Belíssimo texto de Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, no seu espaço semanal na Folha de São Paulo. Ponto por ponto, vírgula por vírgula, ele demole o artigo de "boas vindas" de Gilhertme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que antes mesmo da estreia de Kataguiri produziu um libelo ofensivo, mentiroso e desinformado sobre a direita brasileira. Um belo texto, no entanto, não significa uma bela coluna.
O que mais temia aconteceu. Em vez de dedicar no máximo três linhas a Boulos reforçando a sua insignificância, Kataguiri fez um artigo-resposta. Aceitou a agenda. Aceitou a pauta. E todo mundo sabe o que isso significa isso em política. Em vez de dizer a que veio preocupou-se em cultivar um feio hábito de colunistas e blogueiros de São Paulo, especialmente, de bater boca entre si, como se o resto do Brasil, com raríssimas exceções, os conhecessem. E como se fossem as raras mentes brilhantes deste país.
Podem pesquisar: mais de 95% não sabe quem é Boulos e quem é Kataguiri. Os movimentos que dirigem sim, estes são bem mais conhecidos e por isso devem ser o foco e não os egos de seus líderes.
O que o MBL vai fazer amanhã ninguém sabe. E poderia fazer muito. Na certa vai fazer. Seria útil e inteligente que o Brasil soubesse. No entanto, o "movimento" perdeu tempo e espaço numa lutinha ideológica que agrada meia dúzia de puxa-sacos, mas como diz uma amiga minha, não enche urna, apenas gera aplausos no facebook. Desejamos que no segundo artigo, na próxima terça-feira, isto nos seja revelado. E que as brigas inúteis entre dois desconhecidos do eleitor brasileiro cessem por aí. Boulos vai querer continuar brigando com Kataguiri. Kataguiri deveria, nesta modesta opinião, brigar pelo Brasil.
Abaixo, a coluna de Boulos e a resposta de Kataguiri.
O velho e o novo
Guilherme Boulos
Quando questionado por sustentar ideais de igualdade e justiça social
aos 70 anos de idade, o saudoso Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014)
respondeu: "Ficar velho não é virar velhaco". Há pessoas que, mesmo
velhas, permanecem jovens de espírito. Abertas para o novo. E há outros
que, mesmo jovens, carregam os medos e preconceitos das velhas gerações.
Jovens, mas com o espírito de velhos rançosos. É o caso de Kim
Kataguiri, que lidera o MBL (Movimento Brasil Livre) e tornou-se agora colunista deste jornal.
Não é exatamente uma surpresa a Folha tê-lo contratado. A maior
parte de seus colunistas é liberal em economia e politicamente
conservadora, assim como sua linha editorial. Neste quesito, Kim estará à
vontade.
Talvez a surpresa de muitos seja por conta de seu despreparo, mais do
que por sua posição política. Difusor de piadas machistas, com discurso
repleto de argumentos rasos e com uma prepotência própria de quem ainda
não recebeu a notícia, Kim não está qualificado sequer como uma voz
coerente da direita.
Mas o que de fato surpreende é ver Kim e seu MBL tratados por alguns
como representantes do "novo", do autêntico espírito de revolta da
juventude contra a velha política. Na verdade, eles são precisamente o
contrário disso.
Há uma percepção cada vez mais ampla de que estamos vivenciando a crise
de uma época. De que este sistema político é incapaz de representar as
maiorias. De que este modelo econômico só atende aos interesses
privilegiados do 1%. Daí uma série de movimentos que nasceram nos
últimos anos com ojeriza à velha política e clamando por transformações
profundas.
Como o movimento Ocuppy Wall Street, lançado em Nova York (EUA), que
reuniu milhares de pessoas numa ocupação permanente em Manhattan, depois
estendida com protestos em várias cidades norte-americanas, contra a
ganância desmedida da elite financeira.
Como o 15M, quando o povo indignado espanhol tomou as ruas e praças
contra as políticas liberais de austeridade, os despejos em massa por
conta das hipotecas "subprime" (segunda linha) e a corrupção da "porta
giratória". Dessa energia nasceu o Podemos.
Como também as grandes lutas dos estudantes chilenos por reformas do
ensino, que levaram multidões de jovens às ruas contra o modelo
liberal-privatista de educação, herança da ditadura de Augusto Pinochet
(1973-1990).
Esses ventos também chegaram por aqui: as ocupações de escolas em São
Paulo, as lutas contra o aumento das tarifas de transporte e as batalhas
cotidianas pelo direito à cidade, nos centros e periferias urbanos,
espalhadas pelo Brasil.
Poderíamos falar dos jovens do Ocupe Estelita, em Recife, que se
insurgiram contra a especulação imobiliária e a apropriação privada do
espaço público. Da resistência negra, no Capão ou em Ferguson (Missouri,
nos EUA), que expressa a revolta da juventude contra o extermínio
policial. Ou ainda da bela luta das mulheres –as mesmas que Kim comparou
a "miojo"– contra os projetos retrógrados do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Aí está o novo. Por esses ares passa o legítimo sentimento de repulsa à
velha política, aos seus representantes e privilégios. Defender os
mecanismos sociais que produzem desigualdades, a ideologia meritocrática
e a repressão a quem luta é o que há de mais velho. É o programa da
ordem, sempre a postos para prestar seus serviços à Casa Grande.
