Sindicato de ladrões.

A Revista Veja publica uma reportagem sobre a máquina sindical no Brasil, do qual pinçamos alguns trechos:

Poucos negócios no Brasil são tão lucrativos quanto montar um sindicato. Sim, você leu direito. Na república sindical instalada no Brasil pelo governo petista, conseguir representar uma categoria de trabalhadores virou excelente negócio. Mas não um negócio qualquer. Para começar, o sindicato tem monopólio local garantido por lei. Essa categoria é minha e ninguém tasca! A segunda característica desse ramo especialíssimo de negócio é o fato de que o dinheiro cai no caixa automaticamente, sem que seja preciso mexer uma palha. As contribuições, para filiados ou não, são compulsórias. Delas, dos impostos e da morte, ninguém escapa. Uma terceira faceta do negócio é ainda mais atraente. A lei garante a inviolabilidade de suas finanças. Isso significa que os sindicatos estão dispensados de prestar contas sobre como gastam o dinheiro arrecadado compulsoriamente.

O gangsterismo sindical, agora em sua versão explícita, começou com uma mudança legal ocorrida no ano passado. Uma portaria do governo, porém, passou a admitir a abertura de entidades "concorrentes" em uma mesma região desde que a sede da mais nova não fique no mesmo local que a sede da mais antiga.

A CUT e a Força Sindical, as duas maiores centrais do país, perderam território para as novas entidades, criadas por lideranças de olho na reestruturação da divisão do imposto sindical sacramentada pelo presidente Lula no ano passado. A mudança agraciou as centrais com 10% do imposto arrecadado pelos sindicatos, porcentagem que antes ficava para o governo. Foi um presentão do "paizão" Lula – como, na ocasião, se referiu ao presidente da República um sindicalista. O "presentão do paizão" foi comemorado em grande estilo. Dirigentes de classe organizaram um festão no Congresso, com vinho e uísque 12 anos rolando solto.

Não foi o único mimo ofertado por Lula aos companheiros sindicalistas. Em março de 2008, ele vetou um dispositivo que autorizava o Tribunal de Contas da União (TCU) a fiscalizar as contas dos sindicatos – inescrutáveis desde a Constituição de 1988, que pretendeu, dessa forma, proteger as organizações de interferências do poder público. "Esse veto é inacreditável. É a primeira vez em que alguém diz que dinheiro público não precisa ser auditado. Nem o Banco Central tem essa autonomia", afirma o sociólogo José Pastore.

No Brasil, os sindicatos já deram incontáveis provas de lealdade ao governo do qual dependem. Assumiram uma atitude de contemplação bovina diante de questões antes explosivas, como o salário mínimo e o desemprego. Mas o maior favor prestado ao "governo companheiro" é o ensurdecedor silêncio que os sindicatos dedicam aos escândalos da administração petista. Lula, o "paizão", tem retribuído à altura – fingindo ignorar que seus "filhos" agem como gângsteres na luta para manter os lucrativos territórios.

1 comentários:

Coronel,

Lá vai a dica: estão acordando, será?! Do Estadão

Sábado, 24 de Outubro de 2009 | Versão Impressa


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Ele tem conceito limitado de democracia, dizem teóricos
Para cientistas políticos, as críticas do presidente mostram desconforto com aparato de fiscalização

Daniel Bramatti
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Ao atacar o Tribunal de Contas da União e manifestar a opinião de que a imprensa deve apenas informar, e não fiscalizar o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revela uma concepção limitada de democracia, segundo cientistas políticos ouvidos pelo Estado.

"Lula pensa na democracia com limites e objetivos estritamente eleitorais", disse José Álvaro Moisés, do Departamento de Ciência Política d a Universidade de São Paulo (USP). "O debate contemporâneo envolve uma concepção da qualidade da democracia, e o que dá qualidade à democracia são justamente os mecanismos de controle, fiscalização e monitoramento do Executivo."

Para Francisco de Oliveira, do Departamento de Sociologia da USP, o presidente "não gosta dos instrumentos democráticos que põem limites à sua própria ação".

"Lula procura enquadrar a imprensa, que é o quarto poder, e vê no TCU um obstáculo para o PAC", disse David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), se referindo ao programa de obras de infraestrutura gerenciado por Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência.

José Paulo Martins Jr., cientista político e professor da Faculdade de Administração da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FAD/FESPSP), ressalva que o presidente "respeita as regras do jogo" e não pode ser chamado de antidemocrático. "Lula não ameaça as instituições, procura sempre jogar dentro dos limites. O que podemos dizer, sem dúvida, é que ele transige com o republicanismo, no sentido de que não separa corretamente o público do privado."

José Álvaro Moisés vê Lula distanciado do conceito de "accountability", princípio segundo o qual o governante deve prestar contas aos governados. "O presidente simplesmente não concebe uma democracia em que organismos de fiscalização têm autonomia e independência para julgar", afirmou. Para o professor, Lula demonstra seu desconforto com o aparato fiscalizatório do Executivo ao nomear um ex-ministro para o TCU. "Alguém imagina que José Múcio, que estava no governo até ontem, vai fiscalizar o governo?"

VOTO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é acusado pela oposição e por observadores internacionais de ter concentrado poderes e de procurar se perpetuar no governo. Em reiteradas ocasiões, porém, Lula ressaltou o caráter democrático do regime chavista, usando como parâmetro a realização de eleições e referendos no País.

"Chávez foi testado em quatro eleições nos dez últimos anos", disse o petista, em entrevista recente à revista Newsweek. Ao ser questionado se democracia é apenas a realização de eleições, respondeu: "Eleições são um grande indicativo de democracia. A democracia na prática significa instituições que funcionam devidamente, e estou trabalhando para defender a democracia brasileira. Cada país tem de construir a democracia que quer".

Diferentemente de Chávez, Lula não tomou iniciativas para mudar as regras do jogo e tentar se manter no governo por mais de oito anos. Sempre defendeu a alternância no poder e disse que disputar um eventual terceiro mandato seria "brincar com a democracia".

Para Francisco de Oliveira - conhecido como Chico de Oliveira e ex-militante do PT -, o presidente só deixou de abraçar a causa do terceiro mandato por uma questão tática. "Ele sabia que teria de enfrentar parte importante da opinião pública e que seu alto nível de popularidade iria derreter."
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