Foto da noite.

A Odebrecht, a Camargo Correa, a OAS, a Andrade Gutierrez, a Queiroz Galvão, a Gautama e as empreiteiras do PAC capricharam para receber Lula e Dilma em pleno sertão, na sua caravana eleitoral pelas margens do Velho Chico. Acampamentos acostumados com a vida dura dos arigós conheceram confortos dignos de filme. Camas king size, cobertas de mesa de prata e cristal, cascatas de camarão e scotch, muito scotch. O nordestino Lula voltava à sua terra e foi recebido como um astro de Hollywood. Com direito a red carpet. The Oscar goes to Lula. Já para a atriz coadjuvante...
(A foto publicada originalmente no Noblat é de Evelson de Freitas).

49 comentários

Cel, a foto é do site de Fernando Rodrigues.

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Estou da cor desse tapete, vermelha de vergonha.

Maria Cristina SP

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Fred SP disse...


A foto já está em vários blogs.

Contudo, leia abaixo :

(...)"A outra imagem é de ontem (16.out.2009), no sertão de Pernambuco.

Mostra um tapete vermelho sendo estendido para a chegada do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. De autoria do excelente Evelson de Freitas, a imagem está reproduzida parcialmente abaixo:

http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

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Começaram os treinamentos para Olimpíada 2016.Um helicoptero da polícia derrubado e 10 onibus queimados....

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Coronel

Caro Filoxera:

Antecipo-me a seu comentário; perdoe-me por isso. Sei que sentirá o mesmo que estou sentindo, mas só você pode exprimir com palavras (todas elas, sejam quais forem) nossos sentimentos. Seu comentário: faça-o, carregue-o com tudo o que está atravessado em nossa garganta.

Perito

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Coronel, this is unbelievable. He does not deserve it at all. He deserves a carpet of shit.

Alan & Helena

Fort Worth, Texas

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Isto é uma VERGONHA, até humilha o povo do Nordeste e do Brasil, "rídiculos", os cupins que estão a volta deste sujeito (rancoroso, frio, traiçoeiro, ciníco) não tem o minimo de pudor,em saber que o "dinheiro" que pagam estas megasobras vem do povo brasileiro, que vê seu meio de transporte queimado, suas vidas ameaçadas, que vai trabalhar e nem sabe se vai voltar para casa. Isto é só o pré-natal, imagine quando nascer o "Filho do Brasil"? ou o Exterminador do Brasil, esta gente vem o Lula com uma Irís Cinematográfica : LULAWOOD! "o ouro negro" dos banqueiros, empreenteiros e etc, ele gosta deste circo todo.

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Em toda a minha vida, nunca vi coisa mais ridícula do que os atos de lula e sua corja. Essa foto do tapete vermelho em plena caatinga de Pernambuco, me lembra as extravagâncias do ditador de Uganda, Idi Amim Dada. Aliás, bem que lula gostaria de ser o ditador do Brasil, que Deus nos livre!!!

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Coronel,

No UOL Fernado Rodrigues faz um comparativo, entre essa foto e outra , nos EUA , aqui :

17h58 - 17/10/2009
Duas imagens diferenciam o Brasil dos EUA

http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

Qual é a diferença entre essas duas imagens?



Na reunião do presidente dos EUA, várias pessoas (Barack Obama, inclusive) usam canetas esferográficas ordinárias, dessas descartáveis. À mesa, garrafinhas de plástico com água. Algumas pessoas têm à sua frente aqueles indefectíveis copos de papelão tampados (possivelmente com o horroroso café que se toma por lá).

Há assessores com latinhas de refrigerantes, sem copo. Em resumo, nada daqueles garçons com paletós brancos (em geral, com as bordas encardidas) servindo cafezinho e água em louça personalizada como ocorre em toda a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.



Na segunda foto, a imagem é autoexplicativa. A cena estapafúrdia parece ter saído de um livro de realismo fantástico escrito por Gabriel García Márquez. Um tapete vermelho para o presidente naquele ambiente chega a ser ofensivo ao próprio Lula.



EM RESUMO : a forma como o poder é tratado e se apresenta é um traço marcante do caráter e do estado de espírito de um país.

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Como podem falar em imperialismo se transportam esse pseudo Imperador com tanta pompa e gala pelos recantos mais pobres deste maldito pais de merda? Que bosta de povo é este de um sangue tão pútrido que suporta todo isso sem soltar uma bufa? Isso aqui não tem classificação. Não cabe em nenhum dos poemas de Gregório de Matos o "Boca do Inferno". Todas as considerações do ilustrepoeta são bem brandas diante do quadro cretino e vagabundo que hoje vemos. Nada pode se assemlehar a isso. Nenhuma referência dos atos mais torpes da história humana pode ser mais cretino e rasteiro que isso aí. Ora, que mais precisamos ver para defenestrar essa ciigarra maldita? Até quando suportaremos isso sem esboçar um gesto de repúdio? Não dá mais. Sinceramente, não dá mais. Quando pensamos que já vimos tudo, surge outraesculhambação dessas. Pode haver coisa mais ridícula que isso? Os outros comem calangos e ele, o mais vagabundo dos vagabundos desfila em carrões e desliza em tapetes vermelhos onde deveria ficarcom a cara da mesma cor ante os esquálidos brasileiros que vão a esses eventos atraídos apenas pela curiosidade. Não me venahm dizer que têm consciência do ato que praticam ao referendar o cretino com suas presenças.

Até quando, Deus, sim, o Senhor mesmo, permitirás que zombem de nós? Até quando nos fustigarás o coração com tanta falta de vergonha? Até quando teremos que ser feridos no nosso mais íntimo com tanta pouca vergonha? Livra-nos disso, afinal, todos Te reconhecem como um Brasileiro. Tira essa coisa do nosso meio pois já naõ temos mais condição de assitira tanta ignomínia e tanto descaro. Ele já se mostrou tão arrogante e desrespeitoso que até comungou no Vaticano dizendo que não tinha pecado algum. Não é isso blasfêmia suficiente para que caísse fulminado ao receber a hóstia? Não é um herege na acepção mais completa do termo? Manda isso pro inferno de uma vez e livra-nos disso, pois já não temos condição de assistir a tanta ignomínia.

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Macacos que nunca comeram melado, quando comem se lambuzam.
Se o "cara" fosse alguem equilibrado e sério estaria conciente que está trabalhando e nào em premiação do Oscar. Essa ostentação descabida torrando o dinheiro público, comprova os miolos ocos dessa gang de oportunistas desqualificados.
Elles sabem que os seus ignorantes eleitores tambem se deslumbram com essa palhaçada toda, como elles e daí esse vergonhoso jogo de sedução com os famintos, rezes no cabresto da ilusão e mentiras desse cafajeste, doente mental.

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Eu li corretamente, Coronel: Gautama, aquela?!

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A mitomania que permeia a vida vazia das pessoas, incapazes de discernir entre valores eternos e valores necessários, conspira a favor de transformar acintosos desperdícios em parte integrante e inalienável do mise-en-scène do auto proclamado "pai dos pobres", o messias que faz chover dinheiro de plástico.

É a idade média em seus estertores.

Com o meu, o seu, e o voto de quantos mais pudermos tirar desses exploradores da credulidade do ignorante, mais cedo essa idade das trevas encontrará o seu fim.

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Coronel,

Fora do tópico, mas....compra de PORTA CARREGADOR PRA PISTOLA TAURUS .40, não é compra de "Segredo de estado e segurança nacional" ?

O que faz a Câmata dos Deputados abrir a modalidade por DISPENSA DE LICITAÇÃO, pública ?

SEQUENCIAL : 001 VALOR UNITARIO : 112,00
QUANTIDADE : 50,00000 VALOR TOTAL : 5.600,00
FORNECIMENTO DE 50 UNIDADES DE PORTA CARREGADOR PARA PISTOLA TAURUS.40,
MARCA FÓBUS, DEMAIS ESPECIFICAÇÕES CONFORME PROPOSTA, A PEDIDO DO
DEPOL/CD.
.
http://contasabertas.uol.com.br/noticias/imagens/Notas%20de%20empenho%20-%2022-08-09.pdf

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Coronel e Perito

Na minha miserável existência, já tinha visto muitas aberração política, fazendo verdadeiras aberrações de que nem o diabo se lembraria. Mas ver esta foto, com uma carpete vermelha colocada sobre terra poeirenta do árido sertão nordestino e que vai terminar num miserável barraco, ultrapassa tudo quanto è ridículo, quanto è imaginável!

Não era necessário uma carpete vermelha sob a característica terra vermelha seca e poeirenta, para ir dar a um barraco. Se esse psicopata golpista fosse um homem com Honra e tivesse respeito pelos nordestinos mais as suas condições miseráveis como vivem no agreste do sertão, teria mostrado a sua envergadura de estadista, recusando-se a caminhar sobre ela. Evidentemente que não foi o caso. E não foi o caso, pois simbolicamente, essa carpete vermelha è o sinal que ele irá mesmo cumprir o terceiro, quarto, quinto mandatos. Aliás, tem que cumprir o terceiro mandato, porque se os arquivos e as contas do Palácio do Planalto fossem pesquisados, no mínimo, um El Paredón o espera! E ele tem que impedir que outros olhos, olhem para esses documentos, como contratos e acordos secretos com chavez, evo e agora, com o louco do Irã, aflito porque não consegue processar urânio puro e, sem ele, suas instalações nucleares se destroem ao construírem armas nucleares. Daí a visita dele ao Brazil a insistência de lulla, para que o Brazil lhe forneça urânio com 96% de pureza, necessário á construção de engenhos nucleares.

Mas os representantes da Odebrecht, da Camargo Correa, da OAS, da Andrade Gutierrez, da Queiroz Galvão, da Gautama e das empreiteiras do PAC, que caminhassem sobre essa carpete vermelha, merecem-na, pois são construtores civis e construtores civis são gente ruim, gente falsa, gente que não presta, gente que só sabe enganar, gente que engana na qualidade dos materiais usados nas obras e construções, gente que engana no seu preço, gente que corrompe e gosta de ser corrompida, gente ridícula e safada que conhecendo a loucura do ego do psicopata golpista, cativou-o da forma mais ridícula que se possa imaginar: colocar uma ridícula carpete vermelha kilometrica, em cima do pó vermelho sertanejo no meio do nada para que um louco continue julgando-se dono do mundo, pudesse caminhar sobre ela até um miserável barraco que, para os olhos de lulla, tal como um Dom Quixote, era um palácio (não um moinho de vento) e lhes dê mais contratos. Gente safada esse vigarista que corrompeu os 3 Poderes do Brazil, trouxe a xenofobia o racismo, o ódio entre classes sociais,

Também não vou deixar de fora o ego doentio de quem teve essa idéia e do ego doentio do psicopata golpista que caminhou sobre ela, imponente de tanta estupidez como um tolo, um parvo, um palerma, um alarve! Nem sei qual dos dois egos è pior que o do outro! A loucura não se mede nem se quantifica, mas o louco que aceitou caminhar sobre essa ridícula carpete vermelha, conseguiu o impossível: ridicularizar essa carpete vermelha quando ela for usada em qualquer Nação deste planeta. Será um estigma para os louros de olhos azuis que governam o planeta. Ao caminharem por uma carpete vermelha, estarão nivelados com o pó do sertão nordestino. Conseguiu ridicularizar um dos símbolos do Poder político, a carpete vermelha, característica de diferentes épocas, culturas ou correntes políticas! E a manada de convidados, acompanhando esse doente mental, certamente com patéticas piadas brejeiras de puxa saco, risadinhas nervosas de quem vai ter enfim sua primeira experiência sexual como segunda opção diferenciada e curiosa, poderão dizer que caminharam atrás de um louco imperador, por uma carpete vermelha suja de pó.

Já agora deixo uma interrogação. Como foi e Engenharia militar que fez grande parte das obras da transposição do Velho Chico, esteve presente algum general?

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Vejam o que essa quadrilha está fazendo:

http://www.4shared.com/get/39478226/7e396575/Advogado_do_Lula-_GolpeBilionario_cra.html


Divirtam-se e repassem para todos os seus amigos das suas listas de emails. Precisamos nos mexer, pois as melancias estão podres e dormindo solenmente em berço esplêndido (não seriam beliches? Não, não seriam, pois os grandes respnsáveis por este estado de coisas dormem em alojamentos especiais, em fofas camas, nos dias presentes talvez até vestidos em roupões de algodão egípcio, quando dormem nos quartéis.

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o post sobre o filmeco do Lula, reproduzido pela metade no blogao da Globo, chega a ser cômico...

o texto original do post eh abortado coincidentemente quando chega na parte mais polêmica do filme - a da estranha e incomum forma de financiamento da película...

ai mandam o leitor "ler mais" no site original que hospeda o texto na integra...

e sabemos que não são muitos que o fazem e acabam assim por não se informar por completo dos caminhos percorridos para gerar essa excrescência cinematográfica...

