Apesar das campanhas em defesa do voto distrital, visto como solução para a crise de representatividade dos políticos brasileiros, um debate de cinco horas, sobre o assunto, ontem em São Paulo, revelou que ele não é consenso nem entre os acadêmicos. No evento 'Voto distrital ou majoritário?', promovido pelo Instituto Millenium, na Fecomércio, analistas como Luiz Felipe d'Ávila, José Álvaro Moisés, Eduardo Graeff, Samuel Pessoa e Carlos Pereira, entre outros, desfiaram argumentos em defesa das duas fórmulas - deixar tudo como está ou introduzir o voto distrital numa reforma política que já está tramitando no Congresso, em Brasília.

D'Ávila, palestrante e moderador, lembrou que com o voto distrital '80% dos atuais políticos se reelegeriam'. Cláudio Lembo foi mais radical: 'Desde os anos 80 dizem que o distrital vai salvar o Brasil. Não vai não', bradou o ex-governador. Que, em seguida, pôs a culpa na mídia, 'pois há poucos órgãos e uma verdade só'. O deputado Arnaldo Madeira centrou o foco na má representação e advertiu: 'Campanhas contra a corrupção, no passado, elegeram Jânio Quadros e Fernando Collor'. Não houve acordo sobre se o distrital reduz ou não a corrupção. Carlos Pereira, da FGV, descartou essa tese e concluiu que 'não há sistema ideal, todos têm prós e contra. A sociedade é que 'tem de escolher se quer um sistema com maior eficiência e menor representatividade, ou o contrário'.

A polêmica se instalou entre o analista Alberto de Almeida e Orjan Olsen, da Analítica Consultoria. Almeida expôs um quadro crítico do voto distrital, citando maus resultados que ele trouxe na política dos Estados Unidos e da Inglaterra. Depois dele, Orjan Olsen apresentou uma projeção de como estaria o Brasil hoje, se os votos de 2008 e 2010 fossem contados dentro de uma regra de voto distrital. Sua conclusão: a nova fórmula não leva ao bipartidarismo, como se apregoa. E, na prática, saem perdendo os evangélicos, as celebridades, o agronegócio, os filhos de políticos e os radialistas.