O Brasil já teve todo tipo de chefe da Casa Civil. Técnico, intrometido, articulador, discreto, conspirador, totalitário. Desta vez temos um novo tipo: candidato. O presidente Lula diz que a inauguração de obras pela ministra Dilma Rousseff faz parte das funções de chefe da Casa Civil. Não faz. Gerente não inaugura, não sobe em palanque, não discursa: administra.
Ela quer inaugurar obra inconclusa, cada etapa de cada projeto e até pedra fundamental; porque é candidata. Não fosse, faria visitas aos canteiros de obras para acompanhar, verificar, como gerente. Como é candidata, em qualquer visita é armado um palanque e convocada uma claque. Isso é campanha política. A inteligência alheia não deve ser agredida com tentativas de se provar o contrário.
É legítima a aspiração da ministra Dilma Rousseff de concorrer à Presidência. Aqui neste espaço, escrevi, desde que ela foi nomeada, que a ministra não era um quadro técnico. Ela sempre foi uma militante e tem se esforçado para adquirir competências administrativas. Sua aspiração agora é, além de legítima, previsível, já que outros potenciais concorrentes se enfraqueceram.
O que não é correto é usar a máquina pública para fazer campanha, dizendo que está em função governamental. A reunião dos prefeitos foi eleitoreira, seja o que for que o governo diga em contrário. Gastou-se dinheiro público, sete vezes mais do que o admitido, para reunir os possíveis cabos eleitorais de 2010.
Na Europa, houve uma reunião de 700 prefeitos e saiu um acordo de adesão ao protocolo 20-20-20 da União Europeia: 20% de redução de emissão de carbono, 20% de energia alternativa e 20% de eficiência energética até 2020. Eles perseguirão essas metas em seus municípios. Nos Estados Unidos, houve uma reunião de prefeitos que também terminou com consenso de estudar a adoção do modelo climático europeu. Da nossa reunião, os prefeitos saíram com fotos tiradas com bonecos do presidente Lula e da ministra Dilma e dívidas previdenciárias roladas. Eles ouviram muitos discursos, viram o presidente divulgar um dado errado sobre o analfabetismo de um estado administrado por um concorrente político e assistiram aos ensaios eleitorais de Dilma Rousseff.
Em 2009 não haverá eleição, mas há uma perigosa crise global para ser enfrentada. Os administradores públicos devem, com seriedade, cuidar da crise econômica para revertê-la. Ninguém ganha com a crise: não é o fracasso de um pensamento econômico adversário, como pensa a ministra Dilma. Seja o que for que aconteça, já morreu a ideia de que o estado deva controlar os meios de produção. Não deu certo, não funcionou. Que o diga a China, que continua querendo que o Brasil conclua o reconhecimento de que ela é uma economia de mercado.
O PSDB fala em prévias. Ótimo. Esse é um bom hábito político, como acabamos de ver nos EUA. Fortalece os partidos e divulga as ideias dos pré-candidatos quando é uma primária bem feita. Quando são oficializadas, funcionam melhor. É preciso definir as regras e fazer uma primária formal. Para isso, o TSE teria que permitir primárias abertas, em vez da jurisprudência de prévias fechadas que dão todo o poder às convenções.
O presidente Lula estranhou que o governador José Serra vá viajar sem ter obra para inaugurar. Mostra que acredita que a obra é o álibi perfeito. O PSDB tem que oficializar sua consulta às bases. Não procurar pretexto, como o governo faz.
A maneira como a ministra Dilma foi escolhida pré-candidata do PT lembra o modelo político do "dedaço" que vigorava no México na época do PRI. Até lá caiu em desuso. O "dedaço" era o costume de o presidente anunciar que candidato o partido teria. O PT nunca fez uma prévia como a que vimos entre Hillary Clinton e Barack Obama. A disputa entre Lula e o suposto pré-candidato Eduardo Suplicy foi para inglês ver. O candidato sempre foi Lula em todas as eleições do PT porque ele era o único nome que unia o partido. Isso não é transferível. Em vez de trabalhar para que sua candidata suba nas pesquisas e vire fato consumado, o presidente deveria querer a escolha democrática que fortalecesse o petismo. O contrário só fortalece o lulismo, que não é um partido, é movimento personalista.
A vantagem das primárias seria treinar Dilma Rousseff no palanque, na disputa pelo eleitor, nas pressões dos debates. Ela nunca viveu situações de disputa política. Essa habilidade não se adquire em cirurgia.
O PSDB vive sempre sob a suposta divisão dos grupos pró e anti-Serra. As prévias ajudariam a acabar com o mito ou oficializá-lo. Os governadores José Serra e Aécio Neves têm, também, a ambição legítima de disputar a Presidência. O partido tem um patético histórico de decisões tomadas entre quatro paredes ou nos quatro lugares de uma mesa de restaurante.
