O publicitário Paulo Vasconcelos,
marqueteiro do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em sua pré-campanha presidencial,
encerrou ontem a primeira fase de seu trabalho para o tucano. Ele finalizou o
programa de dez minutos que irá ao ar amanhã em rádio e TV e que mostrará com
mais detalhes a trajetória de Aécio. É o último programa do horário gratuito
antes de a campanha na TV começar, em meados de agosto.
Vasconcelos e sua equipe foram os
criadores dos vídeos de 30 segundos exibidos nos últimos dias e que tiveram
Fernando Henrique Cardoso como principal cabo eleitoral de Aécio. Foi a
primeira vez, desde que deixou a Presidência em 2003, que FHC apareceu em
inserções de campanha desse tipo.
Aos 53 anos, o publicitário
mineiro está no comando da criação da campanha tucana desde fevereiro. Seu
contrato vai até julho. Se agradar, fica para a campanha. Ele está longe de ser
um guru de Aécio, papel que marqueteiros de outros candidatos pareceram assumir
tamanha a influência que tinham nos rumos de campanhas.
Vasconcelos tem uma longa ficha
de trabalhos com tucanos mineiros. E foi o pai de Aécio, Aécio da Cunha, quem o
chamou para se envolver para valer pela primeira vez com marketing político.
Aos 26 anos, o publicitário coordenou a comunicação da campanha, derrotada, do
então senador Itamar Franco ao governo de Minas. Cunha era candidato a vice.
Antes de montar sua agência, a
Vitória Comunicação Institucional, com escritórios em Belo Horizonte e em São
Paulo, Vasconcelos trabalhou, de 1990 e 1995 na que considera sua "grande
escola de propaganda", a DNA Propaganda. Comprada por Marcos Valério em 1998,
a agência caiu em desgraça quando mais tarde viu-se que virou peça de
engrenagem do mensalão tucano e do mensalão petista.
Nesta entrevista ao Valor (jornal Valor Econômico) - a
primeira à imprensa desde que assumiu o cargo - Vasconcelos diz que o desafio
central é ajudar Aécio a tornar-se conhecido nacionalmente e que a imagem que
parte do eleitorado já tem dele é de alguém com o carisma de Lula e a
eficiência de FHC.
Esta é a segunda campanha
presidencial de Paulo Vasconcelos. A primeira, em 19989, ele integrou a equipe
que ajudou a catapultar, em poucos meses, o alagoano Fernando Collor de Melo
dos 2% nas pesquisas para mais de 40% e para a vitória contra Lula.
A seguir os principais trechos da
entrevista que Vasconcelos concedeu na sede da sua agência, em Belo Horizonte:
Valor: Que imagem do candidato
Aécio Neves você espera conseguir projetar para o país?
Paulo Vasconcelos: É muito comum
você ter governantes no Brasil afora que tenham tido em seus Estados uma boa
avaliação. Isso é normal. O que aconteceu com Aécio [que governou Minas entre
2003 e 2010] foi uma coisa fora da regra. Um sujeito que tinha mais de 50
pontos de ótimo e bom e que durante todos os sete anos e meio de governo a pior
avaliação que ele deve ter tido foi de 88% e a melhor, acima de 92%. Se metade
dessa imagem puder ser levada para a sociedade está bacana demais. Minas é um
Brasil multifacetado. Portanto raramente o que dá certo aqui não dá certo fora
daqui. A imagem a se construir do Aécio é nenhuma. A dificuldade é exportar
essa imagem.
Valor: Que imagem é essa, a de
bom gestor?
Vasconcelos: O cara é eleito em
1986 com a maior votação do Brasil, depois é reeleito quatro vezes deputado
federal. Das quatro, foi reeleito e era líder de seu partido, chega à
Presidência da Câmara e faz uma gestão inédita. Devolve quase R$ 100 milhões no
primeiro ano como presidente da Câmara dos Deputados, economiza, surpreende
todo mundo. Depois, vira candidato a governador de Minas e vence no primeiro
turno, coisa que nenhum candidato na história tinha conseguido. Pega um Estado
quebrado, inventa um troço maluco que é o tal do choque de gestão. É eleito o
governador mais bem avaliado do Brasil. Três anos depois se reelege com 77% dos
votos válidos, ou seja de cada 100 mineiros, 13 não votavam nele.
Valor: Além do que ele fez em
Minas, qual é a imagem pessoal que você espera projetar dele?
