O poste caído (3)

Apesar da pressão pública e até de aliados, a presidente Dilma Rousseff diz que não cogita reduzir o número de ministérios. Diz que já tomou todas as medidas para diminuir custos do governo, afirma que o desemprego subiu na "margem da margem da margem", nega que tenha relaxado no controle da inflação e diz que não pretende mudar a equipe econômica: "O [ministro] Guido [Mantega] está onde sempre esteve: no Ministério da Fazenda". Ela defende também o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, criticado até no PT por supostamente defender as empresas de telecomunicações e interditar discussões sobre eventual regulação do setor de radiodifusão. "A regulação em algum momento terá de ser feita", afirma a presidente.
 
Folha - O PMDB engrossou o coro dos que defendem o enxugamento de ministérios.
Dilma Rousseff - Não estou cogitando isso. Não acho que reduza custos. As medidas de redução de custeio, nós tomamos. Todas. E sabe o que acontece? Vão querer cortar os de Direitos Humanos, Igualdade Racial, Política para as Mulheres. São pastas sem a máquina de outros. Mas são fundamentais. Política de cotas, por exemplo: só fizemos porque tem gente que fica ali, ó, exigindo.
 
A senhora sabe falar o nome de seus 39 ministros?
De todos. E todos eles ficam atrás de mim [risos]. Eu acho fantástico vocês [jornalistas] acharem que, nesse mundo de mídias, o despacho seja apenas presencial. Os ministros passam o tempo inteirinho me mandando e-mail, telefonando, conversando.
 
O ministro Guido Mantega está garantido no cargo?
O Guido está onde sempre esteve: no Ministério da Fazenda. E vocês podem me matar, mas eu não vou falar de reforma ministerial.
 
O desemprego em junho subiu pela primeira vez em quatro anos, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Querida, o desemprego... [Consulta papéis.] Olha aqui, ó. É fantástico. Tem dó de mim, né? Como não podem falar de inflação, porque o IPCA-15 [prévia do índice oficial] deu 0,07% neste mês... E nós temos acompanhamento diário da inflação, tá? Hoje deu menos 0,02%. Tá? Ela [inflação] é cadente, assim, ó [aponta o braço para baixo].
 
E o emprego?
Houve uma variação. Foi de 5,9% para 6%. É a margem da margem da margem. Foram gerados 123.836 empregos celetistas. Em todo o primeiro mandato do Fernando Henrique Cardoso foram gerados 824.394 empregos. Eu, em 30 meses, gerei 4,4 milhões. Você vai me desculpar.Com a inflação, também... Alguém já disse quanto é que caiu o preço do tomate? Ou só comentaram quando o tomate aumentou? [Pede para uma assessora checar os números. Ela informa que o tomate está custando R$ 4,50 o quilo.]. Eu não sou dona de casa, não posso mais ir no supermercado e não sei o preço do tomate hoje. Mas sei a estatística do tomate. Teve uma queda, se não me engano, de 16%. Eu ia naquele supermercado ali, ó [aponta a janela]. Não posso mais.
 
A senhora acha que os críticos do governo exageram?
Eu propus cinco pactos [depois das manifestações]. E eu tenho um sexto, sabe? Que é o pacto com a verdade. Não é admissível o que se faz hoje no Brasil. Você tem uma situação internacional extremamente delicada. Os EUA se recuperam, mas lentamente. Nós temos um ajuste visível na China. O Fed [Banco Central dos EUA] indicou que deixaria o expansionismo monetário, o que provocou a desvalorização de moedas em todo o mundo. E o país, nessa conjuntura, mantém a estabilidade. Cumpriremos a meta de inflação pelo décimo ano consecutivo. Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta? Em três dos quatro anos dele [em que a meta vigorou].
 
A inflação subiu por vários meses no período de um ano.
Nós tivemos a quebra na produção agrícola americana, que afetou os mercados de commodities alimentares. Tivemos uma seca forte no Nordeste e também no sul.
 
A crítica é que a senhora relaxou no controle da inflação para manter o crescimento.
Ah, é? Tá bom. E como é que ela tá negativa agora?
 
Há dúvidas também em relação à política fiscal.
A relação dívida líquida sobre PIB nunca foi tão baixa. A dívida bruta está caindo. O deficit da Previdência é 1% do PIB. As despesas com pessoal, de 4,2%, as menores em dez anos. Como é que afrouxei o fiscal? Quero falar do futuro. De agosto até o início do ano que vem, faremos várias concessões, rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, o que vai contribuir para a ampliação dos investimentos e para melhorar a competitividade da economia.
 
Mas o Brasil cresce pouco.
O mundo cresce pouco. Nós não somos uma ilha. Você não está com aquele vento a favor que estava, não. Nós estamos crescendo com vendaval na nossa cara.
 