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Lá vem o sr. com seus radicalismo. Até parece que nunca pisou num canteiro de obras. O que mais se vê nesses lugares é cama king size (lá chamadas pela alcunha de rede); serviço de mesa em cristal e prata ( na linguagem de peão conhecidos como badejão); camarão (no linguajar arigó tido como jabá, carne seca ou charque); scotch (apelidado de pinga, ubá, cachaça, branquina, etc). E tapete vermelho tem sim senhor. Do sangue que corre nas veias de uma multidão de trabalhadores humilhados por uma exibição de falsa vontade de estar junto do povo.

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É o país verdadeiramente de cabeça para baixo. A inversão dos valores, a grosseria, o ego exacerbado, os puxa -sacos ao redor, o discurso, o chapéu, o whisky, a cama king size, as mentiras, as falcatruas, muitas e muitas coisas mais que beiram a anarquia presente nesse país. Como pode ocorrer dezenas, centenas de aberrações e tudo passa batido diante da "alta e dita popularidade" desse monstro imoral que pensa que nos governa. De quem é a culpa?
É a engenharia social produzindo o efeito da apatia no povo gado.
Lula fazendo festa para Alencar e o Rio de janeiro pegando fogo e nenhuma declaração.
A imprensa pegando leve, tudo muito sutil, não é?
Pois é Coronel, tem solução para esse país?
O tapete acima é da cor da minha vergonha.
Indignada!

Maria Cristina SP

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É muito socó pra um socó só coçar: quem fuçou em bosta de porco, limpou bunda com sabugo de milho, comeu calango com mandacaru bem que poderia ter dispensado o tapete "vermeio" para se refestelar afrontando os pobres de Pernambuco aos quais foi seduzir com migalhas. Mas, ele não é mais pobre, agora é O Senhor de todos... Povo idiota, toma Ó pra vocês analfabetos cretinos, vocês merecem ter esse Analfabeto que se diz "prizidenthi" e comer as migalhas que caem da sua mesa (delle) que vocês também pagam. BABACAS!

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Este tapete vermelho dava pra comprar quantas bolsas-família?

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O "cara" nao pisa mais o solo brasileiro, mais vulgarmente conhecido como "chão".
Nasceu ai no sertão, hein?
Cachorrada..
É incrivel o que o PUDÊ faz com o cidadão..

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Atentaram para o detalhe? Do lado direito tem uma cercadura onde os jumentos irão estar postados para verem o cretino passar. Vejam a distância em que foi colocada. Trat-se do cordão de isolamento adequado para as alimárias que irão ao evento, e devme ser mantidas à distãncia pois podem contaminar o todo poderoso com alguma bufa de calango assado ou mambira (famosa pelo odor pútrido que gera), daí a distãncia em que foi colocada.

Com razão o saudoso Rui:

" A questão Social e Política no Brasil
Em 20 de março de 1919

Senhores:

Conheceis, porventura, o Jeca Tatu, dos Urupês, de Monteiro Lobato,
o admirável escritor paulista? Tivestes, algum dia, ocasião de ver surgir,
debaixo desse pincel de uma arte rara, na sua rudeza, aquele tipo de uma raça
que, “entre as formadoras da nossa nacionalidade”, se perpetua, “a vegetar de
cócoras, incapaz de evolução e impenetrável ao progresso”?

JECA TATU

Solta Pedro I o grito do Ipiranga; e o caboclo em cócaras. Vem,
com o 13 de Maio, a libertação dos escravos; e o caboclo, de cócaras. Derriba
o 15 de Novembro um trono, erguendo uma república; e o caboclo de
acocorado. No cenário da revolta, entre Floriano, Custódio e Gumercindo,
se joga a sorte do país, esmagado quatro anos por Incitatus; e o caboclo,
ainda com os joelhos à boca. A cada um desses baques, a cada um desses
estrondos, soergue o torso, espia, coça a cabeça, “magina”, mas volve
à modorra, e não dá pelo resto.

De pé, não é gente. A não ser assentado sobre os calcanhares,
não desemperra a língua, “nem há de dizer coisa com coisa”. A
sua biboca de sapé faz rir aos bichos de toca. Por cama, “uma esteira
espipada”.

Roupa, a do corpo. Mantimentos, os que junta aos cantos da
sórdida arribana. O luxo do toucinho, pendente de um gancho, à cumeeira.

À parede, o pica-pau, o polvarinho de chifre, o rabo de tatu, e em
pára-raio, as palmas bentas. Se a cabana racha, está de “janelinhas abertas
para o resto da vida”. Quando o colmo do teto, aluído pelo tempo,
escorre para dentro a chuva, não se veda o rombo; basta aparar-lhe a
água num gamelo. Desaprumando-se os barrotes da casa, um santo de
mascate, grudado à parede, lhe vale de contraforte, embora, quando
ronca a trovoada, não deixe o dono de se julgar mais um em seguro no
oco de uma árvore vizinha.

O mato vem beirar com o terreirinho nu da palhoça. Nem
flores, nem frutas, nem legumes. Da terra, só a mandioca, o milho e a
cana, porque não exige cultura, nem colheita. A mandioca,
“sem-vergonha”, não teme formiga. A cana dá a rapadura, dá a garapa,
e açucara, de um rolete espremido a pulso, a cuia do café.

Para Jeca Tatu, “o ato mais importante da sua vida é votar no
Governo”. “Vota. Não sabe em quem, mas vota”. “Jeca por dentro rivaliza
com Jeca por fora. O mobiliário cerebral vale o do casebre”. Não
tem o sentimento da pátria, nem, sequer, a noção do país. De “guerra,
defesa nacional ou governo”, tudo quanto sabe se reduz ao pavor do recrutamento.
Mas, para todas as doenças, dispõe de meizinhas prodigiosas
como as idéias dos nossos estadistas. Não há bronquite que resista
ao cuspir do doente na boca do peixe, solto, em seguida, água abaixo.

Para brotoeja, cozimento de beiço de pote. Dor de peito? “O porrete é
jasmim-de-cachorro”. Parto difícil? Engula a cachopa três caroços de
feijão mouro e “vista pelo avesso a camisa do marido”.

Um fatalismo cego o acorrenta à inércia. Nem um laivo de imaginação
ou mais longínquo rudimento d’arte, na sua imbecilidade. Mazorra
e soturna, apenas rouqueja lúgubres toadas. “Triste como o curiango, nem
sequer assobia.” No meio da natureza brasileira, das suas catadupas de vida,
sons e colorido, 'é o sombrio urupê de pau podre, a modorrar silencioso
no recesso das grotas. Não fala, não canta, não ri, não ama, não vive'. "


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Não sei bem, senhores, se, no tracejar deste quadro, teve o autor
só em mente debuxar o piraquara do Paraíba e a degenerescência inata da
sua raça. Mas a impressão do leitor é que, neste símbolo de preguiça e fatalismo,
de sonolência e imprevisão, de esterilidade e de tristeza, de subserviência
e hebetamento, o gênio do artista, refletindo alguma cousa do seu
meio, nos pincelou, consciente, ou inconscientemente, a síntese da concepção,
que têm, da nossa nacionalidade, os homens que a exploram.

A VISÃO DOS MANDA-CHUVAS

Se os manda-chuvas deste sertão mal roçado, que se chama
Brasil, o considerassem habitado, realmente, de uma raça de homens, evidentemente
não teriam a petulância de o governar por meio de farsanterias,
como a com que acabam de arrostar a opinião nacional e a opinião internacional,
atirando à cara da primeira o ato de mais violento desprezo, que
nunca se ousou contra um povo de mediana consciência e qualquer virilidade.

Para animar esses gozadores inveterados nas covardias do
egoísmo a esse rasgo de intrepidez contra os sentimentos de uma nação
inteira, justamente quando esses sentimentos se estão patenteando com
toda esta intensidade, havendo de supor que o vezo de se encontrarem
com um país de resignação ilimitada e eterna indiferença os acostumou
a verem nos seus conterrâneos a caboclada lerdaça e tardonha da família
do herói dos Urupês, a raça despatriada e lorpa, que vegeta, como os lagartos,
ao sol, madraçaria e lombeira dos campos descultivados.

O que eles vêem, sucedendo à idade embrionária do colono,
dobrado ao jugo dos capitães-mores; o que eles vêem, seguindo-se à época
tenebrosa do africano vergalhado pelo relho dos negreiros, é o período
banzeiro do autóctone, cedido pela catequese dos missionários à catequese
dos politiqueiros, lanzudo ainda na transição mal-amanhada, e susceptível,
pelo seu baixo hibridismo, das bestializações mais imprevistas.

Eis o que eles enxergam, o que eles têm por averiguado, o que
os seus atos dão por líquido, no povo brasileiro: uma ralé semi-animal e
semi-humana de escravos de nascença, concebidos e gerados para a
obediência, como o muar para a albarda, como o suíno para o chiqueiro,
como o gorila para a corrente; uma raça cujo cérebro ainda se não sabe
se é de banana, ou de mamão para se empapar de tudo que lhe embutam;
uma raça cujo coração ainda não se estudou se é de cortiça, ou de
borracha, para não guardar mossa de nada, que o contunda; uma raça,
cujo sangue seja de sânie, ou de lodo, para não sair jamais da estagnação
do charco, ou do esfacelo da gangrena; uma raça, cuja índole não parti-
cipe, sequer, por alguns instintos nobres ou úteis, dos graus superiores
da animalidade."
De outra sorte não poderia suceder que, precisamente quando
se trata do ato mais vital de uma nação, a escolha da cabeça do seu
governo, seja essa nação a que se elimine, para exercer as suas vezes o
lendeaço dos seus parasitas. De outro modo não se conceberia que, justamente
quando os mais obdurados e truculentos despotimos do mundo
rolam pelo chão, arrastando na queda os mais velhos tronos e as dinastias
mais poderosas, aqui, três ou quatro moirões de lenho podre até
o cerne, se ponham rosto a rosto com todas as expressões do sentimento
público, e as levem de vencida. De outra maneira não se explicaria
que, exatamente quando se anunciava aos quatro ventos um movimento
de regeneração dos costumes políticos, empenhados em corresponder à
grandeza das dificuldades com a grandeza dos exemplos, tudo se resolvesse
na comédia mais ignóbil, de que nunca foi testemunha a nossa
História. "


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Não, senhores, de outro jeito não se explicaria que, quando todas
as nações andam à competência, no campo da honra, em dar, qual a
qual mais, em modelos ao universo atento, os seus maiores homens, as
suas maiores ações e as suas maiores qualidades, a política brasileira elegesse
este momento, para assombrar o mundo com a sua inveja, a sua
tacanharia, a sua corrupção e a sua cegueira; para juntar, aos olhos do
estrangeiro, em uma só cena, como representação da nossa mentalidade
e da nossa moralidade, um concurso de indivíduos, vícios e opróbios,
que obrigariam a corar o mais desgraçado e o menos sensível retalho da
humanidade.

O BRASIL NÃO É ISSO

Mas, senhores, se é isso o que eles vêem, será isto, realmente,
o que nós somos? Não seria o povo brasileiro mais do que esse espécimen
do caboclo mal desasnado, que não se sabe ter de pé, nem mesmo
se senta, conjunto de todos os estigmas de calaçaria e da estupidez, cujo
voto se compre com um rolete de fumo, uma andaina de sarjão e uma
vez d’aguardente? Não valerá realmente mais o povo brasileiro do que
os conventilhos de advogados administrativos, as quadrilhas de corretores
políticos e vendilhões parlamentares, por cujas mãos corre, barateada,
a representação da sua soberania? Deverão, com efeito, as outras na-
ções, a cujo grande conselho comparecemos, medir o nosso valor pelo
dessa troça de escaladores do poder, que o julgam ter conquistado, com
a submissão de todos, porque, em um lance de roleta viciada, empalmaram
a sorte e varreram a mesa?

Não. Não se engane o estrangeiro. Não nos enganemos nós
mesmos. Não! O Brasil não é isso. Não! O Brasil não é o sócio de clube,
de jogo e de pândega dos vivedores, que se apoderaram da sua fortuna, e
o querem tratar como a libertinagem trata as companheiras momentâneas
da sua luxúria. Não! O Brasil não é esse ajuntamento coletício de criaturas
taradas, sobre que possa correr, sem a menor impressão, o sopro das aspirações,
que nesta hora agitam a humanidade toda. Não! O Brasil não é
essa nacionalidade fria, deliqüescente, cadaverizada, que receba na testa,
sem estremecer, o carimbo de uma camarilha, como a messalina recebe
no braço a tatuagem do amante, ou o calceta, no dorso, a flor-de-lis do
verdugo. Não! O Brasil não aceita a cova, que lhe estão cavando os cavadores
do Tesouro, a cova onde o acabariam de roer até aos ossos os tatus-
canastras da politicalha. Nada, nada disso é o Brasil.

