Queda de popularidade definiu demissão de Palocci. Felizmente, a esperteza continua com pouco prestígio no Brasil.

Da Folha:

A presidente Dilma Rousseff decidiu demitir seu principal auxiliar após ser informada que pesquisas já apontavam desgaste do governo por conta da crise envolvendo aquele que foi um dos responsáveis pela arrecadação para sua campanha. Ela confidenciou a assessores que não podia deixar uma crise pessoal contaminar e paralisar seu governo -como vinha ocorrendo nos últimos 23 dias, desde que a Folha publicou sua primeira reportagem sobre os negócios da empresa de consultoria de Palocci, a Projeto. A situação do ex-chefe da Casa Civil piorou após o jornal revelar que a empresa faturou R$ 20 milhões apenas em 2010, ano eleitoral. Metade do valor foi obtida nos últimos dois meses de 2010, quando Palocci chefiava a equipe de transição. Ao lado dela, ajudou na nomeação de cargos e na formação do ministério dilmista.

DECISÃO
Dilma acertou os termos da demissão anteontem. Diante da avaliação de que a saída era inevitável, reuniu-se ontem mais uma vez com Palocci por 40 minutos. Em seguida, ambos foram juntos para evento no Planalto. Palocci sorria e Dilma aparentava tranquilidade. Ela já estava decidida a demiti-lo desde o dia anterior, quando sondou Gleisi Hoffmann pela primeira vez. O convite oficial à senadora, uma escolha de Dilma, foi feito ontem por volta das 15h. Mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, se aproximou de Dilma nos últimos meses devido à atuação no Senado. A mudança no perfil da Casa Civil, que se tornará mais técnica, devolve à Secretaria de Relações Institucionais a articulação política, sob responsabilidade do ministro Luiz Sérgio. Petista do Rio, ele fica no governo, mas deve ser trocado em breve. Padrinho de Palocci, o ex-presidente Lula chegou a defender sua permanência. Dilma evitou, desde o início da crise, defendê-lo enfaticamente, surpreendida pelos negócios da Projeto.

IRRITAÇÃO
Ele havia apenas informado que tinha uma "empresinha de consultoria", sem detalhes de clientes e valor do faturamento -informações que o ministro se negou a divulgar publicamente. A presidente se irritou ainda com o silêncio de Palocci, quebrado apenas na última sexta-feira, quando deu entrevistas à Folha e à TV Globo. Na ocasião, disse não ter informado Dilma sobre seus clientes nem o faturamento de sua empresa. A pressão por sua saída atingiu o auge na última semana, depois que ele foi praticamente rifado pelo PT e teve convocação para depoimento aprovada na Câmara. Para o governo, a possibilidade de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra o principal ministro de Dilma faria com que ele sangrasse meses a fio.Palocci até anteontem, no entanto, acreditava que poderia sobreviver, sobretudo depois que a Procuradoria-Geral da República emitiu parecer para arquivar pedido de investigação contra ele. Jogou a toalha ontem e divulgou nota em que diz considerar que "a continuidade do embate político poderia prejudicar suas atribuições no governo". Acrescentou que, diante disso, "preferiu solicitar seu afastamento"