Kim é isso: um garoto da ordem. Ergueu-se no rescaldo da crise do
petismo, expressando de forma confusa os anseios de uma classe média sem
projeto nem visão de país, que –sentindo-se insegura– busca apoio nas
bengalas do conservadorismo. As crises fazem surgir o novo, mas também
dão roupa nova ao velho.
Kim Kataguiri
Guilherme Boulos, o burguês revolucionário, decidiu dedicar sua coluna do dia 21, nesta Folha,
a mim. Senti-me honrado. Afinal, para lembrar Nelson Rodrigues, de
certos tipos, só quero vaias. E o artigo foi uma bela tentativa de vaia.
O coxinha vermelho disse que "não é exatamente uma surpresa" a Folha
ter me contratado, pois "a maior parte de seus colunistas é liberal em
economia e politicamente conservadora, assim como sua linha editorial".
Como a gente nota, o propósito de divertir o leitor não se resume a humoristas como Gregório Duvivier, Marcelo Freixo e Vladimir Safatle.
Boulos também está no time, com a pequena diferença de que o movimento
que ele lidera pratica crimes, que é coisa um pouco diferente de apenas
justificá-los.
Depois da graciosa piada, Boulos afirma que "talvez a surpresa de muitos
fique por conta [sic]" do meu "despreparo". É claro que o líder do MTST
tem o direito de escrever asneira. Mas deve fazê-lo em bom português.
Eu posso dizer que a prática de ações de caráter terrorista em São Paulo
fica "por conta" de Boulos. Acerto no fato e na gramática. Ao escrever
sobre mim, nosso amiguinho empregou "por conta" em lugar de "por causa".
Errou na gramática e no fato. Despreparo.
Boulos se diz surpreso porque eu e o MBL somos "tratados por alguns como
representantes do 'novo'". Pergunto: o que há de novo em invadir a
propriedade alheia? O que há de novo em pagar militantes para que
defendam uma causa na qual não acreditam? Parece-me que a única novidade
é que a rebeldia revolucionária hoje é apadrinhada pelo próprio
governo.
O líder do MTST fala de um tal modelo econômico que "só atende aos
interesses privilegiados do 1%". É famoso o "estudo" que sustenta que 1%
da população mundial é mais rica do que os outros 99%. Mas nosso
querido poodle do adesismo esqueceu de dizer que, segundo a metodologia
dessa pesquisa, um mendigo sem dívidas é mais rico do que 2 bilhões de
pessoas somadas. Isso porque a riqueza é calculada subtraindo-se as
dívidas do patrimônio. Como 2 bilhões de pessoas têm dívida, sua riqueza
é negativa. Não é estudo. É lixo.
Seguindo essa lógica, todos nós já fomos mais ricos do que o Eike
Batista quando quebrou. Tomando cotovelada nos ônibus lotados, estávamos
mais ricos do que o Eike comendo lagosta numa lancha.
Na sua compulsão invencível por passar vergonha, Boulos escreveu que o
"Podemos", partido de esquerda, surgiu da energia do povo espanhol que
"tomou as ruas e praças contra as políticas liberais de austeridade
(...)".
Desculpo-me por acabar com seu mundo de unicórnios voadores, mas a
energia que criou o Podemos é a mesma que o sustenta, caro Boulos: o
dinheiro. Desde 2002, a Venezuela pagou mais de 3 milhões de euros para
uma fundação que tinha entre seus gestores diversos líderes do partido.
Você certamente sabe como isso funciona porque, afinal, comanda o MTST,
também ele cheio de "energia".
Outro trecho de sua coluna me chamou a atenção. Escreveu ele, tentando
atacar o Movimento Brasil Livre: "Defender os mecanismos sociais que
produzem desigualdades, a ideologia meritocrática e a repressão a quem
luta é o que há de mais velho".
Durante mais de um mês, coordenadores e apoiadores do MBL acamparam em
frente ao Congresso Nacional para pressioná-lo a levar à frente a
denúncia contra a presidente Dilma Rousseff, que pode resultar no seu
impeachment.
No dia 27 de outubro, uma terça-feira, quando protestávamos nas galerias
da Câmara, o deputado Sibá Machado (AC), líder do PT, nos chamou de
"vagabundos", disse que iria "para o pau" com a gente. Na quarta,
militantes do MTST, que Boulos comanda com mão de ferro e cabeça de
jerico, nos atacaram a pauladas, pedradas, socos e chutes. Vários de nós
ficaram feridos. Apesar disso, não reagimos, demos as mãos e ficamos de
costas para os criminosos.
De fato, "a repressão a quem luta é o que há de mais velho" na história.
