Lula além(ou aquém?) do bom senso?

O discurso de Lula, ontem, em Recife, realmente foi muito além(ou ficou aquém?) do bom senso. Para ele, o Brasil é melhor em tudo, o Brasil vai sofrer menos a crise, os governos estaduais devem se endividar muito, os juros tem que cair, enfim, o governo dele está dando todas as condições e os outros é que são incompetentes.Os governadores, os prefeitos, os empresários,os banqueiros, os outros países, a imprensa, blá-blá-blá. Leia abaixo:

"Eu queria dar para vocês dois dados importantes ainda sobre a questão da crise que são, possivelmente, enriquecedores para o debate, se é que a gente vai debater isso aqui.
Uma coisa importante que nós temos que reconhecer é que poucos países do mundo têm os bancos públicos que nós temos no Brasil. Então, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o BNDES e mais o BNB e o Basa, com menor proporção, são garantias de que esses bancos representam praticamente 40% do crédito que nós temos hoje no Brasil. Poucos países do mundo têm isso.
A segunda coisa que é importante, companheiros, e eu acho que os governadores, tanto quanto eu, devem estar percebendo, é que nós temos uma crise financeira que começou no coração do sistema capitalista. Essa crise financeira pode se transformar numa crise real em outros países, porque ela já atingiu o centro do mundo desenvolvido, ou seja, os Estados Unidos e a Europa já estão vivendo recessão. E a recessão é medida quando um país tem crescimento negativo durante dois trimestres consecutivos.
E essa crise, ela, na verdade, vai chegar em outros países muito mais frágil do que vai atingir os países ricos. Mas certamente ela vai atingir, por quê? Porque se os países entram em recessão, vão diminuir as importações, diminuindo as importações, vai atingir países exportadores de grande monta, como a China.
Qual é a vantagem do Brasil? Eu vou dizer da vantagem comparativa do Brasil: é que a China tem... 40% do seu PIB depende das exportações. O Brasil, apenas 13%. Essa é uma vantagem. A segunda vantagem importante do Brasil é que nós temos um mercado exportador muito diversificado. Há dez anos nós tínhamos praticamente 26% ou 27% da nossa balança comercial com os Estados Unidos, mais ou menos 27% ou 28% com a Europa, um outro tanto com a América Latina. Embora nós tenhamos crescido, durante todo esse período, 20% das nossas exportações com os Estados Unidos, hoje os Estados Unidos, que representavam 27%, representam apenas 14% das nossas exportações. E a Europa representa, possivelmente, 14% ou 15%.
Por que isso nos dá uma garantia maior? É porque nós exportamos mais para países emergentes, para países em vias de desenvolvimento. Por exemplo, a nossa balança comercial com a China vai ultrapassar os 30 bilhões, com possibilidade de chegar a 35 bilhões este ano. Com a África, a gente tinha pouco mais de 4bilhões ou 5 bilhões, estamos com quase 18 bilhões de reais.

