2010: o fim do "murismo".

• As mais recentes pesquisas eleitorais feitas nos estados acenderam uma luz vermelha para os postulantes a governos de estado que ainda estão em cima do muro, sem tomar partido por uma das candidaturas presidenciais. O velho “murismo” que embala a esperança de ganhar votos de ambos os lados está com os seus dias contados. Em uma eleição plebiscitária, não haverá como ser Dilma e Serra ao mesmo tempo. Não haverá lugar para hesitantes, dúbios ou indecisos. A campanha petista vai propagar o tempo inteiro, usando o maior tempo de TV, que Lula é Dilma, que Dilma é Lula. É o único discurso possível e viável para o lulo-petismo, tendo em vista a imensa disparidade de qualidade entre as candidaturas. Para isso, a situação tem o maior espaço no horário eleitoral. O conceito de plebiscito já vingou e fechou as portas para os votos Dilmasia, por exemplo. Não tem prefeito que tenha mais força do que a TV. Não há cabo eleitoral que consiga desmanchar as mensagens que serão produzidas pela campanha governamental.

• Vejamos o caso do Rio Grande do Sul, por exemplo. Lá o PMDB decidiu pela neutralidade quanto à corrida presidencial. Resultado: Tarso Genro, do PT, acaba de subir 10%. Yeda Crusius, do PSDB, subiu 8%. José Fogaça, do PMDB, caiu 9%. São os resultados do Ibope, publicados neste domingo. Por outro lado, José Serra tem cerca de 10% a mais do que Dilma, tanto no primeiro quanto no segundo turno. A tendência é que, mesmo com a altíssima rejeição da governadora tucana, causada pela guerra que a RBS (Globo local), unida ao PT , PDT e ao próprio DEM vem movendo contra ela, haja um segundo turno entre PT e PSDB. O neutro PMDB tem tudo para ficar de fora. A frouxidão de Fogaça terá o seu preço e já mandou o seu ultimato. Uma eleição presidencial polarizada não aceita fraquezas e oportunismos eleitoreiros, especialmente em colégios eleitorais mais esclarecidos como  o do Rio Grande. Há boas possibilidades do pleito presidencial ser decidido na primeira volta e o candidato a governador que não tiver feito uma escolha terá pouquíssimo espaço para, futuramente, tomar esta decisão. É melhor ter feito a escolha errada do que ser vítima do voto útil. Ou ficar no meio do caminho por ter sido covarde perante o seu eleitorado.

• O candidato tucano Antonio Anastasia, que busca suceder Aécio Neves(PSDB) em Minas Gerais, deu uma entrevista muito lúcida para a Folha de São Paulo, onde afirmou: "Esse nome [Dilmasia] surgiu mas tenho deixado claro que nosso candidato é o governador Serra, e vamos tentar convencer os outros partidos disso. Bem, os partidos têm seus compromissos, mas vamos convencer os eleitores. É difícil fazer uma previsão do que vai acontecer durante a campanha. Temos que nos preocupar em organizar o nosso lado. A base política foi a primeira etapa. Agora estamos na concepção da propaganda. Depois temos que lançar meu nome ao lado do de Serra pelo Estado." O jovem candidato tucano não tem outra saída, pois 2002 e 2006 não vão se repetir em Minas Gerais. Ele não é Aécio, assim como Dilma não é Lula. No entanto, a mídia eleitoral vai massacrar o eleitor com a afirmação de que o candidato de Lula é Dilma, o de Dilma é Hélio Costa, que  por sua vez é o candidato do Lula. Se o discurso lulo-petista funcionar e os tucanos mineiros não tomarem lado, adeus Anastasia! Mais adiante, o candidato mineiro complementa sobre o apoio a José Serra: "É natural que num primeiro momento tenha havido frustração. Todos nós manifestamos o desejo de ter Aécio [candidato a presidente]. Mas ele próprio achou melhor não ser candidato agora. Então o que temos de fazer é fortalecer o partido. Essa desconfiança só tem uma solução: trabalhar muito [para Serra] ganhar a eleição em Minas." 

• Antonio Anastasia, hoje, está em segundo lugar nas pesquisas, que são lideradas por Hélio Costa(PMDB), com Patrus Ananias(PT) como vice. Apoiar abertamente José Serra não é mais opção para a sua candidatura, é questão de sobrevivência. A sua liderança nas pesquisas depende disto. O discurso dúbio, conveniente, ambivalente, será a perdição de muitos candidatos aos governos dos estados. Nada será mais forte do que o plebiscito entre Serra e Dilma. Pela primeira vez, a eleição presidencial vai puxar votos para a eleição regional e não o contrário. Lula dizendo para votar em Hélio Costa exigirá Aécio Neves dizendo para votar em José Serra, no plebiscito regionalizado. Ganhará quem tiver a voz mais forte e mais decidida.  Assim sendo, quem ficar sem dizer nada, como José Fogaça(PMDB-RS), corre o risco de não passar para o segundo turno. A proposta plebiscitária de Lula vingou e ai de quem não assumir lado. 2010 não terá lugar para “espertos”. Quem não escolher o seu lado, verá o mesmo ser ocupado pelo inimigo. E aos perdedores que se julgavam “espertos” só restará assistir a festa de posse do adversário, em 1 de janeiro de 2011.