O QUE É O BRASIL

O Brasil não é isso. É isto. O Brasil, senhores, sois vós. O
Brasil é esta assembléia. O Brasil é este comício imenso de almas livres.
Não são os comensais do erário. Não são as ratazanas do Tesoiro.
Não são os mercadores do Parlamento. Não são as sanguessugas
da riqueza pública. Não são os falsificadores de eleições. Não são os
compradores de jornais. Não são os corruptores do sistema republicano.
Não são os oligarcas estaduais. Não são os ministros de tarraxa.
Não são os presidentes de palha. Não são os publicistas de aluguer.
Não são os estadistas de impostura. Não são os diplomatas de
marca estrangeira. São as células ativas da vida nacional. É a multidão
que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se
vende. Não é a massa inconsciente, que oscila da servidão à desordem,
mas a coesão orgânica das unidades pensantes, o oceano das
consciências, a mole das vagas humanas, onde a Providência acumula
reservas inesgotáveis de calor, de força e de luz para a renovação das
nossas energias. É o povo, em um desses movimentos seus, em que
se descobre toda a sua majestade. “


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AS VERDADEIRAS MAJESTADES

Às majestades da força nunca me inclinei. Mas sirvo às do direito.
Sirvo ao merecimento. Sirvo à razão. Sirvo à lei. Sirvo à minha pátria.
São essas as que eu reconheço neste mundo, e é uma delas a com
que em vós me encontro neste momento.

Não porque sejais o número. Não porque sejais a torrente. Não
porque sejais a catarata. Não porque sejais o poder incoercível. Mas porque
sois a barreira do poder. Mas porque sois o reservatório da vida. Mas porque
sois a caudal saneadaora. Mas porque sois a soma das atividades, que constituem
o trabalho, a união dos que não se nutrem do cabedal alheio, o mundo
limpo, claro e são dos que não têm que esconder o de que vivem.

Operários brasileiros, que viestes hoje a mim, que me honrais
com o desejo de me ouvir, que me estais dando a vossa atenção, a importância
do elemento que representais cresce a olhos vistos, dia a dia,
mas não principalmente por irdes crescendo em numerosidade, não por
engrossardes em vulto, não por aumentardes em materialidade, bruta;
sim porque vos elevais em inteligência; sim porque melhorais em moralidade;
sim porque vos desenvolveis no sentimento de vós mesmos, do
vosso valor no meio dos outros fatores sociais, das vossas necessidades
na cultura desse valor. Os homens não se governam pela inconsciência
do peso, mas pelo peso da consciência.

QUANTIDADE E QUALIDADE

Quereis ver, de um relance, a distância entre a inconsciência
do peso e o peso da consciência? Comparai, nesta guerra ainda mal apagada,
nesta guerra cujo rescaldo chameja ainda, comparai aí essa Bélgica
de oito milhões de almas com aquela Rússia de cento e oitenta milhões
de homens; e vede como saíram as duas do embate com os gigantes da
força. Apesar de mal organizada, uma era um colosso militar. Não minguavam
os milhões dos seus exércitos os mais bravos soldados haviam
quebrado as molas morais ao seu governo, à sua sociedade, ao seu povo;
e o monstro armado, cuja imensidade se levantava como a de um Goliath
nas esplanadas da luta, ruiu, juncando hoje o solo dos seus destroços,
combatentes uns com os outros, sob o domínio da miséria, da fome, da
anarquia, meneados por dois agentes estrangeiros, ao passo que a Bélgica,
arcando com a invasão até ao último instante, exausta quase até à derradei-
ra gota do seu sangue, hóspeda em uma capital emprestada, atravessa invencível
a sua via dolorosa, e ressurge do seu Calvário, laureada, gloriosa,
divina, com a sua nacionalidade intacta, o seu prestígio multiplicado, as
raízes do seu futuro borbotantes de seiva. Tanto vai, senhores, do ser
grande pela quantidade a ser grande pela qualidade.

Considerai qual das condições haveis de escolher, operários
brasileiros. Uma acaba desagregada pelas circunstâncias da sua inferioridade.
A outra, sustentada pela excelência do seu caráter, resiste a todas
as provas, e de cada uma se desembaraça avantajada. “


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ADULAÇÃO E AMIZADE

Todas as grandezas, senhores, todas as grandezas são aduladas.
A vossa tem também os seus cortesãos; e nenhum deles se deve mais arrecear
pois é, de todas, a mais nova inexperiente, a mais desacautelada, e, pelo
generoso dos seus impulsos, a mais susceptível de cair nos laços da tentação,
quando ela embebe a linguagem na cor dos sentimentos nobres. Em
mim, bem sabeis que não ides ter um cortejador; mas, se vos mereço justiça,
deveis estar certos de que podeis contar com um amigo.

O TRABALHO

Há na vossa grandeza um condão, para atrair os que se não
rendem a outras: é que é a grandeza do trabalho. O trabalho não é o castigo:
é a santificação das criaturas. Tudo o que nasce do trabalho, é bom.

Tudo o que se amontoa pelo trabalho, é justo. Tudo o que assenta no trabalho,
é útil. Por isso, a riqueza, por isso, o capital, que emanam do trabalho,
são, como ele, providenciais; como ele, necessários, benfazejos como
ele. Mas já que do capital e da riqueza é manancial o trabalho, ao trabalho
cabe a primazia incontestável sobre a riqueza e o capital.

Lincoln não era um demagogo, não era um revolucionário,
não era um agitador popular. Era o presidente da grande república norte-
americana durante a mais tremenda crise da sua história; e o consenso
geral da posteridade o sagra, hoje, como o maior gênio de estadista
que a tem governado. Pois Lincoln, senhores, não duvidava reivindicar,
em uma das suas mensagens ao Congresso Nacional, em dezembro
de 1861, a preeminência do trabalho aos outros fatores sociais.

O trabalho – dizia ele – precede ao capital, e deste não depende.
O capital não é senão um fruto do trabalho, e não chegaria nunca
a existir, se primeiro não existisse o trabalho. O trabalho é, pois,
superior ao capital, e merece consideração muito mais elevada.

TRABALHO E ESCRAVIDÃO

Exprimindo este sentir, muito mais generalizado atualmente no
seio dos Estados Unidos que há sessenta anos, quando o grande homem
de Estado o anunciava de tão alto, Lincoln falava como quem aprendera a
conhecer o trabalho, arcando com o seu maior inimigo, a propriedade servil.
Foi aí, foi nessa rude escola, foi com essa experiência dolorosa, que
também aprendemos a estimá-lo e amá-lo os abolicionistas brasileiros.

Quando o coração me começou a vibrar dos sentimentos, que
me têm enchido a vida, o trabalho arfava acorrentado à rocha da escravidão,
onde lhe dilacerava as entranhas o abutre da cobiça desumana. No dia
em que o raio de Deus fundiu aquelas cadeias, bem sentimos nós outros,
os que havíamos buscado colaborar na obra da Providência, adiantando-lhe
a data, que de sobre o granito, onde se acabavam de partir os grilhões da
raça cativa, se erguia um poder novo, um poder entre nós desconhecido, o
poder, ainda inconsciente, do trabalho regenerado.

Dentre os que tínhamos levantado o picão ou o camartelo
contra o penedo, a que se chumbava a instituição maldita, cada qual estreitava
ao peito as lembranças do seu contingente para a campanha em
que entrara. O meu fora modesto. Mas abrangera tudo o que eu podia.

Com ela me estreei na tribuna popular acadêmico ainda, encetando-a
com a primeira conferência abolicionista que se ousou em São Paulo.

Depois, a minha pena, a minha palavra deram a essa causa o melhor do
meu ser, e dessa causa receberam o melhor das suas inspirações. Tive a
honra de ser o autor do projeto Dantas, de escrever, em sua sustentação,
o parecer das comissões reunidas, de ser, na Câmara dos Deputados, o seu
órgão e bandeira, de me ver derrotado por amor dele nas eleições subseqüentes,
de combater a Lei Saraiva, de reivindicar para a consciência da
Nação brasileira o mérito do ato da redenção, de incorrer nas ameaças
da célebre guarda negra, de não faltar nunca, nos momentos mais arriscados,
com uma devoção, que nunca se desmentiu, e que não quis nem
teve jamais, a troco de todos os serviços, outro interesse, ou paga, se
não perigos, ódios e vinganças.


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A RAÇA LIBERTADA

Estava liberto o primitivo operariado brasileiro, aquele a
quem se devia a criação da nossa primeira riqueza nacional. Terminava o
martírio, em que os obreiros dessa construção haviam deixado, não só o
suor do seu rosto e os dias da sua vida, mas todos os direitos da sua humanidade,
contados e pagos em opróbrios, torturas e agonias.

Mas que fizeram dos restos da raça resgatada os que lhe haviam
sugado a existência em séculos da mais ímproba opressão? Nessas ruinarias
havia ainda elementos humanos. De envolta com as gerações exaustas,
que o túmulo esperava, estavam as gerações válidas, umas em plena
virilidade, outras vencendo a adolescência, outras abrolhando, nascentes
ainda, no meio das ruínas da sua ascendência exterminada. Que
movimento de caridade tiveram por esses destroços humanos os árbitros
do bem e do mal nesta terra? A responsabilidade não é da monarquia,
que expirou ao outro dia da abolição. A responsabilidade não pode
ser também do Governo Provisório, que em só quatorze meses teve de
liquidar um regímen e erigir outro. Mas ao governo revolucionário sucederam
vinte e nove anos de república organizada, com oito quadriênios
presidenciais de onipotência, quase todos em calmaria podre. Que conta
darão a Deus esses governos, senhores, de tudo o que ambicionaram,
poderosos para tudo o que quiseram, livres em tudo o de que cogitaram,
– que contas darão a Deus da sorte dessas gerações, que a revolução de
13 de maio deixou esparsas, abandonadas à grosseria originária, em que
a criara e abrutara o cativeiro?

Era uma raça que a legalidade nacional estragara. Cumpria às
leis nacionais acudir-lhe na degradação, em que tendia a ser consumida,
e se extinguir, se lhe não valessem. Valeram-lhe? Não. Deixaram-na estiolar
nas senzalas, de onde se ausentara o interesse dos senhores pela sua antiga
mercadoria, pelo seu gado humano de outrora. Executada assim, a
abolição era uma ironia atroz. Dar liberdade ao negro, desinteressando-
se, como se desinteressaram absolutamente da sua sorte, não vinha a
ser mais do que alforriar os senhores. O escravo continuava a sê-lo dos
vícios, em que o mergulhavam. Substituiu-se o chicote pela cachaça, o
veneno, por excelência, etnicida, exterminador. Trocou-se a extenuação
pelo serviço na extenuação pela ociosidade e suas objeções. Fez-se do liberto
o guarda-costas político, o capanga eleitoral. Aguçaram-se-lhe os
maus instintos do atavismo servil com a educação da taberna, do bacamarte
e da navalha. Nenhuma providência administrativa, econômica,
ou moral, se estudou, ou tentou, para salvar do total perdimento esses
valores humanos, que soçobravam. Nem a instrução, nem a caridade,
nem a higiene intervieram de qualquer modo. O escravo emancipado,
sua família, sua descendência encharcaram putrescentes no desamparo,
em que se achavam atascados. E eis aqui está como a política republicana
liquidou o nosso antigo operariado, a plebe do trabalho brasileiro durante
os séculos da nossa elaboração colonial e os quase setenta anos do
nosso desenvolvimento sob a monarquia.

A SEGUNDA EMANCIPAÇÃO

Era uma segunda emancipação o que se teria de empreender,
se o abolicionismo houvera sobrevivido à sua obra, para batizar a raça libertada
nas fontes da civilização. Mas o abolicionismo degenerara da independência
das suas origens, adotando o culto da princesa redentora,
os cabeças da causa vencedora adormeceram nos seus lauréis, e a república,
reacionária desde o seu começo, desde o seu começo imersa no
egoísmo da política do poder pelo poder, traidora desde o seu começo
aos seus compromissos, tinha muito em que ocupar a sua gente, para ir
esperdiçar o tempo com assuntos sociais.


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Nem mesmo quando algum dos lidadores da campanha recém-
terminada se animasse a encetar a segunda, haveria onde a lograsse
abrir com vantagem; porque só no governo parlamentar existe o terreno
capaz de dar teatro a essas cruzadas morais, e essas lutas pelas idéias nas
regiões mais altas da palavra, onde elas se fecundam. No presidencialismo
não há senão um poder verdadeiro: o chefe da Nação, exclusivo depositário
da autoridade para o bem e o mal.

