Jornalista: Não votou...
Presidente: O PT não votou porque queríamos uma mais avançada ainda, mas depois assinamos. Eu acho que hoje o presidente da República tem muito menos poder do que, por exemplo, na época do Juscelino. Não vou nem falar dos militares, estou falando dos democráticos eleitos. O Juscelino se fosse presidente da República hoje e pensasse em mudar o [Governo do] Rio de Janeiro para Brasília, ele ainda não teria conseguido licença prévia para fazer a pistazinha para o seu teco-teco pousar aqui. O Meio Ambiente, ou o Ministério Público, ou o Tribunal de Contas, ou o Poder Judiciário, ou quem tivesse perdido a licitação...
Jornalista: Presidente, muito francamente, isso é bom ou é ruim? Então quer dizer que Brasília poderia ver (incompreensível).
Presidente: Eu acho que tem duas coisas importantes. Primeiro, que o País tenha se dotado de amplos mecanismos de fiscalização é bom, é correto e é necessário. Agora, que esses mecanismos de fiscalização sejam a razão de você, muitas vezes, demorar dois anos para começar uma obra, é ruim. Veja uma coisa, num mandato de quatro anos, qualquer que seja o presidente da República, se ele começar uma hidrelétrica, ele não termina ela. Se ele pegar uma estrada de 2 mil quilômetros, entre pensar, fazer o projeto, contratar, fazer licitação, conquistar a licença prévia, vai metade do tempo de construção. E aí começa o processo de judicialização, ou seja, alguém da sociedade entra com uma queixa popular, o Ministério Público acata, o Ibama ainda embarga. Então tem um processo muito moroso. Como fazer para que as coisas tenham a mesma seriedade de fiscalização e, ao mesmo tempo, que a gente não perca... Hoje, quando você faz licitação, quando o Tribunal de Contas está concordando, quando o Ministério Público está concordando, quando as ONGs estão concordando, quando o Ibama já deu licença, quando o dinheiro está depositado no caixa para começar a fazer a obra, sabe o que acontece? Uma empresa que perdeu a licitação entra com um processo, e às vezes leva um ano, um ano e meio, e a obra não sai.Eu acho que o País não pode esperar por isso. Então, era preciso... eu espero que tenha bastante coisas de mudança lá, tem projeto de mudança da lei de licitação, alguma coisa para tornar... Há quanto tempo está se fazendo aquele Anel Viário em São Paulo? Cada dia tem uma coisa... Então, tudo isso eu acho que contribui para o Custo Brasil, as coisas demorarem muito.Então, eu acho que o presidente da República tem menos poder do que já teve neste país, fora o período militar, mas no período democrático. Acho que a Constituição de 1988 diminui o poder do presidente da República e aumenta o poder do Poder Legislativo e das instituições, como Ministério Público. Acho que isso é bom. Agora, é só encontrar o caminho do meio para que essa necessidade toda de fiscalização não seja a razão do impedimento de construir as coisas que precisam ser construídas no Brasil.
Jornalista: Mas o senhor está gostando de ser presidente, não é?
Presidente: Eu, sinceramente, acho que...
Jornalista: O senhor não gostava de ser presidente do Sindicato, não gostou de ser deputado...
Presidente: Parece que o povo está gostando mais do que eu.
Jornalista: Porque o senhor é um dos 80...
Presidente: É que eu tenho, Mário... exercer o papel de presidente é complicado.
Jornalista: Mas é bom.
Presidente: O cerceamento da liberdade individual da pessoa é total. Agora, qual é o prazer? O prazer é que você passou a vida inteira dizendo que era possível fazer algumas coisas, e quando você chega ao governo, começa a realizar. As coisas começam a acontecer e começam a ter o reconhecimento da sociedade. Eu acho que é isso a coisa prazerosa do exercício do poder.
Jornalista: E a frustração, Presidente? O que o senhor achava que dava para fazer mais...
