Em 2014, o PSDB terá o primeiro candidato à presidência que não é paulista. É mineiro, assim como poderia ser gaúcho, paranaense, goiano. O Estadão decidiu que não gosta.

O fato parece bobo, mas não é. Em 1989 foi Mário Covas. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso (carioca, mas que fez carreira em São Paulo). Em 2002, José Serra. Em 2006, Geraldo Alckmin. Em 2010, José Serra de novo. A perda desta hegemonia paulista faz com que certas forças do "grande estado" ajam no limite da imbecilidade, armando uma guerra contra Aécio Neves. Um exemplo disso? Na semana que começa, haverá uma reunião conduzida por Fernando Henrique Cardoso para pacificar o PSDB. O maior interessado é José Serra, que luta, na calada da noite, infelizmente, pois tem todo o direito de fazê-lo à luz do dia, para manter o comando de um naco do partido. Serra vai participar? Não, Serra viajou. Assim sendo, nada do que ficar decidido estará efetivamente decidido, já que a última palavra não estará presente. Viajou para onde? Ninguém sabe, pois Serra está sem mandato, sem  trabalho, sem lenço e sem documento.

(Atualizando 19:30: Dizem que Serra viajou para uma homenagem ao economista de Harvard e depois Princeton ,Albert Hirschman, falecido em dezembro passado. Estranho que, se a homenagem era tão importante, Fernando Henrique Cardoso não tenha ido com ele. Aliás, FHC escreve belo artigo sobre o ex-colega, na Folha de São Paulo. Com direito à foto. Clique aqui para ler )

 

Por falar em viajar, o paulista Estadão, que é reconhecidamente serrista, abriu uma pauta de ataques contra Aécio Neves. Hoje, o velho e respeitável jornal vasculha as passagens aéreas do presidenciável mineiro, mostrando que ele viaja por conta do Senado mais para o Rio de Janeiro do que para Belo Horizonte. Como 100% do Rio de Janeiro e 100% de Minas Gerais sabem, o presidenciável tucano que não é paulista tem residência na cidade maravilhosa, onde moram família e filha. Vários parlamentares do país também possuem dupla residência, uma delas no Rio de Janeiro, para fugir da secura de Brasília e da falta de bons restaurantes, bons shows e boa vida nas pequenas capitais dos estados pelos quais são eleitos.

 

O Estadão, por exemplo, não vasculhou as passagens de José Sarney, que se elegeu pelo Amapá, mas que viaja para o Maranhão todos os finais de semana.  A propósito: o Senado Federal não proíbe que parlamentares usem sua cota de passagens aéreas para viajar dentro do país, desde que os mesmos estejam em atividade política. Quando um senador não está em atividade política? Ou melhor, o que obriga um senador a estar 100% do tempo em atividade parlamentar? Ou melhor, ainda: bastaria um telefone de um senador para um político do estado que está visitando para caracterizar tal tipo de compromisso.

A intenção do Estadão é clara. Quer mostrar um Aécio festeiro, que vai para a balada, em contraponto a José Serra, sempre tão sério e compenetrado, como o vetusto jornalão. Em seguida, virão filmes no youtube, fotos comprometedoras, o que mais? Tudo isso escancara a mineirofobia e a cariocafobia de certa parcela imbecil da paulicéia desvairada  imperando na busca de fatos que desabonem todo o candidato que não seja da terra da garoa. Com o Estadão na linha de frente, comandando esta luta boba de São Paulo contra o resto do país. Se o vetusto jornal está preocupado com o uso de passagens pelos senadores, por que não investiga 100% deles? E por que não comanda uma campanha nacional para cassar este direito dos parlamentares?