O modelo de crescimento pelo consumo não se esgotou?
É uma tolice meridiana falar que o país não cresce puxado pelo consumo. Os EUA crescem puxados pelo consumo e pelo investimento. Nós temos que aumentar a taxa de investimento no Brasil. Aí eu concordo. Tanto que tomamos medidas fundamentais para que isso ocorra. Reduzimos os juros. Desoneramos as folhas de pagamento. Reduzimos a tarifa de energia. E fizemos um programa ousado de formação profissional, o Pronatec.
 
Os investimentos estão lentos e isso é creditado ao governo. Os empresários reclamam que a senhora não tem diálogo.
Eu? Veja a agenda de qualquer tempo da minha vida. Participei de todos os leilões, do período Lula e do meu. Entendo que eles [empresários] queiram conversar comigo, como faziam sistematicamente. Mas sou presidente. Eu não posso mais discutir taxa interna de retorno.
 
É outra crítica: o governo interfere, quer definir até a taxa.
É da vida o empresário pedir mais, o governo pedir menos. Aí ganha no meio. O Tribunal de Contas da União exige a definição de uma taxa de retorno. E o governo tem de ter sensibilidade para perceber quando está errado.
 
A senhora teria características que não contribuiriam para que projetos deslanchem. Seria centralizadora, autoritária.
Não, eu não sou isso, não. Agora, eu sei, como toda mulher, que, se você não acompanha as coisas prioritárias, tem um risco grande de elas não saírem. É que nem filho. Você ajuda até um momento, depois deixa voar.
 
A senhora já fez ministros chorarem com suas broncas?
Ah, que ministros choram o quê! Aquela história do [ex-presidente da Petrobras José Sergio] Gabrielli? Um dia escreveram que ele era pretensioso e autoritário. No dia seguinte, que eu tinha brigado e que ele chorou no banheiro. A gente ligava pra ele: "Eu queria falar com o autoritário chorão". Ô, querida, você conhece o Gabrielli? Ah, pelo amor de Deus.
 
A senhora não é dura demais?
Ah, querida, eu exijo bastante. O que exijo de mim, exijo de todo mundo.
 
Isso não inibe ministros?
Não tenho visto eles inibidos, não. Nenhum projeto de governo sai da cabeça de uma pessoa só. Não funciona assim. Se funcionasse, eu tava feita. Não trabalharia tanto.
 
Uma das questões que Lula encaminhou no fim do governo foi o da regulamentação da radiodifusão no país. A senhora enterrou esse assunto?
Não. Agora, o que eu e Lula jamais aceitaremos é que se mexa na liberdade de expressão. Vou te dizer o seguinte: não sou a favor da regulação do conteúdo. Sou a favor da regulação do negócio.
 
O que acha de o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, ser chamado por críticos de "ministro do Plim-Plim"?
É um equívoco, uma incompreensão. Essa discussão [da regulação] está sempre posta. O [ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social] Franklin [Martins] deixou um legado importante. E agora vai ter mais discussão. A regulação em algum momento terá de ser feita. Mas ela não é igual ao que se pensou há três anos. É algo complexo, até o que deve ser regulado terá de ser discutido.
 
Por quê?
Hoje o que está em questão não é mais empresa jornalística versus telecomunicações, TV versus jornais. Hoje tem a internet. Tem um problema sério, nos EUA, no Brasil, para jornais escritos, revistas. Vai haver problema de concorrência da internet, da plataforma IP, em TV. Temos de discutir. Eu não tenho todas as respostas. Todo mundo terá de participar. O Google hoje atrai mais publicidade que mídias que até há pouco eram as segundas colocadas. A vida é dura. E não é só para o governo. [Dilma pede que a conversa seja encerrada, alegando cansaço]. Gente, preciso ir. Estou tontinha da silva [risos].
 
Ia perguntar sobre seus prováveis adversários em 2014, Aécio Neves e Marina Silva.
[Em tom de brincadeira] Não fica triste, mas sobre isso eu não ia responder, não.

11 comentários

Essa gente deve se masturbar enfiando uma estatuazinha do FHC nos lugares aonde o sol não nasce, pqp... Pra todas as perguntas, a resposta é "mas o FHC só fez isso, e eu fiz TUDO isso".

VAI PRO QUINTO DOS INFERNOS, acabou o governo FHC faz onze anos, e ainda é a referência? O estranho é que a conjuntura global, que ela cita para defender o baixo crescimento em seu governo, não existia com o FHC, no caso do Fernando Henrique era tudo culpa dele mesmo... Vai ser maquiavélico assim lá na reunião do diretório nacional do PT.

O mais triste é saber que por incompetência das oposições, e abuso de poder no uso da máquina pública, essas falácias colaram todas no PSDB. Não se defenderam, não defenderam seu legado em mais de dez anos, e viraram formiguinhas em um mundo de tamanduás corruptos... Agora é tarde. Pressinto que teremos de votar em Marina Silva se quisermos alternância de poder.

