O debate sobre a conveniência de realização de prévias no PSDB acirrou ontem o mal-estar entre os governadores de São Paulo, José Serra, e o de Minas, Aécio Neves. Sob pressão de Aécio, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou ter recebido o aval de Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para submeter a voto a escolha do candidato do partido à sucessão presidencial.Mas, condenando o que chamou de "mega-antecipação" do processo, Serra chamou de "factóide" a disseminação da ideia de que se opõe à disputa."Não sou, nunca fui e não serei contra prévias para escolhas de candidatos, quando não houver consenso sobre nomes. A ideia de que ele [Aécio] é a favor e eu contra prévias, é falsa, é um belo factóide", reagiu Serra.Serra disse que a precipitação da disputa "não faz bem para o país": "Não estou falando como candidato nem pré-candidato a nada. Fui eleito governador no primeiro turno, o que nunca tinha acontecido em São Paulo. Estou no meio do mandato e a responsabilidade e o trabalho são imensos. A mega-antecipação do processo eleitoral, sobretudo num momento de crise, não faz bem ao país. Deixa as tarefas administrativas num segundo plano. Não entrarei nessa", disse e acrescentou que cabe ao partido definir se faz prévias ou não e sobre a forma de fazê-lo.Foi numa tentativa de aplacar a imagem negativa da disputa e por duvidar de um acordo interno que Guerra alegou que a prévia serviria de instrumento para rivalizar com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT."Falei com o Serra que a gente iria regulamentar as prévias e ele disse: "Toca isso aí, estou de acordo'", afirmou Guerra ao relatar conversa que teve com o governador anteontem à noite.O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) também teria concordado com a ideia. "É claro que a regulamentação é para termos as prévias", disse Guerra.Guerra argumenta que recebeu de Aécio, há três semanas, um pedido para que o partido regulamentasse as prévias.Diante da concordância dos dois políticos, o senador disse que irá organizar o partido neste primeiro semestre visando a regulamentação das prévias, que podem ocorrer neste segundo semestre ou no ano que vem. Tudo irá depender do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).Na consulta, o PSDB pergunta se pode durante as prévias fazer propaganda de rua. A aposta é que o TSE autorize.E mais: se é possível que eleitores não-filiados ao partido também participem do processo de escolha. Na prática, seria colocar nas ruas a campanha sob o pretexto das prévias.A Folha apurou com ministros do TSE e advogados que frequentam a Corte que há simpatia com relação aos pedidos do PSDB, embora haja jurisprudência em sentido contrário. O tribunal já deliberou há 16 anos que as prévias devem ser internas e o seu resultado confirmado pela convenção partidária."Vou estudar a fundo os termos da consulta. Eu simpatizo com a ideia das prévias, ela viabiliza o regime democrático", afirmou o presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto.
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