Desse poder me arredaram sempre os tuxauas e morubixabas
do regímen. Na constituição vacilante deste, a minha exclusão do posto
supremo tem sido, entre eles, o único ponto de acordo. Destarte, sem
autoridade para qualquer iniciativa susceptível de resultado, a minha tarefa,
no meio das batalhas pessoais em que se debate a impotência do
parlamento, se viu reduzida a bradar pelas leis, que se imolam, e contra
os abusos, que se consumam.

AS RESPONSABILIDADES

Eis os homens, senhores, que se atrevem a chamar-me a contas
dos meus sentimentos em relação ao operariado, ao operariado atual,
ao que tomou dos ombros da escravidão a carga do trabalho emancipado.

Para com o outro, para com o que vos precedeu no lavor penoso do
solo e da indústria, não tiveram o menor movimento de simpatia humana.
Assistiram à sua perdição total, ao seu sacrifício absoluto, eles que tinham
nas mãos os instrumentos do poder ilimitado; e, responsáveis de
tamanha insensibilidade às amarguras das vítimas do trabalho servil,
hoje se arvoram em padroeiros do trabalho livre. Como! Padroeiros do
trabalho livre, eles! E contra quem? Contra mim, que convosco pretendem
mexericar, babujando-me com o aleive de não sei que rancores à
classe operária, de não sei que antagonismo aos seus direitos, de não sei
que incompatibilidade com a sua causa. Dantes era o delator o que havia
de provar a sua delação. Hoje é o delatado o que deve provar a sua inocência.

Privilégios da mentira, que, soberana inconcussa destes reinos,
não há prerrogativas que lhe bastem, para impor aos seus vassalos a humilhação
brutal da sua vassalagem.

Com que, senhores, sou então eu o que me hei de considerar
obrigado a exculpar-me da increpação, que os meus caluniadores não
documentaram? Eu, o velho abolicionista? Eu, o advogado gratuito e desinteresseiro
dos escravos? Eu, é que me devo levantar, cabeça baixa, à barra
do tribunal, para demonstrar que, amigo, ontem, do trabalhador cativo,
não aborreço, hoje, o trabalhador livre? Pois os meus serviços à redenção
do primeiro não estarão aí evidenciando, acima de todas as dúvidas, a minha
natural inclinação pela sorte do segundo?

OS ABOLICIONISTAS E OS OPERÁRIOS

Quando um homem se vota a defender os humildes contra os
potentados, por outro motivo não se concebe que anteponha os fracos
aos fortes, a não ser para servir à justiça. Com os grandes e fortes está o
lucro; com os fracos e humildes, o perigo. Como optar o risco, em lugar
da vantagem, senão por antepor o direito à iniqüidade?

No caso do cativeiro, ainda mais se assinala, na preferência do
desvalido ao poderoso, o desinteressado amor dos nossos semelhantes.

Aí a natureza e a fortuna despiram o miserável de todos os atrativos. A
natureza lhe tisnou a pele, enegreceu-lhe a tez, e lhe engrossou as feições.

A fortuna o desnobreceu, o aviltou, desumanou-o grosseiramente,
alarvajou-lhe os costumes, condenou-o à esqualidez, mergulhou-o na
lassidão, na preguiça, no abrutamento. De criaturas racionais assim desnaturadas,
só o mais arraigado sentimento de fraternidade humana ou a
mais extrema paixão da caridade nos poderiam habituar ao contacto.

Mas nós nos sentimos nobilitados com ele; porque esse contacto nos
ensinava a amar a justiça.
Não era fácil amá-la, quando o seu amor nos inimistava com
o poderio da organização, que tinha no elemento servil o seu alimento e
a garantia da sua vida.


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A escravidão era o alfa e o ômega da sociedade,
que ela nutria, o alicerce, e, juntamente, a cumeeira do estado, que nela
se incorporara. O escravo, pelo contrário, era, entre os companheiros do
homem, o ínfimo dos seres animados. Entre a humanidade e a animalidade,
vegetava sem os foros de uma, nem as vantagens da outra, menos
bem tratado que as alimárias de estimação, ou as crias de raça.

Nós, porém, nunca hesitamos em renhir com os interesses
daquela potestade, a fim de restabelecer as vítimas dessa cobiça insaciável
nos direitos sagrados, que lhe ela extorquia. Não nos detinha a opulência
dos senhores. Não nos atemorizava a perseguição dos governos.

Não nos repugnava a miséria dos nossos vilipendiados clientes. E, entre
esses opostos extremos de grandeza e desgraça, de onipotência e sujeição,
nunca houve um abolicionista que se vendesse ao dinheiro, que
traísse o direito, que desertasse o seu posto. Pudessem o mesmo de si
dizer os republicanos!

Como poderia, logo, haver um abolicionista de então, que não
seja hoje um amigo do operário? A causa deste é menos árdua; porquanto
os interesses capitalísticos da sociedade, atualmente, não se ressentem
da intolerância, que empedernia a propriedade servil, nem à organização
da indústria assistem os apanágios hediondos, que barbarizavam a organização
do cativeiro.

O capital de agora é mais inteligente, e não tem direitos contra
a humanidade. Nem o obreiro é o animal de carga ou tiro, desclassi-
ficado inteiramente da espécie humana pela morte política e pela morte
civil, que sepultavam em vida o escravo. Ao passo que a este mal lhe assistia
jus à preservação da vida material, o operário tem todos os direitos
de cidadão, todos os direitos individuais, todos os direitos civis, e, dotado,
como os demais brasileiros, de todas as garantias constitucionais,
não se queixa senão de que às relações peculiares do trabalho com o capital
não corresponda um sistema de leis mais eqüitativas, a cuja sombra
o capital não tenha meios para abusar do trabalho.

ABOLICIONISMO E REFORMA SOCIAL

Evidentemente, senhores, as duas situações distam imenso
uma da outra. Entre a posição do trabalhador e a do escravo não há
nada substancialmente comum. Mas uma relação de analogia as subordinam
à mesma ordem moral de idéias. Ambas interessam ao trabalho: a
primeira, nas liberdades elementares do homem e do cidadão, e a segunda,
na independência econômica do trabalhador. O abolicionismo restituiu
o escravo à condição humana. A reforma social, na sua expressão
moderada, conciliatória, cristã, completaria, no operário livre, a emancipação
do trabalho, realizada, outrora, em seus traços primordiais, no
operário servil. Entre um e outro caso, portanto, não vai mais do que
uma transição natural, a que os sobreviventes da luta abolicionista não
deverão negar o seu concurso.

Abolicionista de todos os tempos, zeloso do meu título de
serviços a essa causa bendita, por obrigado me tenho eu, na lógica das
minhas convicções, na coerência dos meus atos, a considerar-me inscrito
entre os patronos da causa operária, naquilo em que ela constitui, realmente,
um corpo de reivindicações necessárias à dignidade humana do
trabalhador e à ordem humana da sociedade.
SOCIALISMO

Teria eu dito alguma vez qualquer cousa divergente desta proposição?
Estarei, acaso, em contradição com ela, por haver declarado
que não era socialista? Mas, senhores, socialista é o adepto do socialismo,
e o socialismo é uma teoria, um sistema, um partido. No socialismo,
pois, como em todas as crenças de partido, em todos os sistemas,
em todas as teorias, a um fundo verdadeiro, com acessórios falsos, ou
um fundo errôneo, com acidentes justos.


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Os teoristas, os sistemáticos,
os partidistas não discriminam entre o grau de verdade e a liga de erro,
que a inquina, ou entre a base de erro e a superfície de verdade, que o
recobre, e, amalgamando tudo em uma só doutrina inteiriça, estiram a
verdade, por exageração, até os limites de erro ou impõem o erro como
conseqüência inseparável do assentimento à verdade.

Eis por que motivos, senhores, grave desacerto me parece reduzir
a boa causa operária a uma dependência essencial da sistematização
socialista. Daí o não alistar-me eu no socialismo, professando, entretanto,
ao mesmo tempo, como tenho professado, a mais sincera adesão
ao movimento operário nos seus propósitos razoáveis, nas aspirações
irrecusáveis, que encerra, em muitos dos seus artigos, o seu programa
de ação.

A concepção individualista dos direitos humanos tem evolvido
rapidamente, com os tremendos sucessos deste século, para uma
transformação incomensurável nas noções jurídicas do individualismo,
restringidas agora por uma extensão, cada vez maior, dos diretos sociais.

Já se não vê na sociedade um mero agregado, uma justaposição de unidades
individuais, acasteladas cada qual no seu direito intratável, mas uma
entidade naturalmente orgânica, em que a esfera do indivíduo tem por limites
inevitáveis, de todos os lados, a coletividade. O direito vai cedendo
à moral, o indivíduo à associação, o egoísmo à solidariedade humana.

Estou, senhores, com a democracia social. Mas a minha democracia
social é a que preconizava a cardeal Mercier, falando aos operários
de Malines, essa democracia ampla, serena, leal, e, em uma palavra, cristã:
a democracia que quer assentar a felicidade da classe obreira, não
nas ruínas das outras classes, mas na reparação dos agravos, que ela,
até agora, tem curtido.

Aplaudo, no socialismo, o que ele tem de são, de benévolo, de
confraternal, de pacificador, sem querer o socialismo devastador, que,
na linguagem do egrégio prelado belga,
amimando o que menos nobre é no coração do homem, rebaixa
a questão social a uma luta de apetites e intenta dar-lhe por solução
o que não poderá deixar de exacerbá-la: o antagonismo das classes.

A meu ver, quando trabalha em distribuir com mais equanimidade a riqueza
pública, em obstar a que se concentrem nas mãos de poucos
somas tão enormes de capitais, que, praticamente, acabam por se
tornar inutilizáveis, e, inversamente, quando se ocupa em desenvolver
o bem-estar dos deserdados da fortuna, o socialismo tem razão.

Mas não tem menos razão, quando, ao mesmo passo que trata de
imprimir à distribuição da riqueza normas menos cruéis, lança os alicerces
desse direito operário, onde a liberdade absoluta dos contratos se atenua,
quando necessário seja, para amparar a fraqueza dos necessitados contra a
ganância dos opulentos, estabelecendo restrições às exigências do capital, e
submetendo a regras gerais de eqüidade as estipulações do trabalho.

Estas considerações terão aqui, hoje mesmo, a explanação
devida, quando vos eu minudenciar a minha maneira de sentir acerca de
cada um dos pontos, em relação aos quais, entre nós, se têm articulado
as reclamações operárias. Mas bastaria o que já levo dito, para liquidar as
falsidades, que me denunciaram à vossa malquerença como um espírito
obcecado à justiça das vossas reivindicações.



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NEFELIBATAS

Quereis, entretanto, ver que é o que são os meus acusadores?
Assombrai-vos em o apreciar no discurso do senador rio-grandense, que
tomou a si, na baixa comédia da Convenção, a tarefa de reduzir a pó a
minha entrevista com o Correio do Povo, de Porto Alegre, sobre a revisão
constitucional. Nessa oração, em que o espírito reacionário corre parelhas
com a insensibilidade à vida contemporânea, nos declara peremptoriamente
o situacionismo borgista que o estado não pode intervir com
as suas leis nas discórdias entre o capital e o trabalho, e que “a Liga das
Nações constitui uma hipótese muito longínqua”.

Não quero ventilar agora as opiniões do venerando nefelibata.
Só um habitante das nuvens, estrouvinhado ao acordar na Terra, poderia,
neste momento, relegar para o domínio das hipóteses remotas a Liga das
Nações, com a missão de negociar a qual o Brasil tem, agora mesmo, na
Europa, uma embaixada. Só um espírito extraviado nos domínios astrais
poderia contrapor-se agora à evolução geral do mundo, arrastado em tor-
rente para as concessões ao socialismo, negando, com esses ares categóricos,
à lei, o arbítrio de intervir nas controvérsias entre obreiros e patrões.

“JÁ COMEÇAM...”

Estou já muito velho, para sustentar conclusões magnas sobre
a existência do sol e da lua, do dia e da noite. Quando me saem ao encontro
com certos arrojos em tom de coarctadas, lembra-me o caso, que
muitas vezes ouvi contar, do Marquês de Abrantes em um baile de rapazes.

Quando o acatado conselheiro de Sua Majestade assomou ao topo
da escada, no palácio onde corria a função, os moços, em vez de se
apressurarem a lhe agradecer a honra da presença, tiveram a indiscrição
de se lhe dirigir como a um convidado ordinário, perguntando-lhe pelo
convite – “Seu cartão, Sr. Marquês?” “– Ah! – respondeu ele – já começam
com asneiras? Então vou-me embora.” Os estudantes caíram na
conta da tolice, desmancharam-se em escusa, e acabou, sem mais nada,
o incidente.

