"O debate que se desenrola atualmente no Congresso Nacional sobre uma nova vinculação de recursos para a saúde é uma ocasião exemplar para refletirmos com um pouco mais de profundidade sobre o Estado no Brasil. Vivemos aqui um autêntico paradoxo. De um lado temos uma das maiores cargas fiscais do mundo -maior do que a dos Estados Unidos, a da China e a de todos os demais países em desenvolvimento. Nossos governos extraem anualmente quase 40% de toda a renda nacional. Em outras palavras: de cada R$ 100 em riqueza gerados pelo país, quase R$ 40 vão para os cofres dos três níveis de governo.
Sem nenhuma dúvida, nossos órgãos de arrecadação têm um padrão mundial de excelência. Infelizmente, essa mesma qualidade não se estende ao restante das estruturas governamentais que lidam com os problemas da população. O outro lado do paradoxo é que com essa abundância de recursos o Estado brasileiro não cumpre satisfatoriamente suas funções. A saúde, a educação, a segurança pública, as estradas, os portos e os aeroportos têm níveis baixos de desempenho. O transporte público nas grandes cidades submete as populações trabalhadoras a verdadeiros suplícios.
Não há como fugir da realidade: nosso Estado esgotou sua capacidade para, sozinho, resolver os problemas da nação. O esforço da sociedade para pagar tantos tributos parece inútil. Para cada uma das deficiências do Estado o clamor geral dos governos é só um -é preciso mais dinheiro, ou, em português claro, mais tributos. O jornalista americano H. L. Mencken nos ajuda a responder: "Todo problema difícil tem uma solução simples, óbvia e... errada". Se formos atender a todos esses clamores, teríamos de dobrar os tributos, só que, muito provavelmente, os problemas continuariam sem solução e, no final, teríamos um país só com Estado, sem sociedade e sem economia.
Por que o Brasil arrecada tantos tributos e parece não ter dinheiro para nada? Em primeiro lugar, os governos têm dificuldades de entender que não é possível fazer bem muitas coisas ao mesmo tempo e que governar é fazer escolhas. Se faltam recursos para a saúde e a educação, a solução é economizar recursos que estão sendo gastos em funções menos prioritárias, ou que poderiam ser realizadas fora do Estado, com recursos privados. Estão nessa categoria praticamente todos os imensos gastos necessários com a infraestrutura, que nossos governos pouco fazem, ou fazem mal, mas não deixam ninguém fazer. Estradas, portos, aeroportos, hidrovias, tudo isso pode ser concedido ao setor privado, em variadas modalidades de concessão, sem um centavo de tributos. O velho debate ideológico entre o público e o privado não deveria mais ocupar os espaços da vida prática.
Em segundo lugar, o Estado gasta muito mal quase 40% do PIB (Produto Interno Bruto). A parcela de investimento público é insignificante, pois os governos gastam quase tudo com despesas de custeio e não parecem preocupados com isso. De 2000 a 2010, por exemplo, enquanto a inflação acumulada foi de 101,12%, os gastos da União com pessoal, ativo e inativo, cresceram 317%, um incremento real extraordinário. Não há solução isolada para os problemas da saúde, da educação ou dos transportes. É o Estado brasileiro como um todo que está equivocado. Ele reflete o Brasil do passado e precisa de muitas reformas para servir ao novo Brasil do presente e, principalmente, do futuro.
Num Estado moderno não cabem todos os desejos da sociedade. Alguns terão de ficar de fora. A Europa esqueceu disso e está pagando um preço muito alto. Nós ainda temos tempo. A crise do mundo desenvolvido e as pressões internas por mais gasto público deveriam servir de oportunidade para o sistema político e a sociedade se unirem em um grande pacto para uma mudança fiscal profunda, que tornasse o Estado um agente -não um obstáculo ao desenvolvimento. O fato de a presidente Dilma ter antecipado que não pretende patrocinar aumento de tributos é um bom começo para isso."
KÁTIA ABREU, 49, senadora (TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados, a cada 14 dias, no Caderno de Economia, da Folha de Sâo Paulo.
6 comentários
No final do artigo, quando é citado que "...a presidente não pretende patrocinar aumentos de tributos...", é bom deixar claro. Ela pode não patrocinar. Porém se outros patrocinarem ela não vetará. O artigo em essência, não é oposicionista. Porém, seria de oposição há bem pouco tempo. Ela discute o posicionamento do Estado e não do governo, que elogia no final. Não adianta. A senadora não é de oposição.
ReplyÉ sempre a brilhante Katia Abreu. Falou e disse!!!
ReplyIsto tudo seria possível se não houvesse a ganância dos políticos, se não houvesse o partido da trambicagem atuando no poder !!!
Chris/SP
Parabéns presidente Kátia Abreu.
ReplyEu já dou este tratamento pois terá meu voto para se eleger. Se não for candidata veremos quem estará lutando pelo cargo. Evitar que o José Dirceu saia de seu cafofo ou o asqueroso REI LUIZ 51 TATUZINHO ETANOL DA SILVA retorne ao SALÃO DO TRONO DO GRANDE ALAMBIQUE DE CACHAÇA.
O rei pinga e seus asseclas teriam que ser processados pelo Tribunal Penal Internacional por acusação de promover o genocídio ( com o mensalão e outras maracutaias o dinheiro para evitar a morte pelas secas no nordeste e perdas de produção agrícola justificam os indiciamentos no TPI
CORONEL,
ReplyFrancamente, espero não ver frustradas minhas esperanças de ver na Presidência da República deste meu país varonil, um chefe digno da importância do cargo.Digo isto porque até o presente momento a Senadora Kátia Abreu vem preenchendo lacuna aberta por uma oposição leniente,acumpliciada. É claro, não se pretende enxergar como uma oposição firme, a radicalização e a histeria,mas também não pode ser condescendente.É forçoso reconhecer, a frase final do artigo é condescendência pura.Não se pode esquecer que DILMÃO afirmou não querer saber de mais impostos,ESTE ANO. Portanto, não descartou nada para o ano que vem nem os próximos. Além do mais, pode fazer jogada para a platéia sempre, para isso tem a sua disposição a "quadrilha parlamentar aliada"
Governar é construir grandes obras, se for possível, com parceria da Oldebrerth e do BNDES (nem que seja em outros países ...).
ReplyDepois da aprovação do Código Florestal, ela vai parar de babar a Dilma ?
Reply