Presidente: Você sempre vai achar que dava para fazer mais. O cara que marca um gol, achava que poderia ter feito o segundo; o cara que ganhou uma medalha de ouro, acha que poderia ganhar a segunda. Um governo, quando termina, ele vai falar “puxa, por que eu não fiz aquilo, por que eu não fiz aquilo?” Não fez porque não foi possível fazer. Nós temos uma visão do segundo mandato, que eu acho que é uma coisa consagradora. Eu sempre tive medo do segundo mandato, e dizia publicamente: eu tenho medo do segundo mandato porque você pode perder a motivação, porque pode virar mesmice, porque pode... Quando nós pensamos em lançar o PAC, a gente pensou em lançar o PAC ainda em 1986. Depois, chegamos à conclusão... Não, em 2006. Depois chegamos à conclusão que a gente não poderia misturar o PAC com as eleições, porque ele perderia força. Então, lançamos o PAC no dia 22 de janeiro de 2007. Esse PAC tem obras e dinheiro até o dia 31 de dezembro de 2010. Portanto, o PAC foi uma coisa que deu ao governo um aprendizado de agilidade e a descoberta que a gente faz das coisas, porque quando você não tinha dinheiro, todo mundo dizia “não tem dinheiro, não tem dinheiro”. Aí, quando você tem dinheiro, você percebe que as prefeituras não tem projeto executivo, não tem projeto básico, você percebe que os estados não têm projeto. Então, foi a partir do PAC que nós começamos a fazer tudo isso. Nós lançamos o PAC. Eu determinei para a Dilma “agora eu quero que você chame, primeiro, a partir do governo federal, quais são as cidades e os estados que têm maiores problemas. Vamos pegar do principal problema para o menor problema. Palafitas, favelas, nós temos que atacar isso com rapidez”. Então, chamava aqui o governador José Serra com os prefeitos das cidades mais problemáticas, o governador do Rio de Janeiro com os prefeitos das cidades mais problemáticas. Com base nessas conversas, nós levantamos os principais projetos para começar a trabalhar projeto básico, projeto executivo. Levou um ano entre você tomar decisão, reunir, preparar projeto para você começar a executar.Então, o ano de 2009 será um ano em que teremos muitas obras em execução e em fase de acabamento no Brasil. Em 2010 será a conclusão de grande parte das obras do PAC, e aí nós vamos preparar um outro PAC. Nós vamos anunciar para o Brasil um novo planejamento que pode ser seguido ou não por quem vier depois de mim. Se eu conseguir fazer a minha sucessão, certamente a pessoa seguirá o segundo PAC.
Jornalista: Eu pensei que o senhor ia dizer “sucessora” e o senhor fala em sucessão, hein?
Presidente: Eu falei sucessão porque eu estou pensando ainda na minha sucessão. Na verdade, é isso, eu acho que a Dilma tem todas as condições. Obviamente, o PT tem que discutir isso...
Jornalista: Mas está indo para ela, né?
Presidente: Mas eu acho que a Dilma tem todas as condições de ter uma qualificada disputa com quem quer que seja, e tem condições de ganhar as eleições. Vamos ver se... o debate, precisa construir aliança política, que é difícil, precisa conversar com todos os companheiros, de todos os partidos.
Jornalista: O senhor a conhece desde quando, Presidente? Não é de muito tempo, é mais recente, né?
Presidente: É engraçado. O negócio da Dilma comigo é muito engraçado. Eu tinha... Eu sempre tive assessoria para o setor energético, e mais ou menos em junho... eu sabia que a Dilma era secretária do Olívio Dutra, mas não tinha muito contato, até porque ela era do PDT, se não me falha a memória.
Jornalista: É, PDT.
Presidente: Aí o meu grupo que cuidava de energia, quem cuidava era o Pinguelli. Então, a gente tinha a cada ano, três, quatro reuniões com vários engenheiros do setor energético, e já próximo de 2002, aparece uma companheira com um computadorzinho na mão lá. Começamos a discutir, começamos a discutir, e eu percebi que ela tinha um diferencial dos demais que estavam ali porque ela vinha com a praticidade do exercício da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Aí eu fiquei pensando: eu acho que já encontrei a minha ministra aqui. No primeiro contato que houve, houve uma certa negociação com o PMDB para o Ministério de Minas e Energia e eu disse: para esse lugar aqui vai a companheira Dilma. Foi assim, foi uma coisa muito rápida. Ela se sobressaiu em uma reunião que tinha 15 pessoas...
Jornalista: Pela objetividade...
Presidente: Pela objetividade e pelo alto grau de conhecimento do setor. Então foi assim que ela apareceu no meu governo.
Jornalista: Ótimo, Presidente. Muito obrigado. O senhor vai encontrar com o Raúl Castro, não é?
Presidente: Raúl Castro.
Jornalista: O outro era melhor, né? Vou fazer intriga aqui.
Presidente: Eu gosto dos dois.
Presidente: O PT não votou porque queríamos uma mais avançada ainda, mas depois assinamos. Eu acho que hoje o presidente da República tem muito menos poder do que, por exemplo, na época do Juscelino. Não vou nem falar dos militares, estou falando dos democráticos eleitos. O Juscelino se fosse presidente da República hoje e pensasse em mudar o [Governo do] Rio de Janeiro para Brasília, ele ainda não teria conseguido licença prévia para fazer a pistazinha para o seu teco-teco pousar aqui. O Meio Ambiente, ou o Ministério Público, ou o Tribunal de Contas, ou o Poder Judiciário, ou quem tivesse perdido a licitação...
