"Pelo menos um setor, o agronegócio, pode exibir bons resultados
num ano desastroso para o comércio exterior brasileiro. Chegaram a US$ 47,3
bilhões entre janeiro e julho, cerca de 12% mais que um ano antes, as vendas
externas de soja e derivados, carnes in natura , café, milho, fumo, couro, suco
de laranja e algodão. Estes são apenas os produtos principais.
Um levantamento
mais detalhado apontaria um faturamento maior, mas basta essa verificação
incompleta para mostrar o contraste entre as exportações de base agropecuária e
as vendas de manufaturados, no valor de US$ 50,69 bilhões, apenas 0,4% maior
que as de igual período de 2012. Sem as commodities, e, de modo especial, sem
as do agronegócio, o saldo comercial acumulado em sete meses seria bem pior que
o déficit de US$ 4,99 bilhões apontado nas contas oficiais.
A maior parte da indústria pouco se beneficiou do câmbio
depreciado. Suas exportações patinaram, as importações continuaram em
crescimento e o impulso à rentabilidade do setor deve ter sido muito limitado.
O efeito deve ter sido pior para os segmentos mais dependentes da importação de
insumos e componentes, exceto no caso das fábricas de tecnologia mais avançada
e mais integradas nas cadeias globais - normalmente mais competitivas.
Para o agronegócio, ainda bem mais eficiente que a maior
parte do setor industrial, a depreciação do real proporcionou ganhos
adicionais. Pelo câmbio médio do período janeiro-julho, os US$ 47,3
bilhões faturados com as exportações dos principais produtos agropecuários
corresponderam a cerca de R$ 98 bilhões. Houve um ganho de cerca de R$ 20 bilhões sobre o resultado
de um ano antes. Pelo câmbio médio de janeiro-julho de 2012 - R$ 1,89 por dólar
- o valor em moeda nacional teria sido R$ 89,5 bilhões. A variação cambial
garantiu, portanto, um ganho extra de cerca de R$ 8,5 bilhões, segundo cálculo
apresentado pelo jornal Valor.
Dirigentes da indústria manufatureira gastaram muito tempo,
nos últimos anos, cobrando medidas do governo contra a valorização do real. O
ministro da Fazenda e a presidente da República protestaram em foros
internacionais contra uma suposta guerra cambial movida pelas economias mais
desenvolvidas. Com ou sem guerra, houve um inequívoco efeito cambial provocado
pela expansão monetária nos Estados Unidos, na Europa e, mais tarde, no Japão.
Mas o governo brasileiro e muitos empresários deram muita atenção ao câmbio,
por longo tempo, do que a outros fatores determinantes da produtividade e do
poder de competição.
A agropecuária também tem sido prejudicada por alguns desses
fatores, como, por exemplo, a notória deficiência do setor de transportes, mas
foi capaz, nos últimos dez anos, de se manter competitiva e de batalhar por
novos espaços no mercado internacional. Boa parte de sua eficiência é atribuível a mudanças
tecnológicas acumuladas em mais de três décadas e a novas práticas de manejo do
solo e das criações. Graças a isso, a produção tem aumentado muito mais
rapidamente que a ocupação de terras. Isso produz ao mesmo tempo ganhos
econômicos e ambientais, nem sempre reconhecidos por uma parcela do governo e
de seus aliados.
A busca da produtividade continua. Grande parte do
investimento privado deste ano, apontado pelo governo como um dado altamente
positivo, foi realizada pela agropecuária, mas este detalhe é raramente
ressaltado. Enquanto a produção de veículos leves entre janeiro e julho foi
5,2% maior que a de igual período de 2012, a de caminhões pesados ficou 43,9%
acima da registrada um ano antes, segundo os últimos dados da associação das
montadoras, divulgados ontem. A boa safra de grãos e oleaginosas é uma das
principais explicações desse resultado - provavelmente a principal. As vendas
de máquinas agrícolas automotrizes de fabricação nacional aumentaram 28,6% na
mesma comparação. Esse vigor é resultado de ações de longo alcance, muito
diferentes das políticas imediatistas e eleitoreiras dominantes em Brasília nos
últimos anos."
Editorial econômico intitulado Campo, câmbio e tecnologia, publicado hoje pelo Estadão.
1 comentários:
O triste é saber que esse ataque desses comunistas aos pecuaristas, não vai parar porque é plano deles. Esses comunistas tem que ser barrados.
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