Flanco explorado nas campanhas dos adversários Dilma Rousseff (PT) e
Aécio Neves (PSDB), a falta de apoio de Marina Silva (PSB) no Congresso,
caso vença a disputa em outubro, é tema que divide cientistas políticos
entrevistados pelo Valor.
Para Octavio Amorim, da FGV-Rio, há o risco de que, sem uma ampla
base aliada, Marina não termine o mandato, se for abalroada por uma
grave crise política ou econômica. Amorim compara a presidenciável a um
navio sem lastro. "Pode ser muito grande, poderoso, o capitão pode ser
genial, mas sem lastro pode virar a qualquer onda", diz.
O pesquisador afirma que todos os presidentes brasileiros que não
formaram maioria, ou a perderam, foram destituídos: Getúlio Vargas, Café
Filho, João Goulart, Jânio Quadros e Fernando Collor. Aos dois últimos,
Marina já foi comparada pela campanha petista.
Amorim diz que a comparação procede, não pelos atributos pessoais,
mas pelo "problema político-institucional real", que já levou à
deposição de vários governantes pela América Latina: de Salvador Allende
(Chile, 1973) a Fernando Lugo (Paraguai, 2012). A exceção é Lula em seu
primeiro mandato.
Confira a seguir a conversa com o cientista político Octavio Amorim:
Valor: O senhor vê problemas de governabilidade caso Marina vença?
Octavio Amorim: Sim. As comparações com Collor e
Jânio fazem sentido, mas têm que ser bem entendidas. Não é pra dizer que
ela tem os atributos pessoais destes ex-presidentes. A campanha sempre
exagera. Jânio era uma figura patética, comparar a ele é ofensivo.
Collor também. Mas há um problema político-institucional real. Quando um
presidente eleito não tem uma grande organização partidária, uma base
política sólida, ampla, por trás de si, essa Presidência equivaleria a
um grande navio sem lastro. O navio pode ser muito grande, poderoso,
bonito, o capitão pode ser genial, mas o navio sem lastro pode virar a
qualquer onda. Até uma onda média vira um navio sem lastro. Marina tem
que responder ao povo brasileiro e à história brasileira. Essa questão é
muito importante.
Valor: E que onda pode ser esta?
Amorim: Qualquer choque inesperado: um escândalo
dentro da administração pública, uma crise econômica. Um presidente que
não conta, como Lula contava em 2005, com uma série de organizações
políticas poderosas por detrás dele, a começar pelo PT, depois a CUT,
MST, pode virar a qualquer instante. Lula teria sobrevivido [ao
escândalo do mensalão] se não tivesse o lastro político que tinha? Teria
sido muito mais difícil. A mesma pergunta se aplica ao Collor. Com
todos os erros que cometeu, ele teria caído tão facilmente se tivesse um
partido ou uma maioria grande por trás? A gente não pode se esquecer de
uma regularidade na história da democracia presidencial no Brasil. Todo
presidente que não logrou formar maioria ou perdeu uma maioria não
terminou o mandato.
Valor: Quem passou por isso?
Amorim: [Getúlio] Vargas, em 1954, começou com
maioria, a perdeu, e depois caiu da maneira mais trágica possível. Seu
sucessor, o vice, Café Filho, não tinha maioria e foi apeado por um
golpe. Depois, Jânio Quadros, João Goulart, Collor. Lula é a primeira
grande exceção. Estava numa situação minoritária no primeiro mandato e
acabou sofrendo o mensalão - que tem a ver com os equívocos da montagem
de sua base parlamentar.
Valor: Lula foi exceção por causa do apoio fora do Congresso?
Amorim: Quando começou o tiroteio político, logo
depois da eclosão do mensalão, o DEM ameaçou ir às ruas e pedir o
impeachment. Nessa época, o ministro da Justiça, Tarso Genro, falou:
então vamos para as ruas para ver quem ganha. Logo depois, a oposição
amaciou. Quem ganharia a disputa por mobilização nas ruas, àquela época?