Vasconcelos: Não existe isso [de
construir imagem]. Não existirá nunca mais a possibilidade de se eleger um
Collor. Um político que for sentar-se na cadeira daqui para frente deverá ter
uma extensa folha de serviços prestados.
Valor: Dilma Rousseff tinha isso
quando foi eleita?
Vasconcelos: Talvez um pouco da
fragilidade que a presidente enfrente hoje é porque ela não tinha essa folha
corrida antes. Hoje as pessoas ficam um pouco inseguras, têm um voto gelatina,
que vai e que volta, é justamente por isso. Ela não tem convencido as pessoas
de sua capacidade de gestão porque a folha corrida é um pouco enxuta, pequena
para o desafio que ela está enfrentando. E o contrário disso é a folha corrida
do Aécio de outros que virão no futuro.
Valor: As intenções de voto na
presidente Dilma caíram, as pesquisas apontam que os eleitores querem mudanças
e mesmo assim Aécio não consegue subir. Por quê?
Vasconcelos: Ninguém conseguiria.
Você não tem mídia. Só muda essa realidade quando você fala com a grande massa.
A campanha de TV começa em agosto e você tem um blecaute até lá. Se você não
falar com a classe trabalhadora como um todo, e essa tem horários mais rígidos,
está na TV em horários especiais, você não fala com ninguém.
Valor: Dilma também era pouco
conhecida em 2010. Lula ajudou a conquistar votos para ela. Aécio precisa de
FHC e outros líderes tucanos para atraírem votos para ele?
Vasconcelos: É delicada sua
pergunta porque corro o risco de ser indelicado com personagens que você citou.
Mas vou dizer o seguinte: tanto a Dilma quanto o [Antonio] Anastasia [eleito
governador de Minas pelo PSDB em 2010] aqui em 2010 tiveram seus Sputniks.
Portanto todos os caciques do PSDB que puderem se somar a esse esforço de
credenciar o Aécio serão sempre muito bem vindos, mas diria que no caso do
Aécio isso é relativo. Porque todos eles têm o mesmo nível de conhecimento que
tem o próprio Aécio. Uma coisa é você ter um cara com 92% de aprovação a outra
coisa é você ter um sujeito que é conhecido. Fernando Henrique sai da
presidência em 2002 e de lá para cá não participou de nenhuma campanha tucana.
Valor: Aécio se cercou de um time
de pessoas que participaram em peso do governo FHC. Ele passa a imagem de novo
tendo nomes que foram marca de um governo que teve seu início nos anos 90?
Vasconcelos: Acho que o novo é
quem inova. Não é quem é jovem. Um paralelo entre o Steve Jobs e o Bill Gates:
o Bill Gates durante muito tempo foi o velho e era muito mais novo do que o
Steve. O Armínio [Fraga] não é nem novo nem velho. Ele atende a uma agenda de
estabilidade e segurança, portanto vem com essa marca. E isso pode ser muito
importante, mas não sei se o tempo todo essa será a maneira como o senador vai
lidar com esse assunto. Na experiência mineira, ele foi muito inovador. Acho
que quando chegar a hora o senador vai apresentar um time de inovadores. Ele
gosta disso.
Valor: No período de campanha, o
discurso deverá ser mais popular?
Vasconcelos: Acho que o discurso
é o mesmo. O que ele precisa é ser mais detalhado, mais esmiuçado para que as
pessoas compreendam a importância daquela crítica. Uma geração esteve longe da
inflação e que hoje está topando levar 6% de inflação e achar que isso é
possível. Ainda é difícil para alguém que viveu os dois mundos como ele tratar
com certo alarmismo e causar um impacto grande em toda a sociedade. Para isso,
ele precisa insistir mais, ser um pouco mais claro porque as pessoas não
conseguem imaginar como isso pode fazer mal. Se você não parar de comprar, se
você não puxar o freio de mão pode piorar. Tem uma geração inteirinha que foi
estimulada ao contrário: vai porque de onde vem tem muito mais'. Tem um cenário
que é muito ruim e é ruim que ele fique sem ter como explicar com mais clareza
porque não tem tempo suficiente na TV.
Valor: Nessa pré-campanha, Aécio
tem enfatizado bastante em suas declarações os problemas e as críticas ao
governo Dilma. Na campanha, ele conseguirá atrair mais eleitores se se
apresentar como Aécio light e em vez de insistir tanto nas críticas?
