Imprensa cassada.

A tentativa de convocar um repórter da revista "Veja" para depor na CPI que investiga as relações do contraventor Carlos Cachoeira com agentes do Estado e da iniciativa privada seria um fato banal, sem transcendência, não fosse o denso simbolismo de que se reveste.

O jornalista, como qualquer outro profissional, é um cidadão comum, sujeito às leis de seu país. No exercício de seu ofício, as ilegalidades potenciais estão capituladas no Código Penal: infâmia, injúria e difamação - crimes contra a honra. O repórter Policarpo Junior, da "Veja", não é acusado de nenhuma delas. De que o acusam? De ter, no exercício de sua profissão, ouvido o contraventor Cachoeira.

Acusaram-no inicialmente de ter tido com ele 200 conversas, mas a Polícia Federal diz que foram apenas duas. O problema, porém, não é de números. O jornalista é, nos termos da Constituição, soberano em relação às fontes que elege. Está lá, no inciso XIV, artigo 5: "É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional." 

Não é casual que o constituinte tenha inserido esse dispositivo no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais, cláusula pétrea da Constituição - e, portanto, não suscetível de emenda. Sem esse sigilo, não há informação - e, sem ela, não há liberdade de imprensa, nem democracia. Simples assim. Sem imprensa livre, o Congresso Nacional deixa de ter sentido. Transforma-se num teatro de marionetes, de ínfima categoria. Não vale nada. Já vimos este filme: a democracia morre no fim.

Daí o sentido emblemático - perigosamente emblemático - dessa convocação. Não importa quem seja o jornalista ou o órgão para o qual trabalha. O grave está em tentar constrangê-lo pelo crime de ter exercido seu ofício nos termos da lei. A simples suposição de que aí possa estar um delito estabelece um dano institucional de extrema gravidade. Um dano contra a democracia. 

Quando se constrange a liberdade de imprensa, não é apenas o jornalismo que sai perdendo: é a sociedade em seu conjunto - é o próprio princípio civilizatório. Alguns membros da CPI - e é preciso que se diga que são só alguns - questionam a legitimidade da fonte eleita pelo repórter investigativo Policarpo Junior. Querem criar o princípio da tutela moral da fonte, algo inédito desde Adão.

Não vejo legitimidade em nenhuma instituição da República - Congresso, Judiciário ou Executivo - exercer essa tutela. O jornalista não trabalha para o Estado. No exercício de seu oficio, Ruy Barbosa o definia como "os olhos e os ouvidos da sociedade". E o jornalista investigativo é mais isto: um detetive da sociedade, pois que se dedica, sem salvaguardas, a esclarecer questões de interesse público, ocultas por inconfessáveis interesses privados.

O jornalista vai aonde está a informação. Muitas vezes, está no inferno. Não há problemas em conversar com o demônio; o problema está em saber o que se fará com a informação. No caso específico, Policarpo Junior publicou o que obteve. Não prestou serviços, nem deu contrapartida ao informante - que, inclusive, em uma das gravações da Polícia Federal, queixa-se disso a um cúmplice.

Volto então a perguntar: que crime cometeu? Se não injuriou, caluniou ou difamou, nem fez do que apurou instrumento de chantagem ou extorsão, a tentativa de convocá-lo não passa de um expediente oblíquo de intimidação, dos que sonham em promover o "controle social da mídia", eufemismo de uma velha e conhecida senhora: a censura.

Quando, ao tempo do regime militar, foi editado o AI-5, a primeira vítima foi a imprensa. O Congresso foi mantido em sua fachada, mas perdeu caráter e substância. Sem imprensa livre, não tinha (e não tem) significação. Quando o presidente Geisel, em 1977, suspendeu a censura à imprensa, o jornalismo livre - ainda que não plenamente - revitalizou o Congresso, a política e a sociedade, impondo ao regime militar a revogação do AI-5.

O que se pretende agora é o oposto: uma viagem de volta ao passado sombrio. Temo que, se a CPI vier a aprovar essa despropositada convocação, estará colocando o Brasil numa rota obscurantista em que já trafegam alguns de nossos vizinhos. Thomas Jefferson disse certa vez que "se tivesse que decidir se devemos ter governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um só instante em preferir o último". Espero que a CPI não faça a opção oposta.

Artigo publicado hoje pela senadora KÁTIA ABREU (PSD-TO) em O Globo

12 comentários

Coronel,
volto a afirmar: única política que honra o congresso. Quanto a "oposição", calada.

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Coroné, essa MULHER é maravilhosa, ela tem de ser Presidente desse Brasil, pois nos vamos avançar 50 anos e 5 anos,fora essa cambada de ratazanas vermelhas, um grande abraço a todos.

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Vamos recorrer aos Hondurenhos para despachar Lula como fizeram com ManéZélaya!
A corrupção tornou-se incontrolavel depois que Lula chegou ao poder através das urnas corrompíveis. Acabando com o verme, depois o Brasil voltará nos trilhos.

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Coronel,

Crime do Policarpo: DEDOU O LULLA E SUA TCHURMA!!!!

JulioK

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A moral do PT é gonorréia pura. Este Luiz da Silva tem de ser afastado do convivio politico. Declarar que temo comando politico da CPMI não é novidade. Indecente é ver aquela quantidade de engravatados comandados por um pulha.
Eterna gratida à Revista Veja.
Ainda acredito na senadora Kátia Abreu, no Alvaro Dias, no Francisquini, naquele rapaz do PSOL.
Mas ver o Vacareza é de indignar.
Tranquilizar o Sergio Cabral:você é nosso e nós somos seu(!!!). Ver o Collor falando merda com arrogancia, a serviço do Luiz da Silva e agora o luiz da Silva informando que te o controle da CPMI, é de amargar.

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Sr Coronel;


KÁTIA ABREU 2014
POR TEMPOS MELHORES.

Saudações

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Cel.

É a ÚNICA Senadora em quem eu votaria para PRESIDENTE DA REPÚBLICA!

Parabéns Katia Abreu pelo seu equilíbrio e lucidez.


Chris/SP

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Parabéns a Kátia Abreu, ao jornal O Globo e à revista Veja que estão resistindo com BRAVURA contra àqueles que estão querendo transformar o Brasil em uma ditadura Lulo-Dilma-Dirceu-Petista.

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Senadora Kátia Abreu, sempre ela, firme e incisiva, dizendo sem meias palavras o que precisa ser dito.

Parodiando Jefferson, o Thomas, se tivesse que escolher entre um País com Kátia Abreu e outro com lulla, não hesitaria um só instante em preferir mil vezes um País com Kátia Abreu. Sem lulla.

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Essa imprensa lulo-petista sempre honorifica um zé ninguém.

Dou uma sugestão à revista Veja: dê um prêmio ao excelente repórter Policarpo Júnior, bem como aos outros magníficos profissionais da Revista pelos belos serviços prestados à Democracia Brasileira. Estes sim!!! Merecem muitos, muitos muitos prêmios.

Vamos começar a valorizar quem realmente tem valor. O resto é piada.

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Coronel,

Katia Abreu hoje é a pessoa mais lúcida e correta que temos no quadro de políticos brasileiros.

Que Deus a ilumine e proteja!!

Flor Lilás

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Coronel,

A Kátia Abreu dá de 10x0 em muitos "colunistas" que existem por aí...

Esse texto eu tenho que guardar nos arquivos.

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