As margens dos rios devem ser preservadas, mas os parâmetros dessa proteção devem excluir as paixões
PARTICIPEI NESTA semana do Fórum Mundial da Água como senadora e
representante dos produtores rurais do Brasil, para associar-me aos
esforços que o mundo todo deve fazer para conciliar as exigências da
produção agrícola, e da própria vida humana, com a conservação dos
recursos hídricos. Até 40 anos atrás, o Brasil era um grande importador de alimentos, mas a
nossa produção rural transformou-se e nos tornamos um dos maiores
produtores do planeta e um dos mais importantes exportadores de
alimentos. O Brasil dispõe de uma das maiores reservas de água doce do mundo (12%),
com milhares de rios que cortam o país em todas as latitudes, e de
grandes reservas de águas subterrâneas.
Diferentemente dos demais países de grande expressão demográfica, não
sofremos, na maior parte do nosso território, de limitação de água.
Nossa agricultura irrigada tem pequena participação na produção total,
pois o regime de chuvas, salvo em algumas áreas, é adequado às condições
de produção. Ao longo da formação histórica do Brasil, do mesmo modo como aconteceu
em todas as partes do mundo civilizado, nem sempre a produção rural e a
conservação dos recursos naturais estiveram em harmonia. A própria ideia
de que os recursos da terra são limitados e finitos é uma noção
recente. É uma consciência que vem ganhando força progressivamente.
Hoje, no entanto, podemos dizer que produzimos muito, com práticas
modernas e adequadas, sob uma legislação ambiental bastante rigorosa e
detalhada. Estamos, neste momento, finalizando a atualização e a modernização da
legislação ambiental, cujo maior mérito é o de expressar um genuíno
consenso social, o que tornará sua aplicação muito mais espontânea e
efetiva, sem a necessidade de um exército de fiscais para forçar seu
cumprimento. O mundo precisa que a produção brasileira de alimentos continue
crescendo por meio do aumento da produtividade. O crescimento
demográfico e o aumento da renda que se observa em todas as partes do
mundo em desenvolvimento, pelos avanços da globalização e do comércio
internacional, vão exigir uma oferta maior de alimentos nos próximos
anos.
A escassez de terras aráveis e as limitações da oferta de água
restringem a expansão da produção, na maior parte do mundo. O Brasil,
felizmente, tem ainda abundância de terras agricultáveis, bem
como uma disponibilidade bastante ampla de água, o que torna nosso país
uma das poucas alternativas para o abastecimento da população da terra.
Desde o início da civilização humana, na Ásia, até hoje, na Europa, os
produtores procuraram as margens dos rios para produzir e para habitar. O
Brasil tem uma legislação que fixa normas de proteção com vegetação
natural às margens dos rios, em torno das nascentes e nas áreas de
recarga.
O aumento da produtividade e as novas técnicas de produção permitem,
hoje, que as margens dos rios sejam preservadas, para que o volume e a
qualidade das águas sejam protegidos. Mas os parâmetros dessa proteção
devem ser fixados com base nas razões da ciência -e não de paixões
políticas. Os benefícios de rios preservados se estendem a toda a sociedade, são
benefícios públicos. Os custos de preservação, no entanto, recaem
unicamente sobre o produtor. O equilíbrio das relações sociais e a própria efetividade da norma
ambiental estariam muito mais bem servidos se o Estado encontrasse
mecanismos financeiros capazes de retribuir o produtor, distribuindo os
encargos com o conjunto da sociedade.
Estamos propondo que o modelo brasileiro de preservação das margens dos
rios e nascentes -nossas Áreas de Proteção Permanente, as APPs- seja
também adotado por todos os países do mundo, para que o Reno, o Danúbio,
o Mississippi e o rio Amarelo possam ser protegidos por lei, como o
Amazonas, o São Francisco, o Paraná, o Araguaia, o Tocantins, em
benefício da humanidade e das gerações futuras, pois é exatamente a água
que faz com que a vida não se contenha.
KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD-TO) e presidente da CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados,
a cada 14 dias, neste espaço, na Folha de São Paulo.
2 comentários
O PSD deveria incorporar os discursos da senadora e fazer o trabalho de esclarecimento e multiplicação.
ReplyContudo, a senadora fala e escreve e o PSD não repercute nada.
O que nossos ecochatos não entendem é que a campanha dos estrangeiros para a preservação do Brasil é bem diferente do que eles praticam lá.
ReplyAqui são obrigatórios APP e Reserva Legal, enquanto lá... Nos links abaixo há alguns exemplos:
http://verderural.blogspot.com.br/2010/11/california-dream.html
http://vamosserracionais.blogspot.com.br/2012/03/la-fora-e-bonito-aqui-e-proibido.html