O ódio dos perdedores.

É inegável que não funcionou a tentativa de unir as duas alas opostas dentro do Democratas. A eleição do senador José Agripino Maia (DEM-RN) como presidente da legenda tinha este objetivo. A mediocridade política de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que como bem colocou a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) com o dedo na sua cara na última convenção, destruiu o partido. Não esquecer, por exemplo, que Rodrigo Maia, no caso do governador Arruda, foi o mais renitente quanto à sua expulsão. Era o presidente do DEM. Na coligação com o PSDB na eleição presidencial trabalhou abertamente contra José Serra(PSDB-SP) dentro do partido, já que, eleitoralmente, o seu apoio pouco conta, dado que os Maia estão politicamente acabados no Rio de Janeiro, ao ponto de buscarem coligação com o PR de Antony Garotinho. O pai perdeu o Senado, o filho se elegeu deputado federal com votação pífia.

O DEM saiu rachado da eleição de 2010. Teve vitórias consagradoras em Santa Catarina, onde venceu no primeiro turno, empurrando goela abaixo do Lula o seu discurso de "extirpar" o DEM e acabar com os Bornhausen. No Tocantins, a senadora Kátia assumiu a campanha eleitoral e liderou a virada e a eleição de um tucano. Em São Paulo, Kassab atuou fortemente para eleger Geraldo Alckmin, tendo um democrata, Afif Domingos, como vice. São os exemplos que vêm à lembrança, junto com a eleição da governadora do Rio Grande do Norte.

A verdade é que houve um lado vencedor e um lado perdedor nas eleições de 2010.  UM LADO VENCEDOR QUE EFETIVAMENTE FEZ OPOSIÇÃO AO PT. Este lado vencedor mais expressivo do DEM foi o paulista, o catarinense, o tocantinense e, para não ser injusto, o potiguar. O lado perdedor foi o carioca, o mineiro, o baiano, sem dúvida alguma. O LADO PERDEDOR FEZ OPOSIÇÃO AO PT, PERO NO MUCHO. Seria natural, desta forma, que os vencedores passassem a liderar o partido. Não é o que aconteceu. Ao vencedor, as batatas! Ou as bananas! O que venceu foi  o fisiologismo travestido de oposição, a venda escancarada do partido para o Projeto Minas de Aécio Neves, quando o DEM deveria e poderia buscar, pela primeira vez, um caminho solo, como único partido liberal do país. Azar dos eleitores.

O mais absurdo, no entanto, está sendo assistir, a cada dia,  aos "vencedores "do DEM atacando furiosamente os "perdedores" do partido. Primeiro, a artilharia está voltada contra Gilberto Kassab (DEM-SP) que, até ontem, era venerado pelos democratas que ficaram no comando do partido. Em 7 de fevereiro, ACM Neto declarou:

“Se depender de mim, (Kassab)vai ficar. Vou trabalhar pra isso. Vou visitá-lo em São Paulo e pedir a ele que fique. Vou criar as condições que estiverem ao meu alcance para a permanência do prefeito. É um quadro importante, e nós desejamos que ele continue na nossa legenda”

Em pouco mais de um mês, não havendo sucesso na sua tentativa, até porque ele não manda coisa nenhuma no partido, ACM Neto passou a ser um feroz inimigo do prefeito paulista. O "quadro importante" virou um " indecente". Vejam o que o deputado baiano, de um dos estados onde a oposição teve uma das piores derrotas em 2010, vem declarando pelo twitter: 

Nasceu, hoje, o PSD, o partido sem decência, o partido sem dignidade. O DEM tem de ir para a oposição ao Kassab. Vamos enfrentá-lo em SP. Ou:  Kassab abandonou São Paulo para espalhar a política de baixo nível pelo País. Paulistano não perdoa. Não é à toa ele ter 43% de rejeição.

A Juventude do DEM iniciou, ontem, uma série de ataques contra Indio da Costa, misturadas com alguns elogios, indicando que já começa uma campanha para desqualificação do ex-candidato à vice-presidência. Vejam, por exemplo, o que o deputado Pedro Lupion, do Paraná, da velha e conhecida clã dos Lupion, afirmou no twitter:

@Dep_PedroLupion: Que vão o índio e todos que n estão "confortáveis". Depois da vice de serra, é ingratidão! Xô p colo da Dilma.

O que estamos assistindo, na verdade, independente dos fatos que cercam a criação do PSD, que ainda é uma incógnita, é que não havia espaço para as duas alas no mesmo lugar. A ala que sai quer independência. A ala que fica quer estar sob a influência de Aécio Neves. E existe uma ala que, sem dúvida alguma, está apenas esperando a melhor oportunidade para deixar o moribundo DEM, tendo em vista que ele não tem como sobreviver depois desta divisão. Este é o desespero dos "vencedores". O DEM, que vinha enfraquecendo a cada eleição, vai ser reduzido à metade antes do próximo pleito. Há gente muito boa dentro do partido que não pode ficar à mercê de  ACM Neto, Rodrigo Maia, Pedro Lupion, Onix Lorenzoni e outras figuras inexpressivas da política brasileira. Ou dá para comparar estes nomes com uma Kátia Abreu, um Demóstenes Torres, um Raimundo Colombo?

Portanto, senhores e senhoras, não caiam nesta análise rasa e rápida de que o DEM vai ser oposição ferrenha e de que o PSD estará na base aliada da Dilma. É muito cedo para isso. Vamos ver quem fica e quem sai. Onde estão e para onde vão. O que estamos assistindo neste momento é, paradoxalmente, o ódio dos verdadeiros perdedores. Aqueles que ficaram com a massa falida porque não souberam gerir o empreendimento. E isto não é um privilégio do DEM. Vejam o que está acontecendo com  o PV da Marina Silva, em entrevista publicada no Estadão. É, como já dissemos, o ódio dos perdedores. Clique e amplie para ler: