Direita, esquerda, centro, socialistas ou neoliberais 'são apenas rótulos, coisas externas à vida real dos partidos', e não faz sentido pedir que uma sigla vá para a 'centro-direita' ou para a 'centro-esquerda'. Essa é a resposta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à avaliação feita pela acadêmica norte-americana Frances Hagopian, em entrevista ao Estado, segundo a qual o PSDB 'devia assumir-se como partido de centro-direita'.
Diferentemente do informado pelo Estado domingo passado, FHC não concorda com Hagopian nesse aspecto político-ideológico, externado por ela em entrevista exclusiva antes de palestra no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo. O que o ex-presidente endossa é a avaliação feita pela especialista americana, durante a palestra, de que os tucanos devem defender os seus feitos do passado: as reformas adotadas no País nos anos 90, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que trouxeram a estabilidade política e econômica ao Brasil.
Ainda sobre o aspecto ideológico, o ex-presidente alega que, teorias à parte, 'a dinâmica dos partidos no Congresso é bem outra'. 'Na prática, há uma base que sustentou o governo Lula, sustentou o meu, e antes dele o governo Sarney', afirmou FHC. 'Concordo com a Hagopian quando diz que o PSDB tem de se diferenciar, assumir o que fez. Mas falar em centro-direita não tem nada a ver com o PSDB nem com outros partidos. Não é por aí.' O ex-presidente lembrou que 'até Paulo Maluf já se definiu como social-democrata'.
Estadão: Que lhe parece a avaliação da americana Frances Hagopian de que o PSDB deveria 'assumir-se como de centro-direita?
FHC: Acho que ela tem uma contribuição positiva, mas exagera a programatização dos partidos. A tese dela é que os partidos se tornaram mais programáticos e isso permitiu a aprovação das reformas. Quando fala em programatização, tem essa visão de que o PSDB fez aliança com o centro, com a centro-direita. E o PT, que era de esquerda, acabou vindo para a centro-esquerda etc. Isso é uma visão dos rótulos dos partidos. A dinâmica no Congresso é bem outra. Essas caracterizações tipo centro, centro-esquerda, centro-direita, neoliberal, socialista são externas à prática real. O que há é uma base, que sustentou o governo Lula. Que também sustentou a mim, ao Sarney.
Não se deve, então, falar em esquerda e direita ?
Há uma insistência nessa dicotomia. Isso se deve à falta de analisar os processos reais, o mundo concreto. Não é que inexista uma esquerda, mas... o que significa a esquerda hoje? Ninguém mais pensa, como no passado, coisas como coletivização dos bens privados, feita por um partido que dominasse o Estado em nome de uma classe. Isso não ocorre mais.
Mas não existe uma 'modernização' do modelo? Por exemplo, a opção de um Estado forte, centralizando a economia, com forte apoio do BNDES a empresas?
Isso o general Geisel já fazia nos anos 70. Não chamaria isso de esquerda. É um modelo econômico sustentado em vários setores, em vários momentos da história. Como fez o Geisel.
No ensaio O Futuro da Oposição, o sr. pedia ao PSDB uma atenção especial às novas mídias e à nova classe média. Há uma ideologia nesse fenômeno?
Eles funcionam como se fossem radicais livres. São pessoas que mudaram de categoria de renda, mas que ainda não são, sociologicamente, uma classe. Na medida em que vierem a ter as mesmas teias de relações sociais, vão exigir maior qualidade dos serviços do Estado.
E que ideologia eles adotarão?
E as tarefas do PSDB?
Esse foi o ponto em que eu concordei com a análise da Hagopian, o PSDB tem que se diferenciar, assumir o que fez. Mas qual a diferença, neste momento? O PT está privatizando aeroportos, privatizando estradas, fez um Proer recentemente para salvar alguns bancos pequenos... E veja, antes isso era herança maldita... Essas diferenças entre os petistas e o que eles chamavam de neoliberalismo não existem mais. O que existe é a maior ou menor ingerência dos partidos na gestão da coisa pública. No nosso tempo, havia menos ingerência.
Quando Gilberto Kassab disse que o PSD 'não é de centro, nem esquerda, nem de direita', foi um sinal da desimportância da ideologia nos partidos brasileiros?
Se tivesse de dar um nome às ações do PSDB iniciadas pelo seu governo, qual seria?
Primeiro, temos uma tradição republicana, nos diferenciamos bastante nisso. A coisa pública tem que ser respeitada como tal e não ser objeto nem de apropriação privada nem político-partidária. Isso é uma linha. Não é esquerda nem direita, é republicana.
O lulismo pode ser chamado de uma ideologia?
Não. É um estado de espírito, um sentimento. Não é ideologia. Não está propondo nada.
O que o sr. diz da direita?
E como o PT conseguiu aliança com o clientelismo mantendo a imagem de partido de esquerda?
Isso foi a grande pirueta que o PT fez. Como ele nasceu como partido dos trabalhadores, com uma luta assentada nisso, na inclusão social, ele se deitou no berço esplêndido da política tradicional. Se houve uma metamorfose importante, foi exatamente isso, porque o Lula simboliza isso. Ninguém foi capaz de reviver tantas forças do tradicionalismo e se sentir cômodo nelas como o próprio Lula. E ainda dar-se bem eleitoralmente.
Diferentemente do informado pelo Estado domingo passado, FHC não concorda com Hagopian nesse aspecto político-ideológico, externado por ela em entrevista exclusiva antes de palestra no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo. O que o ex-presidente endossa é a avaliação feita pela especialista americana, durante a palestra, de que os tucanos devem defender os seus feitos do passado: as reformas adotadas no País nos anos 90, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que trouxeram a estabilidade política e econômica ao Brasil.
Ainda sobre o aspecto ideológico, o ex-presidente alega que, teorias à parte, 'a dinâmica dos partidos no Congresso é bem outra'. 'Na prática, há uma base que sustentou o governo Lula, sustentou o meu, e antes dele o governo Sarney', afirmou FHC. 'Concordo com a Hagopian quando diz que o PSDB tem de se diferenciar, assumir o que fez. Mas falar em centro-direita não tem nada a ver com o PSDB nem com outros partidos. Não é por aí.' O ex-presidente lembrou que 'até Paulo Maluf já se definiu como social-democrata'.
Estadão: Que lhe parece a avaliação da americana Frances Hagopian de que o PSDB deveria 'assumir-se como de centro-direita?
FHC: Acho que ela tem uma contribuição positiva, mas exagera a programatização dos partidos. A tese dela é que os partidos se tornaram mais programáticos e isso permitiu a aprovação das reformas. Quando fala em programatização, tem essa visão de que o PSDB fez aliança com o centro, com a centro-direita. E o PT, que era de esquerda, acabou vindo para a centro-esquerda etc. Isso é uma visão dos rótulos dos partidos. A dinâmica no Congresso é bem outra. Essas caracterizações tipo centro, centro-esquerda, centro-direita, neoliberal, socialista são externas à prática real. O que há é uma base, que sustentou o governo Lula. Que também sustentou a mim, ao Sarney.
Não se deve, então, falar em esquerda e direita ?
Há uma insistência nessa dicotomia. Isso se deve à falta de analisar os processos reais, o mundo concreto. Não é que inexista uma esquerda, mas... o que significa a esquerda hoje? Ninguém mais pensa, como no passado, coisas como coletivização dos bens privados, feita por um partido que dominasse o Estado em nome de uma classe. Isso não ocorre mais.
Mas não existe uma 'modernização' do modelo? Por exemplo, a opção de um Estado forte, centralizando a economia, com forte apoio do BNDES a empresas?
Isso o general Geisel já fazia nos anos 70. Não chamaria isso de esquerda. É um modelo econômico sustentado em vários setores, em vários momentos da história. Como fez o Geisel.
No ensaio O Futuro da Oposição, o sr. pedia ao PSDB uma atenção especial às novas mídias e à nova classe média. Há uma ideologia nesse fenômeno?
Eles funcionam como se fossem radicais livres. São pessoas que mudaram de categoria de renda, mas que ainda não são, sociologicamente, uma classe. Na medida em que vierem a ter as mesmas teias de relações sociais, vão exigir maior qualidade dos serviços do Estado.
E que ideologia eles adotarão?
Cada um vai para um lado. Na verdade, a população nem sabe bem o que é esquerda ou o que é direita. O fato é que todos vão demandar coisas concretas.
E as tarefas do PSDB?
