Servidores recolhem 22 bilhões e recebem 74 bilhões em aposentadorias. E mais 40% da "máquina "se aposenta até 2015.

As dimensões e o rápido e contínuo crescimento do déficit do sistema previdenciário dos servidores públicos, ao mesmo tempo que diminui o déficit do regime válido para os trabalhadores da iniciativa privada, não deixam dúvidas de que o problema é muito mais grave na área governamental. É preciso encontrar com urgência uma solução que, em algum momento, interrompa o processo de crescimento desse déficit. Por isso, é mais do que acertada a decisão da presidente Dilma Rousseff de adiar todos os concursos públicos e todas as nomeações dos aprovados até que seja instituído o fundo de previdência complementar do servidor público federal, conhecido pela sigla Funpresp.

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS), onde estão os trabalhadores do setor privado, teve déficit de R$ 36,5 bilhões no ano passado, o menor desde 2002 e inferior em 22,3% ao de 2010. Em contraste, o déficit da previdência dos servidores públicos passou de R$ 51,2 bilhões, em 2010, para R$ 56 bilhões, em 2011, e neste ano deverá superar os R$ 60 bilhões, calcula o ministro da Previdência, Garibaldi Alves. Esses números embutem uma brutal diferença de tratamento previdenciário dos brasileiros vinculados ao RGPS e dos servidores públicos. Embora atenda quase 30 milhões de pessoas - contra 1 milhão de aposentados e pensionistas do setor público -, o regime geral tem déficit bem menor e o crescimento do saldo negativo nos últimos anos é bem mais lento - quando não diminui, como em 2011 - do que o do funcionalismo.

Mas não é apenas por propiciar aos servidores vantagens com que o contribuinte do regime geral nem pode sonhar que o sistema previdenciário precisa ser reformado. Do ponto de vista das finanças públicas, se o processo observado atualmente não for interrompido, dentro de algum tempo o déficit previdenciário do setor público se transformará num pesadelo para os governantes e para os contribuintes em geral. A presidente Dilma Rousseff tinha definido como prioritário, e por isso tinha pedido sua tramitação em regime de "urgência constitucional", o projeto de criação do fundo de previdência do servidor que tramita há anos no Congresso. Ela queria ter o projeto aprovado em seu primeiro ano de mandato. Não conseguiu. Com a decisão de suspender contratações e a realização de concursos públicos até que o Funpresp seja criado, Dilma reitera, na prática, sua disposição de forçar o Congresso a decidir sobre o assunto com rapidez.

A criação do fundo não resolverá o problema imediatamente. Os servidores da ativa manterão o regime atual, e só aderirão ao Funpresp por decisão voluntária. O novo regime será obrigatório para todos os servidores admitidos após sua criação. Assim, seus resultados práticos surgirão somente quando esses novos servidores começarem a usufruir de seus direitos previdenciários, ou seja dentro de 30 ou 40 anos. Mesmo assim, a criação do Funpresp é urgente, pois indicará que, em algum momento, o problema deixará de piorar e uma das maiores fontes do desequilíbrio das finanças públicas começará a ser secada. Quanto aos resultados de 2011, eles mostram que o INSS se beneficiou de uma situação macroeconômica favorável, de quase pleno emprego, com aumento da formalização do trabalho e salários em alta real. É o que explica o melhor resultado, cuja sustentação será mais difícil, doravante, pois as despesas serão maiores, mas o País continuará crescendo em ritmo lento.

Ressalte-se que, apesar da queda, o déficit do INSS continua sendo muito elevado, mas nada que se compare ao déficit da previdência dos servidores públicos. Em 2010, a despesa total com os funcionários inativos civis e militares foi de R$ 73,9 bilhões, para uma arrecadação de apenas R$ 22,7 bilhões. Os dados de 2011 ainda não são conhecidos, mas já se sabe que o crescimento do déficit é inexorável, como reconhece o secretário de Políticas de Previdência Complementar do Ministério da Previdência, Jaime Mariz de Faria Junior. A situação tende a piorar na segunda metade da década, quando se prevê um "boom" de pedidos de aposentadoria no setor público, pois 40% dos servidores já terão cumprido o tempo necessário para se aposentar. (Editorial de O Estado de São Paulo, intitulado "O verdadeiro problema")

13 comentários

Sou funcionário público por absoluta necessidade salarial. Isto posto, com alguma frequencia sinto vergonha de vantagens de que disponho.

A quantidade de horas que gasto lecionando em uma universidade federal é ridiculamente pequena.

É certo que há também o tempo voltado para as leituras e para a pesquisa, mas ainda assim...

Realiza-me o ensino, de qualquer forma. Duro é ter que agüentar o esquerdismo abestalhado de tantos dos meus pares...