CONTRADIÇÕES

Mas, senhores, o que se me antolha, na verdade, estupendo, e
não se poderá deixar correr sem advertência, é que, dentre a mesma
gente, cujas exigências me requerem uma conciliação com o socialismo,
para granjear o voto operário, surja, entonada e retumbante, na consagração
da candidatura, oposta à minha, o desengano mais radical às esperanças
das classes trabalhadoras em uma legislação, que nos dê, quanto
às relações do trabalho com o capital, alguma coisa das notáveis conquistas
a tal respeito já sancionadas entre os mais bem organizados países
do mundo.

Vede como entre esse gentio da nossa politicalha se pratica a
lisura, como esses discípulos de Comte vivem às claras, como nessa escola
da austeridade se cultiva esta virtude. Com os sufrágios do operariado
não podia eu sonhar, porque ainda lhe não dera arras de correligionário
nas idéias de renovação da sociedade; porque não jurara bandeira no socialismo;
porque não comia praça de soldado nas suas legiões. Todos esses
sufrágios, porém, se devem concentrar no candidato da Convenção
dos Sete, justamente porque essa candidatura nasce ao grito de intransigência
dos seus autores contra as pretensões do operariado à interferência
da lei nas relações dele com o capital.



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Onde já se viu tranquiberniar igual com a própria consciência
e a consciência alheia? A ortodoxia rio-grandense não quer negócio comigo;
porque eu sou revisionista, e ela não transige com a revisão. Mas
adota o candidato da Convenção do Carnaval, cujo revisionismo, tão declarado
quanto o meu, não tem, sequer, para sossego dos anti-
revisionistas, a vantagem de estar rigorosamente definido e circunscrito,
individuadamente, a certos pontos. O puritanismo rio-grandense não
tolera conversas com a indicação do meu nome, por ser de notoriedade
que eu simpatizo com a regulamentação do artigo 6º, norma constitucional
da intervenção nos estados, e não admitir o governo do Rio
Grande que ninguém lhe meta o bedelho em casa. Mas apadrinha o candidato
da Convenção de fevereiro, embora este, no seu discurso de 23
de maio de 1893 à Câmara dos Deputados, haja abertamente pregado a
intervenção federal naquele estado. A imaculadidade rio-grandense arrenega
da hipótese da presidência Rui Barbosa, em razão de haver este sujeito,
um dia, argüido a Constituição rio-grandense de contrária à Constituição
nacional. Mas essa mesma virgindade sem mácula antes, durante
e depois do parto, essa mesma política da conceição imaculada, essa
Clotilde intemerata não hesita em assumir a iniciativa da candidatura
Epitácio Pessoa, sem lhe importar que um dos fastos mais insignes deste
ilustre repúblico seja a sua declaração tonitruante, nas filípicas da sua
estréia contra o florianismo e o castilhismo, de que “o Rio Grande do
Sul não tem Constituição”.

Não tem Constituição o Rio Grande do Sul? Quem o brada é
o candidato do Monroe, e, não obstante, é o Rio Grande do Sul quem
lhe levanta a candidatura, recusando a minha, porque eu não acho constitucional
a Constituição rio-grandense.

Maior é, destarte, o meu crime, dando por inconstitucional a
Constituição do Rio Grande, que o do meu opositor em sustentar que
essa Constituição nem sequer existe.

Risum teneatis, amici? Senhores meus, não arrebentais de riso
ao espetáculo desses santos, desses altares e desses levitas? Ou entrais
também na pilhéria, começando a sentir, como eu, pruridos reverenciais
para com essas ortodoxias, essas religiosidades, esses pontífices do catecismo
conservador?

ENTRA-SE A CONTAS

Mas, senhores, já que me constrangem a trazer a este auditório
a questão social, de cujo melindre intimamente escarnecem esses exploradores
e zombadores de tudo, aceito o repto, e entremos a contas.

Venham com as suas os homens, que há trinta anos, se assenhorearam
da república, e nela, vai por trinta anos, parasiteiam à
tripa forra. Que fizeram eles, nesses seis lustros, nesse terço de século,
pela causa do trabalho nesta terra, eles, os únicos em cujas mãos está,
para tudo, a faca e o queijo, a faca rija no corte e o queijo inesgotável
no miolo?

CASAS DE OPERÁRIOS

O primeiro movimento, que nesse terreno, vimos delinear-se,
foi o da habitação do operário. Foi logo nos primeiros anos do regímen,
várias leis municipais tentam estimular a bem da idéia o interesse privado.

Em 1894 assina essa municipalidade, para a construção de casas adequadas
à condição do operariado, um contrato com o engenheiro civil
Agostinho dos Reis, zeloso amigo dessa classe, a cujo desenvolvimento
se tem consagrado com carinho. Mas bem prestes se reconhece a urgência
de novas medidas legislativas, sem as quais estava condenado o cometimento
a malograr-se. Nomeia-se uma comissão, e o seu projeto,
submetido, por mensagem do Presidente ao Congresso Nacional em
1904, leva bons sete anos, para se converter na lei de 20 de janeiro de
1911, a que o governo Hermes, em todo o curso do seu memorando
quadriênio, não acedeu em dar regulamento, e que, ainda hoje, está por
ser regulamentada.

O grande marechal não queria ver a solução do problema
operar-se naturalmente no domínio da legalidade. O seu elemento era o
arbítrio, e o caso estava pedindo um arbítrio digno da sua agigantada figura.



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Era um fogo de vistas, que devia custar cerca de quinze mil contos
à Nação. O pai dos operários deu-se-lhes a ver na sua glória de bichas
chinesas, semeando vivendas baratas para as classes populares. Os trezes
ou quinze mil contos arderam fulgurosamente. Mas, quando acabaram
de estourar, no fogo preso, os últimos petardos, os operários, engodados,
até então, com as sedutoras promessas, pouco mais viram da casaria
esperada, que os castelinhos de vento nas roscas da fumaça, o dinheiro
público em cinza, e os vestígios de um famoso desastre, coroado por
um suicídio.

Eis aí, pois, senhores, como se acha atendido, entre nós, pela
ciência republiqueira, pelo tino dos administradores indígenas, esse reclamo
da humanidade, que, poucos anos há, na Sociedade Francesa de Habitações
Baratas, o Sr. Ribot, o economista, o financeiro, o homem de
Estado, traduzia nestas palavras lapidares:

É mister que a nossa sociedade mostre haver compreendido o
seu dever para com todos esses homens, que são, politicamente,
nossos iguais, mas que, hoje socialmente, não o são, e padecem
como mau agasalho onde habitam. Não os devemos deixar na promiscuidade
ignominiosa dessas pocilgas, com que se desonram certos
bairros das nossas cidades. Muito pedimos aos nossos concidadãos.

Até o sacrifício da vida lhes podemos requerer, quando cumpra.
Mas temos, a seu respeito, deveres, o primeiro dos quais é não
os deixarmos vegetar em condições indignas de uma sociedade estribada
no respeito aos diretos e na fraternidade humana.


O estrangeiro, que, com expressões tão carregadas, lá se indigna
contra o atraso dessa aspiração civilizadora em terras como as de
França, não poderia suspeitar, nem de longe, o que vai por esta metrópole,
engalanada, para deslumbramento dos forasteiros, com as maravilhas
de uma natureza incomparável; por esta metrópole cortada e orlada,
a capricho, de avenidas ideais, de jardins encantados, mas abandonada,
quanto às necessidades mais graves da existência dos inditosos, a extremos
de miséria e dureza, que arrancariam lágrimas às pedras.

Até agora o abrigo das classes proletárias é, habitualmente, a
casa de cômodos, ou a triste arapuca de retalhos de zinco, latas de querosene
e caixas de sabão. Na casa de cômodos se atestam criaturas humanas
como sacos em tulhas, em uma promiscuidade inconcebível, que lembra
os quadros do tráfico negreiro: os porões coalhados de homens, mulheres
e crianças, como de fardos mortos, em uma tortura de mil torturas,
que gela a imaginação transida e horripilada. Os covis de sarrafos e folhas
-de-flandres se agacham e penduram vacilantes, à encosta dos morros
suspeitos, como canis de rafeiros maltratados, onde entes humanos se dão
a si mesmos a ilusão de estarem ao abrigo das intempéries, das sevandijas,
dos bichos daninhos, que por toda a parte os varejam e infestam.
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Para não cuidardes que vos esteja inventando quadros imaginários,
ouvi o depoimento do Dr. Alfredo Leal de Sá Pereira, em
uma comunicação dada à luz no Jornal do Comércio, aos 30 de janeiro
de 1919:

São habitações sem ar e sem luz, onde adultos e crianças vivem
na mais sórdida promiscuidade; onde os mais pudicos, quando
obedecem às leis de perpetuação da espécie, abrigam-se por trás de
uma cortina rota, quase transparente; onde, à noite, em um ambiente
fechado, respira o triplo das pessoas que o mesmo poderia comportar;
onde os gêneros alimentícios, pendentes das paredes, contribuem
para perfumar o ambiente malcheiroso; onde os fogareiros, de
carvão ou querosene, enegrecendo os muros, asfixiam e enjoam;
onde o tuberculoso, escarrando por toda a parte, mimoseia os seus
próximos com presentes gregos; onde crianças imundas e enfezadas
brincam em corredores sombrios; onde, em bacias de folha, se lava
a roupa dentro do próprio quarto e põe-se a secar às janelas, quando
as há.

Imaginaríeis porventura, que, de então a esta parte, melhorassem,
de qualquer modo, as coisas? Pois escutai o que, ainda em 3 do mês
passado, estampavaA Noite, debaixo do título “Matadouros de gente”:

Que dizer das paredes de tais quartos de improviso, que são
limitados por divisões de madeira tosca, de pano e, até, de folhas de
zinco! Que dizer de morada em porões e sótãos baixíssimos, sem
luz, nem ar! Que dizer de aproveitamento de vãos por baixo de escadas,
despensas, áreas, copas e, até, gabinetes de latrina, para de
tudo fazer dormitórios!

Atendei ainda, meus amigos. É o nosso popular vespertino,
que prossegue:

No que toca a banheiros, é simplesmente inacreditável o que vimos,
por exemplo, na estalagem cuja fotografia publicamos, estalagem,
que tem 69 cômodos, com 247 pessoas e um só banheiro. Mas há melhor:
são as habitações sem banheiro, como uma estalagem de 15 casas,
onde moram 49 pessoas, e outra de 39 casas, com 193 pessoas.

Vede mais, senhores, até onde vão esses incríveis requintes de horror.
É a mesma folha quem testemunha:
Foi encontrada uma casa, onde a água de beber era retirada de
um tubo, que vinha recurvar-se por sobre o vaso da latrina, em cujo
interior era preciso introduzir a vasilha, para apanhar a água.

O TRABALHO DOS MENORES

Outro projeto de alta inspiração moral assinalou os primeiros
atos deste regímen, ainda sob o Governo Provisório. Foi o decreto, que
ele expediu, em 23 de janeiro de 1891, estabelecendo providências para
regularizar o trabalho dos menores, empregados nas fábricas da capital.

Essa lei, onde se fixava, a respeito dos operários menores, o mínimo da
idade, e se limitavam as horas de trabalho, explicava a deliberação do
Marechal Deodoro e seus ministros, com o desígnio, exarado no seu intróito,
de “impedir que, em prejuízo próprio e da prosperidade futura da
pátria, sejam sacrificadas milhares de crianças”.

Pois bem, senhores: esse ato legislativo não se regulamentou
até hoje. Quer dizer que se deixou de todo em todo sem execução,
como se nunca houvera existido. Destarte, pois, durante não menos de
trinta anos, um após outro, se continuaram a imolar os milhares de crianças,
cujas vidas o grande coração do Marechal Deodoro e o patriotismo
do heróico soldado brasileiro queriam salvar. Terrível hecatombe
ânua de inocentes cuja responsabilidade se averba toda ao débito da
nossa politicalha, da sua crua indiferença e da sua gélida insensibilidade.

HORAS DE TRABALHO

Vinte e dois anos depois surgia o Projeto nº 4-A, de 1912, o
primeiro que, entre nós, se ocupou em limitar as horas de trabalho, e providenciar
sobre os operários inutilizados no serviço. Mas essa tentativa,
depois de invernar cinco anos nas pastas da Câmara dos Deputados, desapareceu,
afinal, em 1917, em um substitutivo, mais tarde abandonado.

Eis a história legislativa do movimento de reforma social, até
o ano passado, até a lei sobre os acidentes de trabalho, em que daqui a
pouco me deterei alguns instantes.

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A SORTE DO OPERÁRIO

Nada se construiu. Nada se adiantou, nada se fez. A sorte do
operário continua indefesa, desde que a lei, no pressuposto de uma
igualdade imaginária entre ele e o patrão e de uma liberdade não menos
imaginária nas relações contratuais, não estabeleceu, para este caso de
minoridade social, as providências tutelares, que uma tal condição exige.