O PT, que tinha e tem o apoio da CUT, UNE e MST, ou o PFL à época e o
PSDB que no máximo conseguem juntar uma kombi para tomar espumante em
Ipanema ou na [equivalente] zona sul de São Paulo? Viram que perderiam e
desistiram.
Valor: A Marina não poderia contar com apoio semelhante da população - ou lhe faltaria sustentação mais institucionalizada?
Amorim: Na semana passada, [o deputado e presidente
do PPS, aliado de Marina] Roberto Freire disse que tinha sido o líder do
governo Itamar Franco na Câmara e que Marina governaria como o
ex-presidente. Como Itamar governou, segundo Roberto Freire? Com as
dissidências dos partidos. E não é à toa que Itamar teve uma série de
derrotas. Ele aceitava. O próprio Itamar quando assumiu a Presidência -
no rastro da destituição do Collor - disse que faria, na expressão dele,
um "governo congressual". O que foi muito sábio: montar um governo de
união nacional porque a situação do país era emergencial. A situação da
Marina, mesmo que ela repita a estratégia do Itamar, é muito diferente.
Valor: Por quê?
Amorim: Porque ela vai ter legitimidade popular.
Itamar não tinha. Quando o Itamar era derrotado no Congresso, o que ele
podia alegar? Que o Congresso estava atropelando o mandato popular dele?
Claro que não. Era um vice. Marina, não. Se for derrotada no Congresso,
como certamente será, poderá iniciar aquele processo que o [cientista
político espanhol] Juan Linz dizia ser a origem de todos os problemas do
presidencialismo: o confronto de poderes. O presidente reivindicando
para si legitimidade popular superior à do Congresso. E isso está muito
fácil de fazer no Brasil porque o Congresso está desmoralizado.
Valor: Ela diz que vai governar com os melhores.
Amorim: O que são os melhores? Quando você diz que vai governar com os partidos, você sabe quem são eles.
Valor: O critério principal da Marina teria a ver com a ética, o que excluiria "velhas raposas".
Amorim: Essa estratégia significa rachar os partidos
brasileiros. É uma estratégia de cooptação. Você pode usar um nome
muito bonito, como "vou chamar os melhores". O PT não aceitou isso em
1992. Quando assumiu, o Itamar queria o PT e nomeou a [Luiza] Erundina
ministra da Administração, que foi imediatamente expulsa do partido. O
Lula viria a lamentar essa decisão. Mas o PT podia fazer isso porque
sempre prezou sua unidade. Os outros partidos, mais centristas, PMDB,
PSDB, e também os da direita, são organizações menos sólidas. É muito
mais fácil para o presidente cooptar facções destes partidos.
Valor: E isso é ruim?
Amorim: É ruim. O sistema partidário é o lastro do
regime político. O risco de uma Presidência com esse perfil é a sua
falta de lastro e a promoção do deslastreamento do sistema político -
pela divisão dos partidos. Isso é realmente preocupante. Um dos grandes
desafios institucionais do Brasil é conseguir ter governos minoritários
efetivos. A fórmula de sobrevivência de uma Presidência minoritária
ainda não surgiu no Brasil. O presidencialismo de coalizão é uma fórmula
genérica, que oferece justamente mecanismos pelos quais um presidente
cujo partido não tem a maioria possa formá-la, baseada na troca de
cargos ministeriais por apoio legislativo.
Valor: O governismo atávico pode facilitar a sustentação política de Marina, caso aceite esses apoios?
Amorim: Mas o governismo atávico de alguns partidos é
dos aspectos menos edificantes da política brasileira. E se ela se
beneficiar com isso para aprovar projetos, qual é o significado? Isso é
nova ou velha política? Governismo é a coisa mais velha política do
Brasil.
Valor: Marina estaria diante de uma espécie de
"sinuca de bico": se não fizer alianças tradicionais, fica minoritária; e
se formar maioria abandona a promessa de nova política e decepciona o
eleitor?