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Retirem dos cálculos do INSS aqueles que recebem e que nunca contribuiram que o déficit deve ser quase zero, se é que não haverá superávit. Quanto ao previdência do setor público, essa é um saco sem fundo, que atrasa o crescimento do país, seu déficit deve ser igual a 2 PACs ano !

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A questão é que a aposentadoria deles é insustentável. Eles contribuem de acordo com seu salário ao longo do tempo e recebem o salário de fim de carreira no final.

Não tem como isso dar certo e precisa de mudanças o mais rápido possível.

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Caro corona, assisti a um vídeo no youtube sobre o custo de um deputado na suécia e fiquei espantado! . Eles não tem direito a motoristas e vivem em apartamentos funcionais muito apertados que eu compararia a uma república de estudantes.
É um exemplo para o mundo. O dinheiro do contribuinte sendo gasto com parcimônia e responsabilidade.
Enquanto isso no Brasil...nossos faraós esbanjam o que podem com diárias e salários absurdos e fora de qualquer padrão de razoabilidade. Isso sem falar no séquito de assessores parasitas, a maioria em cargos de confiança, verdadeiros chupins sorvedores de verbas públicas.
Em suma, por aqui a democracia termina quando acabam as eleições e se elegem os representantes dos bobos, ops! do povo. Na suécia a eleição de representantes para o parlamento é só o ponta pé inicial de um processo contínuo de cobrança e prestação de contas (accountability) em que os cidadãos suecos se interessam pelo destino do dinheiro arrecadado via impostos.
Infelizmente, o nosso processo civilizacional não nos permitiu atingir essa cultura que traz embutida nas relações entre representantes e representados a noção de accountability. É por essa brecha cultural que nascem os coronéis que se eternizam no poder e os faraós que constróem seus impérios com o nosso dinheiro.
Parabéns aos suecos. Os deputados daquele país honram a democracia governando para o povo sueco. Já por aqui....
faltam homens de fibra na cabine de comando desse grande transatlântico chamado Brasil. Só nos resta aguardar aflitos um despertar coletivo para um chamado que coloque nossa embarcação no rumo certo: "Vada a bordo, cazzo!".

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OFF


E se todos os que reclamam do bbb boicotassem os patrocinadores ?


http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=30124#comments

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Pois é, Coronel, mas quando chegar o momento (e vai chegar e não vai demorar) de reduzir o valor das aposentadorias para enquadra-las nas possibilidades do Tesouro, advinhe por onde vão começar os cortes! Certamente não vai ser nos "direitos adquiridos" do pessoal do "pudê" público. Vai sobrar, então,para os aposentados cidadãos-de-segunda-classe do setor privado. Estes é que vão ter suas aposentadorias reduzidas pela metade ou até menos, se a situação assim o exigir.
Até lá a imprensa já estará devidamente cabresteada e, por via de consequência, o assunto não levantará grandes celeumas junto ao sempre fiel, dócil e bem-votante rebanho.
É só uma questão de tempo. Pouco tempo.

CABO

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É, caro Coronel, depois elles enchem a boca falando em igualdade social, em corrigir as distorções (só entre elles, obviamente)...enquanto tascam 40% de tributos no lombo dos que verdadeiramente produzem e trabalham para sustentar a corja de privilegiados dos três podres poderes e as bolsas-voto, bolsas-bandido, bolsas-cumpanhêru, etc.que serevem pazra manter o status quo....

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Estamos ferrados, coronel.... e daqui a 60, 70 anos, vão continuar falando do rombo da previdência e colocando a culpa nos servidores públicos...

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Coronel, isso é o que falei antes.
Quase 40% do que é pago retorna ao governo, em forma de imposto. Aplica-se esta conta e verá que a mentira do rombo gigantesco é menor. É grande, mas muito menor. Ou não conta o que entra, só o que sai? Sair por uma porta e voltar por outra não é válido ou é parte da mentira?

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Ha milhoes de caronas que nao contribuiram e estao nessa conta de aposentadoria publica.

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A parideira de ratos - ou dona da monumental, mas falsa barriga presidencial - com certeza nunca vai mexer no descalabro que é a aposentadoria dos servidores públicos. Os petralhas a deporiam sumariamente do pudê...

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Se o Lula não recebesse duas aposentadorias indevidas(e como ele muitos safados), e se os políticos não se aposentassem no golpe baixo antes do tempo, com certeza o rombo na Previdência seria bem menor.

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Perguntar não ofende???? O desgoverno petralha contratou loucamente nos últimos 9 anos, isto é, tem mais gente arrecadando e o deficit so aumenta? Sei não... tem algo errado aí.

Considerando que os aposentados quase sempre são excluídos das negociações dos funcionários públicos ativos, ou seja, sua aposentadoria não sobe e que existe o teto das aposentadorias, muito estranho. Tem dinheiro e pagamento não contabilizado aí.

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