Vasconcelos: Nas pesquisas
qualitativas que o partido fez agora, o eleitor enxerga o Aécio com o carisma
do Lula e o discurso de eficiência do FHC. Quando você conta para as pessoas o
trabalho que ele já fez e deixa ele ser como ele é, a sensação é essa. O Brasil
nunca teve num período pré-eleitoral uma agenda tão complicada. Em 2006, quando
o Lula foi reeleito, ninguém mais dizia 'não vote no Lula por conta do
mensalão'. A agenda era outra. E a agenda econômica não permitia ninguém
naqueles dias grandes alertas. Agora, eu acho que o senador vive uma situação
muito diferente. A Petrobras está derretendo, tem problemas na Eletrobras, em
Suape, na Transnordestina, nas tarifas de energia represadas, a inflação, os
financiamentos do BNDES, o porto de Cuba. Talvez a agenda o esteja empurrando
para um discurso mais firme, de alguém que está alertando. Não tem como fugir
dessa agenda. Não é uma eleição paz e amor.
Valor: As investigações sobre o
cartel do metrô em São Paulo, o indiciamento do candidato de Aécio ao governo
de MG, a renúncia do deputado tucano Eduardo Azeredo e o julgamento do mensalão
mineiro limitarão na campanha do PSDB o uso do tema da corrupção?
Vasconcelos: É difícil responder
mas nenhum desses temas têm a ver com o senador Aécio. Ele foi muito duro com
essas questões quando ele foi gestor.
Valor: Se em algum momento na
campanha, Aécio precisar tirar votos de Eduardo Campos (PSB) para se garantir num
segundo turno com Dilma, qual poderá ser a estratégia para minar a candidatura
de Campos e ao mesmo tempo manter um elo para um segundo turno?
Vasconcelos: Eu fiz três
campanhas para o senador: duas para governador e uma para o Senado. Todas
relativamente difíceis. Nunca gravamos um comercial, nunca produzimos uma peça,
que tenha sido uma peça de desconstrução. Não é o jeito de Aécio de fazer
política. A não ser fazendo uma análise de uma realidade.
Valor: Dois partidos mais
identificados com bandeiras da esquerda estarão na disputa, PT e PSB, e o PSDB
é o que mais representa um eleitorado mais à direita. É vantajoso a Aécio que
se apresente como um candidato mais conservador, que fale a essa faixa do
eleitorado?
Vasconcelos: Acho meio antigo
esse negócio de direita e esquerda. E para mim, não tem nada mais de direita
para mim do que tentar censurar a imprensa. E essa ideia não foi do DEM. Foi
uma ideia do PT. Aliás essa lei não nasceu quando o DEM esteve lá, representado
pelo Antonio Carlos Magalhães, como ministro das Comunicações.
Valor: Como funciona a estrutura
do marketing da campanha?
Vasconcelos: Existe um conselho
de trabalho. A expressão foi cunhada por eles. Mas é um modelo que sempre usei.
Nunca fiz reunião com candidato sem colocar a turma que pensa em volta da mesa.
Então todas as apresentações feitas ao senador desde que a gente chegou até
agora, o time todo estava na sala: o Marcelo Arbex, que é redator e que tem um
escritório de criação em São Paulo; o Guillermo Rafo, que é um cara de
planejamento mais próximo a mim no dia a dia; o PC Bernardes, que deixou a
presidência da África para estar conosco e é um criador; e o Paulo de Tarso,
que é dono de uma agência no Rio, chamada Agência Nacional. A Andréa Neves
[irmã de Aécio] também está no conselho. Ela é uma jornalista supercompetente e
por coincidência é irmã do Aécio. Tem uma grande contribuição a dar. Formula
bem, entende do que fala.
14 comentários
É possível percber que Aécio comanda a campanha. Isto é muito bom, a imagem que se passa do candidato não é uma máscara eleitoreira, mas a cara real de quem está preparado para a gestão de salvação do Brasil.
ReplyFORA DILLMA!
FORA PT!
Taí, gostei desse moço!
ReplyUma das grandes vantagens de AECIO NEVES é que ele não trabalha com maquiagem marqueteira.Ele é um político e administrador extremamente competente, comunicativo e leva a sério aquilo que faz.Portanto, a função do marqueteiro no caso de Aécio é mostrar o que ele realmente é, e que ele é capaz de entregar o produto que vende, sem subterfúgios, sem máscara e sem retoque.
ReplyComeça o depoimento de Cerveró==> #CPIdaPTbras
ReplyEm qual canal , Coronel.? S intonizei tv camara , senado e globonews. nenhuma mostrando..
