Um país à deriva.

Na centenária história da República não houve, no primeiro ano, uma administração com tantas acusações de corrupção que levaram a demissões de ministros, como a da presidente Dilma Rousseff.Excetuando-se o primeiro trimestre, de lá para cá a rotina foi a gerência de crises e mais crises. Nenhuma delas por questão programática ou ideológica. Não. Todas devido às gravíssimas acusações de mau uso dos recursos públicos e de favorecimentos dos parceiros da base governamental. 

Neste ano ficou provado, mais uma vez, que o presidencialismo de transação é um fracasso. A partilha irresponsável da máquina pública paralisou o governo. A incapacidade de gestão -já tão presente no final da Presidência de Lula- se aprofundou. A piora do quadro internacional não trouxe qualquer tipo de preocupação para o conjunto do governo. Algumas medidas adotadas ficaram restritas ao Ministério da Fazenda. Como se a grave crise internacional fosse simplesmente uma mera turbulência, e não o prenúncio de longo período de estagnação, especialmente da Europa, e com repercussões ainda difíceis de quantificar na economia Ásia-Pacífico. 

O governo brasileiro mantém-se como um observador passivo, e demonstrando até certo prazer mórbido com os problemas europeus e com a dificuldade da recuperação dos Estados Unidos. Como se não pudesse ser atingido gravemente pelos efeitos de uma crise no centro do sistema capitalista. Se é correto afirmar que o mundo está iniciando um processo de inversão das antigas relações econômicas centro-periferia, isso não significa que o Brasil possa suportar um lustro sem que ocorra uma reativação das economias americana e europeia. 

A crise de 2008 -e a estagnação de 2009, com crescimento negativo de 0,3%- não foi suficiente para que o governo tomasse um rumo correto. Foi guiado exclusivamente pelo viés eleitoral de curto (2010) e médio prazos (2014). A inexistência de um projeto para o país é cada dia mais evidente. Nem simples promessas eleitorais foram cumpridas. Nenhuma delas. Serviram utilitariamente para dar algum tipo de verniz programático a uma aliança com objetivos continuístas. Foram selecionadas algumas propostas, mas sem qualquer possibilidade de viabilização. Basta citar, entre tantos exemplos, o programa (fracassado) Minha Casa, Minha Vida. 

O país está à deriva. Navega por inércia. A queda da projeção da taxa de crescimento é simplesmente uma mostra da incompetência. Mas o pior está por vir. Não foi desenvolvido nenhum plano para enfrentar com êxito a nova situação internacional. Tempo não faltou. Assim como sinais preocupantes no conjunto da economia e nas contas públicas. A bazófia e o discurso vazio não são a melhor forma de enfrentar as dificuldades. É fundamental ter iniciativa, originalidade, propostas exequíveis e quadros técnicos com capacidade administrativa, mas o essencial é mudar a lógica perversa deste arranjo de governo. 

Dizendo o óbvio -que na nossa política nem sempre é evidente-, o objetivo do governo não é saciar a base de sustentação política com o saque do erário, como vem ocorrendo até hoje. Deve ter um mínimo de responsabilidade republicana, pensar no país, e não somente no projeto continuísta. Contudo, tendo como pano de fundo o primeiro ano de governo, a perspectiva é de imobilismo. Algumas mudanças nos ministérios devem ocorrer, pois o desgaste é inevitável. Nada indica, porém, uma alteração de rumo ou uma melhora na qualidade de gestão. A irresponsabilidade vai se manter. E caminhamos para um 2012 cinzento.

13 comentários

Professor. O país vai continuar à deriva. Está à deriva há muito tempo. Se encontra numa situação melhor do que outros, porque:
1. Teve um bom gerente no Banco Central, Meirelles, que subtraindo dinheiro das obrigações básicas do governo, saúde, educação, segurança e investimentos em infra-estrutura, fez caixa de mais de 200 bilhões de dólares, e, para garantir, depositou na Suiça, longe da caneta do sr. Luiz Inácio e acólitos.
2. Tem todas matérias-primas necessárias no mundo, no seu solo. Só retirar.
3. Tem uma área agricultável e sendo utilizada, maior que a maioria dos países.
À isto se deve não estarmos quebrados. Mas não há nenhum projeto de governo; nem na situação (podre), nem na oposição (inexistente) cooptada.
Não só o Brasil, mas o mundo precisa urgentemente de um novo paradigma, de um novo contrato social. Este em andamento, faliu.

http://capitalismo-social.blogspot.com/

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Cel

Esta é a herança que o Português deixou. Até hoje, mesmo depois de passar um século recebendo o maior volume de ouro das américas Portugal continua como sempre esteve. Endividado, e este é o nosso caminho.

