Bancos lucram até no prejuízo e quem paga é o contribuinte.

O artigo abaixo, publicado hoje pela Folha de São Paulo, é de Kátia Abreu, senadora, vice-presidente do PSD, reeleita ontem, em chapa única, para um mandato de mais três anos à frente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a poderosa CNA, que reúne 2.300 sindicatos e mais de um milhão de produtores rurais.

"Capitalismo implica que os cidadãos e as empresas se responsabilizem por suas ações. Lucros e prejuízos são igualmente assumidos por aqueles que realizam seus empreendimentos, fazendo determinadas escolhas. Acontece que estamos, atualmente, vivenciando determinadas práticas capitalistas que se voltam contra o espírito do próprio capitalismo. O mercado financeiro tem sido uma amostra disso, com supostas alegações de que bancos não podem quebrar, apesar de maus negócios feitos, e, inclusive, altos executivos ganhando vultosos salários e dividendos. Na hora do lucro do banco, vale o mercado; na hora dos maus negócios, vale a socialização dos prejuízos.

Ressaltemos, nesse contexto, um exemplo nacional. Os bancos brasileiros, para justificarem o alto "spread" cobrado dos tomadores de empréstimos -que faz do Brasil, sétimo PIB do mundo, o segundo colocado em taxa de juros, só perdendo para Madagascar (129º PIB)-, usam do argumento de que seu valor elevado se deve aos inadimplentes. Ou seja, os que não pagam aos bancos, por uma razão ou outra, têm, de certa forma, o cálculo dos seus débitos transferidos para os que pagam, os adimplentes. A situação é propriamente escandalosa, pois o banco se desresponsabiliza de um empréstimo malfeito e transfere essa responsabilidade para os que pagaram.

Se os bancos fizeram um mau negócio, deveriam se responsabilizar pelo prejuízo, não aumentando o juro dos que pagaram regularmente as suas contas. Em vez disso, o que acontece? Graças aos "spreads" cobrados, os bancos mantêm ou aumentam os seus lucros, pagando bônus régios aos seus dirigentes e acionistas. Há aqui um princípio de irresponsabilidade que causa dano aos próprios princípios do capitalismo. Na verdade, o argumento utilizado para justificar os "spreads" é um argumento não capitalista, à medida que o capitalismo está assentado na liberdade de escolha e na responsabilização das ações, seja no âmbito individual, seja no âmbito empresarial.

É fato que o baixo volume de crédito disponível empurra para cima o "spread". Mas, para tornar o cenário ainda mais grave, esse reduzido volume é concentrado em poucas operações de grande porte -como fez o BNDES no governo passado. Tudo, sempre, direcionado para diminuir o risco das instituições bancárias na concessão de empréstimos. Não surpreende, nesse sentido, que a imagem dos bancos seja tão ruim perante a opinião pública. Termina reforçando os preconceitos contra o capitalismo e contra os lucros como apropriação indevida.No caso em questão, trata-se, de fato, de uma apropriação indevida, e, para além dela, de um sério dano causado por empresas capitalistas ao próprio espírito do capitalismo. Capitalismo sem risco não é capitalismo propriamente dito.

Do ponto de vista moral, cria-se, dessa maneira, uma casta de irresponsáveis, que não pagam do próprio bolso os prejuízos que sofrem. Se os bancos têm grande número de inadimplentes, o problema é deles -e não dos que assumem suas responsabilidades. Façamos uma analogia para tornar o argumento ainda mais claro. O que acontece com um empresário, micro ou grande, que possui clientes inadimplentes? Ele deve arcar com o prejuízo, podendo, mesmo, ir à falência. Ele não pode transferir seu prejuízo aos seus clientes que pagam as contas em dia.

Os produtores rurais também enfrentam o constante descasamento de preços de venda e custos de produção, sem nenhum tipo de seguro. Ou seja, o empresário, qualquer que seja o seu porte, urbano ou rural, arca com os riscos da sua atividade. O mais surpreendente é que os governos não só aceitam os argumentos dos banqueiros e de seus executivos como ainda tomam decisões transferindo recursos dos contribuintes para salvar esses mesmos bancos cujos créditos podres ameaçam sua existência. Os governantes, em nome do "bem público", extorquem do distinto público recursos que não lhes pertencem: os recursos dos contribuintes."

15 comentários

Mensageiro do Apocalipse - SC mod

Que honra seria termos uma PRESIDENTE desse quilate!

Mas num país onde Rui Barbosa perdeu duas eleições e uma "coisa" como luis inácio foi eleito das vezes...