As fábricas devoram a vida humana desde os sete anos de idade.
Sobre as mulheres pesam, de ordinário, trabalhos tão árduos quanto
os dos homens; não percebem senão salários reduzidos e, muitas vezes,
de escassez mínima. Equiparam-se aos adultos, para o trabalho, os menores
de quatorze e doze anos. Mas, quando se trata de salário, cessa a
equiparação. Em emergências de necessidade todo esse pessoal concorre
aos serões. O horário, geralmente, nivela sexos e idades, entre os extremos
habituais de nove a dez horas quotidianas de canseira.

HIGIENE

Quanto às condições de higiene, em que essa população, avergada
à carga da vida, se entrega à faina diária, não posso avaliar se tem
melhorado consideravelmente do que era há anos, quando um dos nossos
médicos de higiene, o Dr. Ferrari, o descrevia perante a Academia
de Medicina, em um discurso que saiu a público no Correio da Manhã,
com o título “A regulamentação do trabalho nas fábricas”.

O Dr. Domingos Marques de Oliveira, em uma conferência
de que aquele seu colega transcreve trechos notáveis, e que o orador
pronunciara na própria fábrica do Bangu, declarava que todos os tísicos,
de que havia tratado naquela localidade, onde ele clinicava, havia seis
anos, eram tecelões, e atribuía a dilatação desse mal, em grande parte, à
lançadeira de chupar, singular utensílio usado nos teares (não sei se ainda
agora), e de que o operário se serve com a boca, sugando. Esse instrumento
perigoso, a esse tempo já condenado na Europa, obrigava os tecedores
e tecedeiras a esforços persistentes de aspiração, havendo operários
que deviam exercer a sucção cada um em trezentas lançadeiras; e,
passando, sucessivamente, de boca em boca, transmitia, pela comunicação
bucal, o contágio da tuberculose, de que era, segundo o testemunho desses
dois facultativos, “o mais poderoso auxiliar” e “o maior propagador”.

Esses autorizadíssimos depoimentos caracterizam ainda, com
os traços mais desagradáveis, a desordem sanitária daquelas casas: ar viciado,
pela ausência de aparelhos que o renovem; má ventilação; água de
ruim qualidade, sem reservatórios onde se dê a beber; freqüentes lesões
de visão, causadas pela insuficiência da luz e pela insistência de lidar
com os mesmos matizes na tecedura; descaridade com as crianças, so-
brecarregadas, muitas vezes, de labores excedentes da sua capacidade, e
nem ao menos cultivadas com o indispensável ensino profissional.

AS MÃES OPERÁRIAS

Só entre as tribos selvagens, onde a parturiente deixa o varão
na rede com o recém-nascido, enquanto vai ao rio e ao campo labutar
nos deveres caseiros, só aí o mistério da gestação humana e as suas exigências
naturais não encontram, na crise da sua solução tão contingente,
a reverência do homem, a sua solicitude, o redobrar dos seus cuidados.

Em toda a parte se cercam de atenções meticulosas a gravidez
e o parto. Entre os povos civilizados a mulher que está para dar e a que
acaba de dar à luz são sagradas aos olhos do homem. Este sentimento
nobre, porém, ainda não calou bastante nos costumes da nossa indústria.

O caso já não é doméstico. Já o não podemos disfarçar entre as
nossas vergonhas de família; porque uma grande voz estranha, uma dessas
vozes que ecoam no mundo, o denunciou nas reminiscências da sua
visita ao Brasil.

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Clemenceau entre “outros fatos, que muito o contristaram”
entre nós, diz ele, singulariza o de “ver mulheres em adiantado estado de
gravidez trabalhando horas inteiras de pé”. “Não se há mister de ser
médico”, acrescenta o grande francês, “para se sentir o sofrimento dessas
operárias”.

Ainda bem, senhores, que a consciência dos nossos industriais
já se vai elevando bastantemente; e é do seio deles que, com uma autoridade
insuspeita, com uma das maiores autoridades, se ouvia, há pouco
mais de uma ano, em 10 de setembro de 1917, pelas colunas do Jornal do
Comércio, a confissão do sentimento, já existente entre os nossos mais
adiantados industriais, de ser necessário conceder à gravidação e ao parto
dois meses sucessivos de folga no trabalho. O industrial que assina
esta declaração é o Sr. Jorge Street. Eu vos convido, operários, a aplaudirdes
este nome.

A TUBERCULOSE EM OFICINAS DO ESTADO

Não se calcula, senhores, a soma de vidas humanas, imoladas,
ou salvas, que representa a observância, ou inobservância desses mandamentos
elementares da humanidade no regímen das idades e dos sexos,
entre as classes dadas ao trabalho mecânico. Um caso, por exemplo. Há
dois anos, quase dia por dia (26 de março de 1917), se dava ao prelo,
nas folhas d’A Noite, uma comunicação bem relembrável, do Dr. Moncorvo
Filho, sobre a inspeção higiênica dos menores nas casas de ensino,
ou trabalho coletivo. Aí, deplorando o malogro das providências do
general Serzedelo Correia neste sentido, recontava o ilustre pediatra a
história da tuberculose nas oficinas públicas da Casa da Moeda. A tísica
abrangia, ali, setenta por cento dos obreiros menores. Isto é: mais de
dois terços dos meninos adolescentes, reunidos naquele serviço, estavam
tuberculizados.

Mais: nesse estabelecimento, onde, aliás, segundo essa abalizada
testemunha, “as condições higiênicas nada deixavam a desejar”, morriam,
cada mês, um ou dois operários dessa terrível doença. Veio, porém,
uma administração bem inspirada, a do Sr. Honório Hermeto, que
se afervorou na vigilância e diligência a respeito dessa necessidade de
mal atendida, pondo em efeito as medidas sanitárias, aconselhadas pelo
caridoso higienista; e, executadas estas com rigor, nunca mais ocorreu,
ali, um óbito de tuberculose, nunca mais, naquele ramo do nosso operariado,
cuja situação era tão dolorosa, nunca mais se deu por um caso de
tuberculose.

TUDO POR FAZER

Eis, senhores, no escorço que este lugar me permitia, uma
idéia suscita da extensão do território imenso por lavrar na vastidão extensíssima
e complexíssima dos assuntos que entendem com a sorte do
operariado, que, sendo a sorte do nosso trabalho, é a sorte, assim da
nossa indústria, como da nossa agricultura, e, portanto, a sorte do país.
Feito não há nada. Tudo por fazer.

ACIDENTES DO TRABALHO

Apenas agora vemos surdir a lei de 15 de janeiro deste ano,
cujo regulamento, por milagre de celeridade a que não estamos acostumados,
se deu à estampa um destes últimos dias. Essa lei, com o seu
acessório executivo, “regula as obrigações resultantes dos acidentes do
trabalho”. É o que a sua rubrica oficial nos promete. Estará de acordo
com o prometimento da tabuleta a mercadoria exposta?

Primeiramente, o regulamento não extraiu da lei tudo o que
podia extrair. Como a lei, no artigo 3º, circunscreveu aos casos do emprego
de “motores inanimados” os estabelecimentos industriais e trabalhos
agrícolas, cujos operários têm direito à restituição do dano que sofrerem,
a explanação regulamentar excluiu os operários das pedreiras e
os mineiros. Já o Sr. Costa Pinto, secretário do Centro Industrial, demonstrou
que a regulamentação está errada. Estas duas lacunas, que ele,
com razão de sobra, censura de “gravíssimas”, não podem correr por
conta do legislador, em cujo texto cabem, sem nenhum esforço de acomodação,
tanto os mineiros, como os cavouqueiros.




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Assim, os que moirejam em canteiras, como os que labutam
em minas, quer os especializados nos misteres de perfuração e conservação
dos poços e galerias, quer os dados à extração dos minerais, todos
lidam com o auxílio de “motores inanimados”. Tais são as tranvias, os
explosivos, as bombas, os ventiladores, os ascensores e outros mecanismos
imprescindíveis ao desenvolvimento da humana atividade, seja no
minerar, seja no escavar das pedreiras.

Tão mal-aventurados somos nós, que, ainda quando uma elucubração
oficial de tão bons instintos, como esta, e tão bem encaminhada
na seleção dos seus colaboradores, se desvia da trilha usual das incompetências
e negligências, nem por isso a obra deixa de vir, já do nascedouro,
torta, ou mutilada.

Mas não é só o desdobramento regulamentar que se acha incompleto
e omisso. A lei mesma, cobre estar incursa em omissões capitais,
não corresponde ao que anuncia, não se desempenha do que promete:
aos próprios operários contemplados no âmbito das suas disposições
não assegura a reparação dos acidentes do trabalho.



A EXCLUSÃO DO TRABALHO AGRÍCOLA

A omissão, de que me queixo, senhores, brada aos céus. A lei
não considerou senão o trabalho industrial. Como explicar singularidade
tão extravagante, qual a de, num país essencialmente agrícola e criador,
se esquecerem do trabalho da criação e do da lavoura, os dois únicos ramos
de trabalho atualmente nacionais, os dois sós, em absoluto, nacionais,
os dois, onde assenta a nossa riqueza toda, a nossa existência mesma,
e sem os quais a nossa própria indústria não poderia subsistir?

Nenhum gênero de labor demanda, entre nós, tão séria atenção
dos poderes do estado, como esse dos campos. Há, na sua vastidão
imensurável, verdadeiros desertos morais, de todo em todo ínvios, selvas
de terror e crueza, quase impenetráveis e, até hoje, absolutamente
virgens da luz da civilização.

Nos recessos desses sertões, não só nas paragens mais recônditas,
mas ainda muito aquém, aí por onde já passam, de longe a longe, rastros
de curiosidade, ou abre inesperadas clareiras o acaso de excursões
perdidas, o trabalho vive a morrer, muitas vezes, num regímen análogo ao
do cativeiro. O peão, o vaqueiro, o lenhador, o obreiro agrícola, o colono
são, à vezes, instrumentos servis de um patronado cruel e irresponsável.

Também entre nós muita coisa existe, por aí além, dessa peonagem
mexicana, que celebrizou o Iucatã, a terra das agáveas, onde o
mecanismo de crédito e débito entre senhores territoriais e servos agrícolas
eterniza a escravidão branca, num regímen que aboliu o seu nome,
para não ser inquietado na sua perpetuidade. Aqui também as contas
dos operários rurais nos armazéns de venda, mantidos nas estâncias e
fazendas, espremem os trabalhadores do campo na entrosagem de uma
dependência, que, se não é nem o cativeiro, nem a servidão da gleba,
tem, pelo menos, desta e daquele as mais dolorosas características morais,
as mais sensíveis derrogações da condição humana.


Esquecendo-se do trabalho rural, a lei recém-regulamentada
apresenta um verdadeiro saco de carvão, toda uma região abandonada e escura
no estrelado horizonte das suas esperanças. Os acidentes do trabalho
não sucedem menos amiúde no agrícola do que no industrial. São,
pelo contrário, talvez, ainda mais amiudados na lavoura do que na indústria.

Considerai no desbravamento das florestas, nessas derrubadas,
em que o derrubador maneja, muita vez, no seu machado a própria
morte, em que a árvore tantas vezes esmaga o mateiro. Lembrai-vos da
mortandade pelo veneno das cobras, a surpresa do réptil ao calcanhar
nu, às mãos indefesas, ao colo descoberto. Pensai na malária, reinante
nessas paragens incultas, alagadas, paludosas, onde o desbravador, o caçador,
o lavrador se vão arrostar com os pântanos, os brejais, as lamas
da terra decomposta.”



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E vede se podeis estar lá convosco tudo o que de
acidentes do trabalho se deixa sem resguardo, sem compensação, sem
alívio de qualidade alguma, porque o legislador, enleado no gozo das cidades,
absorto na vida urbana, deslembrando-se de que o Brasil é principalmente
o campo, o sertão, a fazenda, a pradaria, a mata, a serra, o
gado, o plantio, a colheita, o amanho dos produtos agrícolas, excluiu
dos benefícios da lei sobre acidentes do trabalho o operariado rural.



SEGURO OPERÁRIO

Mas já vos disse que não é tudo. Nem isso é o pior. O pior
está em que, embalando o operariado industrial na esperança de lhe haver
granjeado a indenização dos acidentes do seu trabalho, a festejada lei
não lhe dá, na maioria dos casos, senão a sombra dessa garantia.

