Direitos humanos no campo: dois pesos, duas medidas.

Do Diário do Pará:

O fazendeiro Dario Bernardes cansou de clamar por providências das autoridades para investigar os crimes de invasão, destruição de seus bens, sequestro de empregados da sua empresa e ameaças de morte que estão sendo feitas a ele por um grupo armado financiado por donos de serraria em Tailândia interessados na madeira das terras. No mês passado, os bandidos implantaram o terror na fazenda, mas ninguém foi preso e os crimes praticados, segundo Bernardes, sequer foram investigados. Indignado, ele decidiu chutar o pau da barraca, denunciando ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estaria “marcado para morrer”.

O DIÁRIO teve acesso à carta enviada na semana passada ao ministro. Nela, o fazendeiro afirma que no Pará não são somente os colonos de assentamentos que são ameaçados e mortos. “Estas mesmas condições bárbaras e que não combinam com o Estado de Direito de nosso país também estão acontecendo comigo, meus funcionários, colaboradores e meu patrimônio”, garante Bernardes. Ele é dono da fazenda Santa Martha, localizada na área rural do município do Moju, distante 216 quilômetros da capital e 15 quilômetros da cidade de Tailândia, que é considerada até hoje uma das mais violentas do país e “faculdade de pistoleiros”. Bernardes diz na carta que a fazenda é toda documentada com titulação definitiva já reconhecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como uma das 10 áreas totalmente legalizadas no Estado. 

O plano de manejo da área foi aprovado pelo Ibama e a fazenda já obteve o selo verde da FSC, uma entidade internacional que monitora o respeito ao meio ambiente. Mas a fazenda, que possui residências para os empregados, escola, igreja, ambulatório, oficina, estradas, plantio de seringueira, castanhais, pimenta-do-reino e diversas criações de animais, já sofreu vários ataques de um bando armado. A primeira invasão ocorreu em 2006. Ladrões de madeira disputavam as terras com outros grupos de invasores. Houve mortes no local. O governo estadual demorou para cumprir a reintegração de posse, permitindo que uma área de 16 mil hectares de floresta fosse destruída e toda a madeira roubada. O crime foi consumado com projetos fraudulentos aprovados na Secretaria de Meio Ambiente (Sema). 

Quase cinco anos depois, Bernardes revela na carta ao ministro que suas terras já sofreram três reintegrações de posse e “dezenas de mortes”. Ele diz que a polícia e o Ibama têm medo de entrar na área, alegando que o local é extremamente perigoso. Em novembro de 2010, durante emboscada dos pistoleiros, três veículos do fazendeiro foram destruídos e um motorista dele foi morto a tiros. Os criminosos até hoje não foram identificados. “Tenho dezenas de ameaças de morte”, desabafa. E conta que no dia 23 de maio passado, às 4h, um grupo de 40 homens encapuzados invadiu o que restou da vila e ateou fogo nas casas, destruindo veículos, tratores, equipamentos, casas e currais. Para completar, roubaram tudo que pudesse ser levado e a polícia “brincou de apurar somente para dar satisfação à imprensa”.

Em um trecho da carta, o fazendeiro pergunta ao ministro: “qual a diferença entre a minha pessoa, meus funcionários e o casal de ativistas?” Ele se refere a José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, de Nova Ipixuna, mortos a tiros no dia 24 de maio no assentamento Praialta Piranheira. Bernardes completa: “por que não temos os mesmos direitos de proteção e apuração nos crimes cometidos? A diferença é que eles eram sindicalistas e já morreram. Será que precisarei ser assassinado para que alguma providência possa ser tomada?”

12 comentários

Prezado Coronel,

Comentário de um chato: O correto na chamada seria "um peso, duas medidas" para evidenciar a escolha arbitrária nas medidas tomadas para coibir a violência no campo.
Deve-se esta correção uma vez que a dois pesos diferentes sempre corresponderão duas medidas diferentes.

