Cuba: uma decepção chamada Lula.

Jorge Ferrer, escritor, tradutor e blogueiro, cubano exilado em Barcelona, apresenta uma visão amarga e decepcionada da visita de Lula à Cuba, sob um ângulo que não foi explorado pela mídia brasileira.

Luiz Inácio Lula da Silva perdeu a oportunidade de ser o primeiro chefe de estado que visitaría Cuba do pós-castrismo, tratando-a como tal.

Chávez, como é natural, não qualifica para o título, porque suas viagens são as do discípulo que vai negociar a continuidade.

Lula, por outro lado, levava uma agenda empresarial, onde o peso da submissão ideológica ao castrismo prometia ser escassa, irrelevante. Viajava para fazer negocios com Raul Castro, para instalar o Brasil no espaço económico de uma esperada abertura do mercado cubano.

A leve retórica de esquerda que poderia ter acompanhado suas declarações na ilha era previsível. E saudável, sempre que mantida dentro dos limites do discurso próprio de uma esquerda democrática.

Afinal de contas, as posibilidades de que uma Cuba pós-castrista ingresse no concerto das nações do hemisfério desde a esquerda que encarnam Lula e Bachelet são muito maiores do que as que permitem imaginar irrompendo desde uma plataforma de direita.

De fato, a única transição que cabe esperar para Cuba é a que encarna a esquerda reformista. A outra via é a do rompimento.

Porém Lula perdeu a oportunidade de “ajudar” a procesar Cuba por esta via até a democracia. E a culpa, ainda que também seja sua, é sobretuto do totalitário. O totalitário usando Adidas, o encantador de serpentes.

Hipnotizou a Lula com a sua geringonça “fim-do-mundista” e sua pesada dicção de avô e sábio, e Lula voltou a ser quem foi tanto tempo, quem tem sido sempre para acabar proclamando uma “lucidez incrível”, uma “saúde impecável” e que “está pronto para assumir um papel político”. E, sobretudo, aquele “todos sabem a paixão que sinto pela revolução cubana”, uma frase que tem a virtude de converter cada uma de suas palabras anteriores em bolas de fumaça.

Se bem, o saldo económico da visita é positivo para a Cuba de hoje e de amanhã, mas a tropeçada ideológica final nos devolve a todos a triste circunstancia de que nem sequer cabe esperar apoios para uma transição a partir das esquerdas moderadas da América Latina. Como sempre, a nós cubanos não cabe esperar nada de nada. Nada bom, se entendes.

2 comentários

¡Qué machera la de Chávez!

D'Artagnan. Columnista de EL TIEMPO.






http://www.eltiempo.com/opinion/columnistas/dartagnan/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR-3926476.html

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Lamentavelmente Ferrer não conhece o vagabundo cachaceiro ou finge não conhecer. Não sabe (ou finge que não sabe) que o sonho do pudim de cachaça é transformar a América Latrina numa Cuba continental.

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