O desafio para todos será separar o que é máquina pública e o que é disputa partidária interna. O Brasil já andou demais no desvio, tem sido muito tolerante com irregularidades. É hora de um manual de conduta, respeitado por todos os possíveis contendores desta primeira fase da disputa presidencial de 2010.
15 comentários
Essa é uma das melhores análises que li até agora.
Reply'Marquinhos10'
Coronel
ReplyIbidem ao primeiro comentário.
Nome Próprio
Quando?
ReplyNo programa de sábado, na Globo News, a comentarista Cristiana Lôbo disse :
'Lula confessou aos amigos que quer ser lembrado
pelo seu 2º mandato como um grande estadista,
tal como Getúlio Vargas.'
A idéia parece excelente mas,
todos nós, queremos saber:
Quando será o suicídio?
eu diria que o papel da moça morcego é só de fiscalizar os convênios e não de gerenciar que é da alçada dos estados e municípios, responsáveis pela execução.
Replyaliás, a razão do fracasso do pac é justamente isso - incapacidade de lidar com os planos....dos outros.
dilma e lulla dois fracassos na presidencia da república.
trecheiro
Dilma, a Feia, é uma enganação!
ReplyEstelionato puro.
Irreparável o texto.
ReplyO chefe dos mensaleiros tem outra opinião e a manifesta mesmo com os direitos políticos cassados. E o TSE tem voz ou vai acochambrar?
ReplyMago
Perfeito,Mirian Leitão, perfeito!Dora Jardim
ReplyIRRETOCAAAAAAAAAAAAAAAVEL...
ReplyEee Waltão
ReplyNada de tiros...cirrose mesmo velho, pézão redondo, vermeeeeeeelho como um perú. He he
Artur SC
Excelente artigo da Miriam Leitão.
ReplyOs dois 1°s §§ já valem o texto.
ReplyA mídia está tão abestalhada, comprometida com o socialismo-lulista que já não consegue enxergar o óbvio como aponta Miriam.
O caso dos presidenciáveis de 'oposição' aguarda desfecho mais digno de 'Estadistas em Gestação'.
Como pode um Neves não ter senso de oportunidade diante do exclusivismo de disputar a Presidência da República com as honras do convite feito pelo PMDB e a aclamação consequente.
O governo do crime organizado do PT segue a cartilha elabora dentro do Foro de São Paulo comandado e pensado por Lula já há 20 anos.
A base de sustentação do governo desse traidor do Brasil, em grande parte faz caso da meta do Foro de detonar o sistema vigente por estar entretida com um cardápio de ganhos com a corrupção dos mais complexos que se tem notícia.
A implosão institucional intuída pelos parlamentares não os demove de prosseguir a sanha maldita.
Só há chance real de recuperar o Brasil para os brasileiros dissolvendo essa base de sustentação partidária.
Para isso se revestir de um nexo que comova a nação e entusiasme é necessária a redistribuição urgente das forças políticas lideradas pelos presidenciáveis.
É o gancho de Aécio Neves.
É tocar a política com um cajado que pode despertar a pátria para o patriotismo.
A persistir a tese ridícula de prévias e concertação interna, além de bobagens e estupidez da torcida achar que a mídia vai destacar favoravelmente quando estamos cansados de saber que é a cizânia que dá Ibope, o caminho para a continuação do Foro de São Paulo no poder estará sendo facilitado pelo polarização já testada e reprovada nas urnas.
Há muito em jogo. Chávez anunciou o 3o. ciclo de sua 'revolução comunista'. Evo segue desgastando. A Via Campesina, o MST enterram armas e a sabotagem prossegue nos subterrâneos da tríplice fronteira.
Geraldo Alckmin precisa olhar esse panorama com mais atenção e o DEM carece acelerar seu reprojeto nacional.
Estamos atrasados. Muito atrasados.
Se é que queremos recuperar o moral dos brasileiros que são realmente o grande partido de trabalhadores honestos e contribuintes da riqueza manipulada pelo grande corruptor, o ex-metalúrgico, sempre sindicalista do bolso alheio, o exemplar apedeuta, Luíz Inácio.
É mesmo a situação do refrão do Pacotão deste ano, ou seja, "quem engoliu sapo, engole perereca..."
ReplyMas eu estou esperando que apareça um candidato que fale abertamente contra o comunismo e os comunistas, sem medo do "politicamente correto".
Estou esperando alguém que falem coisas sérias, principalmente em corte de gastos a começar pelas benesses palacianas e de impostos também.
Se já estamos em recessão, não demora e vamos entrar num processo inflacionário sem retorno, mesmo que se mantenha ou eleve mais ainda as taxas de juros.
Comentando somente uma parte. É bom que Serra peregrine pelo resto do país, tempestivamente. Ele verá que o seu partido está destroçado, inerte, recheado de traidores.
ReplyO empresariado nacional faz de conta que não está vendo o avanço do comunismo. Fiquei assim, idiotas, e verão um embate revolucionário, isto sim, como nunca antes, neste pais.
Parabéns Miriam Leitão, sem medo de ser demitida.
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