... quem sabe daqui a 500 anos, se chegarmos lá.

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Bom dia Coronel

Grande Katia Abreu, matou a cobra e mostrou o pau e a cobra.
PQP porque essa mulher brilhante não foi a vice do Serra ao invés do Índio?

E de mais mulheres com Katia que o Brasil precisa no Congresso e não aquelas barangas petralhas.

Nota 11 para a SENADORA.

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Coronel,

Gosto da Katia Abreu e o que ela falou esta "parcialmente correto".

Ocorre que os agricultores também são beneficiados por esse capitalismo paternalista que praticamos no Brasil.

Quantas vezes já vimos a renegociação e cancelamento de dívidas rurais por vários fatores.

O problema dos juros bancários, no Brasil, chama-se GOVERNO FEDERAL que suga quase todo o crédito disponível para rolar sua dívida monstruosa. Ai começa o jogo surdo entre Governo e Bancos. Com o dinheiro que sobra, os bancos cobram o que e como querem pela simples lei da oferta e procura.

Quanto mais regulamentação o Governo cria para os bancos, mais eles se protegem. Simples!!!

A Sen. Kátia necessita um pouco mais de informação.

JulioK

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por mais que eu admire a senadora, ela está errada em seu argumento. Capitalismo implica, também, em liberdade para escolher sua própria política de preços.

Se um empresário que possui clientes inadimplentes resolve aumentar os seus preços, cabe ao mercado, por meio da concorrência, regular esta situação. Os clientes apenas iriam a outras empresas, e isto obrigaria o empresário a ajustar sua política de preços.
Isto é, os bancos podem cobrar os juros que bem entendem.

O problema disso é que capitalismo pressupõe concorrência. Em uma situação ideal, como cada banco está livre para definir sua política de juros como preferir, é improvável que todos escolham socializar as perdas, como explica a senadora. Aquele que não o fizer terá a preferência do mercado, e a pressão do capitalismo fará o resto. O perigo reside numa coincidência brutal ou, no caso dos bancos, nos cartéis. O que ocorre no caso
dos bancos é um cartel, que aplica a mesma estratégia de socialização de custos em todos os bancos.

Apesar de formação de cartel ser crime, é uma prática comum no capitalismo "real". Além disso,
o contribuinte não é obrigado a fazer uso dos bancos, que oferecem apenas um serviço e podem cobrar o quanto quiserem por ele. Isto, sim, é capitalismo, e criar leis que alterem essas propriedades não é a solução. Ao contrário, uma solução simples e justificável para derrubar cartéis já existe no próprio capitalismo: concorrência. Um banco estatal, não susceptível ao cartel, resolveria a fatura em uma situação ideal. O problema, novamente, é a corrupção. Isto é, fora PT!

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Cel.

Katia Abreu deveria ser candidata a Presidente da República!!! Teria meu voto.

Mas na República da Banânia tivemos o apedeuta, e agora sua criatura, um poste apagado, dando as cartas.


Chris/SP

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Fabio Feldman, ex-PV, marineiro, ambientalista radical histórico, vai escrever a parte de meio-ambiente do programa do PSD. Que bom, não é?

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Coronel,
no mundo sempre foi assim. Os detentores do dinheiro, transferem para os verdadeiros empresários, todos os riscos. Infelizmente nossos dirigentes e políticos nunca se preocuparam cm este assunto, quer pelo medo e falta de conhecimento para alterar este tipo asqueroso proteção, quer pelos "bônus" regiamente pago aos mandantes de plantão.

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É a velha história de sempre. É sempre o honesto que paga o pato. O Brasil é o paraíso dos banqueiros. É impressionante como eles sempre ganham. No exterior os bancos pagam juros maiores e cobram juros menores. Ou seja, não me venham com essa história de que não dá pra mudar.

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Coronel,

O Brasil errou de primeira mulher presidente, um artigo muito bom que me fez pensar sobre algumas coisas.

Hmm, quanta clareza que essa mulher tem, sempre achei ruim a ideia de salvar Bancos à falência, ultimamente vinha pensando com meus botões (sobre as manifestações em WStreet) que tivesse Obama deixado os banqueiros falirem, leiloado seus bens para pagar suas dívidas, talvez os EUA tivessem sofrido um baque maior a curto prazo, mas teriam saídos fortalecidos.

Obama é um mau presidente, isto é fato.

Quanto aos bancos brasileiros, nunca tinha olhado para questão com essa ótica e, confesso, fiquei confuso agora!