O projeto Prudente de Morais impunha aos patrões segurarem
os operários em companhias de idoneidade averiguada. A lei, que o
rejeitou, e substituiu, em tal não toca. O regulamento, que mais não podia
fazer, mal se ocupa do seguro facultativo. Ora, para o seguro facultativo,
não se precisava de auxílio da legislação: era matéria de contrato; e,
demais, admitir o seguro permissivamente vinha a dar no mesmo, que
deixar o seguro em letra morta. O operário não tem meios de constranger,
nos seus ajustes, o patrão à cláusula do seguro. Como nos
mais dos outros capítulos, em que o interesse do trabalho aparenta colidir
com o interesse do capital, a dúvida, aqui, só se resolve, seriamente,
com a substituição do princípio contratual pela tutela legislativa.

Refugado o projeto do eminente deputado paulista, com ele
se enjeitaram as duas condições essenciais à realidade cabal da indenização
dos acidentes do trabalho: o seguro, ou o depósito, no Tesouro Nacional,
pelo estabelecimento, industrial, ou companhia, de uma soma
calculada na razão do número dos seus trabalhadores.

A garantia dos bens da sociedade ou empresa, a cujo serviço
estiver a vítima do acidente, não lhe afiança, no maior número de casos,
o embolso da indenização. Além das fábricas, vastas categorias há de
grandes indústrias (e estas vêm a ser, talvez, as que mais larga superfície
abarcam, no campo industrial) nas quais os bens das associações, ou firmas,
de cujo pessoal for membro o operário, não lhe asseguram a satisfação
do dano, a que houver sido condenado o responsável.

Entre essas categorias, indicarei as construções civis e as estradas
de ferro. O direito de preferência excepcional, outorgado pela lei
ao operário, sobre a produção da fábrica, onde ocorreu o acidente, não
vale nas hipóteses de obras dessa natureza ao obreiro prejudicado. As
construções civis, habitualmente, se fazem por conta de terceiro. Ora, é
ao empreiteiro que o operário serve. Sobre o empreiteiro, pois, é que recai
a responsabilidade. O trabalhador lesado, logo, não tem diante de si
nenhuma garantia real, o crédito pessoal do construtor é, destarte, o seu
único elemento de segurança. Nas construções de estradas ocorre, quase
sempre, a mesma situação. São empreitadas, que se executam, ordinariamente,
por conta da administração pública, ou de associações, reduzindo-
se os seus contratos com os empreiteiros à obrigação de lhes retribuírem
a obra construída e entregue.

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" Mas, ainda quando se trate de estabelecimentos industriais,
muitos haverá que nem com o seu material, nem com a sua produção
ofereçam, aos trabalhadores, ou suas famílias, a garantia de haverem
a indenização obtida por sentença. Demos, por exemplo, uma fábrica
de explosivos, ou um estabelecimento destinado às manipulações,
que se exercem, sobre matérias inflamáveis. Uma oficina na dessas
pode voar, de um momento para outro, numa explosão, ou arder até
aos seus últimos restos, em um desses incêndios, cuja violência e rapidez
são irresistíveis. Um incêndio ou uma explosão destas importam
na extinção das sociedades, ou na ruína total do patrimônio dos
capitalistas, a quem pertenciam os bens destruídos, se os seus donos
os não houverem acautelado com o seguro; e, sendo assim, qual a
matéria executável, sobre que iria cair a execução do operário vencedor
na ação judicial?

Em todos esses casos, portanto, operários brasileiros, estaríeis
inteiramente logrados. Além do que, senhores, ainda nos casos em que a
indenização estiver perfeitamente assegurada pela existência de haveres,
sobre os quais possa recair a ação do exeqüente, por mais sumário que
seja o curso do processo, nunca a liquidação do crédito das vítimas do
acidente se consumará com tanta presteza como, no caso do seguro
operário, o seu embolso ao segurado.

Seguro, ou caução, pois, senhores. Não há outro alvitre, para
dar realidade à indenização dos acidentes no trabalho, para que esse benefício
não seja a partilha de uns e o desespero de outros.

PARCIALIDADE LEGISLATIVA

Evidentemente, senhores, se na elaboração desta lei se houvesse
guardado a devida imparcialidade; se o legislador tivesse dado ouvidos
à justiça de uma e outra parte; se o Congresso Nacional encarasse
com os mesmos bons olhos os legítimos interesses dos patrões e os interesses
legítimos dos trabalhadores – a recente lei, construída como
obra de boa-fé e reconciliação sincera entre as duas classes, poderia durar,
debaixo das bênçãos de todos, com a majestade séria de um monumento
do tino político dos nossos homens.

Não o quiseram assim, e isso tanto menos desculpavelmente,
quanto não faltou, na representação nacional, quem acendesse, não o archote
de luz avermelhada e fuliginosa, com que se ateiam as paixões,
mas o farol da lealdade e da clareza, com que se alumia o caminho da
razão. A razão não exigia muito, senhores, e por várias razões.

Muito não exigia, primeiro, porque, se bem viesse o seguro
obrigatório a exigir da indústria o sacrifício de alguns dos seus lucros,
não se poderia sustentar que essa exigência importasse em excesso, num
país onde a indústria vive, em boa parte, artificialmente, de protecionismo,
que tanto custa às classes populares; e não seria sem razão que, em bem
destas, se abatesse àqueloutras certa parcela dessas vantagens anormais.

Não exigia muito, em segundo lugar, porque o seguro cumulativo,facilitado hoje pelas grandes companhias seguradoras, com taxas relativamente módicas, em se tratando, como nestes casos, de operações em massa, adoçaria muito ao capital o peso dessa contribuição para o
bem-estar dos auxiliares indispensáveis da sua prosperidade.
Em terceiro lugar, ainda não exigiria demais, porquanto, em relações como são as do operariado com o patronado, nas quais se introduzem e reinam tantos preconceitos, tantas desconfianças, tantos atritos, as concessões dos ricos aos pobres, dos poderosos aos humildes, por mais que aproveitem aos pobres e humildes, sempre redundam em benefícios de ainda maior utilidade aos poderosos e ricos, pela influência sedativa
com que, de uma a outra parte, harmonizam os interesses em contacto.

É, naturalmente, a essa ação conciliativa e refrigeradora das
concessões oportunas que aludia o Dr. Jorge Street, quando, poucos
dias há, se enunciava deste modo:


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“Os operários têm direitos, que o patrão deve reconhecer sem
luta, harmonizando os interesses “recíprocos; o que é sempre possível,
quando o patronado se põe diretamente em contacto com os
seus operários e compreende a evolução geral."

No Brasil, porém, nunca se faz coisa boa senão de má vontade,
tarde e mal. Se há interesses em colisão, aos dos desvalidos não se
atende, senão quando os fracos, atinando com o segredo da sua força,
perdem o medo à do poder, para confiar na própria.

LEI MANCA

Eis por que, senhores, a lei da indenização dos acidentes no
trabalho, em vez de ser o que seu título daria a esperar, nos saiu manca,
ilusória e contraproducente. Contraproducente lhe chamo; pois que,
longe de vir como um amplexo cordial entre as duas classes, estabelece
um ponto de partida irresistível a novas reivindicações, que o seu começo
de concessão autoriza e o incompleto dessa concessão irrita.

APELO

Mas, senhores, apelemos, em nome de tudo, para os maiores
interessados, para os que têm a superioridade na cultura, no poder e na
fortuna: para o Governo, para o capital, para a intelectualidade brasileira.
A questão social não é uma daquelas, com que se brinque impunemente.

Não há nenhuma, em que se haja de entrar mais a pleno, com
toda a alma, com todo o coração, com toda a lealdade. A Abolição revestia
gravidade mais imponente; porque a eliminação da humanidade,
que o cativeiro envolvia, era visível e comovia as entranhas mais duras.

A reorganização do trabalho não assume essa grandiosidade religiosa,
nem se distingue por essa luminosa simplicidade. Mas é de uma grandeza
profunda, misteriosa, insinuativa, a que todas as energias do pensamento
se vêem atraídas, e debaixo de cuja expressão complicada se sente
palpitar robustamente a justiça.

Até onde, até onde ela se nos revele, e se nos imponha, ainda
ninguém o sabe. Nem é nas curtas raias de um colóquio destes que me
cumpriria delineá-lo, ou aventá-lo.

PONTOS CULMINANTES

Apenas tocarei por maior (deixando o que por menor a quem
não cabe) os pontos, onde me parecem culminar, já maduras, ou maturescentes,
as oportunidades justas desta causa.

Tocarei apenas, digo, e não catedraticamente, como quem estabelece
um dogma, dá lições, ou resolve teoremas, senão, assim, como
quem, de boa-fé, abre o seio ao desejo de acertar e, apontando o que
acredita racionável, conveniente, necessário, tem, ao mesmo tempo, o
sentimento dos riscos do terreno onde pisa. Incedimus per ignes. Caminhamos
sobre lavas.



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" AINDA O SEGURO

Assim, senhores, a minha primeira convicção, já vo-lo disse, é
que a lei de indenizações dos acidentes no trabalho deixou no ventre materno
o seu órgão vital, e veio a lume já morta de nascença, desde que,
não admitindo nem o seguro, nem o depósito, nega ao direito reconhecido
a garantia certa da sua execução.

A primeira das vossas reivindicações, pois, que se não poderia
indeferir, estará no seguro obrigatório a todas as indústrias como condição
imprescindível à seriedade prática da indenização prometida. Sem a
obrigação do seguro, ou caução, não há, verdadeiramente, reparação assegurada
aos acidentes no trabalho.

TRABALHO E SEXO

A segunda exigência da Justiça, imediata a essa, é a igualdade
dos sexos perante o trabalho. A desigualdade entre os dois sexos era,
sobretudo, num dogma político. Mas da política já ele desapareceu, com
a revolução que introduziu de uma vez no eleitorado britânico seis milhões
de eleitoras que, nos demais países onde a civilização põe a sua
vanguarda, tem elevado a mulher aos cargos administrativos, às funções
diplomáticas, às cadeiras parlamentares e, até, aos ministérios, como em
alguns estados da União Americana, há muito, já se costuma.

Nem suponhais que seja de agora esta minha maneira de ver.
Não bato, senhores, moeda falsa; não tenho opiniões de ocasião. As tendências
da minha natureza, o amor de minha mãe, a companhia de minha
esposa, a admiração da mulher na sua influência sobre o destino de
todos os que a compreendem, bem cedo me convenceram de que as teorias
do nosso sexo acerca do outro estão no mesmo caso da história narrada
pelo fabulista, do leão pintado pelo homem. A mulher pintada pelo
homem é a mulher desfigurada pela nossa ingratidão.

Quando cabeças como a de Stuart Mill assim pensam, não se
há de envergonhar um cérebro ordinário como o meu de pensar tal
qualmente; e, se estas não fossem, há muito, as minhas idéias, não teria
sido eu quem assumiu, no silêncio das nossas leis, a iniciativa de aconselhar
ao ilustre Sr. Nilo Peçanha, quando ministro das Relações Exteriores,
a inovação de admitir uma senhora brasileira a concurso para um
dos cargos da sua Secretaria.

No tocante, porém, ao elemento feminino do operariado, a
desigualdade é de uma insubsistência ainda mais palmar. A guerra
atual evidenciou que a operária rivaliza o operário nas indústrias,
como as de produtos bélicos, e nos serviços, como os de condução
de veículos, em que os privilégios da masculinidade se haviam por
mais inquestionáveis.


O QUE OS CRETINOS HOJE QUEREM FAZER PARECER IDÉIAS SUAS, RUI JÁ AS DEFENDIA COM SEVERIDADE E CLAREZA, FATO QUE PROVA SUA LUCIDEZ E VISÃO CLARA DE DIREITOS O QUE OBVIAMENTE DEXIA CLARO QUE TAMBÉM SABI DO QUE TRATAVA QUANDO SE REFERIA À INDOLE DESTE POVO CRETINO QUE HABITA ESTAS PLAGAS.

APENAS A TÍTULO DE ACLARAR AS IDÉIAS SOBRE A FORMAÇÃO DESSA RAÇA PARVA E IGNARA, ATÉ MESMO OS CORNOS DE PORTUGAL ERAM OBRIGADOS, COMO DEGREDADOS, A VIREM DAR COM OS COSTADOS NESTAS TERRAS, É O QUE DETERMINAVAM AS ORDENAÇÕES FILIPINAS, CUJA PENA PARA OS QUE CONSENTIAM NO ADULTÉRIO DE SUAS VAGABUNDAS ERA O DEGREDO NO BRASIL.


Mas, como quer que seja, toda a vez que a indústria emprega,
indistintamente, parelhamente, identicamente, nos mesmos trabalhos o
homem e a mulher, sujeitando os dois à mesma tarefa, ao mesmo horário,
ao mesmo regímen, não há por onde coonestar a crassa absurdeza
de, no tocante ao salário, se colocar a mulher abaixo do homem. Nada
tem que ver o sexo. A igual trabalho, salário igual.