Esse foi o ponto em que eu concordei com a análise da Hagopian, o PSDB tem que se diferenciar, assumir o que fez. Mas qual a diferença, neste momento? O PT está privatizando aeroportos, privatizando estradas, fez um Proer recentemente para salvar alguns bancos pequenos... E veja, antes isso era herança maldita... Essas diferenças entre os petistas e o que eles chamavam de neoliberalismo não existem mais. O que existe é a maior ou menor ingerência dos partidos na gestão da coisa pública. No nosso tempo, havia menos ingerência.
Quando Gilberto Kassab disse que o PSD 'não é de centro, nem esquerda, nem de direita', foi um sinal da desimportância da ideologia nos partidos brasileiros?
Provavelmente, sim. Como não estão se desenhando alternativas ao que aí está, fica difícil dizer o que é esquerda, o que é direita. Não se esqueça que, há um bom tempo, o Paulo Maluf se declarou social-democrata.
Se tivesse de dar um nome às ações do PSDB iniciadas pelo seu governo, qual seria?
Primeiro, temos uma tradição republicana, nos diferenciamos bastante nisso. A coisa pública tem que ser respeitada como tal e não ser objeto nem de apropriação privada nem político-partidária. Isso é uma linha. Não é esquerda nem direita, é republicana.
O lulismo pode ser chamado de uma ideologia?
Não. É um estado de espírito, um sentimento. Não é ideologia. Não está propondo nada.
O que o sr. diz da direita?
Quem defende a direita no Brasil? Ninguém. Mas na prática ela existe mas a nossa direita é muito mais o atraso, o clientelismo, fisiologismo, esse tipo de questão, do que a defesa dos valores intrínsecos da propriedade, da hierarquia. Não tem muito essa defesa.
E como o PT conseguiu aliança com o clientelismo mantendo a imagem de partido de esquerda?
Isso foi a grande pirueta que o PT fez. Como ele nasceu como partido dos trabalhadores, com uma luta assentada nisso, na inclusão social, ele se deitou no berço esplêndido da política tradicional. Se houve uma metamorfose importante, foi exatamente isso, porque o Lula simboliza isso. Ninguém foi capaz de reviver tantas forças do tradicionalismo e se sentir cômodo nelas como o próprio Lula. E ainda dar-se bem eleitoralmente.
13 comentários
FHC porque não te calas?
ReplyCel
ReplyAgora foi confirmado que a principal bandeira do FHCammabis é a LIBERAÇÃO DAS DROGAS. Tanto que não tem nem noção de direção.
Este é meu EX Presidente.
Palavras do FHC no auge do MENSALÃO:
"Eu não estou aqui para ver o PT se arrebentar. O Brasil precisa de partidos que tenham uma certa história, e o PT tem."
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente
2005
CADA POVO TEM OS POLÍTICOS QUE MERECE!
Átila
Sr Coronel:
ReplyEsse sr é o maior MURISTA MILITANTE.
Saudações
Ps MURISTA é quem vive em cima do muro,sempre.
Esse sr e seu ego sâo responsáveis pela REELEIÇÃO e seus males.
Saudações
Aí é que o Sr. se engana, ex-Presidente. Foi exatamente a esquerda que passou 8 anos dando camaçadas de pau na sua cabeça. Pelo jeito elles lhe estragaram o seu legado junto com sua capacidade de discernimento.
ReplyAté logo, e até as próximas eleições onde votarei em todos os que forem "de direita"!
FHC, depois dos oitenta anos, ir para a Direita?! Esta Hagopian não o conhece. O FHC sempre foi de esquerda, assim como todos do PSDB, e só não estão coligados com o PT por uma questão de falta de afinidade de suas lideranças. As idéias são as mesmas, só que o PSDB sempre foi mais limpinho.
ReplyPS: Coronel, esses trechos em vermelho quer dizer o quê?
FgagáC, como tantos, está mesmo é fascinado pela esperteza petralha, que diz uma coisa e faz outra. Bravata quando na oposição e pragmatismo deslavado quando na situação. E sempre imoral, num caso e no outro.
ReplyComo disse Washington Luiz, no exílio, de Getúlio Vargas, no poder, "ele caça com os meus cachorros".
