A entrevista que ele nunca deu.

Hoje a Folha de São Paulo não publicou a entrevista abaixo, com o presidente da Petrobras. Ela publicou outra entrevista, que os assinantes podem ler aqui. A entrevista que ele não deu, que a Folha de São Paulo não publicou, mas que qualquer brasileiro decente gostaria de ler, segue abaixo:

FOLHA - A Petrobras é uma caixa-preta?

JOSÉ SERGIO GABRIELLI - Não, não existe caixa-preta, está tudo aberto para que o Senado investigue. O Senado da República é que nunca nos pediu informações. Não é necessário buscar informações apenas no site. A CPI, se quiser, pode funcionar dentro da sede da Petrobras, sem problema algum. Cedo o meu gabinete e ponho a mão no fogo pela empresa que tenho orgulho em dirigir.

FOLHA - Mas é recorrente a crítica a uma autonomia excessiva.

GABRIELLI - Nada disso, seguimos rigidamente a lei. As decisões aqui são todas técnicas. Repito: cada centavo dos R$ 15 bilhões que investimos no primeiro trimestre está aberto para ser analisado. Nomeio, desde já, cada funcionário da Petrobras um informante para que o Senado conheça tudo o que se passa dentro da empresa. O Legislativo tem todo o direito de saber tudo sobre a Petrobras, pois é um poder da República e somos uma empresa estatal.

FOLHA - A Petrobras também não deveria franquear o acesso a informações de seus contratos?

GABRIELLI - Estou entregando a senha de acesso ao sistema de gestão de contratos da Petrobras não só ao presidente da CPI, mas a cada um dos senadores que a compõem. Não há nada a esconder. Na Petrobras é proibido assinar contrato com cláusula de confidencialidade sobre a área financeira, somos uma estatal e temos que ser transparentes. A CPI é muito bem-vinda. Como dizem os cariocas, demorou.

FOLHA - A Petrobras é uma empresa com participação estatal.

GABRIELLI – Sim, e por ser estatal deve ser transparente. Muitas vezes tive de tomar decisões que gostaria de ter compartilhado com o povo brasileiro ou pelo menos com um grupo maior do que o conselho da empresa. A Petrobras é de cada brasileiro, deveríamos promover audiências públicas e uma gestão mais participativa. Afinal de contas, a Petrobras é a maior empresa do Brasil.

FOLHA - Se prevalecer o entendimento do TCU e agora dos proponentes da CPI, a Petrobras perde competitividade?

GABRIELLI - Nada disso. Temos praticamente o monopólio no Brasil, no que se refere ao nosso setor. Isto é conversa para boi dormir. Só quem tem medo de prestar contas poderia espalhar tamanha bobagem.

FOLHA - Como o sr. justifica as contratações de ONGs ligadas ao PT?

GABRIELLI - É uma vergonha que deve ser punida. A Petrobras não pode misturar política com gestão. Já demiti várias pessoas por justa causa e a Petrobras vai para a justiça comum reaver valores liberados ilegalmente, doa em quem doer.

FOLHA - A questão fundamental da Bahia é porque a ONG que recebeu dinheiro da Petrobras era de ex-dirigente regional do partido.

GABRIELLI - Para mim, particularmente, este é um grande problema, pois sonho em ser candidato a senador pela Bahia. São os meus inimigos dentro do próprio PT que armaram esta cilada. O contrato já foi rompido pela Petrobras.

FOLHA - O que motiva a CPI?

GABRIELLI - Investigar é um dever na democracia. Só tenho a aplaudir a CPI, pois vai apontar caminhos para melhorar a Petrobras. Quem não deve, não teme.

FOLHA - O TCU constatou que, devido a aditivos, contratos da Petrobras chegam a dobrar de valor. Esse artifício não dá margem para todo tipo de acréscimo?

GABRIELLI – O maior problema deste nosso governo e também da Petrobras são os projetos mal feitos. Depois, as coisas têm que ser mudadas no meio do caminho e os fornecedores se aproveitam e cobram o que querem. A obra já começou e não podemos mais parar. Ou temos prejuízo para frente ou perdemos o investimento para trás. Tomara que a CPI nos ajude a encontrar formas de enquadrar, legalmente, os nossos fornecedores. Seria um grande serviço para o país.

FOLHA - Quanto, em média, aumentam os contratos?

GABRIELLI - Há aumento de 10%, de 25%, tem aditivo que só aumenta prazo, sem custo. São 55 mil contratos. É uma vergonha, nenhuma empresa petroleira no mundo convive com isso. Repito: a CPI pode nos ajudar muito, legislando sobre o tema.

FOLHA - Não poderia haver um programa para melhorar a execução dos contratos?

GABRIELLI - Estamos tentando, acelerando nossas condições para que a gente vá para o mercado com o projeto mais detalhado. Isso significa que podemos atrasar os projetos. Peço, então, publicamente ao Lula e à Dilma: parem de pensar em eleições. A pressa em relação a 2010 está fazendo o Brasil perder bilhões!

FOLHA - Que projetos?

GABRIELLI - Na [refinaria] Abreu e Lima, estamos com 14 licitações. Dessas, 6 cancelamos por excesso de preço, 8 estão concluídas. O escândalo é em torno de um contrato de terraplanagem. O problema é que estamos falando aqui de um conjunto muito grande de coisas. Tivemos que fazer novas concorrências e os preços praticamente dobraram. E ainda temos o problema da Venezuela, que deveria participar com 40% dos investimentos e não colocou um dólar até agora.

FOLHA - O Comperj (complexo petroquímico do Rio) foi orçado, em 2005, em US$ 6 bilhões de dólares e está em US$ 8,6 bi.

GABRIELLI - Posso garantir que não pagamos nenhum centavo acima do contrato. A CPI poderá verificar, pois terá todas as senhas de acesso aos nossos sistemas. Dinheiro público é sagrado e U$ 2,6 bilhões daria para construir 200.000 casas populares.