O AÉCIO É UNANIMIDADE NO MODO DE CONDUZIR MINAS. QUEREMOS UM CHOQUE DE GESTÃO SIM. O BRASIL NÃO É BOLSA FAMÍLIA. TENHO VERGONHA DE UM GOVERNO QUE SE ORGULHA DA MISÉRIA ALHEIA. DÊEM ESTUDO, SAÚDE, MORADIA E EMPREGO. ENTÃO NÃO PRECISA GASTAR TANTO COM PUBLICIDADE.
ReplyAécio é o próximo presidente do Brasil.
Reply.....no interior de SPaulo Aecio eh conhecido.a meu ver,p ganhar voto precisa passar seriedade,competencia,compromisso.
ReplyFHC já apareceu em diversas campanhas, como na do senador Aloysio Nunes ou na última do Serra para a prefeitura de SP... Eu gostei mais daquelas propagandas em que o Aécio aparece caminhando pelas cidades e cumprimentando as pessoas...as inserções já não gostei tanto, mas vamos ver o de amanhã!! Espero que fique bom!
ReplyE por falar em imagem, gostei muito do visual do Aécio com óculos e um pouco de barba. Junto ao eleitorado feminino faria o maior sucesso. Fica a sugestão, para uma experiência.
ReplyDou nota 05 para o marqueteiro por ter associado a figura e o desempenho do Aécio ao tal carisma de Lula e à eficiência de FH. É muita bobagem, a Andréia Neves também não deve ter gostado. A mínima comparação com Lula é contraproducente, o mesmo que remeter o candidato ao “apelo de líderes” como Marcola e Fernandinho Beira-mar. Quanto a FHC, também não pega bem, é gancho com o passado, fica rescendendo a mofo, por que é pra frente que se deve olhar para MUDAR os rumos do país e mostrar para a sociedade brasileira e mundial que, para governar, não é preciso se aliar às bandas podres dos partidos políticos e a empresários espertos, ações que resultaram no charco fedorento que o PT cavou e mantém com gosto e muito proveito para os seus. Acho que a campanha do Aécio tem mesmo que ser LIMPA, mas bater no petismo destacando o desgoverno, a corrupção geral e o caos econômico SEM QUALQUER CONCESSÃO é fundamental, assunto não falta. O PT só deve ser mencionado para apanhar muito e, nos programas televisivos, sem imagens de seus nefastos ex, atuais governantes e/ou líderes presos ou ainda em liberdade: essa gente ACABOU!
ReplyJá estå pensando errado. Quem censura a imprensa não ē a direita ou estou enganada com o regime que governa Cuba, Coreia do Norte, China, Venezuela etc. Eles são de direita?
Reply"Acho meio antigo esse negócio de direita e esquerda. E para mim, não tem nada mais de direita para mim do que tentar censurar a imprensa. E essa ideia não foi do DEM. Foi uma ideia do PT"
ReplySério que esse é o comunicador do Aécio?
Com uma massa enorme de gente que pode pender para a direita, ou explorar justamente a questão do alinhamento com governos incompetentes do Foro de SP ou semi-ditadorais.
Ou mesmo a negligencia com a segurança publica, típica dos governos de esquerda, do PT ao PCdo B.
Não sei, pode ser coisa minha, mas parece que não se pode fazer política polarizada porque o povo acha feio ter discussão de adultos.
Lugger
"Valor: Dois partidos mais identificados com bandeiras da esquerda estarão na disputa, PT e PSB, e o PSDB é o que mais representa um eleitorado mais à direita. É vantajoso a Aécio que se apresente como um candidato mais conservador, que fale a essa faixa do eleitorado?
ReplyVasconcelos: Acho meio antigo esse negócio de direita e esquerda. E para mim, não tem nada mais de direita para mim do que tentar censurar a imprensa."
*MEU DEUS DO CÉU!!! Desde 2002 (quando a esquerda chegou ao poder) e até hoje, essa coisa de que não existe mais direita e esquerda vem sendo, literalmente, enfiada goela abaixo pelos socialistas!!! De lá para cá, os "sem posição" (PSDB) vêm apanhando flagorosamente. E se continuarem cegos e teimosos, pelo jeito vão perder mais uma...
"Lis disse... 16 de abril de 2014 17:14
ReplyJá estå pensando errado. Quem censura a imprensa não ē a direita ou estou enganada com o regime que governa Cuba, Coreia do Norte, China, Venezuela etc. Eles são de direita?
*Falou tudo, Lis!
Que a verdade seja dita com todas as letras!!!