"O relatório "O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo", feito pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) em parceria com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura e com o Programa Alimentar Mundial e recentemente divulgado, é categórico: os preços dos alimentos devem permanecer elevados e voláteis ao longo dos próximos anos em face da crescente demanda e do impacto cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos e da indústria de biocombustível. E a recomendação inapelável é esta: "Os governos devem garantir um ambiente regulatório transparente e confiável que promova o investimento privado e o aumento da produtividade agrícola".
Não há, quanto a isso, nenhuma novidade. Há, porém, uma oportuna coincidência de tal revelação vir à tona na ocasião em que o Senado brasileiro discute o Código Florestal. O que temos defendido está em perfeita sintonia com o que recomenda o relatório: "Diminuir as perdas nos países em desenvolvimento com investimentos em toda a cadeia de valores (...); e gestão sustentável dos recursos naturais, das florestas e dos sistemas de pesca, crucial para as populações pobres". A rigor, o que postulamos está abaixo do que é sugerido: aumento da área plantada para aumento da produtividade. O que propomos é tão somente a manutenção da área plantada. Nenhum país tem a área preservada que o Brasil -segundo produtor mundial de alimentos- exibe. Nada menos que 61% de nosso território está como Cabral o encontrou, há 511 anos. Na Europa, por exemplo, essa reserva é de cerca de 0,2%; nos Estados Unidos, de 26%.
O Brasil, todos sabem, é a maior extensão contínua de terras agricultáveis do planeta. Utiliza apenas 27,7% de seu território para a agricultura e a pecuária e obedece a preceitos inexistentes nos demais países, como as áreas de proteção permanente (APPs) e de reserva legal. Mesmo assim, figura, no discurso de influentes ONGs estrangeiras, como predador ambiental, gerando internamente ambiente conflitivo artificial que atribui o papel de vilão aos produtores. Um exemplo: estudo recente de uma ONG internacional, encomendado para provar que a legislação ambiental brasileira não é a mais restritiva do mundo e que não tínhamos a maior cobertura vegetal nativa, não provou nem uma coisa nem outra. E por uma única razão: não há legislação no mundo que imponha áreas intocadas nas propriedades rurais, sem nenhuma contrapartida. Nos países apontados, a cobertura vegetal não é nativa; trata-se de florestas plantadas, graças ao financiamento de governos e de instituições.
O Código Florestal que o Senado discute -aprovado por grande maioria na Câmara- é moderado nas alterações que propõe. Admite a reserva legal, mesmo sabendo-a uma jabuticaba jurídica. Chancela as APPs, mas propõe sua flexibilização quanto a culturas que há décadas -algumas há séculos- estão fora dos padrões atuais, sem causar danos ambientais. A singularidade que nos impõem leva a outra preocupação: estamos mantendo as APPs às margens dos rios para preservar nossa água. Mas a escassez desse recurso, aqui e no resto do mundo, vem sendo sistematicamente apontada pelas agências da ONU -FAO inclusive- como problema de um futuro não muito distante. Será que só nós temos essa preocupação? Será que a água só é importante aqui?
O que a Câmara dos Deputados constatou -e o Senado há de confirmar- é o mesmo que o relatório da FAO informa: o Brasil foi um dos poucos países em que a segurança alimentar -que também depende de água- continuou a melhorar, passando incólume pela turbulência econômica recente. O que os adversários do Código Florestal propõem -redução da área de plantio- está na contramão da realidade. Lutam pelo agravamento da crise exposta no relatório. Não são movidos pelo bom-senso, mas pela ideologia e pela guerra comercial. O que propõem configura crime de lesa-humanidade. Nada menos."
Artigo intitulado "Crime de lesa-humanidade", escrito por KÁTIA ABREU, 49, senadora (PSD-TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que escreve aos sábados, a cada 14 dias, na Folha de São Paulo.
