Cientista político vê "paulistanismo" no mau desempenho de Aécio em São Paulo.

Abaixo, segue a opinião de Antônio Lavareda que, por muitos anos, foi o guru dos tucanos. Foi publicada hoje no Valor Econômico. 

O desempenho de Marina Silva em São Paulo é a principal base de seu sucesso como candidata à Presidência, do mesmo modo que os redutos do PT estão arraigados no Nordeste. O peso do eleitorado paulista - 22% do total brasileiro - equivale ao dos oito Estados nordestinos em que Dilma Rousseff lidera.

A importância do Nordeste para o índice de intenção de voto da petista é um pouco maior do que a de São Paulo para Marina. De todos os virtuais votos de Dilma, 32% vêm dos Estados nordestinos à exceção de Pernambuco onde as duas estão tecnicamente empatadas Do total da pessebista, 28% vêm de São Paulo.

Marina fincou sua bandeira da terceira via em São Paulo, justamente o Estado que é o berço da polarização nacional entre PT e PSDB. Qual a explicação para a façanha? Para o cientista político Antonio Lavareda, Marina se aproveita do fato de que pela primeira vez desde 1955 uma corrida presidencial não conta com um candidato competitivo vindo de São Paulo.

A combinação de um eleitorado órfão associado à alta rejeição de Dilma e ao baixo conhecimento de Aécio Neves, afirma Lavareda, abriram caminho para Marina no Estado. "Isso era tão visível que Eduardo [Campos, que encabeçava a chapa do PSB até morrer em acidente aéreo] se mudou para São Paulo. Se tivesse um tremendo candidato paulista, provavelmente ele não teria feito isso", afirma o cientista político.

Lavareda argumenta que a polarização entre tucanos e petistas, entre 1994 e 2006, se baseou em dois personagens paulistas - os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva - e "sempre teve margem para trincar", pois não se reproduz em vários Estados.

E até em São Paulo seria frágil - inclusive no polo mais forte, o PSDB, que há 20 anos pinta de azul sua hegemonia em eleições estaduais e nacionais. "[São Paulo, nas eleições presidenciais] não era território azul. Era preto, vermelho e branco, as cores da bandeira tricolor do Estado", defende Lavareda, embora acredite que Aécio vá se recuperar. "Não é jogo jogado ainda. Ele está brigando com ela. No interior estão empatados", diz.

Para o bom desempenho de Marina no Centro-Oeste, o cientista político acredita que a principal razão é a influência do Distrito Federal sobre a região. Em 2010, a ex-senadora venceu no DF com quase 42% dos votos.