Com a aprovação parlamentar da Lei de Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação, a Bolívia de Evo Morales adota o kit bolivariano para as áreas de imprensa e liberdade de expressão, que já vigora na Venezuela e no Equador. A Argentina kirchnerista, sintonizada com o pensamento bolivariano, entrou na mesma onda em 2009, com a Lei de Serviços Audiovisuais, que interfere profundamente na organização dos grupos de comunicação privados e independentes do país, mas foi revogada, em parte, pela Justiça.
Embrulhado num vistoso papel de presente da suposta necessidade de regular e fiscalizar a atuação da mídia, o que o kit pretende mesmo é asfixiar os meios de comunicação independentes, dando-lhes uma escolha de Sofia: fazer coro à mídia oficial ou calar-se. A Venezuela de Hugo Chávez, sempre pioneira no que se refere a restrições, há alguns anos aprovou a Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão, e atualizou-a em dezembro do ano passado. Estendeu as regras já existentes para rádio e TV aos conteúdos na internet, prevendo punição ao provedor ou portal que não limite o acesso a mensagens que incitem "ao ódio" ou "não reconheçam autoridades".
No Equador, o presidente Rafael Correa fez aprovar reformas bolivarianas num referendo (outro item fixo no kit), este ano, incluindo um dispositivo que permite ao governo restringir a área de alcance dos empresários de comunicação e inibe os jornalistas via controle do Judiciário. Na primeira oportunidade, Correa aplicou-o numa ação por "calúnia" contra o jornalista Emilio Palacio e o órgão em que trabalhava, "El Universo", em que exigia três anos de prisão e uma indenização de US$80 milhões. O juiz Juan Paredes concordou com os três anos de prisão para Palacio e os donos do diário, e reduziu a multa para US$30 milhões (!) - ainda assim um valor exorbitante. Paredes emitiu a sentença em menos de 24 horas, mas descobriu-se que ele plagiou o texto de outras condenações. Até segunda ordem, ela está valendo.
Na lei boliviana, aprovada esta semana, um dos artigos põe à disposição do Estado todos os meios de comunicação, incluindo os provedores de internet, e permite escutas telefônicas sem autorização judicial em casos de"comoção interna" e ameaça à "segurança do Estado". Outro absurdo é a imposição de limites pelos quais o setor privado terá direito a apenas 33% das licenças de rádio e TV; o Estado fica com outro terço, enquanto 17% vão para organizações sociais e 17% para grupos indígenas. Na prática, como o apoio a Morales vem das organizações sociais e indígenas, seu governo poderá controlar 66% das licenças. Uma das consequências será tirar do ar até 2017, quando vencem as licenças, mais de 400 rádios privadas.
É uma lástima que a América do Sul, que deveria unir forças para enfrentar os problemas de pobreza e desigualdade, e combinar o potencial dos países para fazer frente à crise mundial, seja obrigada a conviver com um grupo tão importante de nações que resolveram voltar a um populismo apatetado. O tal socialismo do século XXI é um blefe: produz ditaduras (mal) disfarçadas, insegurança, desabastecimento, desinvestimento, desemprego, pobreza. E ai do veículo de comunicação que ousar denunciá-lo. (Editorial de O Globo, intitulado “Liberdade sofre novo golpe na Bolívia.”)
3 comentários
O editorial de O Globo é cínico. O que esse conglomerado de comunicação tem feito até hoje, senão bajular o governo de plantão, escamoteando os fatos e distorcendo a verdade ou omitindo-a em seus órgãos jornalísticos? Se houver uma lei igual no Brasil, que o PT já tentou implantar recentemente, as organizações Globo serão as primeiras as aderir a esse "populismo afetado", como chamou em seu editorial.
ReplyNa realidade isso é uma enorme incompetência. A referido país está no que dizem ser uma pindaíba, tanto quanto a Venezuela, em termos sociais políticos e econômicos. Nessa linha, vão apenas gerar mais conflitos e prejudicar ainda mais os que dizem estar prestigiando. Logo logo isso focará mais claro.
ReplySe socialismo fosse bom, já teriam feito experiências com ratos de laboratório.
ReplyAgora eles não querem mais "controlar" a mídia; decidiram que é o caso de espancar os jornalistas.