Isso porque ainda nós temos um setor empresarial muito subordinado a uma visão “estadosunidenses” ou a uma visão européia quando, na verdade, nesse mundo globalizado nós temos que procurar diversificar muito mais o nosso mercado exportador.
Uma coisa importante é que as pessoas se queixam que as commodities vão cair o preço, mas é importante a gente lembrar que a compensação da queda de preços, ela é compensada pela valorização do dólar. Então, é importante que a gente atente para as reclamações, e a gente faça uma medição correta para perceber que as pessoas podem até exportar um grão a menos, a um real mais barato, mas certamente estarão ganhando um pouco mais, por causa do dólar.
Vocês perceberam que nós agimos prontamente para atender os setores principais da economia brasileira. A Dilma mostrou: a indústria automobilística, que representa 24,5% do PIB industrial brasileiro; a indústria da construção civil, que depois de 20 anos sem crescer retomou o crescimento e a gente não queria deixar ficar paralisada; financiamento para a pequena e média empresa, sobretudo capital de giro, para que ela possa se manter funcionando a todo vapor, e a agricultura, que nós colocamos aquilo que, na discussão com o setor, entendemos que fosse disponibilizado.
Qual o problema que nós temos? É que mesmo disponibilizando os recursos... Eu sei que o Aécio disponibilizou um pouco de recursos, o governo do Estado de São Paulo disponibilizou um pouco de recursos. O Guido deve ter conversado com alguns de vocês, e é importante se vocês puderem reduzir, ou seja, prorrogar o recebimento do ICMS por 45 dias, 30 dias ou 2 meses, para criar capital de giro. No governo federal nós já disponibilizamos alguns impostos federais. Tudo isso para a gente fomentar o capital de giro da pequena e média indústria brasileira, sobretudo para essas que precisam mais.
Mas uma coisa que ainda continua desagradável é que mesmo disponibilizando essa quantidade de recursos e, no mundo inteiro, vocês podem perceber que o dinheiro ainda não chegou na ponta. O Brasil tem uma outra vantagem comparativa, se comparado ao dinheiro que os Estados Unidos já colocaram, que a França já colocou, que a Alemanha já colocou. É que eles estão colocando dinheiro para salvar bancos que estavam quebrando e nós estamos colocando dinheiro, primeiro, para comprar carteira de bancos pequenos para não deixar criar problemas e estamos colocando dinheiro para fomentar o crédito. Só que esse crédito ainda não tem chegado na ponta do jeito que nós gostaríamos que chegasse. Depois, obviamente, que todo mundo sabe que nós temos uma taxa de juros agora, mesmo (inaudível), acima daquilo que o bom senso indica que deveríamos ter.
Mas tem um outro problema, que é um problema que nós temos que enfrentar. Que é a forma com que a sociedade está recebendo a informação da crise. Isso não é menor, isso é tão grave quanto a própria crise. Pasmem: um trabalhador comum, um trabalhador que trabalha aqui no palácio do governador do estado de Pernambuco, que está pensando em comprar um carro, ele não tem medo de perder o emprego porque ele é concursado. Mesmo assim, como ele está ouvindo falar muito em crise, ele vai preferir pegar o dinheirinho de comprar o carro, comprar a geladeira, e vai preferir guardar na poupança porque ele não sabe o tamanho da crise que vai vir. Mas um outro brasileiro comum que não tem estabilidade no emprego, como tem o servidor público, que estava pensando em comprar a geladeira, a televisão, o carro, ou comprar sei lá o quê, o computador dele, na medida em que ele vê falar tanto de crise, falar tanto de desemprego, mesmo no momento em que o emprego está crescendo, o que este trabalhador faz? Ele com medo de perder o emprego, não compra, pensando em guardar o dinheiro para enfrentar o possível desemprego. O que ele não sabe é que ele vai perder o emprego exatamente porque não comprou. Porque não comprando, a indústria não produz, o comércio não vende, o povo não consome, e esse é um desafio que nós vamos ter que discutir: como fazer esse debate na sociedade brasileira.
Nós estamos convencidos de que o crédito no Brasil será regularizado mais rápido. Esses dias vocês viram a apresentação do Meirelles de que o crédito está semanalmente se recuperando. Nós achamos que ele pode voltar à normalidade primeiro do que em outros países e por isso é que foi importante a Dilma falar do PAC. Porque agora nós precisamos desvendar todo e qualquer segredo que tiver na dificuldade de uma obra do PAC e a gente tocar essa obra o mais rápido possível.
Nós agora temos que fazer uma operação pente fino. O que está acontecendo de problema na obra de tal estado, de tal cidade, que não está acontecendo? É o governo federal que está criando confusão? É a Caixa Econômica que é morosa? É o Banco do Brasil que não está conseguindo emprestar? É o BNB? É o governador que não tem um projeto executivo? É o prefeito que não apresentou ao governador o projeto executivo e às vezes a obra fica parada? É o Tribunal de Contas?
Agora é a hora da gente trabalhar com todo o rigor e com toda a ousadia nossa, para que a gente não permita que, dinheiro que já está disponibilizado para estados e municípios, deixe de ser aplicado nas obras para gerar emprego e renda e ficar guardado em um banco por ineficiência nossa. Ademais, os estados adquiriram nos últimos 15 meses, uma maior capacidade de endividamento. Ou seja, todos os estados adquiriram uma capacidade de endividamento maior. Há muito tempo que os estados brasileiros não podiam tomar dinheiro emprestado. Eu sei que vários governadores fizeram acordo como o ministro Guido Mantega. Quase todos os estados tiveram dinheiro bastante. O Aécio que diga quanto que ele teve. Ele disputa... ou seja, o que nós queremos... uma coisa sagrada para nós é o seguinte: quando a situação do País era muito vulnerável, os de fora diziam para nós que a gente não podia gastar. Que era preciso cumprir com os compromissos de pagar o FMI, de pagar juros, pagar isso, pagar aquilo. E o País se retraía. O País se retraindo não tinha investimento público, não tinha investimento privado, a economia ficava atrofiada.
Nesse momento em que nós temos bases de garantia, de estabilização, com as reservas que nós temos e com as condições fiscais que nós temos, que é das melhores de qualquer outro momento da história desse país, e tem pouco país rico na situação fiscal que está o Brasil, nós agora temos que dizer o seguinte: nós precisamos economizar o máximo que a gente puder economizar em custeio e gastar o máximo que a gente puder em investimentos públicos, em obras públicas, para que a gente possa...Porque na verdade, nesse momento, os estados, a prefeitura, os governadores de estado e o governo federal, eles podem ser os indutores de que a gente pode sair dessa crise sem nenhum arranhão ou com uma coisa muito pequena, que não vai doer. Vai depender muito da nossa capacidade de ousadia. Nós temos disposição para isso.
Vocês todos conhecem a disponibilidade de investimento que tem a Petrobras. E eu quero dizer para vocês: não haverá diminuição nas obras da Petrobras em nem um dólar por conta da crise. Não haverá! A refinaria do Maranhão, a refinaria do Ceará, a refinaria de Natal, a refinaria de Pernambuco, todas elas serão mantidas. Os contratos que nós vamos fazer do pré-sal, os contratos que nós vamos ter para contratação de navios e sondas, nós vamos continuar fazendo.
E também queria pedir para os governadores: eu acho que os governadores brasileiros já têm viajado muito, mas acho que os governadores brasileiros precisam viajar um pouco mais, para provocar mais investimentos no Brasil. Sobretudo quem tiver interesse em construir estaleiro, a possibilidade de produção de navios neste país é muito grande. Eu acho que está na hora de a gente descobrir aonde tem tecnologia, e a gente viajar em nome dos estados fazendo propostas para convencer pessoas a virem fazer os investimentos.
Dito isso, companheiros, eu acho que nós queremos ouvir o que cada companheiro tem para falar, disso e das queixas que vocês têm, porque os companheiros aqui só falaram coisas boas, coisas bonitas, e as coisas que são amargas possivelmente vocês dirão agora."