O que a Kátia Abreu faz muito sentido, os bancos deveriam punir os maus pagadores e premiar os bons. Mas há uma série de barreiras contra isso imposta pelo Estado brasileiro, logo, por um lado os Bancos não têm muito como se defender contra um mau pagador (só negando o crédito a quem não tem comprovações), mas por outro que culpa temos?

No entanto, não seria contra um Estado livre forçar os bancos a não punir os bons pagadores?

É incrível como alguns conceitos básicos de Economia parecem falhar no Brasil, se Adam Smith fosse brasileiro eu não sei se ele teria formulado suas famosas teses.

Preciso refletir!

Ótimo texto da Kátia Abreu, eu voto nela para presidente seja quem for o candidato rival, pode ser Serra, Aécio, Alckmin, Meirelles, o que for.

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O problema dos bancos no Brasil é o mesmo das empresas de energia elétrica e telecomunicações. Esses mercados tem que ser regulados pois os clientes não tem muita opção de escolha. No caso dos bancos a regulação feita pelo BC é claramente tendenciosa para os bancos e o cidadão fica desprotegido. No caso específico dos emprestimos é falta de oferta, se o crédito fosse abundante as instituições selecionariam melhor seus clientes para oferecer custos baixos, conseguindo fechar mais negócios e os maus pagadores não teriam vida fácil.
Cade os bancos estatais, BB e CEF, para fazer a única coisa que justificaria sua existência, que seria oferecer serviços mais baratos para estimular a concorrencia?
Gino/SP

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Excelente artigo da senadora!

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CORONEL,
Primeiramente,com o devido respeito, contestar o comentarista das 8:33 quanto ao suposto engano da Senadora Kátia Abreu.O dinheiro no mundo inteiro está concentrado nas grandes corporações financeiras,e, não há essa pretensa liberdade de escolha para os pretendentes ao crédito.Essa seria a realidade onde existisse uma verdadeiro capitalismo, não aqui no Brasil onde os capitalistas são "abençoados" pelo Poder Central.Aqui no Brasil, privilegiados pelo Poder Central,se constituem em imbatíveis cartéis o que lhes garante lucros estratosféricos, com crise ou sem crise, como jamais vistos antes da era PT/LULA.Essa é a realidade. De resto, a Senadora Kátia Abreu merece PALMAS,MUITAS PALMAS pelo lúcido e oportuno artigo

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Kátia Abreu para Vice em 2014!

Eduardo Campos para Presidente!

Essa dupla seria imbatível.

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Entendo serem equívocados esses conceitos da nobre senadora, pela qual tenho muito apreço e admiração, sendo uma das nossas esperanças.

Os bancos não socializam os prejuízos advindos dos inadimplentes, pagarão juros maiores os tomadores de futuros empréstimos, assim como, os produtos agropecuários sobem de preços em quebras de safras ou entresafras, assim como, os supermercadistas colocam como custos na formação do preço final, os roubos, as perdas com cheques sem fundos, etc... e assim é com todas as empresas, qualquer perda é custo, é item formador do preço final, no caso dos bancos sua taxa de juros. Cabe ao tomador ou consumidor escolher o melhor para si, cada um assume a sua postura e decisão, sociedade e os empresários em geral.

No caso de um banco, o mesmo quebrando, o patrimônio liquido não será suficiente para quitação de suas obrigações, grande quantidade dos aplicadores ficarão no prejuízo.

Concordo que há uma cumplicidade entre banqueiros e governo. Pela necessidade de alocação de recursos ou rolagem de dívidas, o governo usa os bancos, emite pápeis, aumenta a dívida interna. Os bancos compram esses pápeis e vendem ao público, qto mais caro pagarem mais caro cobrarão, simples, a mercadoria dos bancos é o dinheiro.
Sinal de quebras de bancos, é sinal para fuga em massa de capitais ocasionando quebradeira geral em toda a economia.
É um setor que merece maiores cuidados.

Qto à cartelização através da Fenaban, cabe ao governo gerir, assim como em qualquer tentativa de cartelização.

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Viva o capitalismo neo-liberal.
Mas afinal, do que é que estão reclamando os ricos??
São os pobres que pagam sempre a conta no final. Isso sim é que é ser cara de pau. Latifundiários reclamando de bancos??? KKKKKKKK!!!!
Conte outra coronel, essa nem com boa vontade. Só mesmo os puxa sacos da direita podem acreditar. Tragam-me o saco de vomito!!!!

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