forma clara para a população num futuro próximo? A cada hora há uma opinião diferente, discursos diferentes dentro do próprio partido, comportamento ambíguo.
ReplyToda essa hesitação do PSDB o faz parecer fraco diante da opinião pública. O partido tem que se decidir, afinar o discurso, ou perderá a confiança dos eleitores.
O Partido Comunista, caso PT, não tem visão de pátria como na democracia, de um Brasil independente, mas como são iguais ao modelo dos nazistas e fascistas de concepção TOTALITARISTA, corruptos e corruptores e impostores, tendem a formar um bloco de nações numa só, caso UNASUL para toda a A Latina e no caso governada por Cuba, como já fizeram com a Venezuela, hoje apêndice de Cuba.
ReplyPor isso que o PT faz porto em Cuba e Dilma na maior cara de pau, vai lá inaugurar e fazem grandes obras em vários países da A Latina e Central de comunistas e o povo daqui que EXPLODA, melhor que se PHODA!
Por isso a pressão nas ruas contra o PT precisa aumentar, senão acaba de afundar o resto do Brasil arrebentando o povo com impostos por causa das roubalheiras deles!
Mesmo sem reeleição, ainda fico com o parlamentarismo, assim o presidente não será mais visto como o "salvador", nem será mais o pai, nem a avó do povo.
ReplyNão há coisa pior no mundo que um populismo fanático, prepotente e que se auto intitula salvador do país.
Também urge exigir um limite de escolaridade. Para Presidente da República, Senador, Deputado Federal, Estadual, Prefeito nível superior. Vereadores segundo grau completo e que estejam cursando uma faculdade. Municípios onde isso não for possível, que voltem a ser distritos, não tem as condições mínimas de serem municípios.
Chega de analfabetos no poder, não importa se Lulas, tiriricas, Romários etc, não é possível que o analfabetismo ou a popularidade seja usada como meio para chegar aos cargos mais relevantes num pais. Se querem ser políticos que estudem e se preparem como nós nos preparamos de acordo as nossas aspirações .
Incutir no povo que não importa o grau de instrução para os postos mais relevantes do País é minar o verdadeiro caminho do desenvolvimento porque diz com todas as letras que o mais importante é ser popular.
É inadmissível que no século XXI se permita que o "ser pobre" ou ser popular seja a essência do currículo de um cidadão e que essa condição abra todos os caminhos que levem aos cargos máximos do Pais.
Os partidos que se valem de pessoas populares não estão comprometidos com o país, é mais uma forma de corrupção e deveriam ter suas legendas cassadas pelo tamanho da irresponsabilidade.
Os que aceitaram esse jogo perverso de poder também deveriam ser processados e exemplarmente punidos porque cada pessoa sabe o seu grau de capacidade e conhecimento. Ninguém aceitaria operar seu filho se não fosse médico e se o fizesse responderia processo.
Uma Nação que prestigia aqueles que tem como "mérito" terem nascidos na pobreza, que endeusa
os protagonistas de shows que apenas protagonizam sua própria imagem, jamais terá os alicerces para uma verdadeira democracia e está fadada ao fracasso.
A agenda do PSDB está muito fraquinha, típica desse partido. Deveria ser de oposição ferrenha a esse governo indecente. Entretanto, alguns cardeais do partido se comportam como primas donas emplumadas e tentam nos bastidores alguma conciliação para um governo de "união nacional". Isso é uma piada, não queremos conciliar com esses bandidos. Eles não notaram que parcelas significativas da sociedade não aceita mais essa gangue que é o partidão. Por favor, parem com esse discurso de que não há condições para o impedimento da governanta! Até humoristas lá de fora estão batendo panelas...
ReplyPompeu
Penso que Aécio deveria se manter afastado. Não declarar nada, não conceder entrevista, etc. No máximo se pronunciar sobre reformas, moralização, etc., e no Parlamento, sem fulanizar, para não parecer o que espertalhões querem fazer parecer: dele ser um golpista, que quer o tal terceiro turno.
ReplySe exercita de forma oblíquoa, no escuro, e deixe para outros os ataques diretos. Que se faça de morto para tirar dos adversários quaisquer oportunidades de retaliá-lo. Seguindo Otto Lara Rezende: Perdoando, sim, mas esquecendo, jamais, para no futuro e no momento exato, dar seu bote.
Eu já não acreditava no alkimim, e agora passo a não acreditar também neste tal de Aécio. O psdb não merece confiança. Falar francamente, não existe partido de oposição é tudo farinha do mesmo saco
ReplyNa agenda do PSDB, poderia ser incluído mais um item:
Reply- Nenhum ex-presidente poderá ser candidato ao cargo novamente.
Aécio tem medo até de pronunciar a palavra impeachment!!! Deveria dizer, sim sou a favor, desde que fiquem provados os elementos para tal.
Chris/SP
E existe governo ainda no Brasil? Isso aqui esta' um caos. O pt destroçou o pais desde que Lula foi implementando a agenda do partido. Quem sabe o parlamentarismo nao seja uma experiencia interessante para o pais? Dia 12 de abril, meus amigos, sera' mais um dia de terror para o governo. Todos `as ruas para mostrar que os cidadaos de bem cansaram de pagar tanto imposto para o pt fazer o que faz. Chega!
ReplyParabéns ao anônimo das 08:24. É isso mesmo.
Replyesse cara precisa parar de blábláblá e começar a fazer oposição de verdade.
ReplyCORONEL
ReplyFalta ao PSDB mais têmpera, mais inflamação, no seu papel de oposição.A adjetivação de "punhos de renda" não veio de graça.Não bastasse isso surgem coisas desastrosas como M.Perilo e FHC com posições dúbias na linha do morde e assopra.
Coronel,
Replysó deveria expulsar o Perillo.
"Que se façam todas as investigações" - Parabéns, Aécio! Isso é resposta de quem não tem culpa no cartório.
ReplyEssa história de Furnas é velha aqui em Minas. Foi um relatório falso, lógico que feito pelo PT, para desviar as atenções do Mensalão. Teve gente presa por isso e esse Rogério Corrêa, que tem fixação pelo Aécio, ressuscitou!
Se Deus quiser conseguiremos botar a quadrilha do PT para fora do Planalto o mais breve possível!
ReplyGabriel-DF
Farejei petralhismo no comentário das 10:08. O psdb pode não ser grande coisa, mas ainda é preferível à máfia atual.
ReplyCoronel,
Replytem PETRALHA aqui:
21 de março de 2015 10:08
Flor Lilás