FgagáC deve lamentar não ter se dado conta do truque petralha antes, quando FgagáC fez o que fez e quase nenhum mérito lhe resta, que também isso os petralhas roubaram, a ponto de um mero reconhecimento público, protocolar, de dilmentira, fazer FgagáC babar na gravata, desaconselhar CPI contra os malfeitos do governo etc.
A grande questão, porém, é como se combate o clientelismo, o fisiologismo e o atraso da esquerda, e não da direita, que segundo FgagáC, mais confuso que cachorro caído de caminhão de mudança, não existe.
Tem que se parecer com os petralhas ou dar início a uma guerra de valores, como afirma por exemplo Reinaldo Azevedo, que tem se dedicado muito à questão, tendo em vista o minueto tucano do pozinho, guerrinha, tia anastássia etc.
No fundo, no fundo, FgagáC não diz mas acredita que tudo está em agir dialeticamente como o pt e realizar a pirueta lulo-petralha, afinal são todos de esquerda. E não deixa de ser engraçado FgagáC afirmar que direita, esquerda, centro etc são conceitos superados mas demonize a direita e queira se colocar sempre no campo da esquerda.
Tanta confusão assim e aí estão FgagáC e o PSDB sem sair do lugar e ambos sistematicamente jantados pelo pt.
Como diz Guimarães Rosa, a cobra ainda não acordou, mas o ratinho, paralisado, já sabe que vai morrer.
Esse carcamano, com a sua esquerdopatia irredutível, foi um dos responsáveis pelo parto do Exu Tanqueira (vulgo Lula) e dos seus petralhas amestrados. E mais: ele e o seu partidozinho fedorento deixaram de pedir a interdição dessa quadrilha em 2005, quando veio à tona o Golpe do Mensalão Naiconal. Vai falar o quê agora?
Replytô na área
ReplyMais um que já deveria DESENCARNAR E DESOCUPAR O ESPAÇO QUE não lhe pertence mais.
Que merda!.O câncer está regredindo nestas terras,quando deveria EVOLUIR.Até nisto ficamos atrasados.
Foi-se um prêmio Nobel e Steve E NOS DEIXAM fhc,DILMA,CHAVEZ,o Paraguaio comedor.
Afinal para que lado devemos rezar?.
fui.........
fui...
FHC não é de direita. E também não é obrigado a ser só porque o país precisa de uma direita.
ReplyFHC, o maior estadista da nossa época, gerralmente sabe o que diz.
ReplySeus feitos e palavras, como as que profere hoje no Estadão, deveriam causar orgulho a todos os brasileiros. Com exceção, claro, de despeitados como Lula da Silva e asseclas.
M. Rosa - S.Paulo-SP
Grande presidente, talvez o melhor que já tivemos, mas, como intelectual, sempre foi assim: ni chicha, ni limonada. Era marxista, pero no mucho. Era liberal, pero no mucho. Desconfio que a vaidade o impede de, assumindo uma posição, perder a admiração dos demais. A questão colocada pela pesquisadora americana é simples, não tem nada a ver com rótulos. A questão é: numa sociedade que todas as pesquisas indicam ser maciçamente conservadora, por que valores, por que instituições o PSDB lutará? Se o PSDB assume os valores X,Y ou Z, não adianta ele se declarar isso ou aquilo para o Tribunal Eleitoral ou nas entrevistas à Folha: ele será votado pelo eleitorado que defende aqueles valores; ele SERÁ um partido X, Y ou Z. Foi isso que a pesquisadora observou: que o PSDB deveria lutar pelas instituições, pelos valores que, nas democracias contemporâneas, são defendidos pelos partidos ditos "de centro-direita". Fernando Henrique, em vez de discutir honestamente a questão, se fez de bobo, logo ele!, e se pôs a falar de alianças, coligações, siglas e denominações. Tratou o leitor de idiota. Depois, quando chega a época das eleições, lá vão o Serra, o Alckmin e outros do PSDB a Aparecida do Norte, para serem filmados de terço na mão, em busca dos votos "de centro-direita". Razão tem o Millôr: "É normal que uma pessoa se ache mais inteligente do que outra. Mas Fernando Henrique Cardoso é o único intelectual que se acha mais inteligente do que ele próprio."
ReplyDireita é fisiologismo e clientelismo?
ReplyCel,
ReplyEste Sr e outro lixo que governou nosso mado Brasil.