Amorim: Depende. Ela está prometendo fazer
negociações em bases exclusivamente programáticas. E isso é muito
importante: aumentar o caráter programático dos acordos
interpartidários. O problema é que nenhum acordo político
interpartidário é puramente programático. Em qualquer democracia, esses
acordos também embutem elementos pragmáticos: cargos, verbas
orçamentárias... Um não vai sem o outro. Por mais que a negociação seja
em torno de programa, como é que um partido, depois de fazer um acordo
com a presidente, tem certeza de que o acordo será cumprido, se ele não
ocupa os ministérios que implementarão a política? Claro que há excessos
e abusos no Brasil. Mas a ocupação de cargos não é apenas a
manifestação de fisiologismo. E o problema da retórica da nova política -
que na verdade é uma retórica antipolítica - é que degrada qualquer
elemento que não seja puramente programático. Essa é uma sinuca de bico
que todo candidato se coloca quando degrada a política.
18 comentários
CORONEL
Replyestou convencido que na reta final os institutos começam a convergir para a "verdade verdadeira"e não a "verdade oficial" como gostam os tiranetes.Vai ser um tal de convergência de curvas, jacarés fechando boca e outras baboseiras para ficar de bem com os fatos.
DILMA VAI SER ALIJADA DA DISPUTA.E NO QUE ACREDITO.
tá rolando manchetes do aumento do PIB em 1,5%, mas não explicam que o aumento é sobre o PIB projetado e não aumentou para 1,5%.
ReplyO entrevistado está contando com um congresso de petistas? Não considera ele a possibilidade - muito plausível - de que o PT sofrerá uma derrota fragorosa no congresso, elegendo poucos congressistas? Se Marina for ao 2 turno com o apoio do PSDB ela ainda assim estará abandonada?
ReplyQue medo é esse?
Esse tipo de discurso somente ajuda quem: Dilma Terrorista.
Sou Aecio, mas quero antes de tudo o PT fora !!!!
Coronel, divulga!
Replyhttps://dl.dropboxusercontent.com/u/70963748/As%20Siamesas.jpg
Este é o juizo de valores que temos que adotar.
Abraço.
O Brasil é governado por uma terrorista com curso em Cuba, assaltante de bancos e residencias, liderando os maiores esquemas de corrupção denunciados e jamis vistos na Historia. É a vitoria da corrupção, é os ucesso da incompetencia. Dominou o Senado, a Camara o STE, o STF. E anda oficialmente candidata a reeleição. Que pais é este? Que eleição safada é esta?Para que lutar se o povinho chinfrin estão todos montados em seus ganhames e afazeres mediocres, complletamente indiferentes ao que acontece. País que tem Dilma Petrolon Mariel do Porto como candidata a Presidencia, não merece respeito.
ReplyCoronel
ReplyDo twitter, aí do lado, leio:
@Stefania_Akel
Ibope/CNI:
Dilma sobe de 37% para 39%, Marina tem 31% e Aécio, 15%.
CNI/Ibope:
No segundo turno, vantagem de Marina sobre Dilma cai de 7 pontos para 1 ponto (43% a 42%).
Este Ibope está vendido ou comprado, como queiram, lá pelo planalto.
NÃO ACREDITO QUE AÉCIO ESTEJA SÓ COM 15%
Chris 45/SP
"O PT, que tinha e tem o apoio da CUT, UNE e MST, ou o PFL à época e o PSDB que no máximo conseguem juntar uma kombi para tomar espumante em Ipanema ou na [equivalente] zona sul de São Paulo? Viram que perderiam e desistiram."
ReplyIsso é um erro. Naquela altura a oposição jogou a toalha. Teria acontecido a expulsão de Lula nos moldes dos cara pintadas. \a sociedade era muito mais forte e coesa do que agora.
Cel
ReplyA maioria dos meus conhecidos sabem que Marina é um Lula de saia.
Átila
Li por aí que Paulo Setúbal disse que Lula foi o melhor presidente da história recente do país.Lula por diversas vezes disse que nunca os banqueiros ganharam tanto dinheiro, fato aliás comprovado pelos balanços.
ReplyVai daí , o manganão aqui conclui que Marina é de fato o Plano B do PT.Satisfaz a um só tempo gregos e troianos.