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" AINDA O SEGURO
TRABALHO E IDADES

Onde se impõe a diferença, é quanto às idades, para se excluírem
do trabalho, industrial ou agrícola, as que o não comportam, e se
obstar à exploração dos operários menores por meio de retribuições mesquinhamente
leoninas. A lei deve taxar o mínimo à idade operária, assim
como ao salário dos menores, e o máximo às suas horas de serviço. Nisto
ponho o terceiro artigo das aspirações da justiça.

DURAÇÃO DO TRABALHO

O quarto diz respeito à limitação das horas do trabalho. Sete
anos há que um projeto, submetido à Câmara dos Deputados, alvitrava
como regra legal o dia de oito horas. Noutro projeto que, há três meses,
apresentava ao Senado o Senador Frontin, era esse o limite máximo do
serviço admissível entre os operários da União. Revela que o princípio se
estenda ao operariado em geral, como se queria no projeto de 1912. A limitação
das horas de trabalho interessa às condições fisiológicas de conservação
de classes inteiras, cuja higiene, robustez e vida entendem com a
preservação geral da coletividade, com a defesa nacional, com a existência
da nacionalidade brasileira. Não será lícito, pois, que o deixemos ao domínio
da contratualidade, que redundaria na preponderância incontrastável
da parte mais forte sobre a mais desvalida.

O TRABALHO NOTURNO

Em quinto lugar, se nos depara a urgência de remediar aos
abusos do trabalho noturno, com providências, que o vedem, ou reduzam
aos casos de necessidade inevitável, mas sempre debaixo de uma
regulamentação restritiva e de uma inspeção real.

TRABALHO EM DOMICÍLIO

Segue-se, em sexto lugar, a precisão de se atender com sérias
medidas a uma das chagas doridas e calmantes da vida industrial: o trabalho
em domicílio, o trabalho em casa. Seqüestrado à comunhão dos
seus companheiros, às vantagens da solidariedade que mediante aquela
se estabelece, o operário insulado entre as suas quatro paredes é um triste
explorado, cuja remuneração baixa a mesquinharias lastimáveis, e que
definha, na condição do mais triste serviçal, condenado à monotonia
eterna da tarefa, miseravelmente paga.

O trabalho em domicílio constitui, para o operário a ele condenado
sem recurso, uma espécie de prisão celular, onde se lhe mirra a saúde,
a inteligência, a capacidade profissional, e a vida se lhe amofina sem
esperança, num cárcere silencioso de portas abertas para uma ilusória liberdade.
As precauções indicadas, ou adotadas contra este mal, chegam
até à proibição absoluta desse regímen de trabalho. A esta solução me parece
que devemos tender. Enganosa creio que seria qualquer outra.

GRAVIDEZ E PARTO

Outra matéria temos ainda, em que se não poderá confiar
com segurança a decisão ao arbítrio dos interessados: é a da proteção da
operária no mês antecedente e no mês subseqüente ao parto. Aqui se
nos antolha uma dessas conveniências, se não necessidades, em que a
coletividade social há de intervir, porque interessam, tanto quanto aos
diretamente interessados, à sociedade toda.
Dentre centenas de milhares de almas que compõem o operariado,
crescendo, constantemente, sobe a dezenas de milhares o número
das mulheres; bem se pode calcular o desenvolvimento, com que no seu
seio se multiplica a maternidade. Consideradas em relação a somas tão
altas, quanto a das criaturas que a ela chega, em uma classe tão vasta, as
exigências dessa época de crise na evolução da criatura humana envolvem
o destino da raça, cuja sorte está, primeiro que tudo, no regaço das
mães. Abrigá-las das demasias do trabalho, eximi-las, mesmo, inteiramente
a ele no termo da gravitação e no período pós-puerperal, será, da
parte do estado, acautelar-se contra o decaimento da espécie, prevenir a
degeneração do tipo nacional, manter as qualidades saudáveis do povo.



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ARMAZÉNS DE VENDA AOS OPERÁRIOS

Considerado, assim, o sétimo ponto, assentemos o oitavo, dos
que se me afiguram predominantes no rol prático dos artigos de ingerência
da lei, nas relações do trabalho com o capital. Aludo aos armazéns
de venda, estabelecidos com a cor de benefício aos trabalhadores,
mas que, na realidade, não são mais do que aparelhos de escravização
deles aos capitais, a cuja indústria servem. As relações de credor a devedor
e devedor a credor, travadas por esse meio entre operários e patrões,
acabam numa sujeição que nunca mais se resolve, num sistema de
usura perpértua e lenta, numa espoliação irremissível, em que se vão todas
as economias do trabalho e, com elas, toda a dignidade, toda a energia,
toda a seiva moral dos trabalhadores.

Seria, provavelmente, inexeqüível o intento de arrancar pela
raiz, em torrão como o nosso, esse praguedo absolutamente daninho. É
mal como o da tiririca, ou o da saúva, contra os quais se baldam o ferro
ou o fogo, e nem por isso o ferro ou o fogo descansam. Mas, nas cidades,
pelo menos, não será impossível que uma combinação de medidas
legais bem estudadas nos acerque da sua extinção total.

Basta, senhores. Não me seria dado ir além. Quis dar-vos apenas
algumas impressões do rumo, que a minha influência, provavel-
mente, seguiria, se eu, nesta matéria, tivesse ou viesse a ter responsabilidades.

REFORMA SOCIAL E REVISÃO CONSTITUCIONAL

Mas aqui esbarramos no obstáculo, que aventei, quando conversava
com a redação do Correio do Povo: no embaraço que a muitas dessas
medidas opõe o nosso Direito Constitucional e, na urgência, portanto,
com que se impõe a revisão constitucional, para chegarmos a essas
medidas.

Mal me pronunciara eu desta maneira, quando, boca que tal
disseste, logo me saiu a desafio um cavaleiro andante dos pampas, dizendo-
me de cambulhada coisas, que estão a marrar umas com as outras.

Porque o ilustre paladino da intangibilidade constitucional, ora me
brada ser “um erro supor-se que a nossa Constituição seja incompatível
com as medidas reclamadas pela questão social do Brasil”, ora, logo de
esfuziada, no período subseqüente, atira à minha ignorância alvar com a
novidade sapientíssima de que “os contratos entre patrões e operários,
sendo instrumentos bilaterais”(o grifo é dele), “não exigem legislação especial,
para serem cumpridos”.

Isto dito, bate, seguidamente, com essas duas proposições
uma contra a outra, acabando por dizer que “o estado, por suas leis, não
poderá intervir nesta questão, senão como garantia da ordem”.

De sorte que, no fim de contas, ninguém será capaz de saber
se esta palmatória dos meus erros se agasta de que eu pretenda alterar a
Constituição, para anular instrumentos de contratos bilaterais, ou de que
eu esteja querendo meter o estado em seara alheia, quando o levo a intervir
por meio de leis na questão social.

O constitucionalista da Convenção das Surpresas não nos deu
a ver por que é que o Estado não se pode ingerir na questão social. Mas,
admitida sem exame, em honra do seu autor, a sentença idemonstrada,
bem claro é que o homem se entala entre as duas portas de um dilema
fatal. Porquanto – ou se trataria de manter a observância dos contratos
entre patrões e operários, e então não seria eu tão asno, que, para tal, advogasse
a reforma da Constituição; – ou o que se quereria era atender às
medidas, reclamadas pela questão social, e, neste caso, o meu contradi-
tor mesmo reconhece que tais medidas se não poderão adotar, sem que
a Constituição venha a ser alterada.

Reconhece, como? Evidentemente: porquanto, no intuito de
mostrar a erronia de se acreditar que a Constituição não seja compatível
com as medidas reclamadas pela questão social, o seu argumento é que,
para a execução de instrumentos bilaterais, celebrados entre operários e
patrões, não se há mister de legislação especial.





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Já se vê que não era um duelo o que eu tinha pela frente: era
um jogo de cabra-cega; e com isso não há que perder tempo.

Não há, por este mundo além, quem embrulhe a questão social
como observância dos contratos livremente celebrados entre o capital
e o trabalho. A mera observância desses contratos é matéria de puro
Direito Civil. Isso se sabe à porta do Fórum.

Mas não será preciso, também, ter lido Comte, para discernir
que, quando se fala em “medidas reclamadas pela questão social”, o em que
se cogita não é em cumprir tais contratos, mas em dar, fora desses contratos,
acima deles, sem embargo deles, por intervenção da lei, garantias, direitos,
remédios, que, contratualmente, o trabalho não conseguiria do capital.

Essas são as leis com que a ortodoxia rio-grandense ali sustenta
que “o estado não pode intervir nesta questão”. Portanto, se dessas
leis intervencionistas é que se cogita, dessas leis, para as quais, segundo
o meu contraditor, o estado não tem competência (isto, justamente,
por lha não dar a Constituição), óbvio é que será necessário alterar a
Constituição, para dar ao estado essa competência, da qual, até agora, a
Constituição o não considera em posse.

Assim o meu alvoroçado embargante, vindo-me ao encontro,
como se faz com terra a desmontar, da primeira lançada, o adversário,
outra coisa não fez, senão me dar razão de todo na minha tese essencial,
na única de que eu podia fazer conta: na tese de que será mister rever a
nossa Constituição, para habilitar o Poder Legislativo a tomar as medidas,
que a questão social lhe reclama.

A ORTODOXIA RIO-GRANDENSE

Nem de outro modo pensaram jamais os ortodoxos
rio-grandenses. Assim se pronunciaram eles, rejeitando o projeto Figueiredo
Rocha, projeto que limitava as horas de trabalho. A maioria da co-
missão, sendo partes nela os Srs. Carlos Maximiliano e Gumercindo Ribas,
condenou o projeto como contrário à Constituição, já por violar a
liberdade industrial, que ela consagra no art. 72, nº 24, já por invadir o
poder de polícia, reservado, segundo a jurisprudência americana, como
pela nossa, aos governos dos estados.

Em ambos estes pontos, estou de acordo com a ortodoxia
rio-grandense. Não alterada a Constituição, não poderia o Congresso
Nacional legislar as mais importantes das medidas sociais, que há pouco
discuti. No em que estamos de rixa aberta é em não quererem eles, e advogar
eu, a revisão constitucional, para chegarmos a essas medidas. Eles
estimam o obstáculo constitucional, para não as dar. Eu, para as dar,
pretendo remover o obstáculo constitucional.





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CARÍSSIMO, COMO JÁ ME DETIVE POR MUITO TEMPO NESTA TAREFA ÁRDUA DE TRANSCREVER RUI NO SEU ARTIGO " A QUESTÃO SOCIAL E POLÍTCA NO BRASIL ATO QUE POR QUESTÃO ATÉ MESMO DE REGRAS DO BLOG, FERE OS PRINCÍPIOS AQUI DETERMINADOS LIMITO-ME DESDE JÁ A REPASSAR O LINK


JUSTIFICO A TRANSCRIÇÃO DE MAIS DA METADE DO TEXTO POR UMA RAZÃO SIMPLES: A PREGUIÇA DE VISITAR OS ENDEREÇOS QUE APONTAMOS NOS NOSSO VISITANTES. FATO QUE SE PERCEBE PELA AUSÊNCIA DE COMENTÁRIOS ACERCA DESTES QUE AQUI POSTAMOS.

NÃO SOMOS DONOS DA VERDADE, MAS, AFIRMAMOS E NÃO NOS EQUIVOCAMOS NESTE PORMENOR, QUE A LEITURA DE TAIS LINKS ELEVAM O DEBATE TRAZENDO IDÉIAS QUE NOS TORNAM MAIS FORTES.


EIS O LINK. A LEITURA É GRÁTIS E O RESULTADO DO SEU CONHECIMENTO É O PROGRESSO.


http://pensadoresbrasileiros.home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/RuiBarbosa/a_questao_social_e_politica.html

A PROPÓSITO; DESCULPEM O TEXTO EM CAIXA ALTA, MAS, EM CERTAS CIRCUSNTÃNCIAS, TEMOS QUE FORÇOSAMENTE GRITAR.


CAI FORA, LULA SAFADO!

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EM TEMPO: Qualquer semelhança com o quadro descrito por Rui e o que hoje vivemos, não é mera conincidência, é a continuidade de um estado de coisas do século XIX, com a farsanteria dos cretinos que dominam o poder e destroem os sonhos e as esperanças daqueles que não se conformam em serem "vacas de presépio".

Quanto aos que preferem que assim continue, que trocam suas esperanças e sonhos por um vez de aguardente ou uma andaina de sarjão, urge tomar-lhes os títulos de eleitores pois não estão aptos a votar por força da ignorância que lhes é peculiar.

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Red carpet,mas com black label, for sure!
Sds.,
de Marcelo.

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Pela primeira vez vejo um rolão tão grande de papel higiênico.
Grande e vermelho.

Ah! para um papel higiênico tão grandão, nada de passar o papel na m*, a m* precisa passar pelo papel...

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