Jornalista: Presidente, muito francamente, isso é bom ou é ruim? Então quer dizer que Brasília poderia ver (incompreensível).
Presidente: Eu acho que tem duas coisas importantes. Primeiro, que o País tenha se dotado de amplos mecanismos de fiscalização é bom, é correto e é necessário. Agora, que esses mecanismos de fiscalização sejam a razão de você, muitas vezes, demorar dois anos para começar uma obra, é ruim. Veja uma coisa, num mandato de quatro anos, qualquer que seja o presidente da República, se ele começar uma hidrelétrica, ele não termina ela. Se ele pegar uma estrada de 2 mil quilômetros, entre pensar, fazer o projeto, contratar, fazer licitação, conquistar a licença prévia, vai metade do tempo de construção. E aí começa o processo de judicialização, ou seja, alguém da sociedade entra com uma queixa popular, o Ministério Público acata, o Ibama ainda embarga. Então tem um processo muito moroso. Como fazer para que as coisas tenham a mesma seriedade de fiscalização e, ao mesmo tempo, que a gente não perca... Hoje, quando você faz licitação, quando o Tribunal de Contas está concordando, quando o Ministério Público está concordando, quando as ONGs estão concordando, quando o Ibama já deu licença, quando o dinheiro está depositado no caixa para começar a fazer a obra, sabe o que acontece? Uma empresa que perdeu a licitação entra com um processo, e às vezes leva um ano, um ano e meio, e a obra não sai.Eu acho que o País não pode esperar por isso. Então, era preciso... eu espero que tenha bastante coisas de mudança lá, tem projeto de mudança da lei de licitação, alguma coisa para tornar... Há quanto tempo está se fazendo aquele Anel Viário em São Paulo? Cada dia tem uma coisa... Então, tudo isso eu acho que contribui para o Custo Brasil, as coisas demorarem muito.Então, eu acho que o presidente da República tem menos poder do que já teve neste país, fora o período militar, mas no período democrático. Acho que a Constituição de 1988 diminui o poder do presidente da República e aumenta o poder do Poder Legislativo e das instituições, como Ministério Público. Acho que isso é bom. Agora, é só encontrar o caminho do meio para que essa necessidade toda de fiscalização não seja a razão do impedimento de construir as coisas que precisam ser construídas no Brasil.
Jornalista: Mas o senhor está gostando de ser presidente, não é?
Presidente: Eu, sinceramente, acho que...
Jornalista: O senhor não gostava de ser presidente do Sindicato, não gostou de ser deputado...
Presidente: Parece que o povo está gostando mais do que eu.
Jornalista: Porque o senhor é um dos 80...
Presidente: É que eu tenho, Mário... exercer o papel de presidente é complicado.
Jornalista: Mas é bom.
Presidente: O cerceamento da liberdade individual da pessoa é total. Agora, qual é o prazer? O prazer é que você passou a vida inteira dizendo que era possível fazer algumas coisas, e quando você chega ao governo, começa a realizar. As coisas começam a acontecer e começam a ter o reconhecimento da sociedade. Eu acho que é isso a coisa prazerosa do exercício do poder.
Jornalista: E a frustração, Presidente? O que o senhor achava que dava para fazer mais...