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Ai,Coronel,pois é,
eu vou retroagir não muito,mas vamos voltar aos anos cinquenta,quando o então presidente Juscelino,apregoou aos cinco ventos sua política desenvolvimentista,de cinquenta anos em cinco.Talvez seja aquele o gatilho mais feroz na região:se tudo tivesse sido feito não em um ímpeto eleitoreiro,mas uma programação de ocupação e desenvolvimento bem estruturada(mas daí,não seria o Brasil,né?),provavelmente muitos dos problemas da região,nem existíssem.Rasgar toda aquela região,de uma vez só,só foi atraíndo um monte de gente que ao longo dos tempos se configuraram em posseiros,grileiros,e,digo mais:nos anos seguintes,com a ocupção da Amazonia,muita terra foi vendida,mas parece que nunca bem documentada...E daí,tem a terceira ou quarta grande ocupação,das últimas fronteiras(anos 80),e agora ainda com MST`.É muita desordem junta!

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Brasil, terra sem lei.

Mas as autoridades não estão nem ai. A preocupação da cumpanherada é a grana, a bufunfa, a barganha.

Agora mesmo a Presidenta vai ao Paraguai para negociar investimentos. Investimentos lá.

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"Será que precisarei ser assassinado para que alguma providência possa ser tomada?"

Resposta: Não, precisará ser sindicalista e logo alguma providência será tomada!

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Já que está declarada elegalizada a injustiça nesse brasil, 'fud*&¨%#ido' pelos petistas, já que os babacas das supremas(?) córtes não dão no coro, então vamos lá Sr. Dario Bernardes, defenda-se com unhas e dentes das barbáries desses salafrários parceiros da quadrilha que está no poder. Manda o canhão em cima desses marginais. Vai tranquilo porque nesse País agora não existe punição, isso aqui virou o velho oeste, vence o mais forte, e a impunidade é lema usado pela 'mer*&¨%$@da' de justiça que vigora no Brasil.

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Está aí o problema Sr. Bernardes. O que lhe impede de ter acesso aos benefícios do Estado, foi a palavra indevida que o Sr. utilizou "legalizada". Então não és sabedor, de que o que prolifera neste nosso pais, atualmente, é o ilegal? Tivesse o Sr. na ilegalidade, poderia ter dado sumiço em alguns dos que lhe incomodam. Mas não, a legalidade assim não permite. Contrate uma ala do MST, para fazer um serviço para o Sr. Com eles nada acontece. Ou estou errado?
Afonso Pires Faria

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Tenho demonstrado meu interesse, primeiro, em desmistificar que o Pará é violento,o estado passa por um processo igual a colonização nortre americana. Falta somente andarem com os trabutos à mostra. Gostaria muito que dessem nomes aos bois. Quem invade e quem manda matar no Pará. São paraenses ? Segundo, a rapidez com que aprovaram o plebiscito da divisão do estado, não tem interesse de políticos e empresários migrantes, inclusive assassinos, em se fazer o roubo de terras pela via "legal" ? Vocês sabem que a família Lula tem terras a perder de vista em terras paraenses, e que nunca aparece o nome deles, só o de laranjas ? E todo mundo sabe e acha isso uma graça.

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Pois é, interessante seria o governo petista garantir o respeito à propriedade privada. E o fazendeiro, que protege a floresta de madeireiros que invadem e depredam sua propriedade, acabará por compor aquele quadro da devastação da amazônia, como se ele fosse o responsável.

Só neste nuncaantes paiz.

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É nessa hora que a suprema corte tem que mostrar serviço e defender o brasileiro trabalhador da militância criminosa dos petralhas. Mas, essa tal supema prefere gastar seu tempo e mostrar serviço 'defendendo' uma minoria que prefere se deliciar pelo canal fecal. A impressão que temos é que esse Brasil está na merda mesmo, nada mais dá orgulho por aqui, o orgulho mudou de lado e para valorizar esse lado oposto fazem um ridículo carnaval nas principais avenidas, deixando o trânsito caótico e atrapalhando a vida de quem é honrado e sério.

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Não sr. Dario Bernardes.
Mesmo que o senhor, seja assassinado, nada será feito. Porque nosso govêrno, é incompetente, e adora proteger
bandidos, pessoas honestas como o sr.que dá emprêgos, paga impostos, e cumpre seus DEVERES, não tem VÊZ...esse é o pais dos PETRALHAS.


Izabel/SP

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Sr Bernardes, com certeza o senhor nao é filiado ao PT, tampouco faz parte de um sindicato ligado aos petralhas. Entao, a regra é essa mesma. Para os ladroes, invasores, assassinos, traficantes pode tudo e tem até os Direitos Humanos para defende-los. Para o resto da população do Brasil, NADA.

Essa é a Lei da petralhada.

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