Reply

Caro Anônimo de 28 de julho de 2013 05:02

ou você está louco de dizer que "teremos que votar em Marina Silva..." ou você é do pretenso partido dela.

Só vejo estas duas opções para justificar seu comentário absurdo.

Quer trocar 6 por meia dúzia????

Flor Lilás

Reply

Coronel,
o reporte bastava perguntar se a Anta II sabia o nome de apenas 10 ministros. Duvido que saiba. Quanto as demais respostas não poderia ser diferente se não não seria petralha.

Reply

Em uma leitura atenta da entrevista, constata-se facilmente que o atual governo (Dilma + Lula, indissociáveis, o que revela muita coisa) se encontra preso em uma espécie de Síndrome de Estocolmo invertida: o sequestro (usurpação)do Plano Real, do qual diziam ser eleitoreiro, para usar e abusar com fins eleitoreiros e, agora, padece de um estado psicológico que o torna refém do passado. Tanto que, passada uma década de decepções e frustrações mais do que constatadas pelas manifestações das ruas, invoca o FHC para fazer comparativos absurdos, considerando os distintos momentos sociais e econômicos, internos e externos. É por isso que não evoluem!

Reply

Entrevista dirigida, ao que parece, pelas perguntinhas óbvias de quem poderia responder. E mesmo assim a respondente se enrolou em algumas, especialmente em tratar questões macroeconômicas com o tomate. Por que não perguntaram sobre a Petrobrás já que tocou no nome de Gabrielli? E o caso Rosegate, uma vez que a entrevistada diz ter uma relação muito acima do que pensam? A Folha já prestou melhores serviços !

Reply

Quando há um boom de crescimento global, como na década passada, é mérito do desgoverno petista, mesmo crescendo abaixo da média mundial. Quando há desaceleração do crescimento interno e inflação é por causa de fatores externos, por culpa dos outros, mesmo quando economias vezinhas como Chile e Peru crescem bem acima da brasileira.

Ah, tenha dó, sua anta incompetente.

Reply

É desesperador ver com que superficialidade nossa presidente trata os assuntos de macro-economia. A formação dela é a mesma de um militante petista, formado pelo Rui Falcão. Uma vergonha. Dilma certamente vai continuar levando nosso barco rumo ao iceberg. Pior comandante, impossível.

Reply

É IMPRESSIONANTE o "Complexo de FHC" que essa gangue de incompetentes petistas carrega.
Cadê a mula do lula, hein?! Compara com o desgoverno desse analfa!

Reply

Dilma mentiu na entrevista.
Ela disse: "Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta? Em três dos quatro anos dele [em que a meta vigorou]".
Pesquisando o assunto no site do Banco Central facilmente se descobre a verdade.
FHC não cumpriu duas vez e não três como a presidente afirmou, e foi somente em 2001 e 2002.
Ademais, não foi por culpa de seu governo que as metas não foram cumpridas.
Pois bem, em 1999 o Brasil adotou formalmente o regime de metas de inflação com o decreto nº 3088 do dia 21 de junho de 1999.
A RESOLUÇÃO Nº2615, fixava as metas para a inflação e seus respectivos intervalos de tolerância, bem como o índice de preços a que se
aplicariam, para os anos de 1999, 2000 e 2001.
Na resolução, no art. 2º, o BC fixava as seguintes metas para a inflação, juntamente com os seus intervalos de tolerância, de acordo com o
art. 1º, parágrafo 2º, do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999:
I- para ano 2001: 4%, com intervalo de tolerância de menos 2 % e de mais 2%;
II- para ano 2000: 6%, com intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2% e
III-para ano 1999: 8%, com intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%.
Verificando o histórico da inflação medida no período, temos:
Em 1999 = 9,52%, com meta de 8%, mas dentro do intervalo de tolerância de 2%;
Em 2000 = 6,59%, com meta de 6%, mas dentro do intervalo de tolerância de 2%;
Em 2001 = 8,23%, com meta de 4%, fora do intervalo de tolerância de 2%.
Em 2002 = 12,53% na resolução 2744, fixava uma meta de 3,5% com intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%.
Ou seja, somente o anos de 2001 e 2002, o governo FHC não conseguiu cumpri a meta de inflação.
Agora, é preciso lembrar que no final de 2001 e 2002, foi um período eleitoral e o favoritismo de Lula provocou um pânico no mercado, forçando a disparada da cotação do dolar e dos juros, consequentemente o estoura da meta.
Tanto é verdade que Lula foi obrigado a escrever a famosa carta aos brasileiros pra acalmar o mercado, portanto, naquele período de 2001 e 2002 a meta não foi cumprida por culpa do PT.

Reply

Ela como o Mula, tem fixação em Fernando Henrique Cardoso. As circunstâncias conjunturais eram completamente diferentes. Não dá o braço a torcer, é uma babaca completa.

Reply

Dívida Bruta aumentou de 60% no final do governo FHC pra 68% do PIB em 2012.
Mais uma mentira detectada.

Reply