Como se não fosse exatamente o combinado...

A presidente Dilma Rousseff deu início, nesta semana, a uma tentativa de aproximação com os partidos da base aliada, sobretudo PT e PMDB. Entre os objetivos da imersão na política está a tentativa de conter pela raiz uma prematura e crescente especulação interna sobre uma nova candidatura presidencial de Lula em 2014. No PT, a torcida pela volta de Lula ainda é discreta, mas já atinge setores como a base sindical do partido e integrantes das bancadas na Câmara e no Senado. Já nos partidos aliados, um certo "sebastianismo lulista" começa a sair do armário. Ontem, antes de fazer novo discurso crítico ao governo, o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) disse em alto e bom som para colegas do Senado: "O barbudo tem de voltar".

O sebastianismo foi um movimento que surgiu em Portugal no século 16, após a morte do rei dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir. O país passou ao domínio da Espanha, o que deu início a uma crença segundo a qual o rei não morrera e voltaria para reassumir o trono. Na Esplanada, a ameaça lulista é vista com reservas. Ministros dizem que a reeleição de Dilma dependerá, sobretudo, do sucesso na economia e de sua saúde. Na semana passada, um trio de senadores autodeclarados "independentes" do PT -Delcídio Amaral (MS), Walter Pinheiro (BA) e Lindbergh Farias (RJ)- procurou as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). O recado foi claro: havia riscos reais de derrotas para o governo na Câmara e no Senado caso a presidente não se dedicasse mais à política.

A crise deflagrada com a queda de Antonio Palocci e que se desdobrou para outros partidos, como PR e PMDB, levou a base a colocar em dúvida a capacidade de Dilma de conciliar gestão e o comando da economia -áreas nas quais seu desempenho é elogiado- com o manejo da maior coalizão desde a redemocratização. "Já há no PT quem ache que a Dilma deve conduzir a economia sem marolas e deixar o caminho livre para o Lula voltar em 2014", disse um petista à Folha.

Entre as queixas mais recorrentes estão o fato de a presidente e seus assessores não ouvirem o partido e não prestigiarem figuras que tiveram peso sob Lula. Gleisi e Ideli foram aconselhadas a perder o "temor reverente" e as amarras e transmitir à presidente a real situação no Congresso. Dilma também foi aconselhada a receber reservadamente líderes dos partidos aliados, políticos de da oposição e empresários. Na segunda, ela se reuniu com líderes e presidentes do PT e do PMDB. Ontem recebeu o governador Eduardo Campos (PSB-PE), um dos mais prestigiados por Lula. Se no Congresso o "sebastianismo lulista" ainda é discreto, nas hostes sindicais é aberto. Depois das eleições municipais, as centrais sindicais, CUT à frente, planejam lançar o "Lula 2014". Os sindicatos se ressentem de ter perdido interlocução com Dilma. Não foram chamados para o lançamento do plano Brasil Maior, de política industrial, e ontem se queixavam do veto ao reajuste de aposentadorias. (Matéria da Folha de São Paulo)

5 comentários

Não vejo como dilma possa vir a fazer um bom governo. Sem chances! O pt sozinho vai fazer o que a dita oposição não tem feito e vai simplesmente tornar a vida da criatura um inferno. Como a dita oposição é de uma incompetência (ou boa vontade, depende do lado que se está) ímpar, não vai nem tentar colar o desastre dilma em seu criador, e a coisa, o miasma, vai mesmo acabar voltando em 2014.

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A diferença é que o rei Dom Sebastião de Portugal morreu mesmo. Já aqui...o rei Dom da Silva está mais vivinho e esperto do que nunca. Enquanto isso, no reino, a oposição parece estar em processo de falência múltipla dos órgãos (ou múltipla falência de órgãos, como ensinam os médicos).

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Catacumbas!

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As vêzes me pergunto porque só agora, no governo da dilma,
explodiram tantas denúncias.
Isso parece coisa orquestrada.
Por quem?? por aquele ser abjeto,
e nauseante, o VELHACO.
o MEU SONHO, é ver os dois se pegarem a TAPA, por causa do poder,
será que demora???


Izabel/SP

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O teu título disse tudo: Como se não fosse exatamente o combinado. E eu acrescento,talvez por isso mesmo a Dilma se sinta a vontade pra ser como é,governar como entende que deva e,acima de tudo,manter uma relação exclusivamente " republicana" com o congresso e os políticos em geral.

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