Não há, quanto a isso, nenhuma novidade. Há, porém, uma oportuna coincidência de tal revelação vir à tona na ocasião em que o Senado brasileiro discute o Código Florestal. O que temos defendido está em perfeita sintonia com o que recomenda o relatório: "Diminuir as perdas nos países em desenvolvimento com investimentos em toda a cadeia de valores (...); e gestão sustentável dos recursos naturais, das florestas e dos sistemas de pesca, crucial para as populações pobres". A rigor, o que postulamos está abaixo do que é sugerido: aumento da área plantada para aumento da produtividade. O que propomos é tão somente a manutenção da área plantada. Nenhum país tem a área preservada que o Brasil -segundo produtor mundial de alimentos- exibe. Nada menos que 61% de nosso território está como Cabral o encontrou, há 511 anos. Na Europa, por exemplo, essa reserva é de cerca de 0,2%; nos Estados Unidos, de 26%.
O Brasil, todos sabem, é a maior extensão contínua de terras agricultáveis do planeta. Utiliza apenas 27,7% de seu território para a agricultura e a pecuária e obedece a preceitos inexistentes nos demais países, como as áreas de proteção permanente (APPs) e de reserva legal. Mesmo assim, figura, no discurso de influentes ONGs estrangeiras, como predador ambiental, gerando internamente ambiente conflitivo artificial que atribui o papel de vilão aos produtores. Um exemplo: estudo recente de uma ONG internacional, encomendado para provar que a legislação ambiental brasileira não é a mais restritiva do mundo e que não tínhamos a maior cobertura vegetal nativa, não provou nem uma coisa nem outra. E por uma única razão: não há legislação no mundo que imponha áreas intocadas nas propriedades rurais, sem nenhuma contrapartida. Nos países apontados, a cobertura vegetal não é nativa; trata-se de florestas plantadas, graças ao financiamento de governos e de instituições.
O Código Florestal que o Senado discute -aprovado por grande maioria na Câmara- é moderado nas alterações que propõe. Admite a reserva legal, mesmo sabendo-a uma jabuticaba jurídica. Chancela as APPs, mas propõe sua flexibilização quanto a culturas que há décadas -algumas há séculos- estão fora dos padrões atuais, sem causar danos ambientais. A singularidade que nos impõem leva a outra preocupação: estamos mantendo as APPs às margens dos rios para preservar nossa água. Mas a escassez desse recurso, aqui e no resto do mundo, vem sendo sistematicamente apontada pelas agências da ONU -FAO inclusive- como problema de um futuro não muito distante. Será que só nós temos essa preocupação? Será que a água só é importante aqui?
O que a Câmara dos Deputados constatou -e o Senado há de confirmar- é o mesmo que o relatório da FAO informa: o Brasil foi um dos poucos países em que a segurança alimentar -que também depende de água- continuou a melhorar, passando incólume pela turbulência econômica recente. O que os adversários do Código Florestal propõem -redução da área de plantio- está na contramão da realidade. Lutam pelo agravamento da crise exposta no relatório. Não são movidos pelo bom-senso, mas pela ideologia e pela guerra comercial. O que propõem configura crime de lesa-humanidade. Nada menos."
Artigo intitulado "Crime de lesa-humanidade", escrito por KÁTIA ABREU, 49, senadora (PSD-TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que escreve aos sábados, a cada 14 dias, na Folha de São Paulo.
3 comentários
Coronel: enquanto isso a Africa do Sul torna a vida dos agricultores brancos insustentável e eles estão imigrando pra outros países do continente africano que oferecem imensas áreas de vegetação nativa intocada para eles desenvolverem... Certamente esses países não tem um código florestal moderno momo o nosso.
ReplyCoronel: para detalhes da fuga dos boers (agricultores brancos) da Africa do Sul ver
Replyhttp://www.guardian.co.uk/environment/2011/may/01/boers-moving-north-african-governments
Coronel,
ReplyEssa mulher é "das boas"!!
JulioK