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Amigos, pior do que essa falencia politico-administrativa num cenario terrivel de uma longa crise internacional está a falta de oposição séria e capaz de uma leitura politica das perspectivas e soluçoes politicas que o pais exige. Esta miopia e incapacidade da oposição é certamente mais grave do que o descalabro irresponsável da situação de quem não poderiamos esperar nada mais sério, pois ficaram decadas fazendo apenas oposição. Lembremos que eles não tinham, e reconheceram, não ter projeto para o pais.No futuro será divertido estudar este periodo onde aparecerá um partido que roubou o legado do outro e ainda levou toda uma nação no gogó, como se palanque fosse. Que tristeza e miseria, um pais nao possuir homens a altura do desafio histórico, anestesiado e paralisado por uma figura politica que mais se assemelha a um magico de feira. Triste pais esse, que é este onde nós vivimos.
APA

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Coronel,
quem sou para contestar o MARCO ANTONIO VILLA porem, acredito que o país não está à deriva. Está sim no caminho do abismo. Pior, no caminho do abismo e com o "povo" cego.

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Ministro do Supremo ganhando mais de 200 mil Reais/mes.
Site do STF no banner transparência.
Um absurdo.

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E pensar que todo esse vigor economico brasileiro deveu-se ao Plano Real idelizado por Itamar Franco e gerenciado por FHC, o que seria do Brasil se a vontade dos petistas tivesse prevalecido?. Itamar Franco e FHC, esses sim, os grandes construtores da solidez de nossa economia.

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Cel,

O prof. Marco Antonio Villa fez uma radiografia digamos que até meio otimista. Pessoalmente acho que a situação é bem pior. A impressão que fica é a de que estão todos perdidos, preocupados mais com suas posições pessoais e em se manterem no poder. Não há nenhuma visão de futuro, não se faz as reformas necessárias, não se mostra nada consistente. O duro é constatar que numa terra maravilhosa como o Brasil, abençoada por DEUS, com 5 anos de bom governo pode-se dar uma guinada de 180º rumo ao estatus de país desenvolvimento. Muio triste.


Índio Tonto/SP

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CEl,

Ops! corrigindo: país desenvolvido e não país desenvolvimento.

Índio Tonto/SP

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Marco Antonio Villa, ao lado deste Coturno, de VEJA, de Reinaldo Azevedo, Kátia Abreu, José Serra, Olavo de Carvalho e poucos mais, está entre os melhores e mais eficazes respiradouros do Brasil na atualidade. E só comprova a falência da ideologia: não precisa pensar igual, basta pensar no País.

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Se a inflação voltar firme e ficarmos livres de ver o povinho-bunda comprando iogurte e queijo no supermercado, já poderei respirar aliviado. Essa farra tem que acabar...Onde já se viu pobre em supermercado de bacana o mês inteiro ? Muitos deles não deveriam nem ter nascido, está estampado no focinho deles que na certidão de nascimento o espaço designado ao nome do pai está escrito "pai desconhecido", portanto são só párias que vieram ao mundo para transforma-lo num lugar pior.
Chega de esmola para essa vagabundagem, que volte a inflação de 40% ao mês para corroer direitinho o poder de compra desta gente. E chega de ve-los desfilando em shopping com celular pré-pago.

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O cachaceiro NUNCA pensou no país, elle sempre, e só, pensou nelle!, em seu projeto pessoal de poder e de VINGANÇA(?). SIM! Elle sempre que pode diminui, menospreza, ironiza ou faz piadinha sobre a sua condição no passado e a atual, especialmente com todos aqueles que, com esforço próprio, venceram ou estudaram: AZELITE,UZAMERICANU, UZHOMI DE ZÓIO AZU.
ESSE FALASTRÃO NUNCA teve um projeto de e para o país. Que vá para o inferno logo!

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O cachaceiro NUNCA pensou no país, elle sempre, e só, pensou nelle!, em seu projeto pessoal de poder e de VINGANÇA(?). SIM! Elle sempre que pode diminui, menospreza, ironiza ou faz piadinha sobre a sua condição no passado e a atual, especialmente com todos aqueles que, com esforço próprio, venceram ou estudaram: AZELITE,UZAMERICANU, UZHOMI DE ZÓIO AZU.
ESSE FALASTRÃO NUNCA teve um projeto de e para o país. Que vá para o inferno logo!

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Dilma once boosted she would drain the corruption swamp in Brazil has now became the Queen of the swamp.

Hereticus

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