(Estadão) Após mais de cinco horas de sessão, o Congresso encerrou a
apreciação dos vetos presidenciais na madrugada desta quarta-feira sem
votar um dos vetos mais importantes para o governo: o do reajuste do
Judiciário. A proposta de um reajuste de até 78% dos funcionários do
Judiciário pode ter o impacto de R$ 36,2 bilhões nas contas públicas até
2019. A sessão foi interrompida por falta de quórum e não há prazo
definido para que a votação seja retomada.
O governo conseguiu manter 26 dos 32 vetos presidenciais em sessão do
Congresso que se estendeu pela madrugada desta quarta-feira. A principal
vitória foi a manutenção do veto que tratava da flexibilização do fator
previdenciário. Caso a adoção da regra 85/95 anos para o cálculo da
aposentadoria fosse usada como alternativa ao cálculo do fator
previdenciário haveria um impacto de R$ 135 bilhões para as contas do
governo até 2035.
O Congresso manteve o veto que tratada da isenção do PIS/Cofins para
óleo diesel, que impactaria até 2019 R$ 64,6 bilhões. As duas propostas
foram votadas em bloco. “Já tivemos importantes vitórias”, disse o líder
do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Resposta ao mercado. Na tentativa de aplacar o mercado
no dia em que a agência de risco Fitch reuniu-se com a equipe econômica e
o dólar atingiu o recorde histórico de R$ 4,05, o Palácio do Planalto
decidiu mudar a estratégia e deflagrou uma operação para manter todos os
32 vetos presidenciais da pauta do Congresso Nacional. O governo, que
queria inicialmente adiar mais uma vez a sessão, preferiu ir para a
votação, ofereceu cinco ministérios ao PMDB e até pediu apoio do PSDB
para não derrubar os vetos. E, após uma sessão com mais de 5 horas de
duração, a ação deu parcialmente certa.
O Palácio do Planalto temia que a aprovação das pautas-bomba dos vetos
comprometesse o esforço de atingir a meta de superávit primário de 2016
de 0,7% do PIB. Com a manutenção dos vetos, o governo evitou um aumento
das despesas públicas de pelo menos R$ 127,8 bilhões até 2019 e tenta
passar um recado ao mercado de austeridade, mesmo após ter perdido o
selo de bom pagador concedido pela agência Standard & Poor´s e ter
enviado inicialmente ao Congresso um orçamento deficitário para o
próximo ano em R$ 30,5 bilhões.
O maior receio do governo era com a derrubada do veto da presidente
Dilma Rousseff ao reajuste de até 78% aos servidores do Poder
Judiciário. Até o fim da sessão, funcionários da carreira fizeram
buzinaços do lado de fora do Congresso. Os protestos começaram durante o
dia com servidores abordando parlamentares, fazendo
“corredores-poloneses”, para lhes cobrar o apoio.
A presidente Dilma e seus principais ministros envolveram-se
pessoalmente nas negociações. Dilma conversou com os presidentes da
Câmara, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan
Calheiros (AL), e líderes partidários das duas Casas. Embora Cunha,
Renan e o vice Michel Temer, que é presidente do PMDB, tenham dito que
não iriam indicar nomes para a reforma ministerial, a bancada
peemedebista da Câmara deve ficar com a Saúde e outro para uma pasta da
área de infraestrutura, a do Senado dois ministros e o quinto ministro,
um nome de consenso entre as bancadas das duas Casas.
“O Brasil não pode evoluir para virar uma Grécia”, disse o líder do PMDB
no Senado, Eunício Oliveira (CE). “O governo dá uma demonstração que
está rearrumando a Casa e dá mais solidez ao cenário político”, disse o
líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).
Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo
(Justiça), Ricardo Berzoini (Comunicações), Edinho Silva (Comunicação
Social) e o assessor especial Giles Azevedo fizeram a contagem dos votos
necessários no Congresso, na tentativa de desarmar a pauta-bomba. Para
derrubar qualquer um dos 32 vetos da pauta eram necessários o voto de
pelo menos 257 deputados e 41 senadores conjuntamente. O governo centrou
inicialmente esforços no Senado, Casa em que avaliava ter votos para
manter os vetos, mas conseguiu um apoio também da Câmara. O
corpo-a-corpo do governo entre os deputados ajudou nessa virada.
Cardozo procurou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) para pedir
uma conversa com a bancada do partido a fim de evitar votos do partido a
favor da pauta-bomba. O tucano declinou do convite, mas indicou que
senadores do partido seriam favoráveis a manutenção dos vetos, o que de
fato ocorreu como no caso do reajuste do Judiciário. O líder do PSDB no
Senado, Cássio Cunha Lima (PB), liberou a bancada para apreciar essa
última proposta. O partido avaliou reservadamente não ser possível
derrubar os vetos porque, se eventualmente vier a assumir o Palácio do
Planalto, pegaria o País numa situação mais delicada.
5 comentários
Com essa decisão do Congresso Nacional de manter os vetos da presidente fortalece o Planalto e, o impeachment fica mais distante.
ReplyAo meu modo de ver, vamos mesmo ter que aturar essa incompetente até 2018.Lamentável! Aliás o toma lá da cá ontem correu soltou, principalmente com os deputados e senadores do PMDB.Coisa de país sub-desenvolvido.
Coronel,
ReplyO PMDB esta "aplainando" a pista de pouso do Temer e colocando os vetos na conta do PT!!
Se o PT ainda tivesse alguma força, o PMDB derrubaria os vetos e aceitaria indicar novos ministros.
JulioK
Essa mulher tem que sair rápido daí. A cada dia que permanece no poder, impõe meses de comprometimento ao futuro dos brasileiros. Para nós a "grande tribulação" já começou.
ReplyOs governos entupiram o INSS de aposentados que não contribuíram um centavo para a previdência, e agora alegam que não tem dinheiro.
ReplyQuem contribuiu 30/35/40 anos é penalizado pela absoluta demagogia de nossos governos.
Podem esquecer, isso aqui NUNCA será um país de primeira.
Cesar - 08:22
ReplyQue disse: "Com essa decisão do Congresso Nacional de manter os vetos da presidente fortalece o Planalto e, o impeachment fica mais distante."
Você andou lendo o RA! E, neste caso, eu discordo dele.
Eu acho que o Congresso ontem manteve os vetos, inclusive com a ajuda da oposição, pensando no Brasil, e não na Dilma. Quanto ao impeachment, o que houve ontem no CN não tem relação alguma com eventual votação pelo afastamento da Anta. São SITUAÇÕES completamente distintas.
Chris/SP