CORONEL
ReplyEm resumo , no comentário anterior eu quis dizer que :
tirando Dilma e colocando Marina a plebe ignara fica satisfeita nos seus reclamos; o PT continua no poder e os banqueiros continuam se lambuzando com a incompetência governista.
Marina não vai conseguir compor com o PSDB, pois já está sinalizando compor com o clero. Está correto: é um barco à deriva, pois lulla como conselheiro. Vimos no que deu o da Rose de Noronha fazendo lobies e mandando.
ReplyPois é, a Dilma será reeleita !
ReplyA Marina era tudo o que o PT queria para alijar o Aécio da disputa e parece que vai conseguir.
Marina é oca, não tem gás para 2 meses de campanha, nada a acrescentar ao país.
O efeito comoção começa a despencar, essa é o fato. Marina será triturada pelo PT !
Cel, deixou passar uma ratazana petista, um porco imundo, às 11:28? Racumim nelle! E sobre o texto, é melhor agente ir se preparando, pois com um eleitorado que deve ser pior que o do Sudão, do Congo, da Etiópia, só pode vencer mesmo esses lixos. Ou as pesquisas são 110% falsas, o que eu até acredito. O problema é que muitos "elleitores" decidem seu voto pelas pesquisas. Eita povinho buuuuuuuuuuuuuuuurro!!!
ReplyPS.: alguém me paga uma passagem só de ida para os EUA?
ReplyO PSDB não liderou o impeachment de Lula porque não teria respaldo no povão e na elite pois até esta votou em Lula, em 2002 o Brasil ficou vermelho de norte a Sul, em todas as classes sociais era a mesma toada de o Brasil eleger um trabalhador (safado) depois de um sociólogo da elite (honesto).
Foram poucos, assim como eu, que não sujaram as mãos com o PT. Estava na cara que o homem não prestava, pela oposição ferrenha que fazia contra o Brasil demonstrando claramente que era um projeto de poder tão somente.
A história está tentando se repetir, o povo não aprende e a elite mesma coisa, é tão somente por isso que o Zé Deçeu, hospede das noites na Papuda, já adiantou que Marina é Lula de saia está causando o mesmo efeito idiotizando as massas.
A nossa sorte é que o PT está mais sujo que pau de galinheiro, e bosta de galinha fede a distância, isso pode ser o freio para mais esse suicídio coletivo. Aécio começou a espalhar a merda....aguardemos!!
Cel, quem será que vai financiar os mensalões para Marina, porque Marcos Valério e Petrobrás, além de quebrados, estão a descoberto...manjados!
ReplySe por uma enorme infelicidade nossa esta candidata sair vencedora, não terá governabilidade, a não ser pagando mensalão.
Onde fará o saque?????
Um outro governo Dilma corre o risco de não terminar também.
ReplyDepois desse festival de escândalos, com certeza sofrerá um impeachment.
O que tem de boca procurando um trombone....
Não vai escapar, nem ela nem Lulla.
SONHO EM VER LULA COM PULSEIRAS DE AÇO.
Caro Coturneiro de 12 de setembro de 2014 21:43
Replyquisera que pudesse ocorrer.
Você não viu que já engavetaram a investigação do teatro ensaiado da CPMI da Petrobrás???
Elles não tem limites!
Maldita CanalhaPetralha! Não há mal que sempre dure...
Continuemos na campanha para eleger Aécio!
Prossigamos pedindo a Deus ajuda para nos livrarmos desse mal chamado PT. E quando digo isso, englobo Marina Silva que continua transpirando PT por todos os poros!
Flor Lilás
Anônimo das 09:48. Lhe digo: O Foro de San Pablo bolivariano, atua para que todos odeiam os EUA. Para mim, esta como muitas outras notícias que tenho lido atualmente, inclusive envolvendo as FA, é notícia do PT para favorecer a Dilma nas eleições. Quando na realidade sabemos que o Eduardo Campos estava NA FRENTE nas pesquisas, ISTO INCOMODOU demais o PT! Reflita.
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