Tracking e qualis: o fim da estratégia?

Eleitor é um consumidor como qualquer outro. A pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow deveria ser mais respeitada e compreendida pelos marqueteiros políticos.

As pesquisas de tracking estão determinando o fim da estratégia nas campanhas eleitorais? Da mesma forma, as pesquisas qualitativas estão tendo mais importância que as idéias-força e as abordagens vitoriosas? Mil telefonemas e quatro reuniões de focus group viraram o hit dos marqueteiros. Diariamente, o programa de TV é avaliado para saber se o eleitor gostou ou não. Não gostou é um deus-nos-acuda. Exemplo: o candidato escolhe bater em um ponto polêmico, com uma certa dose de realismo, cai 2% nas pesquisas e lá vem o cara de óculos de fundo de garrafa e diz: "tá errado, o eleitor não gostou, estamos sendo muito agressivos...". Logo atrás vem o Comitê da Campanha e determina: " vamos mudar o discurso!". Camelo é um cavalo criado em Comitê. E só existe Comitê de Campanha quando não existe uma estratégia planejada, definida, validada e, principalmente, respeitada.

Michael Porter não faria mal  para os políticos, para ensinar o que é estratégico e o que é tático. Tracking e qualis são instrumentos meramente táticos. Não tem nada a ver com estratégia. São meros instrumentos de avaliação ao longo do tempo e não em 24 horas. Pesquisas eleitorais, da forma como são feitas no Brasil, são retratos em retalhos do Brasil. 

Estratégia é construir um conjunto de valor para o candidato que o torne mais competitivo do que o concorrente. O currículo de Serra é um diferencial sustentável, mas ao eleitor deve ser mostrado o que representa um currículo na prática. A capacidade de fazer é uma vantagem competitiva de Serra, desde que mostrem o que ele fez em relação ao que a concorrente não fez. Falar a verdade e provar que está falando  pode destacar Serra. O eleitor, assim como o consumidor, necessita de tempo para tomar uma decisão. Ninguém muda de marca da noite para o dia.

Para mudar, o eleitor ou o consumidor precisa ter informação objetiva, direta, compreensível. Ainda mais no Brasil de 50 milhões de eleitores que vão pelo cabresto. O que pode ser chocante no momento, como aquele debate em que Alckmin reduziu Lula a pó,  pode ser apenas uma primeira reação. Quem pode afirmar que a indignação inicial do eleitor  não faz parte da construção de um pensamento lógico que, em seguida,  vai gerar uma definição favorável do voto?

Por fim, é preciso, antes de tudo, respeitar o comportamento do eleitor, que nada mais é do que um consumidor, com a diferença que valoriza um presidente da república muito menos do que um televisor tela plana. Lembrar um pouco da hierarquia das necessidades de Maslow(ver figura) e comparar com a Bolsa Família. Não dá para colocar o tático a comandar o estratégico. Estratégia é a criação de uma posição única e valiosa para José Serra, que seja percebida pelo eleitor. Escolher e acreditar. Mudar de idéia o tempo todo é o caminho mais rápido para o fracasso. Força, Serra! Força, Gonzales!