Especialmente, Boulos, quando os bárbaros que atacam estão falando em
nome das ideias que eram vanguarda no fim do século 19.
Boulos finaliza citando uma tal "classe média sem projeto nem visão de
país". Acho que se referia a si mesmo. Já vi o MTST espancando pessoas
inocentes, invadindo prédios e queimando pneus. Lembro-me de um debate
do grupo, que eu mesmo presenciei, que é um emblema do "projeto de
Boulos": a grande questão era que deputado iria pagar a marmita dos
militantes a soldo.
Não vou convidar Boulos a deixar de ser autoritário e rançoso porque,
aos 19 anos, já aprendi o que ele ignora aos 34: as coisas têm a sua
natureza. E é da natureza de uma milícia como o MTST e de seu
miliciano-chefe linchar fatos e pessoas.
Como eu não quero calar Boulos, não sou obrigado a engoli-lo. Como ele certamente gostaria de me calar, vai ter de me engolir.
PS - Boulos, se você não entendeu aquele negócio do 1% e da dívida, peça o meu telefone aí na Folha e me ligue. Explico. Nunca é cedo para ensinar alguma coisa nem tarde para aprender.
PS2 - A ombudsman da Folha, Vera Guimarães, escreveu no domingo uma ótima coluna
sobre as reações à contratação deste colunista, inclusive a de Boulos.
Concordo com quase tudo. Ela me censura por eu não ter me redimido de
uma piada postada há dois anos, que teria caráter machista. Repito o que
disse em entrevista à TV Folha,
Vera: "Piada não é uma forma de pensamento, não é uma ideologia". Salvo
engano, não conheço nenhuma piada cem por cento justa. Aliás, deixemos
as injustiças para o mundo do humor. Sejamos nós os justos.
13 comentários
"Perde-se o amigo e não a piada".
ReplyRealmente o boulos dizer-se novo com uma ideologia do século XIX, é um pé no saco.
O que ele pode fazer é: Matar os pais, ir ao cinema e depois distribuir a "sua" riqueza.
Realmente achar que Boulis não é ym velho , rancoroso e cheio de ódio , me parece a um homem ligado ao sec passado ; não evoluiu esta preso a idade da pedra.
ReplyÔ coronel, que dodói é esse contra S. Paulo? "Em vez de dizer a que veio preocupou-se em cultivar um feio hábito de colunistas e blogueiros de São Paulo, especialmente, de bater boca entre si, como se o resto do Brasil, com raríssimas exceções, os conhecessem. E como se fossem as raras mentes brilhantes deste país." Até tu? Que complexo de inferioridade é esse? Calma! Não se esqueça que S. Paulo votou maciçamente no seu candidato do coração, Aécio Neves - eu, inclusive. Saudações da terra da garoa.
ReplyConversa fiada, pior, guerra de EGO. Não perco meu tempo em ler.
ReplyMando bem KIm. Tem que dar resposta sim para este Baderneiro do MST.
ReplyGostaria de saber de qual renda vive o senhor Boulos. Sei que o pai é de classe média alta. Será que tem como renda o financiamento e as doações governamentais e partidárias? Sabemos que o MST é mantido pelos cofres públicos.
ReplyBoulous é uma bela porcaria e o Kim cometeu mesmo o erro em se deixar pautar.
ReplyMas o chato foi o Kim atribuir ao adversário um erro gramático inexistente. Não há erro algum em usar "por conta" no lugar de "por causa".
O jovem Kim é corajoso,culto,escreve muito bem e demonstra que a juventude brasileira que realmente pensa é um bálsamo para os sofridos dias atuais.
ReplyContinue jovem Kim,serei sua leitora!
Kim é só mais um moleque quer quer transformar o mundo em algo melhor pelas próprias mãos. Igualzinho qualquer comunista borra botas que ele mesmo acusa... A única parte boa dele, é que ele se acha o salvador da humanidade com alguns argumentos melhores (conservadores) do que os vermelhos (marxistas escrotos)
ReplyConcordo com Boulos sobre o sistema político ultrapassado. Só isso justifica a eleição de um Lulla e uma anta e a permanência do PT no poder por tanto tempo.
ReplyLanterna
Também penso assim!Dão muita importância ao que esses idiotas pensam!Kim deveria ter dedicado ao coitado um parágrafo no máximo!Deveria tratar de problemas relevantes para o povo brasileiro!Não ficar dando trela pra esses caras ultrapassados nas ideias!Sem teto,sem terra,MPL,esses grupelhos vivem disso!Aparecem nas costas dos outros e nessa imprensa comprada!Eleição em breve,é esse o motivo da baderna em SP!!!O povo lá já tá acostumado!
ReplyBoulos vire uma bactéria pelo menos ela evolui.
ReplyDiscordo do cel. e de comentaristas como Vajra Prema e um que nem se deu o trabalho de ler a coluna. O imbecilão do boboulos serviu de pretexto para o japinha dar seu recado, e até a ombudsmana que se acha muito espertinha levou um peteleco.
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