Presidente: Você sempre vai achar que dava para fazer mais. O cara que marca um gol, achava que poderia ter feito o segundo; o cara que ganhou uma medalha de ouro, acha que poderia ganhar a segunda. Um governo, quando termina, ele vai falar “puxa, por que eu não fiz aquilo, por que eu não fiz aquilo?” Não fez porque não foi possível fazer. Nós temos uma visão do segundo mandato, que eu acho que é uma coisa consagradora. Eu sempre tive medo do segundo mandato, e dizia publicamente: eu tenho medo do segundo mandato porque você pode perder a motivação, porque pode virar mesmice, porque pode... Quando nós pensamos em lançar o PAC, a gente pensou em lançar o PAC ainda em 1986. Depois, chegamos à conclusão... Não, em 2006. Depois chegamos à conclusão que a gente não poderia misturar o PAC com as eleições, porque ele perderia força. Então, lançamos o PAC no dia 22 de janeiro de 2007. Esse PAC tem obras e dinheiro até o dia 31 de dezembro de 2010. Portanto, o PAC foi uma coisa que deu ao governo um aprendizado de agilidade e a descoberta que a gente faz das coisas, porque quando você não tinha dinheiro, todo mundo dizia “não tem dinheiro, não tem dinheiro”. Aí, quando você tem dinheiro, você percebe que as prefeituras não tem projeto executivo, não tem projeto básico, você percebe que os estados não têm projeto. Então, foi a partir do PAC que nós começamos a fazer tudo isso. Nós lançamos o PAC. Eu determinei para a Dilma “agora eu quero que você chame, primeiro, a partir do governo federal, quais são as cidades e os estados que têm maiores problemas. Vamos pegar do principal problema para o menor problema. Palafitas, favelas, nós temos que atacar isso com rapidez”. Então, chamava aqui o governador José Serra com os prefeitos das cidades mais problemáticas, o governador do Rio de Janeiro com os prefeitos das cidades mais problemáticas. Com base nessas conversas, nós levantamos os principais projetos para começar a trabalhar projeto básico, projeto executivo. Levou um ano entre você tomar decisão, reunir, preparar projeto para você começar a executar.Então, o ano de 2009 será um ano em que teremos muitas obras em execução e em fase de acabamento no Brasil. Em 2010 será a conclusão de grande parte das obras do PAC, e aí nós vamos preparar um outro PAC. Nós vamos anunciar para o Brasil um novo planejamento que pode ser seguido ou não por quem vier depois de mim. Se eu conseguir fazer a minha sucessão, certamente a pessoa seguirá o segundo PAC.
Jornalista: Eu pensei que o senhor ia dizer “sucessora” e o senhor fala em sucessão, hein?
Presidente: Eu falei sucessão porque eu estou pensando ainda na minha sucessão. Na verdade, é isso, eu acho que a Dilma tem todas as condições. Obviamente, o PT tem que discutir isso...
Jornalista: Mas está indo para ela, né?
Presidente: Mas eu acho que a Dilma tem todas as condições de ter uma qualificada disputa com quem quer que seja, e tem condições de ganhar as eleições. Vamos ver se... o debate, precisa construir aliança política, que é difícil, precisa conversar com todos os companheiros, de todos os partidos.
Jornalista: O senhor a conhece desde quando, Presidente? Não é de muito tempo, é mais recente, né?
Presidente: É engraçado. O negócio da Dilma comigo é muito engraçado. Eu tinha... Eu sempre tive assessoria para o setor energético, e mais ou menos em junho... eu sabia que a Dilma era secretária do Olívio Dutra, mas não tinha muito contato, até porque ela era do PDT, se não me falha a memória.
Jornalista: É, PDT.
Presidente: Aí o meu grupo que cuidava de energia, quem cuidava era o Pinguelli. Então, a gente tinha a cada ano, três, quatro reuniões com vários engenheiros do setor energético, e já próximo de 2002, aparece uma companheira com um computadorzinho na mão lá. Começamos a discutir, começamos a discutir, e eu percebi que ela tinha um diferencial dos demais que estavam ali porque ela vinha com a praticidade do exercício da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul. Aí eu fiquei pensando: eu acho que já encontrei a minha ministra aqui. No primeiro contato que houve, houve uma certa negociação com o PMDB para o Ministério de Minas e Energia e eu disse: para esse lugar aqui vai a companheira Dilma. Foi assim, foi uma coisa muito rápida. Ela se sobressaiu em uma reunião que tinha 15 pessoas...
Jornalista: Pela objetividade...
Presidente: Pela objetividade e pelo alto grau de conhecimento do setor. Então foi assim que ela apareceu no meu governo.
Jornalista: Ótimo, Presidente. Muito obrigado. O senhor vai encontrar com o Raúl Castro, não é?
Presidente: Raúl Castro.
Jornalista: O outro era melhor, né? Vou fazer intriga aqui.
Presidente: Eu gosto dos dois.
4 comentários
Quem é esse tal "Presidente"?
ReplyCaramba! Ainda faltam 1000 e tantos dias para este cara desocupar o planalto. Isso se o PT não aprontar algo muito ruim para o Brasil. Com esta corja não se pode vacilar.
ReplyEu não consegui ler a entrevista toda. Fico imaginando a figura... Asco total.
Ele fala a verdade,quando se refere a liberação de verbas do PAC
Replypara estados e municípios.Grande parte dos governadores e prefeitos não tem sequer um projeto,quanto mais um projeto bom e acabado para
fazer jus a liberação de verbas. Sou testemunha de que quando o projeto é legal e certinho,a verba sai.
Agora,os Castros...,CUISP! CUISP!
Nome Próprio
Nome Próprio
ReplyConseguiu ler tudo?
Minha sincera admiração!